Going Nowhere

Categorias:Romance
Wyrm

Going Nowhere


– Ártemis…

Leah virou o rosto para frente e fitou o nada quando a morena quase gritou no seu ouvido. Estavam todas assustadas, e tentou explicar que não havia ponto se entregar ao desespero; mas a Gata se achava esperta demais para escutar todo mundo.

– Para de reclamar e dê uma solução. – Leah insistiu entediada. E era a própria Husky que estava ferida, com a lateral do abdome sangrando feericamente, e faísca reluzindo de um dano elétrico.

– Eu… Não tenho ideia. – Ártemis murmurou irritada. – Se meu namorado estivesse aqui era só pisar em tudo.

Leah negou e revirou os olhos. – Você está bem, Susana?

– Estou. – A Sidhe as olhou com um susto e retornou para a parede depois.

Estavam trancadas há horas naquele estoque de produtos de limpeza. Guerreiras com suas armaduras medievais, espadas, arcos, e escudos; mas presas. Levemente feridas por um combate contra criaturas esguias e cumpridas em corpos feitos de relógios. As ameaças quiméricas estavam fazendo o tempo voltar de hora em hora no colégio, que era anexo de um grande pátio histórico, dividido com um orfanato e asilo. Haviam identificado que alguns estavam se desnutrindo porque era sempre quatro horas da tarde, e outras não conseguiam dormir porque era sempre nove da manhã. O tempo estava preso e insano em repartições, e elas mesmas estavam sendo afetadas. Susana não conseguia se concentrar, não pela discussão das irmãs Kithain, mas porque uma angustia rondava seu peito: havia algo ali… Algo estava acontecendo. Nenhuma manifestação feérica sobre o Tempo se daria tão rapidamente e tão poderosamente. As meninas haviam se questionado isso já, mas Susana sabia mais… Continuou seu raciocínio:

– Desculpem… Eu sei que toda vez que o relógio bate meio dia, voltamos para as onze e esquecemos quase de tudo o que planejamos. Porque o lapso nos confunde.

– E por isso não temos tempo de sair e matar a todos… – Ártemis andava de um lado ao outro. O imenso arco em suas costas era maior que ela mesma, e isso nunca havia mudado.

– E eles também são muito fortes. – Leah pensava e fitava as outras companheiras.

– E se… Escrevermos uma estratégia na parede? – Susana disse e as fitou esperançosa. – Uma mensagem. Não perderíamos tempo planejando… Por exemplo… A localização exata dos três relógios dessa ala. Nos dividiríamos e cada grupo enfrenta um e conseguiríamos derrubar o tempo dessa ala. E então iríamos para a próxima. O que acham?

– Mas a Dessie, a Leah e a Alicia são muito boas lutando não. – Ártemis negava – Provavelmente eu teria que matar um relógio e correr atrás dos outros. Porque elas são bem lerdinhas… Precisamos ser reais aqui.

– Quê! – Leah a olhou inconformada – Eu estou ferida, Ártemis!

Não era boa em lutar?! Alicia sentiu tamanha indignação que até a sua garganta se fechou e ela não conseguiu manifestá-la. Apenas ficou vermelha como se fosse explodir como uma panela de pressão.

Conformada, Dessie apenas assentiu. O seu olho direto estava fechado e inchado. Horrível. Ela nem se lembrava como havia acontecido.

Olhando-as, Mary Ann achou que discutir as capacidades de cada uma valia a pena. Estava preocupada e estalava os dedos repetidamente como costumava quando nervosa.

– Balthamos está lá fora. Ele poderia ajudar, mas eu acho que não consegue nos alcançar… – A Sidhe disse. – Eu não sei o que fazer, Ártemis. Podemos levar o plano da Susana adiante, mas parecem muito fortes… Talvez… – Ela suspirou. – … Você precise usar aquele seu… Truque perigoso.

Ártemis arqueou uma sobrancelha, e Leah logo disse:

– Não! – A Husky acenou em negação. – É arriscado demais.

– Eu sou a única salvação, Leah. Aceite. – Começou a prender os longos cabelos negros em um rabo de cavalo e afastar os fios.

– Se sair do controle, nós viramos poeira estelar. – Leah insistiu. – Nem teria tempo de alguém nos resgatar.

– Não se preocupe. Eu estou no controle da situação. – Ártemis começou a tirar as tiras de couro do braço. – Eu treinei muito…

– Ainda… – Leah tocou novamente a própria ferida. – Tem que ter outro jeito.

Susana as olhava e retornava seu olhar para a parede. Já fazia cinco horas que estavam presas, dando looping no tempo e não resolveram um terço da missão. Sua própria mente ainda não havia se recuperado da viagem… Não sabia como havia chegado, se alguém estava com ela… Estava perdida naquela época e não havia conseguido decidir por onde iniciar, e nem havia sido encontrada por ninguém. Susana não sabia se havia decidido chegar sozinha, se tinha um objetivo, se Nico e os outros surgiriam… E a angustia apenas crescia. Algo muito errado havia acontecido. Ela molhou os lábios e fitou o grupo.

– Eu… Consigo segurar o tempo. Vocês lutam juntas… Um a um… E eu vou dar o tempo… – Susana disse, as olhando.

– Você vai o que? – Ártemis apenas repetiu as expressões de espanto.

– Vou segurar o chronos. – Afirmou novamente, virando-se para elas. – Arte contra Arte.

Leah teve um acesso de tosse ao se engasgar, precisando segurar mais firme o ferimento.

Mary Ann se aproximou de Susana e a fitou com uma expressão preocupada. Ártemis e Susana eram, sem dúvidas, as fadas presentes com maior poder de combate – e maior tendência à inconsequência também. A Sidhe avaliou por um momento e assentiu vagarosamente.

– Sim. – Ela concordou. – Leah e Dessie… Melhor ficarem perto de mim.

– Ann. – Alicia se aproximou um passo. – Se der errado… – Ela fitou as demais.

– Já está dando. – Mary Ann respondeu rapidamente. – Olhe para Leah e Dessie.

– E se esperarmos por socorro? Isso nem é normal! – Alicia choramingou. – Vamos morrer. É o que querem? Eu ainda quero rebolar muito a minha bunda e ser aclamada. Se vocês não dão valor à vida, eu dou.

– Mas como você é burra, Alicia! Ninguém vai vir por socorro porque não estamos nem localizadas no tempo! – Ártemis disse impaciente, apertando as mãos nervosas. – Igual a sua bunda tem um monte para rebolar no seu lugar, ok? Você é a droga de uma fada e temos que resolver isso.

Susana as olhou em silêncio pela troca de farpas e só então se impôs:

– Vamos nos decidir. O relógio vai virar daqui a pouco e vamos retornar uma hora. Quando virar, precisam correr até os relógios.

– Eu acho válido. Mas… Não podemos nos esquecer que pode ser que … – Ofegou cansada – Não sejam as quimeras que estejam fazendo o tempo voltar. E aí só gastaremos esforços…

– Não são as Quimeras. – Susana disse sem hesitar – Mas se conseguirmos chegar até o relógio no pátio e destruí-lo… A magia está nele.

– Susana. – Ártemis a olhou entediada – O relógio no pátio é um monumento. Como que a gente vai botar isso no chão? A gente quase não tem competência para arrombar uma porta.

– É o único jeito. – Susana insistiu. – Vamos matar as quimeras primeiro, depois resolvemos isso.

Ay. Eu acho que estou cercada de doidas. – A morena pegou uma flecha – Mas tudo bem. Vamos quando o relógio girar. Eu quero derrubar essas coisas logo. É bom fazer direito, Susana.

Susana assentiu devagar, apertando e soltando as próprias mãos, ela tinha luvas metalizadas quiméricas de uma guerreira que usava flores como sua marca. Elas estavam delicadas pelos longos cabelos de Susana, nas suas vestes de Sidhe e no seu perfume encantado. Enrolado no cinto de cidreira, um relógio de bolso ficava pendurado e as horas passagem corridas e aleatoriamente. Girava descontrolado desde que havia se perdido no tempo…

Leah se erguia com cuidado, mas carregando em cada mão uma espada curta.

A tensão emergiu pelo corpo de Mary Ann como lagartos se agarravam e subindo por suas pernas. A preocupação de Susana se tornou um agravante em sua desconfiança que a missão queria dizer algo a mais. A Sidhe fitou Ártemis e se voltou novamente para a morta, girando a espada de rubis com a mão esquerda. Ela fitou Alicia de soslaio, esperando por uma briga, mas a fada parecia preocupada demais para começar uma.

Alicia era sensitiva. Mesmo que inteligência não fosse o seu forte, ela sabia identificar quando percorria um caminho perigoso. Ela bateu com os cacos no chão e ergueu os olhos para o teto:

– Esqueçam o que eu disse. – Ela disse. – Vamos embora. Tem… Alguma coisa vindo. Maior. Horrível…

Os olhos de Dessie se voltaram para amiga com o tamanho dos seus medos escancarados neles.

– Existem coisas piores que morrer. – Alicia tirou o martelo infantil e cor-de-rosa das costas. – É o que senti.

Calada, Mary Ann se voltou para Ártemis e Susana, assentindo uma única vez.

No terceiro embalo que a porta rompeu, faíscas mágicas cintilaram pelo espaço. Susana segurou o tempo com os braços erguidos para o ar, e deu espaço para os ataques certeiros e as habilidades silenciosas dominarem. Os monstros feitos de relógios rugiam com tamanha intimação quanto o próprio Tempo poderia assustar uma pessoa. Ártemis era muito rápida, as próprias companheiras não conseguiam acompanhar da onde as luzes prateadas de flechas viriam, e cada acerto era um impacto certeiro, que desmontava cada peça. Susana entraria em combate facilmente, mas manteve-se firme em passos lentos para segurar os minutos com sua magia poderosa. Sorte, objetos, disparos, marretadas que estremeciam o chão… Os ferimentos feéricos eram grosseiros e perigosos… abalaram Dessie e Leah gravemente, forçando Alicia recuar para ajuda-las e não caírem nas brumas do esquecimento. Ann, Ártemis e Susana se mantinham firmes na linha de frente, afastando os demônios do tempo, e desmontando-os com golpes precisos. A felina lutava com uma graciosidade antiga, deixando o arco e flecha de lado quando precisou usar sua pequena espada como uma ladina. Susana tentava não se distrair com algumas lembranças que surgiram em sua mente… Mas lembrava-se de algo… Lembrava-se vagamente do que estava fazendo ali. Mãe, pai… Desconcentrou seu poder e abaixou as defesas que auxiliava Ann e Ártemis no combate ao deixar os relógios mais lentos.

Um deles acelerou o próprio braço quando sentiu a mágika de Susana cair, e acertou Ártemis com força contra o chão. Susana gritou quando soube que precisava revidar com mais força do que uma fada teria… Guardou sua poderosa energia e congelou o tempo com um efeito de ondas… Congelou todo o sonhar e a Tellurian até que sangue corresse por seu nariz. Vagou sua cabeça dolorida pelo ambiente, e percebeu que havia paralisado na hora certa… Estremecida, sustentou a habilidade paradoxal até que pudesse resolver o problema: carregou os corpos das Kithain para perto do relógio central e desmontou os inimigos paralisados. Quando Ártemis conseguiu se afastar do chão, erguendo-se dolorida do golpe, percebeu que estava no pátio. Demorou, assim como as outras, para se localizar no espaço… E só após um tempo tentando entender o que havia ocorrido no piscar de olhos, percebeu que Susana não estava presente.

– Cadê a Susie…? – Leah foi a primeira a perguntar.




Na Umbra, Emma tinha a irmã nos braços, sentadas no chão. – Suri? – Chamava-a  agitada, dando tapinhas leves no rosto delicado da caçula. Emma havia a resgatado antes que o poder dela a consumisse por inteira.  – Suri… Responde…  Suri? – Emma olhou ao redor ao falhar na tentativa de acordá-la. Mudou de forma para o Crinos branco, equipado em uma armadura média, mas com uma Gran Klaive primordial nas costas, pegou o corpo leve de Suri para carregar através de um portal.

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