Beautiful Ones

Categorias:Romance
Wyrm

Beautiful Ones


A bolsa de couro comportava muito mais itens do que o seu tamanho deveria permitir. Nico já havia tirado roupas e diversos pertences pessoais. Após o Mago se acalmar, ele e Taylor seguiram até a mansão onde ele estava hospedado. Nico explicou brevemente o porquê de estar bem ali, na casa do Garou Richard Flowers – rockstar e nada discreto. Sentado no chão, ele se cercava objetos que havia separado enquanto Taylor o observava sentada no parapeito da janela do quarto e fumava o seu cigarro aceso em sua piteira clássica. Ela estava de lado, com uma perna flexionada e a outra relaxava, meneando.

– Por que você o salvou? – Ela perguntou com um sorriso aparente em seus lábios. – Richard…

Nico ergueu os olhos para ela, fitando os seus orbes azuis cínicos.

– Não posso te responder. – Ele esboçou um sorriso sem jeito e amansou a voz naturalmente grossa e rouca. – Ahm… Resumidamente, alguém ficou bem triste.

– Hmmm… “Alguém ficou bem triste”…  – Ela direcionou o olhar para fora após um riso seco, fitando para baixo a Kitsune que bem conhecia flertar com o belo rockstar. – E eu…? Por que me salvou?

– Você não morreu, Tay. – Nico respondeu sem olhá-la. – Mas sofreu um ferimento irreparável. Você é importante hoje. – Ele inspirou profundamente. – Queriam-te longe da barreira que erguerão no centro de Fox Town…

– Porque eu furo barreiras.

– Sim.

Taylor abriu um sorriso largo e Nico ergueu os olhos quando notou um silêncio. Era um sorriso que quebrava totalmente aquele ar arrogante do seu rosto. Um sorriso puro.

– “Tay”. Que fofo. – Ela voltou a tragar do cigarro.

Calmamente, ela desceu do parapeito e caminhou até ele, observando os pertences diversos. Havia Fetishes, amuletos e outros objetos mágicos. Nico parou o que estava fazendo quando ouviu os seus passos leves. Ela se sentou próxima, olhando-o. Ele sabia que ela já havia percebido a sua timidez e nem tentou escondê-la.

– Nico. – Taylor fez uma pausa. – Hmmm… Por que as raposas? As “Dark Roses” não… – A Maga franziu o cenho. – … mexem com… Coisas muito legais. Hmmm…E você, eu não sei… Eu sinto que está em outra sintonia.

– Eu sei. – Ele respondeu, olhando-a em seus olhos azuis. – Eu sei disso. – Reafirmou. – Sei que elas são diferentes, mas…

– Mas?

– Eu não tenho problemas com nenhum dos três lados da Tríade. – Nico disse com calma na voz. Não temia ser julgado, mas receava que fosse mal interpretado. – Eu trabalho com os três e sou íntimo dos três. Eu não vejo sentido em fazer diferenciação. Todos os lados tem qualidades e defeitos. Nenhum merece desprezo, mas compreensão… Eu acho.

Ela assentiu vagarosamente, olhando-o com mais atenção:

– Hmmm. Enfim. Eu não sei que versão você conheceu delas, mas eu não confiaria em todas. De olhos fechados, confie apenas em Mina.

Um sorriso selado surgiu aos lábios do Mago. Taylor esperou uma resposta, mas ele apenas a fitava silencioso. A Maga acabou rindo:

– Por acaso eu já te disso?

– Por outras razões, mas… Sim, já… – Ele alargou o sorriso.

– Nossa. Eu não mudei…?

– A Taylor Byron que eu conheci… – Nico passou a mão pelos cabelos. – É uma mulher muito triste. E eu… Gosto muito dela… E de todos que compõem o Grimoire… Então…

Silenciosa, ela voltou a observá-lo. Taylor levou o cigarro aos lábios e tragou, lançando a fumaça para longe dele. Nico sabia que Taylor já tinha uma coleção de dores acumuladas de suas lutas. Os membros mais velhos do Grimoire eram cheios de remendos mentais para continuarem sãos.

– Preciso avisá-los. – Taylor disse, de súbito.

– Sim. Tudo ao seu tempo. Confie em mim. – Nico disse, olhando-a navegar por seus pensamentos e, talvez, por outros lugares…

– Eu estou me sentindo inocente por já confiar, Nico. – Ela respondeu e arqueou uma sobrancelha a combinar com um sorriso de escanteio. – Você parece que é muito mais que um rostinho perfeito.

O Mago abriu um sorriso risonho e sem jeito e voltou a organizar a separar os seus pertences, mas parou assim que sentiu uma terceira presença.

É. Taylor imaginou que ela apareceria. Moça sensível, a senhorita Yuna. A Maga esboçou um sorriso selado e retornou o olhar para Nico. O Mago a encarava com os olhos em expectativa. Olhos tão puros e vivos em um perfeito tom de azul. Taylor fez um muxoxo.

– É melhor eu ir. Você… – Ela arqueou uma sobrancelha e tirou do nada uma pena negra. – Enfim, me chama quando a confusão começar…

Delicadamente, Nico pegou a pena e assentiu.

– Lembre-se do que eu disse, Nico. – Taylor frisou, encarando-o. – Tay. – Ele fez uma pausa. – Tudo bem. Ahm… Tudo bem. Obrigado por se preocupar. E… Prepare-se… E… Ahm… Tay. Reúna quem você conseguir. Talvez seja melhor eu me apresentar agora.

– Com certeza. – Ela piscou um dos olhos antes de se erguer e abrir uma cortina da Película para passar.

Assim que Taylor sumiu, Nico se ergueu e esperou. Ao chegar perto da porta do quarto, a raposa coreana deu uma batida:

Olá? Eu posso entrar, ou seria algum incômodo, Andarilho-do-Tempo? – Perguntou, encarando a porta e cruzando os braços.

– Claro… – Nico abriu a porta rapidamente e apertou um sorriso de escanteio ao ver a raposa. – Não repare na minha bagunça. Eu preciso organizar algumas coisas… E… – Ele encolheu os ombros e abriu o sorriso por fim. – … Eu não estava esperando por uma visita tão cedo de uma de vocês… Depois do que rolou.

Os pés descalços da Doshi andavam sorrateiramente pelo quarto adentro. Ela observou as coisas pelo chão e depois fitou a janela, provavelmente reparando nos sinais da segunda pessoa que estivera ali.

– Ah, não se preocupe. Eu também desarrumo tudo para poder arrumar. – Sorriu para o Mago, parando de andar. – Desculpe aparecer assim. Vou ser sincera… Vim pelo rockstar. – Pestanejou, corando. – Imaginei até que você que não quisesse nos ver. – Puxou o cabelo, colocando de lado no ombro direito. – Nos perdoe. Aquele comportamento da Yu-mi nos deixou envergonhadas. – Suspirou, encarando-o.

Ele negou com a cabeça quando ela comentou sobre Yu-mi. Nada do que não estivesse imaginado da Kitsune – talvez, não tão drástico, mas tudo bem. Nico dedilhou a porta com os dedos e acabou por rir:

– Bom, nesse caso, eu acho que você está liberada. Eu já perdoei. Não foi nada demais. Enfim… O rockstar está precisando de companhia mesmo. – Nicolai olhou para o teto brevemente. – Ele acabou de terminar um… Lance. Ahm. – Nico franziu o cenho e desviou os olhos para a própria mente. – Isso é… Muito curioso. Enfim! – O sorriso dele voltou a surgir. – Boa sorte.

– Hmm… – Yuna murmurou negando, indo na direção dele. – Richard pode esperar. – Parou de frente ao Mago. – Eu sei que Taylor Byron estava aqui. – O encarou nos olhos. – E ela é do Grimoire. O que quer dizer… – Colocou as mãos nos quadris. – Que algo está acontecendo. Ou que vai acontecer. – O fitou com mais atenção. – Além do mais, pela sua cara, você sabe do que se trata. Por favor, gostaria que me contasse.

– Ah. – Nico levou uma mão a cabeça, enrolando mechas do seu cabelo escuro pelos dedos enquanto comentava. – É que… – Ele estreitou levemente os olhos. – Bom, ahm… Eu ajudei Taylor com uma coisa e ela vai ajudar o Grimoire com outra. É um assunto que os envolve. Com certeza, se for necessário, vocês serão contatadas e tudo o mais, eu acho… Mas… – Ele molhou os lábios. – É mais um assunto deles… E dos lobos.

Yuna o observou cautelosamente, tocando os dedos nos lábios:

– Hm. Melhor eu avisar as meninas. Assim ficamos todas em alerta. – A raposa cinzenta arqueou a sobrancelha. – É… Eu tenho uma pergunta. Posso te chamar de Nicolai? Chamar de Andarilho-do-Tempo é legal, mas preferiria o seu nome. – Ela riu.

Ele concordou vagarosamente, olhando-a com aquela expressão curiosa de atenção, temeroso entre falar demais ou de menos. Parecia um risco cada caminho que tomaria. E prever todos ele sabia que não seria possível. Emoções

– Você pode me chamar de Nicolai ou… Nico. Chamam-me de Nico. – Ele assentiu para ela. – O título é legal, mas não precisa… É bem… Longo mesmo.

– Esse título é importante. E nos faz lembrar que você é aquele que nos conhece antes de nós o conhecermos aqui, nessa época. – Um sorriso selado desenhou-se em seus lábios rosados. – Só queria que soubesse que, se precisar, não hesite em nos procurar, Nico. – Uniu as mãos e curvou-se.

Ele se curvou em resposta, imitando a saudação dela com perfeição:

– Obrigado. – Ele disse em coreano.

Quando Yuna o deixou sozinho, Nico encostou a porta e caminhou até a cama para se jogar nela. Sentiu-se cansado. Subitamente e terrivelmente cansado. Pisar em ovos o tempo inteiro exigia demais da sua mente. Cada passo poderia mudar rumos e torcer ainda mais a realidade caótica. Necessitava ser muito cauteloso e estava se sentindo estressado com a cobrança interna. Ele fechou os olhos, mas não relaxou. Somente conseguiu se sentir ainda mais agoniado. Quando os abriu, saltou da cama com uma exclamação muda de assombro.

Os lábios bem desenhados e medianos não desenharam um sorriso, mas os olhos de orbes cinzentas sim. Nico já estava acostumado com aquele jeito sério e a inclinação para maldades leves, pois havia a compensação de uma forte e fiel amizade.

Jaqueta de couro, camiseta branca e justa ao corpo magro e definido e uma calça jeans também justa a combinar com o All Star preto e rebelde. Ele já se vestia da época em que se jogaram. Sempre foi adaptável. Os cabelos sem eram negros e ondulados que formavam uma franja jogada de lado. Nada que contrastasse com o seu tempo. Jeremy era realmente como o seu título propunha: um Camaleão. Ele se sentou na cama com os braços jogados para trás enquanto Nico se recompunha do susto.

– Eu achei que encontraria Taylor Byron aqui. – A voz do Lobo Mago era grossa e séria o bastante para causar uma intimidação inicial em quem não o conhecia. – E achei melhor esperar a coreana sair. Bom saber que enquanto eu me fodia, você está batendo papo com mulheres lindas.

– Você também verá daqui a pouco.

– Hm. Não sei se fico feliz ou triste com isso.

Nico se sentou ao lado dele, olhando-o com preocupação breve. Ele brincava com o assunto sério como de praxe. Ele sempre brincava.

– Você encontrou alguém? – Nico perguntou.

– Pessoalmente, não… – Jeremy olhou para o teto ao esticar o pescoço. – Mas descobri onde cada um está.

– Ah! – Nico abriu um sorriso. – Eu não esperava menos de você.

– Esperava sim, mas continuando…. Não tenho boas notícias. E uma delas… Cara. É bem zoada.

Nico franziu o cenho. Pelo menos estão vivos.

– Dorian, ou Donald, vive como… Um Influencer. – Jeremy ergueu fitou Nico de soslaio. – É sério.

– Bem zoada. – Nico se manifestou após pensar sobre o assunto é todas as problemáticas que enfrentariam para corrigir um detalhe relacionado a mídia. Todavia, não estava surpreso. – Precisaremos do Grimoire para corrigir isso…

– Sim, mas essa não é a mais zoada.

– ‘Tá…

– Suri está metida com fadas. Emma foi atrás dela. Susana.

– Nome bonito. Ahm… – Nico se tocou nas mãos. – Essa é a mais zoada?

– Não.

Nico cruzou os braços e aguardou. Jeremy começou a enrolar a própria franja pelos dedos.

– Anthony está vivendo com a mãe dele. A… Mãe real. Não sei o que ele disse para ela e é isso…

– Tudo bem. Não é tão ruim… Eve… Bom, ela precisava de ajuda.

– Ele ficou com a minha mãe. A minha mãe.

Nico gostaria de ter transparecido menos a sua indignação, mas era tarde. Os lábios do Mago se entreabriram e assim ficaram.

– Ele está há anos aqui… E eu quero que ele se foda. Isso foi nojento. – Jeremy esbravejou, irritado. – Lixo.

– É, eu… – Nicolau desviou os olhos para o quarto. – Nossa…

– Sim. Nossa.

– Melhor falarmos com ele, Jez… Às vezes, é só fofoca. De onde você tirou isso?

– Intelligent High School. Assistindo lembranças. Mamãe era nova…

Nico pestanejou. Não havia dúvidas. Anthony estava fora de si. Que atitude baixa:

– Sinto… Muito. Ahm… Eles ficaram por muito tempo?

– Não… Mamãe não quis. – Jeremy se curvou e apoiou o rosto na mão. A Fúria dele passou a cintilar perfeita e fé em seus olhos sérios. – Doente. Ele é doente.

– Não foi legal… É… Tenso. – Nico mordeu a bochecha por dentro. – Mas… Não quero cortar o seu drama horroroso, mas precisamos ir. Depois pensamos sobre o restante desses… Detalhes.

Já acostumado com a experiência, Nico se segurava na armadura de Jeremy enquanto o Garou de pelos brancos e leves rajadas de prateado corria pela Penumbra na velocidade mais acelerada que conseguia. Os olhos de Nico se mantinham longe do trajeto, mas no céu. A prova que os seus cálculos e os de Suri estavam precisamente corretos. A fenda atemporal já não estava tão escancarada e já não era mais transponível, mas as suas presenças gêmeas causavam friagem incerta de uma insegurança atordoante.

– Quem está aqui há mais tempo, Jez? – Nicolai perguntou.

Suri, Anthony e Dorian… ­– Rosnou o Jeremy.

Anthony teve tempo o suficiente para fazer todo o tipo de merda, o Galliard guardou a informação para si, assim como as suas mágoas caladas em forma de Fúria sensível.

– Por que o Belle Epoque? – Jeremy questionou o Mago.

– Ahm… Intuição, eu acho. Um dia antes de eu começar o ritual, Sophie disse que… Enfim, ela amava o lugar. Ela trabalhou lá. Eu fiquei em dúvida, mas senti que seria ele. – Nico respondeu, sentindo-se engraçado ao pensar na própria decisão. – Eu, você e Emm já desabafamos muito lá… Então…

– Desabafos. Realmente… Um ótimo lugar. Não repare se eu saltitar de alegria. – Jeremy resmungou com um rosnado ao parar de caminhar. – Emma foi buscar Suri… E eu não a sinto. Saímos?

Nico desceu das costas do Hispo, observando ao redor.

– Estamos perto do escudo… Onde ele se formará… – Nico divagou, aparentemente distraído, como de praxe.

Calado, Jeremy retornou a forma hominídea e o aguardou retornar ao presente…

– Não sei. – Concluiu, inspirando inseguro.

– Certo. Vem. – Jeremy agarrou o pulso do Mago e conduziu-o para a Tellurian após espiar o beco em que sairiam.

O Mago fechou os olhos com a passagem, sentindo a Película anormalmente resistente dificultar a passagem deles. Ele continuou com eles fechados mesmo após a travessia bem sucedida. De repente, dúvida. Ele apertou os olhos fortemente e sentiu uma vontade infantil de chorar. O coração acelerou solitário até que sentiu o toque quente em seu ombro.

Jeremy arqueou uma sobrancelha e fez as suas perguntas silenciosas que ele mesmo já se respondia com o uso da Esfera Mente…

– Já era, Nico. Não adianta mais… – O Lobo Mago comentou com delicadeza à voz grossa. – Para frente agora.

Nico inspirou profundamente e assentiu. Os dois caminhavam para dentro do café aconchegante.

– Já me viram chorar aqui hoje… – Nico sussurrou.

– Nossa. Que anormal você fazer isso… – Jeremy ironizou com humor aos lábios sérios.




Emma pousou-a no chão delicadamente, ajoelhando-se ao lado de Suri e a fitando com seus imensos azuis.

– Você está me ouvindo?  – Emma perguntou, e Suri abriu os seus olhos, grandes e levemente rasgados, com as pupilas dilatas a ponto de enxergar luz com incomodo.

– Emma… – Suri ofegou e agarrou o rosto da Garou. – Emma! – O tato passou do rosto para os ombros e depois um forte abraço, que Emma retribuiu fortemente, muito diferente da forma desconcertada que costumava ter com gestos sensíveis. – Emma! – Suri riu e a beijou no rosto entusiasmadamente. – EMMA!

– ‘Tá! ‘Tá… ‘Tá… Estamos bem… – A Garou afastou-se delicadamente e fitou a irmã. Primeiro séria, e depois abriu um sorriso. – Nico e Jeremy estão aqui. Vou nos levar até eles…

– Oh…! Isso é boa notícia… Eu acho… – Suri se demonstrou perdida. – Eu… Bem… Tenho dúvidas se estou no mundo dos espelhos, Emm… – Ajeitou-se para se sentar no chão Umbral sozinha. – Você é você mesma?

– Claro que sou eu. – Emma franziu o nariz com a pergunta, mas compreendeu o receio dela. – Você se perdeu há muito tempo…

– Minha mente não recupera alguns fragmentos. Eu… – Tocou o próprio colo ofegante, e encarou ao redor. Mesmo estando na faixa dos vinte anos, passou um longo período disfarçada como estudante de um colégio ao lado das fadas. Suri usava uma roupa de colegial de onde Ártemis estudou, e viveu uma vida humana quase completa. Emma percebeu isso ao notar Suri melhor e abaixou o olhar brevemente. Não era uma boa notícia. Além de tudo, o corpo de Suri estava fervendo como o de um Garou, e havia uma certa onda de instabilidade na sua áurea – Emma notou isso rápido. Algo estava acontecendo com Suri, e não era somente sobre a força poderosa que havia movido minutos atrás.

– Não te encontramos antes. Você não lembra de nada? – A Garou perguntou incerta e um pouco insegura. – Ainda estamos nos localizando, e…

– Eu quero ver Jeremy e Nico… – Suri pediu, erguendo-se quase sem equilíbrio, ajudada por Emma. – Talvez eu recupere sozinha… Sem que me expliquem…

Emma assentiu, tocou a mão da irmã e tão delicada quanto pode, puxou-a para a Tellurian após espiar o ambiente. Segurou-a pelos próximos passos, certificando-se que Suri não cairia no processo, e adentrou Bella Epoque, empurrando a porta de vidro e procurando Nico e o irmão. Da porta mesmo, o sorriso de Suri foi crescendo até se desenhar inteiro ao ver Nico e Jeremy. Estava prestes a correr na direção deles, mas foi impedida por Emma, que segurou seu outro pulso, impedindo que Suri caísse no chão pela falta de equilíbrio que ela claramente apresentava.

– NICO! JEZ!  –  Suri resfolegou sem se conter.

Jeremy entreabriu os lábios em uma exclamação, mas os fechou devagar. Ele já havia visto Suri de longe, então o impacto que certificar que a irmã estava bem era menor do que Nico, carregando o peso de ministrar um ritual complexo. Quando o Mago desatou a correr, Jeremy pensou que era tudo o que eles não deveriam estar fazendo, mas justificou-se os sentimentos. O Garou se ergueu vagarosamente e aguardou as saudades de Nicolai serem curadas.

Saudades não seria o sentimento, mas deveras alívio. Não a via há dois dias, mas o medo de ter falhado com algum deles era um peso que carregava no coração. Ao abraçá-la, o sentimento diminuiu. Nico se agarrou forte a Suri e, emocional, sentiu os olhos aguarem.

– Pessoal… – Jeremy chamou-os.

Não era um incômodo contar com o anonimato, mas ainda eram quatro pessoas excepcionalmente atraentes e sobrenaturalmente belas. O poucos clientes se esqueciam dos seus pedidos e as garçonetes não se sentiam culpadas em acompanhar a cena.
Emma observou o saudoso abraço, forte, quase agoniado de tão apertado que Suri o segurou. A Kithain se desvencilhou devagar de Nico e o beijou em cada bochecha, abrindo um enorme sorriso e cedendo um riso depois. Afastou-se dele e correu até Jeremy, esbarrando em algumas cadeiras pela euforia e a lentidão que seus sentidos ainda trabalhavam, desprendendo-se dos avisos do irmão mais velho e o abraçando com a mesma intensidade sincera. Emma abriu um sorriso sem graça, permaneceu com uma mão na cintura e um olhar brevemente perdido, mas se recompôs, cumprimentou Nico e caminhou até a mesa. Muito diferente de Suri, Emma usava uma camisa preta de banda, alguns números maiores e um jeans skinny rasgado das coxas até os joelhos. Seus cabelos muito negros estavam presos em um rabo de cavalo, com a franja solta ao lado do rosto pálido, suas unhas estavam sempre com meio esmalte, e os coturnos eram sempre negros.

– Eu acho que ela não está muito bem. – Emma informou a Nico enquanto caminhava de volta para mesa – Eu a achei em combate… Usando muito poder. – Olhou ao redor, observando o local com cuidado – Deveríamos fazer isso por aqui mesmo…?

O sorriso sem sorrir de Jeremy surgiu quando a abraçou. O Galliard era carinhoso, mas parecia sempre resistente a demonstrar todo o carinho que tinha ao peito. Ele apertou a irmã com ar de humor. Sentimentos demais eram uma fraqueza para Jeremy. Nicolai se desviou deles quando o irmão mais velho guiou a ruiva para a última mesa creme contornada por um sofá rosa-bebê. O Mago a abraçou Emma de lado pelos ombros e começou a caminhar em direção a eles sem pressa.

– Eu selei aquela mesa. – Ele fez uma pausa até transpassar a linha em que o Efeito funcionava. – Ninguém vai ouvir nada. – Ele disse num sussurro. A sua voz grossa soava ainda mais áspera quando o fazia. – Ela está aqui há mais tempo que o Thony, parece…? Senti tanto Tempo nela… – Ele franziu o cenho, observando-a. Gaia, está mais linda do que nunca. – Emm… Nós temos muitas coisas para falar e eu não tenho tanto tempo até ir conversar com os Nove. Eu, ahm… Apelidei-os assim. “Nico and The Niners”. Seria coincidência? Eles são sete no nosso tempo… – Ele abriu um sorriso largo e risonho. – Eu estou nervoso e talvez eu fale muita besteira…

Abraçado a Suri, Jeremy ergueu os olhos para os dois quando se aproximaram.

Emma ergueu o olhar até ele após se acostumar com o abraço sem permissão e a voz atraente em seu ouvido, que sempre causava um choque inicial, mas logo entrava na zona de conforto usual.

– Você quer ser um dos mosqueteiros, fica parecendo… – Sorriu de canto e voltou o olhar para frente. – Acho que ela está a tempo demais… As fadas confiavam nela como se estivesse… Estou feliz que ela não parece estar passando por algum choque… – Disse, observando Suri obrigar Jeremy olhar para ela ao segurar seu rosto sério.

– Eu nem sabia mais o que estava procurando… Estou me lembrando de tudo agora… – Suri o soltou e se sentou devagar.

Jeremy esticou um sorriso nada sincero que mais parecia um tipo de careta. Ele inspirou e desviou-se brevemente de Suri. Voltava a se sentir irritado, mas esperou que Nico e Emma se sentassem para falar.

– Já lembrou da parte que Dorian é um Influencer? – Jeremy perguntou a irmã. – Donald Happy. Donald Happy… Puta que o pariu.

Nico alcançou o braço de Jeremy. O Garou o fitou com uma sobrancelha arqueada.

– Jez. Uma coisa de cada vez. Essa… – O Mago esticou as costas. – Eu posso falar?

– Huh-hum. – Jeremy apoiou o rosto na mão. – Mas não é possível que ninguém aqui além de mim esteja indignado com isso…

– É o Dorian… Ele faz essas coisas. – Nico deu os ombros. – Bom. – Ele entrelaçou os dedos das mãos. – Eu cheguei e consegui me encontrar com as Dark Roses. Peguei as nossas coisas, mas não poderemos ficar por lá. Uma delas previu que eu sou “filho de uma Estrela” e eu senti mudanças no Tempo. Então, eu saí de lá e segui por aqui. Consegui… Ajudar a Taylor Byron. Ela não foi ferida e consegue furar a Barreira que erguerão.

Emma entreabriu os lábios inquieta, sabia da história de Dorian, mas nunca se cansava de se surpreender. Ergueu os olhos impacientes e negou… Tão inconsequente como ninguém era.

Suri os olhava, localizando-se com lentidão. Embora fosse muito inteligente, e tivesse certeza que não havia sumido completamente para eles… Eles haviam sumido para ela. Mas conteve-se de suas dúvidas e tentou se acostumar. Aos poucos sua memória apagada localizava de novo os traços na mente que foram esquecidos.

– Ok… Isso foi uma grande coisa. – Emma analisou, fitava Nico com atenção – Mas como vamos ajudar? – Entreolhou-se com Jeremy – Você consegue se envolver em quase tudo sem chamar atenção. Mas se você vai a combate…

Os lábios de Nico se entreabriram e ficaram. Ele ouviu Emma, mas quando Suri começou a falar, a sua desconfiança se fez verdadeira: névoa. Fora alertado que isso poderia acontecer. Ele cruzou os braços, olhando-nos com preocupação. Anthony poderia não se lembrar quem ele é… No fim? Ou não…

– Na verdad- – Nico começou, mas foi interrompido.

– Pelo jeito, vocês se esquecem do que foi planejado… Ou o porquê de estarem aqui. Pelo menos, vocês inventaram outros nomes. Dorian é o Donald Happy. Anthony é… Christian Flynn. – Jeremy falava com uma voz arrastada e desanimada.

– Ahm… Jez… – Nico pediu.

– Relaxe. Eu não vou contar porra nenhuma além disso por agora.

– Esperem. – Suri se ajeitou no sofá, a testa franzida e agoniada – Vocês estão muito acelerados… Eu cheguei agora. Eu estava completamente perdida… Podemos tirar um tempo para me explicarem…? Cade nossos irmãos? Paramos no tempo certo…? Desculpem… Eu … – Fechou os olhos – Dorian está por aí como famoso? Nico, você vai lutar?

– É isso, gente. Daqui a pouco, teremos um ataque horrível… Antes do ataque, a Taylor Byron sofreu uma emboscada, feriu-se e nunca se recuperou… – Nico comentava com aparente calma. – Ela me deixou isso… – Ele tirou a pena de corvo do bolso. – E… Se ela acreditou em mim, vai… Ahm… Me levar até o Grimoire. Eu vou explicar para eles a situação… O que posso explicar. Sim, Suri. Eu vou lutar hoje. O combinado seria somente eu. Eu vou tentar não me envolver com… Vocês sabem quem. Os Versos da Magia estarão lá e… O meu pai. – Ele fez uma pausa. – Henry, Audrey e… Blair… Estão no Mundo Inferior agora. Eu não sei se a nossa passagem trata problemas a eles, mas não sei se poderíamos interferir. Nossa missão é outra… Sei lá. Muita responsabilidade.

Emma acompanhou as palavras de Jeremy e franziu a testa em questionamento.

– O que vocês sabem…? Dorian ou Anthony fizeram algo? Além do meu irmãozinho não conseguir ficar longe dos holofotes. – A Garou negou apertando os lábios – Ele não deveria estar aqui. Uma missão que exige discrição não é nada para ele…

– Dorian é inteligente. Ele só precisa ser guiado. Ele… – Nicolai ergueu os olhos para o teto, largando os ombros com cansaço sobre eles. – Ah, sei lá. Ele já está aqui. Precisamos ajeitar o que ele fez.

– Normal? – Jeremy piscou os olhos vagarosamente. – É sempre assim. Eu só estou surpreso por Anthony ter sido mais ridículo que ele, mas falemos disso depois.

– Sim… – Nicolai concordou.

– É muita responsabilidade. – Suri repetiu e desviou o olhar para as janelas. – Isso me faz pensar bem agora… Que provavelmente não estamos a mesma linha do tempo da nossa. Sabe? Então… – Ajeitou-se no sofá rosa – Pode ser que quando voltarmos as coisas estejam como foram? Ou simplesmente… Se for mesmo a mesma linha temporal e não uma paralela… O que acontece se mudarmos tudo demais…?  – Mordeu o lábio e riu   –      Todos estão tão diferentes nessa época. Tia Arty… É um bebê…

Emma a escutou e sorriu torto, sem saber se a situação era motivo para risos, mesmo que Suri sempre visse uma forma de sorrir e rir de qualquer situação.

– Quando voltarmos… O futuro estará modificado. Nossa memória será… Refeita. É um choque dolorido. – Nico falava com propriedade. – Se, por acaso, acontecer algum problema e alguém morrer, não teremos as memórias que tínhamos antes dessa pessoa. O Tempo segue um fluxo e se adapta às mudanças. Estamos na mesma linha temporal… Então, precisamos ter muito cuidado.

Jeremy desviou os olhos para a televisão próxima ao teto assim que ouviu a música tocando em volume baixo pelo ambiente. Nyra brincava em uma praia no videoclipe West Coast. O Garou suspirou. Nico também ergueu os olhos para a televisão. Quando se voltou para Jeremy e teve os seus olhos, o Mago abriu um sorriso e Jeremy apenas fez um muxoxo.

– Bom. Temos as nossas missões pontuais e é melhor não aparecermos por aí até que… Seja necessário. – Jeremy comentou, franzindo o cenho com tristeza. – Nico, você deveria levar a Suri com você. – Ele ergueu os olhos novamente para a televisão. – Ela está por aqui e tem uma “identidade”. Parece… Seguro.

Os olhos azuis claros do Mago se destacaram arregalados. Traía-se com o corpo, como de praxe. Remexeu-se no sofá, ajeitando-se e corou às maçãs do rosto. Não olhava para ninguém, mas sentia a todos. Nico inspirou e demorou a soltar o ar:

– Esse não é o plano. Eu consigo lidar com isso… – Ele praticamente sussurrou. – Eu prefiro assim…

Emma desviou o olhar silencioso até Nicolai, e desviou para a mesa, esperando não acompanhar a reação. Suri fitava-o em dúvida, entreabriu os lábios, e afirmou convicta:

– É melhor. É verdade. Leve-me junto, Nico. – Seus olhos firmes buscaram o dele. –  Bem… Não era nossa plano vir para cá e tentar resolver como se não fossemos um grupo também…

– Suri… Nós teremos diversas missões para fazermos juntos. Eu preciso que eles confiem em mim. – Ele comentava sem olhá-la. Ela está tão linda… – Eu mantenho contato. Eu prometo.

– Huh. – Jeremy fitou Emma brevemente, Nico e, por fim, Suri. – Deixe-o, então. O menino perfeito consegue.

– Não é isso. – Nico inspirou, incomodado. – Eu nem falei que levaria alguém comigo.

– Srta. Byron deixou o Nico empolgado.

O Mago se levantou no mesmo instante, fitando Jeremy com seriedade.

– Nós vamos seguir o plano, okay? Esse é o plano! – Ele disse rapidamente. – Tentem chegar até o Dorian. – Ele negou com a cabeça. – Eu preciso ir.

– Srta. Byron…?  – Suri fitou de Jeremy a Nicolai, perdida.  – Droga. Eu me sinto como se tivesse saído de um buraco. Eu perdi tudo o que estava acontecendo… Quantos anos estão aqui?

– Não é muito tempo, Suri.  – Emma falou para dentro, quase sussurrada. Seus olhos azuis viajam por todos os cantos, sem fitar ninguém, e paravam de novo na televisão.      – Bem… Nós vamos estar olhando de longe.  – Emma finalmente o fitou.  – Você mesmo disse, Dorian sabe se cuidar.  Não vamos atrás dele agora.

Em silêncio, Jeremy apenas assentiu vagarosamente. Precisarei ter paciência. Muita paciência. Ao invés de querer socar a cara dele, tentar compreendê-lo.

– Okay. – Nico respondeu por fim. – Eu vou mantê-los informados. – Ele recuou o olhar para o chão e entreabriu os lábios. Quis reclamar, mas desistiu antes de começar. – Qualquer coisa, eu aviso… – Ele fitou cada um deles antes de se virar para caminhar.

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