Undercover

Categorias:Romance
Wyrm

Undercover


Estavam em um restaurante de luxo no centro rico da cidade. Veronica não precisou sequer reservar. Conversou com o proprietário e ele logo arrumou uma mesa em um local despojado e sofisticado. O cenário era todo rústico, à luz de velas, com flores frescas espalhadas por todo o lugar e uma música ao vivo de uma pequena banda italiana. O local servia comidas típicas das ilhas oestes do país europeu, e era referência em vinhos. Não era formal o suficiente para alguém não entrar de tênis, mas o suficiente para não permitir que ninguém que não fosse da alta sociedade participasse. Nyra havia admirado muito o local, estava impressionada com o frescor e a paisagem da janela que dava para um jardim de inverno com fontes e muito verde. Gostou tanto, que foi fácil não relacionar o especial local com o ex-integrante da Alcateia, embora o desgosto chegou a ameaçar a garganta. História péssima de lembrar.

– Eu sei que naquela turnê, eu fiquei tão estressada, que tive um acesso de Fúria no camarim. Eu não entrei em Frenesi. Mas o show atrasou mais de uma hora. – Veronica contava enquanto entregava seu casaco e bolsa para a host – Gaia. Quase cancelaram. Meus agentes acharam que eu estava esquisita, queriam me colocar numa clínica de reabilitação por bebida. Insano. – Veronica riu com a lembrança – Estava em todas as capas, “Encaminhada para reabilitação, Veronica Velvet pode cancelar todos os shows da turnê”. Que inferno. – Negou e franziu o cenho – Eu fui caçada pelo mundo inteiro por uma foto. E às vezes eu tinha que deixar ser vista, ou ia desconfiar que eu me tornava invisível. E quando me viam as manchetes eram “Velvet vista com olheiras em Los Angeles”. Eu tinha dezesseis anos.”

– É… Eu até lembro de algumas coisas. Lembro quando você fazia participações especiais no Diário de Sophia. – Nyra devaneou ao se recordar dos seus ídolos quando não era famosa.

Glamour e turnês. Era um assunto que interessava muito a Annik, mas não havia prendido a sua atenção por muito tempo. A Garou estava com uma expressão distraída, distante do presente, observando qualquer ponto nulo que não se ganhava formas em sua mente. Jullian a observou algumas vezes de soslaio. Apesar de ter assuntos a considerar, havia se prometido a não dispersar a atenção do presente e largar os pormenores do lado de fora do restaurante.

Ele também pensou em Remi, mas não se demorou. Deveras, conversar com a bela Monarca era bem mais interessante que cavar um passado que não marcara a sua vida. Diferente do que o Parlamento esperava, Jullian não havia expulsado Remi da Seita. O Ahroun se tornou uma ponte segura entre o Luar do Oceano com a Flor de Lótus e andava particularmente disposto a ajudar. Inclusive, proativo. Ele optou por tratar dos assuntos da Areia Dourada. A indiferença do Lendário com relação ao término possibilitou que reconhecesse os seus valores e planos fossem tratados. Logicamente, ele não participava mais do Parlamento. Nathan e Nyra foram irredutíveis sobre a questão. As responsabilidades de Remi foram divididas entre Henry e Nathan. A sabedoria do Kitsune e a sua paciência demonstravam cada dia mais uma escolha bem colocada. Havia sido fácil se afeiçoar a alguém tão interessante. Jullian fez um breve pensamento de sorte para o Doshi e para Blair.

– Não imagino essa sensação de perseguição. – Jullian coçou a lateral do rosto, pensando. – Não se interessam muito pelas vidas pessoais de rockstars, creio. Isso mudou bastante com fama da minha estrela e com a ascensão de supermodelo da Annie. Até então, eu e Nathan raramente tínhamos problemas com invasões de privacidade ou paparazzi. Piorou, sim, mas nada nesse nível seu. – Jullian cruzou os braços sobre a mesa. – Os detalhes da sua vida, verídicos ou não, se tornam um seriado rentável… – Ele franziu o cenho. – Um produto à parte?

– Nunca sei o que fazer quando começam a tirar fotos minhas. – Nathan se voltou para Jullian e desenhou um sorriso malicioso de escanteio. – Eu demoro a entender o que está acontecendo e quando entendo já é tarde. Saí com cara de confuso ou distraído. – O Galliard se voltou para Nyra. – Babe adora bater papo com paparazzi. Dizem por aí que até já convidou um para sair quando era novinha…

– Eu não sabia disso… – Jullian pegou o celular e abriu o YouTube.

Nyra abriu e fechou a boca, e terminou com um riso, seguido de um beicinho.

– Veja… Quando eu era mais jovem… Eu gostava de cativar rostinhos bonitos. Não que eu realmente me envolveria depois… Além do mais… Ele me deixou sem jeito, eu resolvi que o deixaria também. – Nyra explicou e ajeitou o cabelo ruivo atrás da orelha. – Eu não converso mais com paparazzi. Não veja o vídeo, Jullian… – O rosto da Theurge esquentou.

O Lendário desenhou um sorriso selado, observando-a por um momento antes de retornar o celular ao bolso da calça. – Não verei… Agora. – Ele disse, aproximando-se e beijando-a no rosto.
Veronica mordia o lábio enquanto os ouvia, rindo divertida.

– Você faz a porra que você quiser né, Nay. Os ídolos são seus ídolos. Sua gravadora se curva para você. Outro mundo. – Veronica ergueu a mão para o sommelier, pedindo a carta de vinhos. – Vocês são incríveis aliás. – Sorriu brevemente – Pouquíssimas vezes tive a oportunidade de ouvir e fazer trabalhos musicais mesmo… Henry… Audrey, também. Eu admiro… E eu não fico nem lá, nem cá. Até produtora de uma série me inventaram… Às vezes faço filmes… – Deu de ombros e riu – Outras sou modelo. Embaixadora. Fazer o quê. O dinheiro me cai bem.

Nathan tirou os óculos do rosto, pendurando-o na camisa enquanto observava a popstar ao seu lado. – Discordo. Eu gosto da sua voz. Ela só está no lugar errado. Para ser sincero, eu acho que faríamos um bom dueto. – Ele arqueou uma sobrancelha e esboçou um sorriso. – Ou seja. A hora que você quiser.

A proposta direta de Nathan fez Veronica sorrir e franzir a testa. Surpresa pelos elogios, e agradecida pelo olhar.

– Você tem realmente uma bela voz, Veronica. – Jullian concordou. – Henry e Fayre têm tocado muito em nossa casa…

– Eles têm uma música juntos… E um videoclipe.

Nathan se voltou para frente, olhando para Annik com surpresa. Quando a Garou sentiu os olhares dos demais, escondeu o rosto no braço de Nyra. Nathan já imaginou que que a história seguia mais além.

– Eu não sei se é segredo… – Ela murmurou, arrependida.

– Caralho, sério? – Nathan abriu um sorriso incerto.

Jullian buscou no semblante de Nyra e Veronica alguma confirmação que ele não estava sozinho na descoberta…

– Nunca vi os dois sequer conversarem.

– Já viu sim. – Annik respondeu. – Em casa… E ele defendeu a Rey no mesmo dia.

– Eles têm… – Nyra confirmou. – É verdade. É bem apaixonado o clipe. Eles ficaram no passado. – Disse naturalmente como se já tivesse tido a chance de processar aquilo. – Eu não levantei essa história porque… Bem, ela não disse para Ladi. Eu quem não diria. Henry também não comentou nada…

– Pelo o que eu sei… – Veronica disse, erguendo as sobrancelhas e fazendo uma pausa – Fayre e Henry nunca confirmaram, mas davam dicas até o clipe sair… Ninguém sabe bem quando terminou ou começou. Foi o que li na Internet. Tem muita polêmica apagada. E eu sei porque as meninas… Bem… Investigaram a vida dele e acharam.

– Eu também… – Nyra dedilhou o queixo pensativa. – Bem… Eu não tímida. Vou perguntar a ele quando retornar. O que será que houve… Espero que ele volto logo. – Franziu o cenho e cruzou a perna.

– Mas pode ter sido comercial também. – Veronica arqueou as sobrancelhas – Eu faço isso o tempo todo. Dá muita visibilidade para um álbum ter uma novela para dar. Aí eles acham que as músicas que cantamos é sobre outros famosos… Criam suas fanfics. – Sorriu maldosa – Coisas de fãs.
Apoiando o rosto na mão, Jullian apenas observava de um para o outro. “As meninas pesquisaram”. Não negaria que a aparência do Kitsune era estonteante, mas em uma ilha com tantas criaturas sobrenaturais muito bonitas, Henry ainda conseguia uma atenção curiosa. O Lendário se recordou do café da manhã para Ártemis e os sorrisos e gracejos de Nyra com o raposo. Deve ser coisa da espécie dele. Jullian apontou duas garrafas de vinho para o sommelier e agradeceu com as mãos unidas ao realizar o pedido.

– Ah, não. Não foi comercial. Eu tenho certeza que não. – Annik endireitou a postura logo que o sommelier se afastou. – Audrey não tem cara de quem faria algo comercial e são muitas fotos e vídeos bem… Hm…

– Imagino. Os dois são meio doidos. Ele e a Rey… – Nathan comentou, franzindo o cenho e pensando. – Senti-me pecador de imaginá-los e gostar. – O Galliard franziu o nariz. – Os dois são bem a definição do “tanto faz” para mim. – Ele refletiu por um instante. – Eu perguntei se ele tinha pegado alguém da Areia Dourada e ele só riu e me beijou. Provavelmente me beijou para eu me esquecer da minha pergunta. Eu esqueci mesmo na hora. De tudo.

O Lendário fitou Nathan com uma sobrancelha arqueada…

– Henry é safado. A Rey tem cara de quem também é. – Annik mordeu o lábio com risinhos. – Agora também quero saber…

– Você já ficou com garotas, Nikki? – Nathan perguntou à morena.

A pergunta pegou Veronica de surpresa, mas não o restante da mesa. A morena se ajeitou na cadeira e fez um gesto de dispensa com a mão:

– Deixa-me tomar meu vinho primeiro, Nathan. – Nikki mordeu a língua e fitou Nyra rindo da pergunta e da resposta, apoiando seu rosto sobre a mão e o cotovelo sobre a mesa. Os olhos da Theurge se voltavam para a rosa natural no pequeno vaso do centro, desconfiada das propriedades Mágikas dela desde quando chegou; desviando-se quando o garçom chegou a garrafa e passou a servir. Um segundo, trouxe as entradas. Veronica bebeu seu gole e completou: – Ok. Já tomei. Bem… Depende o que você chama de ficar… Eu tenho certeza que já… Eu fico corajosa com uma vodca na mão. – Ergueu o olhar para o alto, recordando – Rhistel, meu ex-barman preferido, deve saber melhor que eu. Achei que ele já tivesse fofocado tudo da minha vida.

O Galliard abriu um sorriso ainda mais malicioso. – Com vodca, não vale. – Ele negou com a cabeça. – Eu fico com intenções gays sempre que bebo demais.

– Nate. Você é sempre assim. Não precisa beber. – Annik bebericou com vinho depois de rir.

Nyra riu divertida, lembrando-se que realmente Rhistel já havia passado sua vida em bares de celebridades.

– Vocês já se conheciam? – Nyra perguntou curiosa.

– Já… Mas ele devia me achar insuportável… Eu bebia demais e ficava no pé… – Manteve seu lábio superior na borda da taça, sentindo o aroma do vinho – Bem… Ainda hoje em dia eu vou para a casa azul, bebo muito e falo demais. Algumas coisas não mudam.

– Oh, Rhistel sempre foi um cavalheiro com os bêbados. Protegia todos. Ele me salvou diversas vezes de engraçadinhos enquanto eu trabalhava na Electricity também. – A Ragabash apertou os lábios, olhando-os com timidez. – Havia clientes que só apareciam lá por causa dele. Aquela sua funcionária, Jullian… A atriz Samantha MorningKill… Era uma.

– Samantha? – Jullian franziu o cenho e arregalou os olhos.

– Nossa. Ela mesma. Vivia atrás dele. Ela e as amigas. Nossa, só faltavam agarrá-lo! Chegavam a se sentar no balcão e tudo. Era uma safadeza. – Annik cobriu os lábios ao rir e pegou uma batata canoa. – Mas… Eu não culpava. Eu mesma tentei chamar a atenção dele. Rhistel é muito sexy. Ele é todo… Ai! Não sei. Gostoso! Aquela pele morena e aquela bunda enorme… Ele e Blair são o meu casal preferido. Lindos

– Rhistel é um cavalheiro mesmo. – Nyra concordou – Tem alguns aspectos que ele viveu na época dele que ele não abre mão. E é muito fofo… – A Theurge também provou do vinho.

– Casalzão. – Nathan concordou. – Você não pegou o Rhistel, Veronica? Perdeu a oportunidade? Ele é o seu tipo? Malhadão e tal?

– Nathan. – Jullian o olhou com censura.

– Eu paro de fazer perguntas se você quiser que eu pare. – O Galliard pousou a mão sobre o peito. – Prometo.

Aos poucos, Veronica já estava acostumada com as cartas na mesa, e a segunda pergunta veio sem impacto. Mas fazendo-a pensar nas palavras e sorrir pensativa por um momento. Ela afastou o cabelo do ombro e fitou Nathan por um tempo:

– Hm. Sei lá meu tipo… – Ponderava – Eu estive com muitas pessoas… Eu gosto de experimentar sem criar muito caso. – Segurou a taça a moveu o líquido, os olhos foram do vinho para o Galliard – Não peguei porque eu estava numa fase muito baixa. Se eu soubesse que Rhistel era Ras… Eu nem ia me atrever. Famosa, né? Acha que pode tudo. – Bebeu um gole – Eu lembro da Samantha em tempos mais remotos. – Desviou-se para Annik. –Continua apaixonada.

Annik fez um beicinho ao arregalar os olhos. Jullian fitou Veronica e se desviou para a mesa. Esperava que Samantha ao menos fosse uma apaixonada não suicida. Blair não parecia o tipo que toleraria uma insistência. O Lendário ergueu os olhos para Nathan ao beber do seu vinho. O Galliard havia apoiado um cotovelo na mesa e descansado o rosto na mão. Assistia Veronica falando sem disfarçar a admiração e o interesse.

– Ai… Meus bebês Dragões… Só criam alvoroço até quando estão em paz, né. – Nyra suspirou, mas sorriu em seguida: – Você deveria contar para nós como se tornou a Monarca, Nikki… Estamos todos curiosos…

– Ótimo. Temos uma história para o almoço então. – Veronica terminou sua taça e se ajeitou na cadeira.

– É um título poderoso. – Jullian disse sem mirar a Garou. – Nós ponderamos bastante antes de permitir a sua presença. Curiosamente, estamos cheios de equilibrados. Caminhantes das três pontas da Tríade… – O Philodox encostou as costas no sofá. – Mas, por favor. A história…

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