Her Words

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Wyrm

Her Words


“Você tem uma missão importante, coração espelhado.
Eu sei que isso é bem animador (risos), mas no momento e, talvez isso já tenha mudado quando você ler isto, eu acredito que você seja o único capaz de compreender os meus motivos egoístas.
Assim que a minha vida chegou ao fim, parte de mim seguiu para você. Eu sei que você já deve ter percebido isso. Nem toda essa essência você poderá usar. Cada um desses pedacinhos você deve entregar aos seus irmãos no momento em que julgar correto.
Eu confio em você. Desculpe pelo presentão de responsabilidades, mas confio em você.
Essas pequenas chaves de poder que eu construí ao longo dos anos são muito poderosas. Despertarão poderes que vocês ainda não estão familiarizados. E, claro, também servirão para mim.
Eu voltei, Polaris.
Você, principalmente, não pode se deixar abater e ser pego. Lembre-se disso.
Senti saudades das suas risadas escandalosas.
Elara”.


Era Klaus que lia a página arrancada do diário, mas era a voz de Elara que Polaris escutava novamente. O Dragão da Matéria estava sentado na poltrona ao lado da cadeira de rodas do Garou amaldiçoado. Klaus pousara a mão sobre a sua e a acariciava suavemente enquanto analisava o papel. Os olhos azuis claros de Polaris o fitavam atentos, apesar de se sentir calmo com a notícia inusitada.

– El sempre foi cheia de surpresas… – Klaus comentou franzindo o cenho.

– Sim. – Polaris concordou vagarosamente.

– Temos uma segunda chance e… – Klaus o olhou e devolveu o papel a ele. – Sinto que você não está animado, Acksul…

O Dragão desviou os olhos dos dele para as mãos unidas dos dois. Ele guardou o bilhete em um local mágico e pessoal ao menear os dedos, fazendo-o sumir.

– Eu estou feliz que você esteja de volta… – O Dragão disse.

– Eu sei…

– E você também não está feliz.

Os olhos de Klaus piscaram tão vagarosamente que não parecia que ele os abriria de novo. Ele apertou o sorriso – gesto que salientava a suas covinhas – e entreabriu os olhos como se houvesse Sol.

– Falemos de você, meu amigo. A minha situação é óbvia. – O Lendário inspirou, cansado. – E ainda, controlada. Eu estou conformado por enquanto. E você?

– Preocupado. – Polaris respondeu sem pestanejar.

Klaus se ajeitou em sua cadeira de rodas, esforçando-se com os braços. O Dragão imaginava que não lhe apeteceria receber a proposta de uma ajuda, então apenas o observou.

– Eu estou preocupado… Simplesmente. Há dois furos no céu. Apareceram há dois dias. – O Dragão da Matéria recolheu as mãos e cruzou os braços, encostando as costas no encosto da cadeira em uma tentativa de relaxamento.

– Eu vi… – Klaus sussurrou.

– Eu senti quando elas apareceram. Rhistel também sentiu. – Polaris o fitou brevemente. – Rhistel sentiu. Justificável a minha preocupação?

– Extremamente. Desde…?

– Desde que trouxemos você de volta.

O Garou estranhou, entreabrindo os lábios para responder o que ele não sabia sobre o que dizer. Polaris esboçou um sorriso cheio de sarcasmo e riu por fim.

– Eu sinto que algo muito ruim está para acontecer. Algo além das probabilidades. – O Dragão se ergueu da poltrona com um impulso. – Blair precisa resolver algumas coisas. Eu vou tentar resolver isso com ela o quanto antes… Depois…

Klaus o observou com o cenho franzido.

– A carta…

– Eu sei. – Polaris disse, irritado. – Klaus… Eu não sou uma lagartixa. Eu sei me virar e não vou ficar aqui “em segurança”…

O Garou o olhou, analítico:

– Mas você não está se sentindo completo, está?

Polaris inspirou profundamente…

– Não… Não estou. Eu estou procurando meios de me soltar.

– Essa sua cabeça presa. Lembro-me dela. – Klaus disse, olhando-o em seus olhos. – Eu não sei se as suas memórias são precisas, Acksul, mas… – O Garou fez uma pausa. – Você não costumava a ficar com elas todas soltas… Você não tinha… – Ele moveu os dados no ar, buscando palavras perdidas. – Controle.

O Dragão o olhou desconfiado e, já irritado, negou com a cabeça.

– É verdade o que te digo. Alguém prudente fez isso com você. – Klaus disse.

Resfolegando, Polaris riu secamente. Sem saber para onde ir, caminhou pela sala da Casa de Madeira sem ver nada, apenas a sua mente Furiosa. Ele libertou um grito e aproximou-se da cadeira de rodas de Klaus. As suas mãos se agarravam aos descansos de braços:

– ISSO DÓI! DÓI! É CONSTANTE! DÓI, KLAUS!

Klaus apenas o olhou sem se abalar:

– Eu sei. Eu consigo ver…

– Você está vendo e eu estou sentindo. – Acksul cuspiu as palavras. – Você sabe quem fez isso?! Consegue ver…?! DIGA-ME!

– Eu sei e não vou dizer. – Klaus respondeu, olhando-o.

– El diria…

– Eu não sou a El.

Ríspido, Polaris se afastou. Sentiu vontade de ir embora e caminhou em direção a porta. Quando pousou as mãos no batente, não conseguiu sair. As lágrimas de Fúria desceram quentes dos seus olhos.

– Sei que sabe que no fundo tudo está em seu devido lugar… – Klaus disse suavemente. – Você está com algo do Sonhar com você… Remédio?

Polaris afastou as mãos da porta, pensou e negou. Eu sei e não vou dizer. As palavras foram difíceis de transpor, mas ele se virou e retornou para a poltrona, largando-se nela e se afundando.

– Leah disse que eu gemo quando estou dormindo. – Murmurou.

– Polaris… – Klaus se curvou para tentar ver os olhos azuis, mas ele estava afogado demais dentro da sua própria cabeça para olhá-lo. – Encare isso como um aprendizado necessário.

– Aprendizado… – Polaris repetiu.

– Eu não sou Elara, mas eu sei que ela também não iria querer vê-lo descontrolado, arriscando-se e arriscando os seus irmãos. Essa sua cabeça… Ela é perigosa. Você precisa sentir que vai dominá-la ao invés de ser dominado por ela. Você tem três mentes… Mas existe a união. É nessa união que você precisa se concentrar.

O Dragão da Matéria o olhou, subitamente perdido; dolorosamente inseguro.

– Confie em mim. Eu te amo tanto. A última coisa que quero é que você sofra… – Klaus sussurrou e buscou pela mão do Dragão para segurá-la com as suas. – Por favor…

Um suspiro dolorido fora tudo que antecedeu ao assentir de cabeça do Dragão.

– Eu confio em você, Klaus. Eu confio em você até a morte.

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