You Said I Would’ve Hit The Ceiling

Categorias:Romance
Wyrm

You Said I Would’ve Hit The Ceiling


O luxo de ter um reencontro adequado lhe fora negado pelo destino exigente. Imaginara o milagre de diversas formas, mas principalmente regado a álcool em harmonia à velhas histórias contadas com risos e lágrimas, parte de um saudosismo que também seria alimentado por abraços apertados. Klaus mal acordara e já seria necessário para os fins de Gaia. Não havia nem tempo para comemorar os seus olhos abertos. A vida mal havia lhe permitido a ansiedade, cobrando dele uma preocupação que apenas piorou com a ligação mental de Jullian. Estava acontecendo alguma coisa séria para aquele tom de voz frio emergir. O Kitsune observava a floresta que os cercava, mas também enxergava além. O aroma de sangue logo chegou às suas narinas. Sangue e Wyrm.

Nem ousou comentar com Blair e Audrey. Imaginava que aquela já estivesse ciente, precisamente ligada às fronteiras e aos acontecimentos internos. Quando chegaram à Casa de Madeira, encontraram uma Lavinia vestida de branco com uma expressão muito preocupada.

– Aconteceu alguma coisa? Nay acabou de chamar o Torvo… – Ela disse, apertando os seus olhos azuis.
Blair entrou na frente e segurou a porta para os demais. Audrey estava com seu espírito ansioso e inquieto, piorando quando entraram na casa. Mas respirou devagar para reconquistar a calma… A maga tinha cortado seus cabelos para missão: estavam quase raspados e pretos, com um boné sobre eles. Jeans justo e em tom de bege, justo ao corpo e cintura alta, por cima da camisa preta de banda. Ela se aproximou, esfregou as mãos e abaixou o rosto. Havia se passado por forte perto de Ladirus, mas realmente estava com muito medo. Blair caminhou até próximo da Garou e manteve seu olhar a Lavinia.

– Sim. Algum problema com os feridos no vilarejo. Aparentemente eles queriam evitar que se tornasse algo maior… – Explicou a Vinnie – Podemos ver Klaus…?

A Ahroun assentiu com rapidez, claramente agitada. – Claro. Já fui informada que viriam. – Ela se virou para retornar à sala. – Venh-

Ela parou quando sentiu a mão quente e forte de Henry pousar em seu ombro. O sussurro viera logo em seguida, não menos surpreendente:

– Lavinia… – Henry desenhou um sorriso selado em seus lábios finos. – Jullian te quer no vilarejo. Ele vai mandar alguém para ficar com Klaus…

Endurecida, ela se virou para os três novamente.

– Ah. Okay… Okay. – Ela concordou de novo, assentindo. – Fiquem à vontade. Ele está na sala. – Ela fechou os olhos. – Gente. Tentem não o agitar muito. Ele se agita por qualquer coisa.

Henry assentiu e deu espaço para que ela passasse.

– Boa sorte. – Ela tocou o ombro de Audrey ao passar pela Maga.

Audrey agradeceu internamente Lavinia. Mas não conseguiu ser tão expressiva. Fitou Blair e Henry e afastou um passo:

– É melhor eu ficar aqui, então. Eu não sei se quero saber…O que ele tem a dizer…E eu agito qualquer um…

– Audrey. Vem… – Blair insistiu – Você precisa saber de tudo.

A loira ainda vestia roupas confortáveis, e nada tão assombroso quanto um manto. Apenas um colete preto, e calça jeans justa. No cinto que usava, ficavam presos sempre vários feitiços, mas estavam escondidos em outra dimensão para proteger a preocupação de Klaus. Embora, Audrey tenha avisado que ele com certeza ficaria preocupado sozinho quando ouvisse Umbra Negra.

– Vem. – Blair estendeu a mão, Audrey a cedeu e continuou com a sua agarrada bem firme a Maga.

Não culpava Audrey pela tensão. Ele também sentia os seus tormentos internos aflorados com a expectativa, embora não transparecesse. Henry trajava o seu quimono chinês negro com faixas rubras às extremidades. As mãos estavam cobertas por luvas de couro de dedo e sua espada, a jian de lâmina preta, às costas. Aos pés, as sapatinhas pretas de kung fu. O Kitsune se sustentava em calma sensível, mas soube que a perderia quando o avistou.

O Garou estava sentado em uma cadeira de rodas voltada para a televisão e ergueu os olhos por cima do ombro quando os sentiu entrando no cômodo, esboçando um sorriso selado e decorado de covinhas. Os olhos emotivos e ternos que se lembrava. Um olhar cheio de vida.

– Tsuru…

Henry ofegou e desatou a correr até ele, perdendo completamente a postura íntegra de controle. Lançou-se aos pés do Lendário e buscou pela sua mão envolvendo-a com as suas duas mãos. Desabou muito antes de se enviar a ordem de não o fazer.

– Senti a sua falta, chorão… – Klaus abriu um sorriso.

– Vai se foder. – Henry murmurou, fungando e fechando os olhos. – Não vou chorar.

Klaus riu, observando-o se erguer e fechou os olhos quando o Kitsune o beijou no rosto demoradamente como um irmão a provocar.

– Você está igual, ah? Igualzinho!

– E você está envolvido com pessoas muito poderosas. – Klaus se virou para Audrey e Blair.

As duas ficaram a porta. Blair observava Klaus com um sorriso selado e se entreolhou com Audrey algumas vezes. A princesa sorriu sem graça, exatamente como Rhistel fazia e ela odiava quando ele fazia, mas estava tão nervosa que o coração já disparou. A porra de um Lendário, ofegou e engoliu o ar. Blair se aproximou com naturalidade e finalmente abriu seu enorme sorriso.

– Olá. Prazer em conhecê-lo. De verdade agora. – Mordeu o lábio e se sentou a beirada da cama. – É muito bom te ver acordado e bem… Eu sou Blair Valerius. E…

– Eu sou… Audrey Thorheim. – A Maga disse e se aproximou muito devagar, com os braços cruzados.
– O prazer é todo meu. Eu sou Klaus “Lobo-Fantasma” Gwenevere, Ahroun dos Presas de Prata, Lendário e… O resto eu nem sei. – Ele riu com um humor enegrecido. – Preciso descobrir. – Assentiu vagarosamente. – Duas famílias preciosas aqui e um Chang. – Klaus olhou brevemente. – Eu queria conversar, mas sei que estão com o tempo curto, então… – Ele estendeu a mão em direção a mesa e uma folha de sulfite planou até ele, pousando diante da cadeira de rodas. Em seguida, um lápis. – Aula básica.

Henry se sentou no chão no chão, observando a folha atentamente.

– Vocês chegarão na Penumbra da Umbra Negra, diante do mar negro. – O lápis começava a se mover, desenhando no papel um mapa. – Vocês precisarão atravessar o mar e aí é que se encontra o primeiro problema. O mar é cheio de Tempestades… E essas Tempestades estão cheias de tudo o que vocês não querem encontrar. O modo mais seguro de se viajar pela Tempestade é com os Barqueiros que conhecem os caminhos delas. A forma clássica de pagá-los é com óbolos, a moeda da Umbra Negra – mas eles também aceitarão como pagamento Artefatos, Fetiches, Talismãs ou Maravilhas poderosas. O Barqueiro levará os levará em segurança para onde quer que desejem ir. – Klaus começou a desenhar as ilhas. – Fale-me sobre você, Audrey.

Blair também se ajoelhou, o corpo em postura de disciplina de uma bailarina. Concentrou-se exclusivamente no papel e na voz de Klaus. Os sussurros começaram a surgir do fundo da sua mente, porque Meris se envolvia ao absorver os estímulos do consciente de Blair.

– Eu? – Audrey desviou o olhar a ele, assustada – O quê? O que eu posso falar? Como eu me sinto? Da minha história? Por que minha alma está aí? – Ela negou – Eu não sei a razão. Mas eu me sinto querer morrer todos os dias. Acabar com essa dor. – Falava rápido – E se eles estão dizendo que ir atrás dessa parte… Me salvará, eu acredito. Não tenho mais chances.

– Não. – Klaus respondeu pacientemente. O dedo indicador arranhava o apoio de braço da cadeira de rodas. – Preciso saber quem Audrey era antes de morrer… Onde morava, sonhos, índole, tipo de pensamentos… – Ele dizia com um puxado sotaque inglês. – O Mundo Inferior é cheio de ilhas. O que falta em você, com sorte, está em uma. Se você me escrever, poderei fazer palpites.

– Klaus. – Henry ergueu o olhar no mapa e fitou o Garou. – Você acha que há a possiblidade desse pedaço estar nas Tempestades?

– Chegaremos lá. – Klaus respondeu e desenhou um sorriso para Blair.

Não para Blair. Henry sentiu com um arrepio.

– Chegaremos lá. – Insistiu.

Blair respondeu o sorriso discretamente e desviou o olhar a Audrey. A Maga tentou se concentrar em memórias antigas… Muito antigas ao que pareciam. Sequer se recordava como costumava ser. Tocou a pele arrepiada do braço e respirou devagar.

– Eu era… Menos insegura… Eu gostava mais de quem eu era. Precisava de impulsos menores para ir atrás dos meus sonhos. Eu era menos instável. Sempre fui explosiva, mas não era frágil. Eu nunca fui. – Dizia o que se lembrava, mas se recordava se sentir – Eu amava as viagens, as companhias. Hoje eu me sinto recuar… Tudo me assusta… Eu prefiro me esconder. Eu não era assim… Eu não era…– Ergueu o olhar a Klaus – Eu sinto dificuldade de falar quem eu era… Eu já estou há tantos anos assim…

O lobo a fitou com demora antes de se voltar ao desenho que continuava se formando. – Entendo. – Ele se tornou concentrado. – Se a sua metade clara está no Mundo Inferior, ela com certeza está na Estígia. ­­– Klaus apontou para a maior das ilhas. – A Estígia era governada por um homem poderoso chamado Charon. Agora, é uma briga de poder entre os Senhores Mortais. Não pensem que esses homens não são poderosos. – O Garou alertou. – Todavia, essa agonia também pode ser motivo da separação. Então, vocês também poderiam procurar nos Campos Amarelos, lar dos Asiáticos. – O Lendário suspirou. – Sim, a possibilidade de a alma estar perdida nas Tempestades é enorme. Essa agonia também justificaria.

– Podemos tentar negociar com Barqueiros, nesse caso? – Henry arriscou.

– Tsuru. Não seja suicida. – O Lendário sorriu. – Mantenham-se longe das Tempestades. Você já teve o seu momento. Não aprendeu?

O Kitsune suspirou, apoiando o rosto na mão.

– Vocês sabem que estão procurando por uma versão caminhante de Audrey que, provavelmente, é uma escrava… Certo? – Klaus franziu o cenho.

– Sim. Imaginei isso. – Henry respondeu.

Audrey estremecia com as suposições. Estava tão agoniada que podia se dizer que choraria, mas lutava contra isso. Blair estava calma, tão calma que se dissesse que iria a alguma trilha na praia, daria a mesma expressão de quem calculava um desafio e considerava se estava apta. Ela estava. Audrey preferia pensar que Blair sempre estava.

– Klaus. – A loira o olhava – Não iremos sozinhos. Eu levarei um grupo de pessoas comigo… São da Wyrm e vão seguir minhas orientações… Eu queria saber se você sugeriria nos separarmos? Para cobrir melhor o local de busca… Ou você acha que Audrey vai conseguir sentir a parte que falta dela?

– É verdade… Essa busca pode levar meses? – A maga se exaltou novamente – Vamos ter que procurar campo por campo? Canto por canto? Gaia…

– A Esfera Espiritual pode me auxiliar lá embaixo? – Blair era mais direta.

Os olhos claros do Lobo ficaram em Audrey, mas ele se desviou para responder Blair primeiro. Henry agradeceu por isso. Já imaginava a resposta. Klaus entreabriu os lábios, mas voltou a fechá-los. Ele olhava para Blair como se a Maga tivesse mais rostos que o normal e ele precisasse focar nos demais orbes.

– Eu tenho… Uma dica melhor. Vai tomar provavelmente umas duas horas a mais, mas… Será mais seguro. – Klaus se endireitou e cruzou os braços. – Contaram-me agora que você é realmente com a Esfera Espírito. Se tivesse me dito isso logo, nossa conversa séria completamente diferente. Posso falar com você na mesma língua. – O Garou esticou um sorriso sagaz. – Blair. A Umbra Negra é o lar dos mortos. Se você levar qualquer coisa viva, causará um alvoroço… O que pode ser bom para despistar, mas… Por que você leva mortos com você? Mortos não chamam a atenção. Mortos podem se misturar com facilidade. Note. Você está indo para um lugar onde força espiritual será escassa e cobiçada. Se você for proteger alguns seres vivos de tempos em tempos, como ficará? Chame-me alguns suicidas para você. Nas universidades, algumas pontes… Na minha época costumavam a ter vários. A maioria adoraria uma chance de entrar na Estígia, pois está aqui perdido. Marque-os com o seu símbolo como se você fosse uma Senhora Mortal, sim… E leve-os com você com o Pacto que serão libertados quando a alma de Audrey for encontrada. – Klaus coçou o pescoço. – Ah. Se eu fosse você, comprava um Cão Demônio. Arrumava um Fetishe útil para trocar e tentava contado com o Mundo inferior daqui antes de ir… Alguém acabou de me falar que você tem servos que poderão fazer esse contato na… The Zoo? Gaia, é perfeito!

– Caralho. Isso está ficando macabro, Klaus. – Henry não aguentou e riu. – Suicidas? Cães Demônio, pelo amor de Gaia?

– É a mesma coisa que comprar um cão de guarda.

– Com a diferença que ele foi antes disso uma pessoa lobotomizada?!

– Ah. Henry… Que sensível. – Klaus franziu o cenho. – Blair pode, depois, transformar o Cão em sua forma original, ajudá-lo… Se vocês quiserem fazer a boa ação do dia. Cães Demônio são fortes e lhes darão status. Status é importante lá em baixo, além de se fingir de morto…

Blair escutava com surpresa e interesse. Assentia para as claras afirmações dele e arquitetava aliados e Fetishes que poderia oferecer. Não pouparia esforços para entrar lá confortavelmente e sair o mais rápido possível. Quando Audrey identificou um sorriso de alívio e diversão na loira, que não conseguiu evitar certa satisfação, a princesa ficou indignada. Já estava com o corpo inteiro arrepiado do horror que Klaus narrava:

– Isso é sério, Blair! É macabro! – Ofegou angustiada. – Droga.

A Maga apertou os lábios, abaixou o rosto e assentiu.

– É que parece… Que facilitou demais. Só por isso. Não vai ser fácil, mas facilitou muito. – Explicou-se e ergueu o olhar a Klaus – Você acha que se eu comprar esse “pacote de serviços” será uma travessia menos complicada? Provavelmente terei que negociar com quem escraviza a alma dela, suponho? Na The Zoo… Eu poderia moldar o meu próprio cão? Eu já moldei espíritos antes e escravizei. Não seria um truque novo para mim. Estou acostumada a controlá-los… E se tornou minha especialidade… – Explicou.

– Hmmmm. É uma opção, mas… Se você for uma boa negociante, talvez consiga um Cão Demônio mais poderoso… Modelado de um espectro ou pior. Material que você não encontrará aqui deste lado. – Klaus falava, ignorando os protestos de Audrey. – Se encontrar um bom contrabandista, eu compraria daqui. Fazer o seu próprio Cão Demônio vai demorar. Eu compraria um e daria os meus toques finais. Mais prático. Os cirurgiões deles estão acostumados a lidar com essas artimanhas, afinal. Não duvidando da sua habilidade, mas poupe tempo. Aproveite e arme o seu bando suicida. Busque realmente as aparições que se mataram, Blair. São frágeis, fáceis de controlar e desesperadas para sair daqui.

– Okay. – Henry se levantou lentamente. – Onde arrumamos um médium que tenha contato com a Umbra Negra, só para começar? Parece específico… Encontrar um comerciante de almas, ah? Ritual para chamar suicidas, falar com um comerciante… É melhor você já se dividir em dez, Blair.

– Eu acho que consigo resolver boa parte disso com uma pessoa, ou duas. Vou fazer reunirem isso para mim na The Zoo. – Blair disse com um sorriso que se mostrou orgulhoso depois. Sua mente pareceu flutuar longe por um instante, escutando aa vozes na sua própria cabeça. De uma forma muito sutil, seus olhos até se desdobravam amarelados, um brilho escurecido e uma nuvem discreta. – Felizmente. Estamos no meu território. Obrigada, Klaus. – Olhou-o, ergueu-se e se viu intima o suficiente para abraçá-lo pelos ombros brevemente. – Muito obrigada. – Seu sorriso se tornou um riso depois.

Calado, Henry observou aquele abraço com um Déjà Vu lhe cutucando a memória. Klaus abraçou Blair com os olhos fechados. Ele raramente fechada os olhos quando tocado. Sempre em alerta. Sempre aguardando inimigos. Todavia… Henry massageou atrás do pescoço.

Audrey apertou mais os braços e pensava com estranheza. Pensou em sugerir a ideia de repensarem se sua presença era mesmo necessária; mas já estava em um ponto que não recuaria.

– Existe algo que devemos tomar muito cuidado ou evitar definitivamente por lá? – Audrey quase murmurou.

– Tudo. – Klaus disse categoricamente. – Mas evitem a todo o custo as Tempestades. Se forem andar à noite, somente se conseguir os seus Cães Demônio. Senão, escondam-se. Não confiam em ninguém. Ninguém. Falem pouco sobre si mesmo. Usem nomes diferentes. Sejam cuidadosos ao fazer perguntas…

Blair afastou seu corpo, mas continuou com as mãos ao redor do ombro de Klaus. Escutou Audrey, e encarou Klaus curiosa pela resposta, que logo teve outra pergunta de Audrey:

– Você acha possível algum fantasma saber quem somos? – A maga perguntou insegura – Ter algum desejo de vingança… Eu não sei… Ou… Eles ficam sem memórias?

– Claro. – Foi Henry que respondeu, observando a princesa imersa traçando as suas próprias aflições justificáveis. – Andrey. Só o corpo morre. Tudo o que os fantasmas têm são as suas memórias. Eles se agarram desesperadamente a elas e sentimentos de amor… E ódio. São fortes gatilhos para se apegar.

Klaus tocou as mãos de Blair com as suas. – Os que não reencarnaram, sim. Justamente, eles não conseguiram reencarnar porque não desapegaram dos seus assuntos terrenos. – O Lendário franziu o cenho. – Henry ou Polaris já devem ter comentado sobre a minha cruzada por lá, eu suponho? – O Garou esboçou um sorriso sem luz. – Eu nunca encontrei a minha filha. Ela… Reencarnou. Não passou pela Umbra Negra.

As duas magas encararam Klaus. Audrey não conhecia a história, sabia que andava imersa demais nas próprias dores para dar atenção a contos. Que não eram exatamente contos…

– Mas isso é bom, não é? – A Maga Aparentada se sentou ao canto da cama. – Ela pode estar por aí.

– Pode… Mas acho que não se pode simplesmente encontrar… Alguém… Eu não sei. – Blair apertou os lábios, lembrando-se rapidamente que não deveria agitá-lo com especulações. – Talvez. Enfim… Eu terei que vestir o Manto. Vou exigir que me reúnam essas coisas o mais depressa. Saltamos daqui para The Zoo e levarem esse exército fantasma conosco, mais uma matilha de cães se possível. Certo?

Klaus não insistiu no assunto, nem expressou a sua opinião. Os olhos claros do lobo seguiram até Henry e o Kitsune o encarou de volta com parados e profundos olhos escuros. Não se sentia desconfortável, mas tampouco gostaria de estar descendo degraus que havia prometido não descer mais. O Kitsune inspirou profundamente, puxando a fila corrente de ouro do seu pescoço e alisando-a com o dedão ao esticá-la contra a sua pele.

– Você tem um local onde podemos te aguardar lá? – Henry perguntou. – Não sei se a essa altura a Goetia não juntou as peças e constatou que eu e o Tsuru somos a mesma pessoa. É melhor eu não dar as caras por aí.

– Tenho. – Blair respondeu com firmeza. – Vou os teleportar diretamente quando for a hora. Apenas… Me deixem acertar isso… E vamos todos juntos… – Apertou o abraço entorno de Klaus antes de se afastar. – Obrigada. – Disse com um sorriso que cresceu e ficou ao atravessar a porta. Audrey se entreolhou com Henry e acenou para Klaus em seguida, com um olhar medroso, mas agradecido, pronta para continuar.

O Kitsune o abraçou como quem não sabe se abraçaria novamente. Não por crer em uma possível morte, mas pela força do hábito da despedida com ele. Klaus era um viajante. Entre labirintos sem fim, morrera e vivia novamente. Henry era devoto às histórias heroicas e ao coração bom, apesar dos meios sempre questionáveis. Ele não merecia o que estava lhe acontecendo.

– Eu te amo, meu irmão… – Henry sussurrou.

– Eu te amo, Tsuru… – Klaus disse, ternamente.

Quando se ergueu, Henry encarou os olhos de sangue de Belka Gwenevere. A velha amiga se aproximava da cadeira de rodas enquanto o Kitsune se virava para partir com o coração gelado em suas mãos trêmulas. Era somente mais um dos seus acertos de contas. Quando deixou a casa, sentiu-o completamente em peso ao se voltar para Audrey e sentir o cheiro do medo dela. Apesar do seu olhar pesado não ter se sustentado, caindo pelo chão, os seus sentidos a liam através de uma consciência de chumbo.

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