Red Rose

Categorias:Romance
Wyrm

Red Rose


Estrangeiro em sua própria cidade. Nathan observou Fox Town como se não a conhecesse e gastou alguns segundos apenas vislumbrando o horizonte, mesmo após o helicóptero pousar no alto de um dos edifícios acordados – no caso, o Hotel Strauss. O tapete luminoso que a noite movimentada da cidade costeira proporcionava lhe trouxe a necessidade de uma atenção que ele não costumava sentir. O Galliard passou a mão sobre os seus fios curtos, distraidamente. De “Lar doce lar” para território hostil. Ele se virou para descer, mas estendeu a mão para auxiliar Verônica. A noite fria estava quente com a presença de Kraz que os acompanhava da Penumbra, mas o seu coração permanecia gelado com a sensação de invasão. Isso também é seu, convenceu-se. É tudo seu.

– Eu acho que conheço o hotel fuleiro que encontraram o rastro de Efeito. Fica perto da rua dos puteiros. – Nathan vestiu os óculos escuros, ignorando a noite. – Talvez útil darmos uma passada no Red Rose. Eu tenho uma informante por lá.

Acompanhava-o em vestes negras, calça de tecido de nylon e uma camisa amarrada na cintura, longo decote em V e um lenço do mesmo tom e tecido no pescoço. Verônica usava um scarpin e uma bolsa na mão direita, enquanto segurava a esquerda do Galliard.

– Sinto falta disso… É podre, mas um playground meu. – Ela comentou distraidamente. – Você com informantes no Red Rose? Olha só você… Não é só pose! – Sorriu maliciosamente para ele. – Vamos até os seus. Eu tenho informantes por aí qualquer coisa também. Mas são sanguessugas, e não quero gastar favores.  – Fez uma pausa – Estamos falando de alguém, aliás, que não tem nenhum hábito santo… Esses lugares não é qualquer um que frequenta.

Com um passo, ele os conduziu para a Penumbra. Nathan a ouviu com uma sobrancelha arqueada sobre os óculos aviadores. Quando ela concluiu, um sorriso malicioso surgiu ao escanteio dos seus lábios. O Galliard tateou as paredes, buscando entre diversos portais de facilidade criados por Blair, um que ficasse próximo às Ruas das Tentações – nomeadas por ele mesmo.

– Admira-me você conhecer um puteiro, Nikki. Eu já andei por esses lugares mais do que eu gostaria. Tive fases sem perspectiva e sempre me encontro com a minha cunhada. Eu a conheci antes de Nyra… – O Galliard usou da sua força espiritual para ativar o portal e passou conduzindo Verônica. – Por sinal, a Julia seria útil agora. Ela tem uma admiradora Sanguessuga bem influente… – Recordou-se.

– Bem, está todo mundo meio louco ainda, não? A última vez que vi a Julia ela estava completamente perdida em drogas, e o pior? Sophie estava usando com ela na praia. Eu não sabia que Sophie… – Verônica apenas o seguia, tecendo seus comentários. – Eu acho que para quem não é um Lobo Mago… É difícil ver propósito em tudo isso… Bem, eu tenho dificuldade em ver propósito em qualquer coisa. – Arqueou as sobrancelhas – Mas… O foco está quebrado.

Com as suas aparências embaçadas pelo uso do Dom Hominídeo, Nathan caminhava observando ao redor. Sophie usando drogas? Era algo que ele não conseguia imaginar, mas não julgava igualmente. Franziu o cenho, lembrando-se de alguns comentários da Galliard sobre “ter tido problemas com isso”. Ele umedeceu os lábios e mordeu o inferior:

– Eu me sentia sem foco enquanto eu estava em uma Alcateia que não ia para lugar nenhum. – Ele falava muito lentamente, fazendo pausas demoradas. Nathan franziu o cenho, pensando. – Depois que eu conheci a babe, as coisas ficaram meio loucas e então… Eu acho que eu tive finalmente o sentimento de uma Alcateia de verdade. As coisas… Não sei. – Ele fez uma pausa maior. – Depois da Batalha do Norte, eu acho que algo mudou aqui dentro.

Verônica o olhava com um sorriso discreto nos lábios e parecia entender do que ele falava, embora não conhecesse detalhes, ou se sentisse tão confortável com Alcateias.

– Consigo dizer que passou por muita coisa… Todos vocês. Até a Nyra com seus nem vinte anos. Gaia. – Acabou rindo. – Por que vocês não convidam Sophie para essa Alcateia oficialmente? Ela se entrega tanto. E está perdida. Julia é por natureza, dá para dizer. Mas dá uma dózinha da Sophie. Tão boazinha. Boazinha de verdade.

– Hm… – Nathan se virou, a encarando em seus grandes olhos de boneca. – Eu não sei se essas coisas se convidam ou somente se sentem, vindo do coração e da alma… É uma sensação boa ficar perto da Alcateia. Você se sente bem em ser você mesmo e quer ficar perto por isso. Se bem que eu acho que ela acredite que precise ser chamada para ir até a nossa casa… Ou tem medo de nos pegar transando. – Ele deu os ombros. – Acho que não é medo disso. Enfim… Ninguém convidou o raposo… Ele só foi chegando perto… – Quando o sorriso surgiu em seus lábios, ele abaixou a cabeça. – Hm. – O Galliard parou de caminhar, perdendo o sorriso e olhando ao redor e redobrando a atenção ao passo que o ambiente perdia a beleza e as garotas da noite surgiam nas esquinas, chamando clientes. – Você viu isso faz pouco tempo? A Sophie…

– Minha serva… – Nathan respondeu diretamente, mas o assunto não lhe parecia tão importante quanto entender o que se passava com Sophie. O Galliard apertou os lábios bem desenhado, abrindo mais os olhos preguiçosos. – Não. Uma vez, Sophie estava com o Luke e ela se pegou com ele nós ficamos entre a gente. Foi mais um… Voyeur? Eu acho que… Eu não tive tempo para pensar sobre Sophie. – Ele deu uma risada tímida e o comentário que se seguiu foi para disfarçá-la, claramente. – Se você está tão interessada em saber como funcionamos, deveria ir até lá assistir. Dá um tesão danado quando alguém nos assiste. Não será uma viagem perdida.

O riso dela foi espontâneo, mas o olhar em seguida foi sério:

– Eu espero que não seja piada, eu sou bem dada e tenho passado por problemas.  – Verônica arqueou as sobrancelhas, mas segurou seus comentários quando entraram no local.

O prostíbulo era um dos mais glamorosos sem dúvidas e a estrutura também cobrava beleza das trabalhadoras do ambiente. Assim que chegaram, foram bem recebidos por uma anfitriã que trajava uma vestimenta de Mamãe Noel com comemoração ao Natal. A moça ruiva sorriu para Nathan e o cumprimentou com um beijo:

– Oi, Sally. Alina está? – O Galliard perguntou com simpatia.

Nathan realmente conhecia o local. Assim que estavam na porta, Verônica procurou energias que pudessem oscilar com facilidade. E para sua surpresa, sentiu algo logo de cara… Como se fosse forte o suficiente para não querer se esconder, havia um forte círculo de proteção.

– Por aqui, querido. – Sally tocou Nathan com uma carícia abaixo do queixo. A bela ruiva o tocou na mão livre e passou a conduzir os dois. – Você nunca aparece acompanhado…

“Foi fácil… Ou quase. Sua serva pode ajudar com feitiços?”.

“Pode…”, Nathan respondeu. “Eu não estou preparado para conhecer uma Loba-Maga puta. E se eu já fui cliente?”.

– É, eu estou cheio de tesão, Sally. Eu vou precisar de reforço… Muito reforço. – Nathan disse, maliciosamente.

– Nossa. Eu posso ser o seu reforço… – Ela sorriu para os dois.

– A morena aqui é ciumenta. – Nathan disse, fitando Verônica por cima do ombro.

Sally deu um sorriso arteiro e os deixou assim que os aproximou de um longo sofá vermelho em meia lua. Alina era uma bela mulher. Os cabelos cortados na altura dos ombros possuíam as ondas dos anos sessenta e os lábios grossos eram pintados de vermelho como a lingerie usava. Ela fumava um cigarro encaixado à uma piteira clássica. Quando Nathan se sentou perto dela, a moça soltou a fumaça no rosto do lobo.
– Meu Deus. Me sinto muito ciumenta…

Verônica disse com humor discreto assim que se sentaram, e fitou a ousadia da prostituta. Logo lhe veio até a mente que Nathan gostava do tipo, mas ficou concentrada na missão. “Informação por dinheiro?”, perguntou. “Que tipo de serva estamos falando aliás?”.

“Não é o tipo que parece. Ela é um Anjo Caído e eu descobri o seu Nome Verdadeiro por acaso”, Nathan respondeu enquanto pegava a piteira de Alina e tragava. “Ela é boa, mas nem tanto. Sally é infinitamente melhor se tratando da Red Rose”.

– Devo dar oi para ela? – Alina perguntou, mirando Verônica com uma expressão de tédio no olhar. – Você só anda com celebridades agora? – Ela se voltou para Nathan. – Acostumando-se com carne fria, Redwyne?

– Quem jogou magia aqui, Alina? – Nathan perguntou num sussurro.

– Uma amiga. – Alina respondeu, arqueando as sobrancelhas. – Você disse que iria me proteger… Mas e as garotas? Não cumpriu com a sua palavra. Perdemos uma irmã. Poderia ter sido a sua Sally… – Ela sorriu maliciosamente.

– Você é realmente uma vadia. – Verônica sorriu com cinismo. – Gosto. Mas, olha. – Tocou a perna do Galliard e inclinou o corpo para ela. – Eu não vou sair em defesa dele, sei lá o que meu homem prometeu, mas o estilo de vida aqui é perigoso. E sua amiga, pode ser nossa amiga também. É o que queremos descobrir. – “Meu Deus e se for uma Loba-Maga puta mesmo? Chocada! Eu nem sabia que Garou se prostituía? Se prostitui? O clima vai ficar estraaanho… “. – Onde a encontramos, Alina?

O olhar claro de Alina desceu rápido até a mão ousada de Verônica, se ergueu rapidamente. Diferente de Nathan que se demorou e ainda fitou a Garou com uma expressão curiosa por detrás dos óculos escuros. “Claro que existe…”, Nathan disse com humor, “Conheci umas. É estranho uma puta de sangue azul, mas já conheci patricinhas putas. Sei lá”. Verônica sorria discretamente para o olhar curioso do Garou, mas não correspondeu:

Alina mirou Verônica, piscando lentamente os olhos decorados com longos cílios postiços:

– Ela nos fez prometer que não falaríamos dela. – Alina disse, seca. – Ela é nossa amiga. Não é assim que as coisas funcionam e o seu nome, Nathan, anda girando muito pelas ruas e dessa vez não é de gente querendo transar com você. Você jogou fogo na colmeia com aquele seu Rei Prateado. – Ela disse, ríspida. – Vai acabar morto.

Concordando com a cabeça vagarosamente, Nathan pousou a mão sobre a de Verônica e a apertou contra a sua coxa:

– Exatamente. Estamos fodidos e queremos proteger os nossos. Queremos falar com a moça. Ela é uma puta?

Alina riu maliciosamente:

– Está querendo uma nova? Puta! – Ela negou com cabeça. – Não sei. Não é da minha conta. Ela protege uma putinha… Acho. Não sei. – Alina tirou a piteira da mão dele. – Elas estão dormindo por aqui. A putinha está… – Os olhos de Alina brilharam brevemente num ouro vivo. – … No quarto dez. – Ela sorriu. – Eu não disse nada.

– Nunca ouvi tantas vezes a palavra puta na minha vida. – Verônica disse divertida e se ergueu, virando a mão para andar de mãos dadas com a do Galliard. “Eu estou gostando disso. Nunca procurei alguém em um prostíbulo acho.” 

Subiram as escadas passando por uma prostituta que entrava com seu cliente em um quarto azul de veludo; passaram reto e andaram até a última porta do corredor, onde uma pintura como mandala estava desenhada na entrada da porta. Segurou a maçaneta do cômodo dez e precisou usar dom para destrancar.

Diferente do vermelho que era todo o corredor, com seu carpete e papéis de parede, o de Camille era amarelo-ouro, simulando uma mina, ou a própria estética de uma coroa. O perfume de margarida e pimenta doce era terrivelmente afrodisíaco, quase como Mágika.

A morena que se maquiava ficou paralisada, fitando-os pelo reflexo com seus enormes olhos arregalados. Usava uma lingerie preta sofisticada, e ouro nos pulsos e no pescoço.

A imensa cama tinha uma algema dourada para prender os mais aventureiros, que chamou a atenção de Verônica, além de todos os roupões e vestidos transparentes pendurados em uma cabideira. Em um aparador, havia flores e presentes – e eram muitos.

“É bizarro dizer que esse quarto me deu tesão? Gente. ‘Tô passada. Conhece?”.

“Não…”, Nathan se desviou da moça que procuravam para olhar diretamente para Verônica e sussurrar vagarosamente:

– Eu estou começando a achar que você está me provocando… Conscientemente.

– Vocês não são…  – Virou o rosto por cima do ombro, começando a ofegar. Camille se ergueu e vestiu uma seda transparente dourada como um robe, e amarrou o cetim na cintura.  – Droga. Redwyne e Verônica Velvet…

Nathan se voltou para Camille e, por mais que todo o conjunto fosse interessante, não conseguiu tirar os olhos dos olhos da moça. Eram olhos tão marcantes que estonteavam. Ele entreabriu os lábios e nenhum som saiu deles por um instante:

– Não marcamos hora… – Ele disse, lento como de praxe. – … Mas queremos conversar. – O Galliard moveu dois dedos e a porta se encostou sozinha.

Camille parecia de início desconfortável, nada acostumada a atender sem horário, e como se desconfiasse que algo ruim iria acontecer. Chegou a assustar-se quando a porta bateu.

– Calma. – Verônica disse com um sorrisinho, ainda pensava nas palavras de Nathan. – Não vamos te ferir, ou nada do tipo. É sério. Sei que não é fácil a profissão. Mas precisamos de respostas… Nós compramos seu horário, mas deve ser rápido.

Camille se aproximou da cama e se sentou devagar, os lábios entreabertos. Os olhos saíram de Verônica, e lentamente retornaram aos imensos do Galliard.

– Só conversar…? – Sem pressa, voltou a se erguer.

Nathan assentiu uma única vez e parou com o queixo muito próximo ao peito, aproveitando a oportunidade para fitar Camille sem a proteção das lentes dos óculos e retornar o olhar a Verônica, fitando-a de cima a baixo e a mão – não tem quente quanto a sua, mas ainda quente – que não desgrudava dos seus dedos:

– Sim. – Ele disse ao mover sua atenção novamente para o foco da missão. – É, sim… – Porra, nem sei mais... – Hm, boa noite. – Desenho um sorriso selado. – Nós estamos procurando a sua amiga… Na verdade.

Quando o olhar desceu por si, Camille sorriu de canto e relaxou a postura. Deixou o roupão deslizar pelos ombros e os escutou. O belo olhar corria malicioso pelos dois, e fitava de um a outro.

“Olha esse quarto… “, Verônica o provocou, apertando a mão e erguendo o rosto.

“Eu sou fraco para essas coisas, Verônica…”.

– Bem… Eu não tenho muitas amigas aqui. Eu comecei recentemente. Uma semana…– Camille disse.

– Não. Não estamos procurando outras… Estamos procurando a dona da Mágika que roda por aqui. – Indicou o quarto – Você sabe de quem estamos falando…

– Ah… – Entreabriu os lábios – Verdade. Vocês são da ilha… Bem. Hm – Recuou alguns passos de costa e de volta para a penteadeira, parando ao lado dela. – O feitiço é meu.

– Seu… – Verônica a olhou desconfiada e se entreolhou a Nathan brevemente. – Espera… Como você sabe de “ilha”? Como assim?

Camille arqueou as sobrancelhas:

– Um Garou me contou sobre vocês… e tudo o que há lá… Mas… – Franziu o cenho – Não sei se eu deveria falar essas coisas.

“Ela tem clientes da Ilha…?”.

“Você acha difícil imaginar isso?”, Nathan rebateu com humor. “Olhe para ela…”.

– Hm… – Ele torceu os lábios e observou ao redor, pensando. – Ela é uma Violadora de Nomes. – “Kraz me disse”, o Galliard comentou mentalmente, por segurança. – Uma pessoa te protege… Esta pessoa que estamos procurando… Pois assim que descobrirem o que ela é, ela terá problemas e estamos reunindo os nossos… – Nathan caminhou até a cama e se sentou ao lado de Camille, trazendo Verônica consigo. – Você não me disse o seu nome, moça, e você sabe o meu… O meu instinto está me dizendo que você sabe muitas coisas sobre mim e eu estou achando injusto… – Ele umedeceu o lábio inferior. – Sei que tem todos os motivos para estar desconfiada da nossa visita, mas… É nobre. Só uma ajuda mútua, querida.

“Não acredito que você está seduzindo-a, Nathan… Eu aqui comportada e você…”, Verônica disse com humor maldoso, mas manteve-se séria por fora. “Que morena ciumenta…”, ele respondeu maliciosamente. O Galliard foi muito preciso em encantar a garota, pois ela continuava com seus lábios entreabertos e os olhos focados nele e nos lábios umedecidos.

– Camille. – Disse e ajeitou a postura. Ao mesmo tempo que havia uma essência doce, a Maga era altiva no seu olhar. – Eu não sei… Se deveria falar demais. Eu fui orientada por ela a não fazer isso… E eu não acho que ela precise de ajuda… O que eu sei é que… – Respirou fundo e se impediu de falar. Camille apoiou o braço no colchão da cama e dedilhou a ponta de suas unhas na mão do Galliard. – Vocês… Como vocês me acharam… Exatamente? E como sabem que ela existe? Talvez… Talvez eu possa arrumar um encontro com ela…

– Sei… – Os olhos escuros seguiram os dedos com o olhar enquanto falava. – Hm. Eu tenho algumas amigas aqui na Red Rose. Eu costumava a ser um lobo muito levado. Foi simplesmente sorte. Eu não estava procurando vocês aqui, mas os nossos destinos se envolveram… – Ele fez uma pausa. – Camille, Camille… – Chamou-a, enamorando o nome com a sua voz. – A sua amiga pode ser poderosa, mas talvez você não esteja contando com o quadro atual. Nós, do Luar do Oceano, rompemos com a Sociedade Garou praticamente… Após sermos acusados de usar magia. Essas notícias vão correr… Logo… Como imagino que estejam correndo. – Ele se desvencilhou delicadamente da mão de Verônica e tirou os óculos escuros, enganchando-os na gola da camisa de botões abertos. – Entende o problema, querida? Quero levar a sua amiga comigo… Mas posso estender o convite para você. Seria incentivo o suficiente para você conseguir esse encontro para mim? – Ele afastou um fio negro dos cabelos da Maga do seu rosto. – Por favor?

A Maga o olhava com extrema atenção, como se Verônica nem existisse no quarto.

– Bem… E o que é exatamente esse convite? O que há lá… Para mim? – Camille continuava o olhando, quando piscava, fazia-o devagar.

– Um lar… Proteção… Professores… – Ele devolveu o olhar. – Glamor… Praias… – Nathan esboçou um sorriso de escanteio. – Hm, uma fruta com água quente até nesse inverno. Camille, você não passará frio em nossa ilha. Você consegue se imaginar morando em uma belíssima casa de revista com vista para o mar? Oh, e música. Você conta? A sua voz foi a segunda qualidade que me abocanhou depois dos seus olhos.

O sorriso se desenhou perfeito no rosto de Camille, que se abriu, deleitada com a proposta.

– Ora… – Ajeitou o robe no ombro delicadamente e vagueou o olhar pelo cômodo escuro. – Eu amo cantar. Eu amo… Mas claramente não deu certo para mim… – Voltou a encará-lo, em dúvida, mas entregue. Camille não tirava os olhos dele. – Eu vou ter uma casa? Uma casa mesmo? Com vista para o mar…? – Ela riu, como se nunca houvesse pensado em uma tão glamorosa.

Verônica tocou o próprio ombro, achando graça em como ele havia a envolvido, e como ela queria ser lançada naquele jogo. Nathan acabou sorrindo com mais sinceridade ao ouvir o riso dela, também encontrando certa graça em todo o momento.

– É que… Bem. Você terá que falar com Chiara…

– Chiara. Hm… – Ele concordou com a cabeça. – Você acha que ela aceitaria falar comigo, Camille? Eu não sei… Agora? – Ele mirou o próprio relógio de pulso. – Ou… Daqui a pouco? Eu não ligaria de esperar aqui, com você… Tenho certeza que Verônica também não. – Ele se voltou para a outra morena, selando um sorriso. – Nós podemos sair daqui em um táxi executivo direto para o heliporto onde o nosso helicóptero nos aguarda. Você pode se esquecer de que nasceu para isso ou não… – Ele fitou o quarto. – … Para ser sincero, esse seria o meu tipo de quarto. Hm, enfim… Você pode escolher como quer viver.

A Maga abriu mais os olhos, e se ergueu devagar, mas repentinamente agitada. Verônica não sabia se a ansiedade súbita era de receio ou de uma oportunidade que não poderia ser perdida.

– Eu vou ligar para ela… E dependendo… Quer dizer… Seria melhor esperarmos aqui. Eu… Me… Sinto mais segura se a Chiara estivesse…  – Camille fitou Verônica brevemente, segurando o celular com as duas mãos. – Um minuto…

Afastou-se para trás de um biombo de madeira para procurar o número e telefonar.

Verônica fitou Nathan curiosa, buscando seus olhos e fazendo um ar de descrença. – Gaia… – Murmurou ao Galliard, surpresa com as habilidades dele. – O que foi isso, hein?

– Fogo.

Espreguiçando-se, Nathan deitou o corpo na cama macia. Os braços do lobo se cruzaram atrás de sua cabeça e franziu o cenho, mirando a Garou com uma expressão de descrença:

– Verônica… – Ele sussurrou. – Eu teria que ser mais que um rostinho bonito qualquer para agarrar Nyra Blackwood… – Um sorriso quente surgiu em seus lábios. – Somente cantar ‘My Propeller’ no ouvido dela não iria bastar, acredite. – Ele suspirou, preguiçoso. – Hm. Preciso ir para casa. Eu estou muito excitado…

– Se nenhuma brisa me congelar até lá, eu vou beijar você. – Verônica suspirou profundamente, pensando por um segundo se não deveria fazer aquilo naquele segundo.  Mas, a conversa de Camille se iniciou, em um idioma que Verônica não conseguia se lembrar de onde havia escutado. Mas era português.

Arqueando as sobrancelhas, Nathan piscou os olhos vagarosamente. Apenas se lembrou que deveria se endireitar quando se percebeu compreendendo absolutamente nada da conversa. O Galliard se endireitou, sentando-se.

– …Você pode vir rápido…? É… Verônica Velvet e Nathan Blackwood. No quarto na Red Rose. Sim! Sim… Espero aqui? Não… Isso é muito tempo, Chiara. O que eu deveria fazer então? Ahn… Mas… – O tom de voz diminuiu – E… Se… ? Ok…

Camille saiu de trás do biombo, e os fitou:

– Chiara disse que só pode estar aqui amanhã… Ela está bem longe agora…

– Podemos falar com ela? – Verônica estendeu a mão. Camille concordou e entregou o aparelho.

Assim que pegou o celular, Nikki deu a Nathan. Segurando o celular, Nathan as olhou levemente confuso por um instante. Vou dizer o quê? Ele se curvou sobre os joelhos e pensou:

– Olá, Chiara… Eu sei que tudo isso está soando… Estranho. Eu posso me explicar, hm… Distância é… Relativo. Diga-me onde você está e voarei até você… – O Galliard fez uma pausa e suspirou. – Em caso de você não saber, você está falando com Nathan “Eclipse-Solar” Blackwood… Hm.

Olá, Vossa Alteza… – A voz de Chiara tinha a marca do sotaque espanhol. – Eu reconheceria sua voz. Sua voz! Ahmm… Pode se assegurar que Camille ficará bem? – Suspirou: – Ela não tem nada a ver com a morte de Lucien MorningKill, fui eu mesma.  Ela é inofensiva. 

Verônica escutava a conversa de onde estava, tentando se recordar do candidato “Morto?”.

– Pergunta onde ela está…?

Mas não precisaram esperar a resposta:

Eu estou na Água Rasa. Podemos nos encontrar amanhã?

– Água Rasa… – Verônica pensou sobre o que sabia da Seita. – Isso é mal, Nathan… Acho que são aliados da Reserva. Seita pequena… Fora da cidade.

Voz bonita. O suficiente para ganhar a atenção do Garou. Nathan fitou Camille enquanto a ouvia e direcionou um olhar de soslaio para Verônica sobre o questionado da Garou:

– Hm… Na verdade… – Ele coçou à lateral do rosto, pensando, e se ergueu. – Nós poderíamos nos encontrar hoje. – O Galliard se ergueu, observando ao redor. – Então… – Nathan pousou a mão à confira. – Camille ficará segura aqui com a sua proteção e das demais garotas… Eu arriscaria dizer que você pode ficar tranquila… – Ele piscou um dos olhos e desligou a ligação. – Obrigado, Camille. – Ele caminhou até a Maga e entregou o aparelho para ela.

Camille segurou o celular com as duas mãos e teria o torcido se pudesse:

– Ela está em perigo? – Perguntou baixo, os olhos de Nathan a Verônica – Vocês não vão me levar junto? Para Ilha… Ou… Até a Chiara?

– Hm… Chiara não tem horário na sua agenda para ter uma reunião hoje comigo. Eu achei… – O Galliard fez menção que a tocaria em suas mãos, mas parou no mesmo instante. – Hm… Falar isso em voz alta me soou estranho agora. – Ele se entreolhou com Verônica.

“Não é melhor eu chamar Nina?”, Kraz sussurrou na mente dos dois lobos.

“Por que, Kraz?”.

“Eu também achei estranho. Se você estivesse conversando com um cano de uma arma apontado para você… Não seria difícil?”.

– Hm. – O lobo posou as mãos quentes sobre as de Camille. – Eu acha que não custa tirarmos a dúvida de que está tudo bem.

– Está bem… – Camille arqueou as sobrancelhas. Desconfiada que a grande conversa estivesse na mente deles. – Eu vou esperar aqui então. Eu tenho coisas para pegar… – Fitou a mão que Nathan havia segurado e sorriu, embora o alerta não fosse positivo:

– Eu espero que vocês não tenham a intenção de nada ruim, mesmo. Chiara tem muitos aliados espirituais. Ela está sozinha, mas é uma Peregrina.

– Peregrina Silenciosa? – “Não deve ser a pessoa certa…”, Verônica estranhou, mas sorriu a Maga: – Ok, nunca mexeríamos com um. Não se preocupe Camille, isso aqui, foi real. – “Então é melhor avisarmos logo que vamos entrar em ação possivelmente. Contra uma Seita. Isso é importante mencionar.”

Ele afastou a mão das dela vagarosamente, recolhendo-as para os seus bolsos. Ele umedeceu os lábios e fez um breve beicinho antes de dizer:

– Krazugnis, venha aqui, por favor.

A sua presença trouxe mais calor do que era agradável em um cômodo. Kraz deu um passo às costas de Nathan, trazendo aos lábios um sorriso de serpente. A Dragonesa que possuía a mesma altura do Galliard o abraçou pelas costas. Sua mão pálida desceu pelo peito do Garou e o seu sorriso se tornou ainda maior. Ela trajava um conjunto completamente negro e reforçado até o pescoço. Os seus cabelos de fogo estavam presos em um coque elegante de fios soltos.

– Se você luta, Camille, é melhor vir conosco. – O Garou virou o rosto, encarando a Dragonesa. – Avise os seus irmãos, por favor. E-

– Se for fomos entrar em ação, Nate… Não será necessário ninguém mais além de mim e Nina. – A Dragonesa sorriu graciosamente e ergueu o olhar para Verônica. – A precaução está adequada…

– Eu tenho certeza que só vocês duas dão super conta do recado. – Verônica rebateu – Mas eles precisam saber. Não vamos cometer erros antigos, ok?
Enquanto Verônica falava, Camille havia de afastado até a penteadeira. Balbuciou alguma coisa e ofegou.

– É… Um… É o Dragão? Dragonesa. – Moveu o rosto.

– Está por dentro. – Verônica a analisou brevemente. – Melhor não, Nathan. Vão ser Garou, não outros magos.

– Eu realmente não tenho muitas habilidades sem grande preparo. – Camille disse quase em um sussurro, os olhos seguindo Kraz. – Eu não entendo porquê tudo ficou tão tenso de repente…

– Vamos indo? Nina deve nos pegar no caminho.

Os olhos claros de Krazugnis seguiam Camille com atenção, silenciosa. Ela não se manifestou sobre a sua natureza, mas assentiu para Verônica. Com um passo para trás, ela encolheu o Galliard para a Penumbra e aguardou a Garou se afastar e se metamorfosear.

– Kraz. Não pouse muito perto. Eles perceberão você. É melhor termos certeza do que está acontecendo. Às vezes, ela só quis me deixar esperando mesmo. – Nathan disse a Dragonesa em chamas. – Sei lá.

“Pousarei longe. Eu já engoli lobos dessa Seita. Eles não gostarão de me ver…”, ela disse com um rosnado. “Subam…”.

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