They’ll Tell You I’m Insane

Categorias:Romance
Wyrm

They’ll Tell You I’m Insane


As botas pesadas mastigavam o vidro conforme a sola as retorcia com os passos lentos de Henry pelo Blood & Wine. O estabelecimento glamoroso, ferido pelos resquícios do dia anterior, já contava com policiais que não enxergavam o raposo oculto por seus Dons e Mágika, mas faziam diversas perguntas a Rosstrider Kardigan que respondia agitado e emotivo sobre os corpos espalhados pelo chão que tinham surgido dentro do seu comércio.

Henry reconhecia os Aparentados que trabalhavam na padaria. Todos eles. Os seus corpos possuíam os sinais que o Véu deveria vetar: garradas e mordidas. Os humanos tinham seguido no pacote de evacuação da Rainha para a União Lupina. Henry não conseguia imaginar o que havia acontecido para os retaliadores terem acesso às suas vidas em tão pouco tempo, mas o recado era transparente. A problemática se seguia com o recolhimento dos corpos. Poderiam tentar falar com alguns deles, mas a polícia envolvida complicaria todo o processo de investigação. Henry observava os cadáveres, pensando se valia o esforço de descobrir os seus assassinos…

Quando foi pedido para Rosstrider se retirar para que a perícia começasse a trabalhar, Henry o acompanhou enquanto meneava a pedra que estourada o vidro da frente da Blood & Wine em sua mão. O objeto estava úmido de sangue seco e havia uma mensagem expressa, pois o sangue não pertencia a nenhum dos cadáveres. O Kitsune guardou a pedra no Umbral para uma futura inspeção minuciosa e continuou seguindo o Dragão de Metal. Os dois se afastaram da cena do crime e adentraram o primeiro café mais vazio que encontraram naquela manhã. Disfarçando o seu semblante de fisionomia para não arriscar ser reconhecido, Henry pediu dois chás de camomila e levou para a mesa em que estavam sentados:

– Você está bem? – Henry perguntou, olhando-o.

Rosstrider ofegava, mas assentiu por educação. O Dragão sacou o celular do bolso do terno preto que usava e selecionou o contato do marido da padeira. Henry arqueou as sobrancelhas, mas logo compreendeu os motivos do Dragão antes de ele se explicar.

– Preciso avisá-lo… Eram amigos dele. Pessoas gentis… – Rosstrider disse, sentido. – Eu… – Ele se tocou aos cabelos. – Tsuru… Eram todos inocentes

– Eu sei. – Henry o olhou e pousou a mão sobre o ombro do Dragão de Metal. – Eles estão com reféns…

Rosstrider assentia enquanto o celular somente chamava. Henry apoiou o rosto na mão, observando a rua através do vidro. Não possuía nenhuma ligação sentimentalmente forte com aquelas pessoas, mas lamentava o ocorrido. Eram rostos que costumava a ver. As vítimas não paravam de surgir…

– Ross… Eu vou dar uma sondada na reserva florestal… Ver se descubro alguma coisa. – Henry disse ao Dragão que estava com o rosto colado no celular. – Você volta direto para a ilha, ah?

O Dragão o olhou e assentiu vagarosamente, mas retornou às tentativas de chamadas.

– Talvez ele já saiba. Isso já deve ser notícia por toda a mídia… – Henry disse, carinhosamente.

– Sim… Eu… Eu sei. – Rosstrider suspirou, concordando e recolhendo a sua xícara de chá para bebê-lo.

Faz parte do processo, convencia-se. Liberdade é um bem muito caro. Ele observava os rostos indo e vindo ao seu lado enquanto caminhava pela rua. Rostos alheios à guerra tão próxima. Grande parte deles carregava uma energia tão pesada quanto os seus próprios corpos, trazendo agonias que o metamorfo conseguia ler sem esforço. A ilusão poderia não ser uma benção quando a exposição às energias densas era uma realidade sem escudo. Henry inspirou profundamente e soltou o ar gemendo de desânimo enquanto Percorria Atalhos, assumindo a forma de um raposo de sete caudas, permanecendo oculto para quaisquer olhos que o estivesse observando.

A União Lupina era poderosa e ao saltar sobre o muro que rodeava a reserva em grande parte de sua extensão, Henry ativou Dons e os intensificou com Efeitos. Os arredores estavam cheios de lobos e, deveras, até recebeu um ou outro metamorfo. Percebeu logo que a sua curiosidade fora impulsionada por uma intuição. Longe do Caern, uma reunião acontecia. Assumiu a sua forma hominídea enquanto caminhava. Glavius falava:

– … Que o Rei Regente será Abram “Da-Adaga-Ágil” MorningKill até que os sobrinhos de Sage, Piotr e Elenor Icecraw estarem treinados e aptos para assumirem o trono, como era o desejo dele. A decisão foi tomada por votação unanime pelo Conselho dos Anciões da Membrana Prateada.

Henry inspirou profundamente e observou ao redor. Obviamente, não seguirão os conselhos dados por Luna. O Kitsune coçou o rosto, dispersando-se enquanto Glavius tecia elogios sobre os Icecraw, família que o Kitsune conhecia pelas fofocas de Elara: incestos, Impuros escondidos dos olhos alheios e traições. Combina com a Sociedade Garou. Um sorriso selado surgiu aos lábios do raposo e ele riu solitariamente. Merda. Fale logo sobre a ilha. Henry coçou a barba curta, impaciente.

Enquanto rondava os olhos, o Kitsune dois rostos queridos entre os seus inimigos: Lee Taeyung e Choi Jin. Dois Garou Hakken coreanos que lhe deram um lar por alguns anos em uma de suas passagens por Fox Town. Taeyung era um rapaz de cabelos castanhos, lisos, levemente cumpridos e com a franja dividida ao meio. Os lábios rosados eram medianos e a pele muito pálida. Ele possuía olhos puxados e gentis e trajava um conjunto de camisa social preta, calças largas e coturnos pretos. Ao seu lado, Jin. Diferente de Taeyung, o lobo possuía um olhar rasgado e altivo. Os seus cabelos negros eram cortados retos por inteiro num arco acima de sua orelha. Ele possuía um piercing no lábio que era ligado por uma fina corrente prateada até a sua orelha. Os seus também eram medianos, mas maliciosos. Ele trajava as mesmas vestimentas de Taeyung. Os dois eram membros de uma Seita pequenina, aliada da antiga Rosa Negra, a Torre da Lua.

“Sarnentos”, Henry enviou à mente dos lobos.

Os dois se alarmaram no mesmo instante e Henry sorriu internamente ao se fazer perceber pelos dois. Henry se aproximou e sorriu, negando com a cabeça quando Taeyung estendeu a mão para cumprimenta-lo.

“Que merda você está fazendo aqui, Tsuru? Ousadia da sua parte caminhar por um local que adorariam cortar o seu pescoço…”, Jin disse em sua mente com um ar maldoso.

“E que você versão dessa história vocês sabem, ah? De tudo o que houve…”, Henry perguntou.

“Não importa. Saberemos a versão que você nos contará”, Jin respondeu.

Taeyung concordou.

“Que fofos. Eles já falaram sobre o Luar do Oceano?”, Henry perguntou.

“Sim, foi o primeiro assunto a ser tratado”, Taeyung disse, “A Sociedade Garou votará em breve sobre o caso da Seita, mas recomendaram tocar todas as Pontes de Lua com vocês. Também disseram para evitar qualquer tipo de contato e atacarem, se for preciso…”.

“Nós mesmos cortamos as pontes”, Henry disse. “Só existe uma Ponte de Lua com Luna de Concreto. Por sinal, não vejo nenhum deles aqui… Não vejo nem Tales Miller”.

“Luar do Oceano têm alguns amigos. Mais amigos do que pode estar contando. Não foram poucos que citaram a Árvore de Dagda aqui. Abram os seus malditos olhos, pois não são apenas os lobos da Sociedade Garou que caminham pela face de Gaia. As Cortes são muito interessadas em vocês. E em você, Jin disse.

Henry esboçou um sorriso desanimado.

“Tsuru. Eles vão pedir a devolução da Fênix…”, Taeyung disse, olhando-o.

“Devolução! Ela não é uma ‘coisa’ para ser devolvida, ah? A Fênix é muita apegada a Eclipse-Solar. Que tentem contatá-la!”, Henry riu, maldosamente. “Entendo. A Fênix precisa abençoar o reinado. Ficarão sem benção!”.

Despedindo-se, Henry se consumiu em chamas e se teleportou direto para a Ilha da Lua. Apesar da vontade de rir com o humor negro que se apoderava de si, não conseguia sentir ânimo em meio à situação corrente. Ele levou as mãos aos cabelos loiros e apertou a própria cabeça, escorrendo os dedos por seu rosto até o pescoço até as mãos terminarem unidas em prece. Ele começou a caminhar em direção à Casa de Vidro para trazer notícias de caos e receber notícias de caos igualmente.

Abraçado a Nyra no sofá, Henry narrava um resumo do que havia sido a sua saída. As mãos tatuadas passeavam pelos cabelos vermelhos e acobreados enquanto mirava Jullian manejando a pedra sangrenta e cheirando-a antes de passá-la para Nathan e Hannah.

As palavras de Henry entravam no ouvido de Nyra, mas ela não assimilava nada. Seus olhos estavam fechados, e ela não se movia muito. As lágrimas ainda marcavam seu rosto de horas atrás, e parecia mais calma, mas só fisicamente.

Hannah havia conseguido uma roupa à sua medida, um vestido preto de alcinhas e um tecido fino. A jaqueta não se fazia necessário, pois dentro da casa era aquecido. Ela cheirou a pedra como Jullian havia feito, e passou a Nathan.

– Não parece que faz muito sentido dar nome aos inimigos… Mas é importante. Especialmente contar os aliados…  Estou com medo pelo Luna de Concreto. Se esse pensamento irracional atingir como doença, eles não vão perdoar nem os que andam na linha. – Hannah dizia na sua voz baixa. – E vão usar nosso nome como desculpa para destruir tudo…

– Não se ofenda, Chang, mas a solidariedade das Cortes Bestiais me preocupou mais do que me soou uma boa notícia. – O Lendário disse enquanto se curvava para a mesinha de dentro para se servir de mais chá.

– Não estou ofendido. Sei o que quer dizer. – O Kitsune beijou os cabelos ruivos de Nyra enquanto o olhava. – A minha espécie pode não ter passado pela Guerra da Fúria, mas convivemos com os restos dela. Eu não acho que chegará a tanto…

– Eu creio que não, mas é a posição em que estaremos.

O Galliard segurou a pedra entre os dedos, olhando-a antes de cheirá-la com os seus sentidos aguçados pelos Dons que juntou adequados. Ele estreitou os olhos, cheirando-a mais uma vez.

– A dos Fera? – Henry perguntou. – Sem dúvidas.

– Eles estão com Judy. – Nathan disse com convicção. – E… Com Alex… Eu não identifiquei o terceiro.

Hannah arqueou a sobrancelha, impressionada com a precisão do Lobo.

– Judith… Não deveria pagar por isso. Ela tem um filho pequeno. O… Athos. Ficou conosco. – Tocou o próprio pescoço e devaneou: – É melhor irmos para cima? Arabella… Enfim… Deve estar atrás. Aliás… E Keith? – Ergueu o olhar a Jullian.

– Keith foi embora com o restante dos Reis, Hanny. Não sei o que ele pretende. Ele não retornou ao Reino dele, mas não sinceramente não confiaria em sua lealdade agora… – O Philodox disse e bebeu um longo gole quente do chá. – Você… – Jullian ergueu o olhar para Nathan. – Quem levará com você para a sua busca?

– Verônica. – Nathan disse, pausadamente, franzindo o cenho.

Henry tocou o queixo de Nyra, erguendo-o e buscando por seus olhos chorosos. O seu sussurro foi tento e doce:

– Eu posso ir com você… Ou ir no seu lugar, Nay… – Ele a acariciou. – O que você quer fazer…?

Hannah observou a delicadeza do Kitsune com Nyra, e lembrou-se que estava em uma sala onde os três pertenciam à jovem Garou. Aquilo não estava sempre fresco na sua memória, pois não tinha uma convivência de rotina… Ainda.

– Eu vou com vocês… Eu… – Nyra o fitava, não chorava, mas os olhos brilhavam.

– É melhor eu não pensar no que eu quero fazer. Porque eu queria um massacre pelo que fizeram. Acho que deveríamos ir para a cidade, não sei, eu quero sair daqui e sentir os arredores… E…

Os olhos se distraíram com Hannah, que olhava para fora. Nyra seguiu o olhar de Hannah, e não demorou para Aisha aparecer caminhando sozinha. A Aparentada usava uma camisa azul bebê larga, e uma calça de lycra. A barriga bem aparente abaixo do tecido, que ela tocava. Havia sido uma longa caminhada, e estava marcado em seus tênis de marca sujos de barro. Quando ela entrou sem bater, estava até ofegante. Fez uma pausa com a mão no peito, e Hannah se ergueu para ajudá-la. Mas a Aparentada ergueu a mão, recusando a ajuda, andou até a lareira diante deles, pegou o vaso de vidro pequeno e deixou cair no chão, quebrando-o. A expressão no rosto dela era furiosa e cínica.

– Bom né!? Quebrar tudo na casa dos outros! – Ela se virou e derrubou alguns retratos no chão sob a lareira – É ótimo!

Nyra a olhou sem entender, e se ajeitou devagarzinho.

– Aisha…

– Não! Eu nem comecei a falar!

Nathan entreabriu os lábios ao ver os pedaços do vaso que respingaram para fora da lareira. Ainda não tinham tido uma conversa com a princesa do castelo. O Galliard se voltou para Jullian, buscando uma explicação de como agir, mas infelizmente, mas encontrou a calma que esperava. O Lendário odiava – realmente odiava – que o seu lar fosse perturbado. O Galliard se entreolhou com Hannah, mas se aliviou rapidamente ao ouvir a voz de Henry em sequência.

– Fale, Aisha. – Henry disse, solidário. – Todos nós estamos perdendo coisas preciosas e o seu lar foi o mais lesionado. – O Kitsune se ergueu. – Eu já desenhei a proposta para as reformas. Quando você quiser ver, eu te mostro… – Ele disse. – Ele vai renascer como uma Fênix. Ficará muito mais bonito…

Jullian e Nathan ergueram o olhar para fora da casa novamente. Polaris corria em direção à casa, alarmando e resfolegando. Seu semblante já era um pedido de desculpas, receoso.

– Não quero saber! Vocês podem engolir essa porcaria de Castelo! Que eu paguei! Que eu era dona! – Ela se virou para Jullian – Vocês lembram quando vocês estavam POBRES e eu resgatei essa ilha INTEIRA!? Pois bem! Destruíram sem necessidade NENHUMA! Que droga de ideia foi essa de pousarem no telhado! – Ela brigou com Polaris de novo – Ideia de GIRICO! – Voltou-se aos demais – Vocês não podiam ter feito isso! NÃO! O quanto eu lutei para criar esses laços! Joguei com todas as regras! Ninguém me consultou! NINGUÉM! – Ela berrou e andou de um lado para o outro com a mão na testa. – Agora você acha mesmo que eu vou entrar de novo naquele castelo depois da lama de sangue!? Para depois vocês irem e fazerem o que querem quando se sentirem ofendidos! Tá difícil pra todo mundo, as coisas não podem ser assim!!!

Nyra segurava o ar e as palavras, pois sabia que entraria em uma briga sem sentido se começasse a falar.

– E aí vocês vão lá e dizem que Aparentado toma decisão. Que Aparentado tem vez. Que eu mando. Que eu importo. HIPÓCRITAS! – Bateu o pé no chão – Agora minha família inteira tá lá fora! Meus amigos, as coisas que eu amo, tudo sendo caçado!

Os olhos de Hannah estavam bem abertos. Espiavam Polaris discretamente.

– TUDO! E eu estou indo embora. E eu não estou nem aí! E nem me olha com essa cara de que eu deveria pedir desculpas. Vocês estão sempre tranquilos aqui! E derrubar um vaso é POUCO! Porque são os outros que estão se fodendo e morrendo e perdendo tudo. – Ela andou até a cristaleira e começou a tirar tudo lá de dentro e jogar no chão.

Coçando a lateral do rosto, Jullian cruzou os braços e acompanhou a coleção de cristais de trombando pedacinhos pelo chão. Mordendo o lábio, ele direcionou um olhar cortante para o Dragão da Matéria. Acksul negou com a cabeça e silabou: “Por favor, não liguem. Eu pago…”. Jullian concordou com a cabeça e respondeu também silabando: “Sim. E você também irá limpar”. Polaris o olhou e suspirou, concordando…

– Meu amor… Nós vamos consertar tudo! Você vai poder trazer a sua família. Blair disse que irá transportar a casa… Ela já te explicou… – O Dragão seguia a noiva, tocando-a no ombro. – Não se estresse, você vai fazer mal a Saiph.

– Eu acho que já vou indo. – Nathan disse, voltando-se para o grupo. – Vocês todos vão para o Membrana?

– Eu não irei. Eu irei para a cidade, mas seguirei sozinho. – Jullian disse, observando Aisha. – Preciso resolver uma pendência.

Nathan iria perguntar o motivo, mas logo se tocou do que se tratava. Ele estava esquisito desde que Nyra havia descrito sobre o assassinato do bebê de Sera – na opinião do Galliard, descrito de propósito. Não era a primeira vez que ele achava que a Theurge usava a psicopatia do Lendário de uma forma que resolvesse algum assunto do seu interesse. E era sempre super efetivo.

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