I . • Acordar

Categorias:Bruna, De Preto
Wyrm

Eu desejo enxergar.
Eu quero ter olhos. 

Os olhos se abriram iluminando timidamente a penumbra ao seu redor.

Não piscavam e se decidiram não mover para a apreciar a sensação do existir. Eles são tem escuros como o oceano anoitecido com uma montanha à sombra. O marrom mirou de repente, não mais do que de repente, a nuvem de folhas alaranjadas diante de si, sentindo-se tomada por uma incompreensão quiçá lúcida. O outono, indiferente, destacou uma única folha crocante, que dançando ao bel-prazer da brisa fraca, fora pousar sobre a pele perolada daquela garota.

Garota…

Com um suave toque do acaso, ela sentiu a presença da folha em uma das suas maçãs representantes. Ah, aquela natureza. Era tão desatenta a ponto de não acompanhar a sua decida? O toque fora uma surpresa, se crê, pois o convite tentador fez com que  a garota se voltasse o olhar para aquele resto do que uma vez compartilhara uma vida aquelas quando ele a tocou.

Analisando superficialmente, ela pôde notar a fragilidade daquela existência que parecia se sentir ainda poderosa. Corpo? Quando o seu braço formigante se movimentou para levar sua mão até a folha, pegá-la com dois dedos e envolvê-la, ela fez uma decisão: uma pergunta muda. As respostas vagarosamente se tornaram decisões conforme a garota ponderava. Quando percebeu, a sua mão possuía outra coisa.

Você está morta? Você já estava morta. Você sequer… Não.  As suas mãos se fecharam até a totalidade da não-vida se esmigalhar. A garota provou da ideia como raízes a tomarem dos seus pensamentos e cantando uma ópera para si: tudo poderia ser comparado àquela folha perante ela mesma, desprotegida e frágil. Protegendo-se dos restos quando sua mão se abriu, ela semicerrou os olhos. Pedacinhos caíram em seus cílios e saltaram com um simples piscar de suas janelas.

Estranho.

Ela estava viva? Sim, mas como? Por quê? Bem, ela sabia como tudo começava; seguia? Família, estudo, amigos, trabalho, um relacionamento… Talvez? Pai e mãe, que ajudariam a construir uma personalidade, com uma base existente? Não se lembrava de absolutamente nada o seu começo. Porém, sentia-se como se possuísse um cérebro com muitas informações e perguntas, nada mais! Nada mais!

A sensação e a emoção que sentia não era de alguém que tinha perdido algo ou alguém, mas de uma criatura que começava a existir exatamente naquele instante.

Sem nome, sem história.

Ela estava morta.

E nascia.

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