Idol

Categorias:Romance
Wyrm

Idol


Ao lado da porta aberta, Polaris se sentou com as costas escoradas no batente. As pernas estavam cruzadas no chão e as mãos pousadas nos joelhos. Se a sua expressão não estivesse tão séria, poder-se-ia pensar que ele meditava.

Os cabelos levemente ondulados estavam presos num rabo de cavalo que ele roçava na parede. As laterais de sua cabeça estavam raspadas a pedido do papel da série de televisão que estava atuando. Tentava se distrair com o enorme quarto do casal: uma fusão perfeita de ambos. Fotos, quatros, enfeites… Toda a decoração possuía detalhes de Blair e de Rhistel. Era diferente pensar que os dois se completavam também. Não como um casal somente, mas exista algo a mais que talvez os anos não tivessem apagado.

Scarlett havia convivido poucos anos com Ras Algethi, mas Polaris se recordava muito bem de como havia sido. Também se lembrava de Nina e Klaus. Na época ela, relações amorosas fugiam muito de sua capacidade de compressão. Ele conhecia outro tipo de amor, embora houvesse a carne. Talvez estivesse conhecendo este sentimento poderoso nos últimos dias.

– Você pode vir aqui, se quiser. – Rhistel disse. – Bee não liga…

O problema de ver Polaris irritado era que Rhistel sabia que absolutamente todos os irmãos estavam com a sensação próxima de si. Os sentimentos do primeiro Dragão se expandiam perfeitamente e a preocupação real dele era tão dolorida quando a sua raiva. O Dragão de Gelo se aproximou da porta e se apoiou no batente, abrindo um sorriso para o Dragão da Matéria.

– Está me convidando para a sacanagem? – Polaris abriu um sorriso malicioso.

O riso de Rhistel soou em uma gargalhada súbita e surpresa:

– Não… – O Dragão de Gelo respondeu, mesmo que sentisse o humor na voz do irmão. – Eu sou ciumento demais. Preciso de tratamento, acho.

– Você sempre foi assim…

– Ahm… – Rhistel franziu o cenho, olhando-o com estranheza. – Sério?

– Sim.

Primeiro uma longa ducha para tirar o excesso de sangue. Estava completamente curada, e todo aquele liquido vermelho não a assustava, pois sempre foi banhada em seus rituais e na maioria das vezes, nem era o dela próprio. Para piorar seu humor sensível e assustado, além de estressado, estava menstruada. Não ia se ver livre do vermelho. Rhistel deixou a banheira pronta para que ela pudesse relaxar, e por um minuto pensou em recusar. Elétrica demais. Petrificada demais. Escutou a conversa entre os dois tarde demais, sentando-se dentro da água morna, e perfumada. Blair se distraiu ao perceber que uma pequena cicatriz havia ficado entre seus dedos… Tão pequena que quase sumia, mas ainda gostaria de se ver livre dela.

– Você tem alguma história? – Blair perguntou curiosa, dispersando a tensão só por um instante. – Se você não entrar, eu vou sair… Não queria conversar por uma parede hoje. Eu já sei que quer gritar comigo.

Arqueando as sobrancelhas, Rhistel observou Blair entrando na banheira. Havia aprendido com o tempo que não era recomendado contrariar a Maga naqueles dias de poder muito sensíveis. O Dragão de Gelo lançou um olhar de aviso para Polaris. O problema era que sentia também o irmão em dias sensíveis. Será?

– Temos muitas, mas não quero contar nenhuma. – Polaris respondeu ao se levantar.

Ele e Rhistel caminharam para dentro do quarto de banho. Rhistel sentou próximo à banheira e Polaris procurou a poltrona, largando-se.

– Tudo bem. Era um Rastejante Nexus. Até eu mesmo tenho dedos para lidar com um Maldito desses, mas vocês estavam em dois. São incrivelmente poderosos. Eu não entendo. – Polaris desabafou.

Blair se encostou na beirada, deitando seu rosto sobre o braço e fitando o Dragão da Matéria.

– Ele nos trancou em uma caixa. Minhas Esferas são todas sobre mobilidade. Ele conseguia me alcançar através do teleporte. – Explicou desanimada – Eu não podia sequer invocar meu demônio. Ou espíritos. Nada. Fiquei nervosa. Lutei errado. Eu ainda nem sei o que vai ser da minha penitencia quanto ao Retorno. – Fechou os olhos – Eu apenas iria espiar. Ninguém me acharia. Eu iria pensar em uma solução… Resolver… Ou ter uma resposta simples. E ninguém iria ter que pensar sobre isso… Sobre os tipos de coisas… Que eu fazia… – Apertou os olhos. – Mas virou o contrário…

Afrontando-a, Acksul deu um grito antes que ela terminasse a frase. Ele cruzou os braços e negou com a cabeça, enchendo-se de Fúria.

A mão de Rhistel pousou sobre o ombro dela, apertando-o em uma massagem. Ele não gostava nem de ouvir sobre aquele momento. O suspiro foi profundo e o peito começou a doer apenas com a ideia de que poderia ter acabado muito pior essa empreitada azarada.

– Os Nexus não costumam ficar perto de outros Malditos. – Rhistel disse a Polaris. – Eles são solitários… Ninguém poderia prever um desses por aí, Acksul. Muito menos com essas lógicas inteligentes. Eu só encontrei doidos na minha vida. – Ele inspirou profundamente. – Enfrentei Ricardo Coração-de-Leão, lembra-se? E a Boneca…

Os olhos azuis e irritados do irmão mais vejo se ergueram para Rhistel.

– Eles não tem essa lógica. Eles não ilógicos na verdade. Esse Maldito soube exatamente o que fazer. – Rhistel dizia com propriedade. – Ele tragou Blair. Henry também, imagino?

O olhar irritado de Blair ficou em Polaris, claramente não gostava daqueles gritos direcionados a ela, mas não brigou. Fez uma expressão chateada e suspirou com a massagem de Rhistel. O semblante apenas mudou quando escutou que Rhistel havia enfrentado dois famosos Nexus. Lembrou-se da história… As vezes era difícil recordar que ele era Ras.

– Você os enfrentou mesmo, então… – Tocou-o sobre a mão que estava em seu ombro. – Bem… Eu nunca… Os Espirais enfrentavam. Eu me recordo de algumas histórias. Koschei me auxiliava a evitar e ignorar qualquer contato. Eu sabia da natureza alienígena. – A mão percorreu pela cerâmica – Nos colocou em uma caixa, parecia. Eu pensei em abandonar meu corpo e tentar atravessar em espírito somente. Tentar encontrar uma solução por fora. Mas nem isso… Acho que dei um susto no Henry nessa hora que meu corpo caiu. Ele resolveu tomar uma medida drástica pior que a mim, e aí consegui nos afastar. Era completamente fechado.

A concentração em entender a história deixo o Dragão da Matéria menos irritado. Polaris passou a mão pelo rosto, massageando o próprio queixo, e fez um muxoxo. Tem algo aí. O Dragão da Matéria franziu o nariz, incomodado. – Entendi. – Concluiu. – Henry realizou uma possessão no Nexus. Por isso o coma. – O Dragão fez uma pausa. – Interessante… Mas não importa. Não muda que você não avisou ninguém. Não saberíamos nem onde procurar o seu corpo.

– Polaris… – Rhistel olhou para Blair, sentindo a mão quente sobre a sua em busca de apoio. – Blair não gosta de remexer o seu passado com os moradores da ilha… Ela não se sente bem. Eu sei que ela não está certa em sair querendo resolver tudo sozinha… Ou com o Henry, por motivos óbvios, mas…

– Não tem “mas”. Já passamos desse capítulo, Blair. Ninguém vai ter expulsar por causa de um passado feio. – Polaris retrucou no mesmo instante. – Além do mais, se é assunto da Wyrm, você poderia ter pedido a Connor um auxílio. Pelo menos, ele seria uma conexão conosco. Ele e Hannah têm facilidade em lidar com essas questões. Eles são inumes.

– Completamente? Ela também? – Rhistel perguntou.

– Sim…

Os olhos verdes fitavam o Dragão da Matéria novamente entediado. Rhistel era a única razão para que não falasse tudo o que vinha a sua mente.

– Eu não queria que ninguém soubesse. Acho que perdeu esse ponto. E não é assunto de “Wyrm”. – Disse irritada, mas baixou a defesa – Eu posso não ser expulsa. Mas uma hora pode não parecer mais certo, não é? – Ela deixou o medo transparecer na voz – Uma hora… E se… – Engoliu a respiração e abaixou o rosto, como se perdesse a vontade de falar seus pensamentos. – Vai ser feio o suficiente…

Delicadamente, Rhistel buscou pela mão da Maga com as suas, envolvendo-as os seus dedos gelados. O Dragão de Gelo apertou os lábios vermelhos e a fitou com demora por um longo distante:

– Bee. Isso é tortura. – Ele lhe disse, cauteloso. – Se você tem medo de coisas emergirem, é melhor resolvermos essas coisas. Vamos anotar tudo o que você se lembra que está ainda maltratando Gaia e vamos resolver. Você não está fazendo mais, mas viver com medo de algum pobre emergir é uma tortura. Podemos começar pelos seus servos. Vamos caçá-los! Temos um calabouço imenso no castelo, muito protegido e trancado, podemos ver o que é possível salvar e o que não é. Jullian confia muito em você… Está na hora de você se livrar do peso que acredita que esse manto ainda tem e usá-lo com mais leveza. – Ele a acariciou. – Eu te ajudo. Tenho certeza que os meus irmãos também.

Polaris fitou Rhistel como se o Dragão somente estivesse repetindo o que ele queria dizer e bufou.

Blair escutou o que ele disse e respirou tentando ficar calma.  Beijou a mão dele que tocava a sua sobre a banheira, e demonstrou-se insegura no olhar.

– Eu sei o que deve ser feito. Você está certo… Meris me disse que sou mais forte com vocês. O que ele não sabe, é que eu tenho medo como vão me olhar. Porque eu fiz muitas coisas ruins. Muitas… E muitas… E eu não tenho como me arrepender, nem se eu me esforce. Eu fui criada assim, tudo sobre poder e controle. Poder e controle. Era o que eu era… Eu respirava o que eu fazia, eu tramava, eu vivia, eu me divertia… Eu passava meu  tempo… Tenho medo que isso seja horrendo o suficiente uma hora.  – Abaixou o olhar cheio de água  – Porque eu amo vocês. Isso realmente me tortura…

Quando sentiu o frágil sentimento lhe tocar o coração, Polaris se ergueu e caminhar vagarosamente até a banheira, sentando-se do lado posto ao que Rhistel estava. O Dragão da Matéria ergueu o queixo de Blair ao fazer um convite para que ela olhasse em seus olhos azuis. Ele inspirou impaciente e disse com notável tentativa de controlar a sua Fúria:

– Está feito. – Ele disse, com lábios que mal descolavam. – Quando te aceitaram aqui, comigo assinando em baixo, você acha que não ponderaram as histórias que ouviram de você? Eles mesmos encontraram os restos que você deixou para trás. Esqueça. Você não vai fugir do seu passado e ninguém está esperando que você o justifique. Você foi membro da Goetia. Era diretamente a nossa inimiga e tenho certeza que Meris não te colocou aqui para andar encolhida. Você mudou de lado. Honre este lado. Revolta o que possa resolver, mas pare de tentar resolver sozinha. Você faz parte de um grupo e tem informações importantes. Você é importante. Não se afaste. Ninguém está pedindo isso.

Atento, Rhistel observava o irmão sem interrompê-lo.

– Essa sociedade não engloba você, a mim, aos meus irmãos e muito menos os Lobos Magos. Nós temos a nossa. Se quer compensar, Gaia, compense! Você deve ter acessos a diversos agentes. Use ao seu favor! Seja corajosa, Blair. Seja você. Isso é parte de você… E não é uma desvantagem como você vendo agora. – Ele disse com firmeza. – Pare com isso. Se eu tivesse medo de julgamentos, nem a minha forma original eu usaria. Você é a Mensageira. Seja a Mensageira.

Blair escutou as palavras com uma agonia inexplicável, como se tentasse tirar aquilo do peito, mas fosse custoso.

– Eu não quero que só me aceitem. Eu quero que não deixem de me amar… E ficar perto de mim… – Confessou seu receio de novo, sem desviar os olhos de Polaris. Suas mãos se agarravam mais à cerâmica, e respirou fundo. – É um medo irracional. Eu sei. Eu sei. – Concordava e movia seu rosto – Eu não vou me encolher. Eu nunca fiz isso. Eu sei de tudo isso… Eu não tenho medo do que eu sou. Eu sei da onde minha força vem… – Respirou entre os lábios, o olhar firme ao dele. Blair fez uma pausa dramática e disse: – Nós vamos… Ser expulsos, Polaris. – A seriedade se dissolveu em brincadeira em um sorriso divertido dela.

Ele a fitava com seriedade até o sorriso dela. Quando Rhistel riu, Polaris abriu um sorriso segurando o próprio riso. Ele se ergueu e a beijou na testa demoradamente, acariciando-a no rosto antes de se afastar.

– Pelo menos, não sou mais pobre. – Declarou, caminhando.

Rhistel o acompanhou com o olhar por um momento e se desviou para Blair. – Está mais fácil de expulsarem ele. – Ele disse com uma franqueza humorada.

– EU OUVI ISSO! – Polaris disse do quarto. – Bom… Eu vou por uma música… Preciso relaxar para não querer quebrar a cara de Sebastian logo de início. Desconfio que essa história de Nexus tenha dedo nele. – Rhistel esticou o pescoço para vê-lo abrindo o MacBook de Blair sobre o colchão. – Eu colocaria Aisha, mas estou com birra. Eu vou por… Uma lista sua, Blair. Aqui.

Blair riu e voltou a fitar Rhistel. Beijou-o em um selinho entre o riso contido. “Eu te amo”, sussurrou para ele e roçou seu nariz na bochecha do Dragão de Gelo. “Eu também te amo”, Rhistel respondeu de volta, perdendo-se pelos olhos tão puramente verdes.  Blair estava tão distraída com a beleza de Rhistel que quando Polaris falou sobre sua lista, ela demorou alguns segundos para contestar. Seus olhos se arregalaram repentinamente e ela disse alto:

– Não! Espera! Procura… Procura essa cantora… Kaelah! – Blair buscou a toalha com o olhar e a fez aparecer em sua mão enrolando-se nela assim que saiu. – Minha playlist nova só tem Aisha, sabe.

Quando a viu sentir toda agitada, Rhistel já esperava por algum gosto duvidoso soar em forma de música das caixas de som do MacBook, principalmente quando ouviu Acksuk comentar:

– Não tem Aisha aqui na sua lista de favoritas.

Sem pressa, Rhistel se levantou. A canção começou lenta, dramática e em uma língua que ele, com certeza, não era fluente: coreano. O Dragão de Gelo parou de caminhar quando alguns momentos começaram a vir em sua mente com a trilha sonora do kpop. O momento com o Kitsune Jun e o recente encontro com o seu querido amigo Huan. Gaia, como assim?!

– HAHA! Nossa, Blair! – Acksul gargalhava e mudava de música. – Outra!

Outro kpop. Rhistel se escorou no batente da porta, observando-os. A ficha caia devagarzinho. Não parecia que estava presenciando a realidade.

Blair não estava mais branca, mas rosa. Puxou o notebook para seus braços com Correspondência e o fechou contra seu peito. Seu olhar tentou ser firme, mas estava tão envergonhada que a voz sumiu na primeira tentativa.

– O quê? Nem era minha lista favorita. Tentaram me recomendar! Mas eu nem gosto. Deve ter sido algum acidente, aliás. – Seu olhar foi de canto de olho para Rhistel, espiando sua expressão e voltou ao Dragão da Matéria. – Vai, pode ir! Eu tenho que me trocar ou essa reunião não começa. – Deixou o computador em cima da maquiadora e limpou a garganta, o rosto ainda quente, sem esconder como estava assustada com a divulgação da informação difícil de contornar.  – Aliás, olha, acho que escutei a Leah na sala.

Rindo ao notar e sentir a timidez dela, Acksul se jogou da cama e saiu andando do quarto, encostando a porta ao sair. Rhistel o seguiu com o olhar e as sobrancelhas erguidas. O olhar do Dragão de Gelo transpassava uma profunda monotonia quando migrou para Blair. Ele piscou os olhos vagarosamente e inspirou, umedecendo os lábios vermelhos antes de dizer com um ar de questionamento e indignação:

– Kpop?

Polaris foi embora e a deixou com o questionamento de Rhistel. A maga piscou os olhos devagar e negou em confusão: – Que? K…Pop? Ah! Aquele estilo… De música… Que o Polaris colocou né… Ouvi falar. – Assentiu, apertou a toalha no corpo e se aproximou do Dragão devagarzinho. – Conheci umas pessoas que gostavam… Em um evento. Fiquei até curiosa… Um pouco… – Seu rosto ficava mais vermelho ao percebê-lo indignado – É recente… Não… Não é, mas… Algumas são legais… Você quer ver? Escutei… Por essa semana… Umas…

O assunto ficou mais sério, e ela arregalou brevemente os olhos verdes. Aproximou-se um pouco mais e apoiou as mãos nos ombros dele devagar. – Não. É mais antigo que isso… Eu morei no Japão quando eu tinha dezesseis anos, lembra? Eu gostava… Bastante… De ir aos shows. Eu estava com vergonha de dizer…   – Desviou o olhar brevemente. – Nada a ver com ele. – Focava os olhos escuros – Você quer mesmo saber o que aconteceu, não é? Bem, eu vou dizer.

Minha namorada é kpopper. O pensamento lhe caiu esquisito. Rhistel não mudou de posição enquanto observava os olhos verdes destacados pelo rosto corado da Maga. Ele inspirou novamente, embora não houvesse Fúria. – Nada a ver com ele. – O Dragão assentiu vagarosamente. – Huh-hum! Claro que quero saber! Não sei o porquê do mistério! Você encontra um suposto inimigo, não mata e… Foi estranho.

– É verdade. Nada a ver! – Insistiu antes de começar a história: – Eu fico sem jeito de contar essas coisas. Eu não tenho nenhuma experiência amorosa real… Só constrangimento. – Arqueou as sobrancelhas e assentiu confirmando o que ela mesma falava – Bem… Você lembra quando eu te contei que meu primeiro beijo foi com um modelo… Catalogado… Depois de uma reunião… Eu estava falando do meu trabalho com Jun, e contei o que aconteceu, e ele me beijou. Eu achava ele lindo, ele deve ter percebido. Mas não nos encontrávamos muito… E sempre que nos encontrávamos era para decisões com outros agentes, servos… Ficou por isso. Eu fiquei um tempo afim dele… Sonhando… Mas… Enfim, eu sonhava sobre tudo. Foi isso. – Observava a reação dele. – Os anos passaram, nos víamos muito pouco. Ele tinha outras mulheres…  – Disse e negou brevemente. – Era fácil para mim criar afeto a pessoas que me viam sem a máscara. Eu hesitei quando o vi, porque conversávamos muito depois das reuniões. Ele não é tão insano. Não era só uma massa de controle. Mas… Eu sei, vou ter que matá-lo. E… Eu não tenho problema em relação a tirar a vida dele.  Não vai me pegar de surpresa.

De desconfiança, Rhistel passou apenas pela curiosidade. O Dragão de Gelo meneou os lábios de um para o outro, refletindo sobre o que estava ouvindo. Até conseguia imaginar todo o momento e sentiu remorso de ter perguntado pela forma com que ela estava se expressando. Insegura. Convivia tanto com a Blair solta, desinibida, que esquecia de que ela também tinha uma vida fora do seu relacionamento, com os seus sonhos e traumas. O Dragão a envolveu pela cintura e a trouxe para perto, observando-a em seus olhos. – Só isso? – Ele franziu o cenho. – Ahm… Eu sei que isso foi algo para você. É que eu já te contei tantas coisas sobre mim, minhas aventuras… Hm. – Ele fez uma pausa, olhando-a. – Você não precisa matá-lo se ele não merecer morrer. Eu falei aquilo por raiva… Só.

Blair sorriu sem jeito, abraçando-o quando foi trazida para perto.  – Só isso.  – Riu, ainda sem graça.  – Eu disse que era bobagem. Não significa nada para mim hoje, ele era alguém que significava frestas de realidade, conversas equilibradas, uma história na minha mente criativa. Mas se ele é inimigo, e precisa morrer, eu já matei outras pessoas que eram próximas como o Kenneth. Não vou sofrer por isso.  – Deu de ombros, sendo sincera sobre seu posicionamento.  – Não fica com raiva.  – Afastou o rosto para olhá-lo e o beijou em um selinho demorado.  – Você é único para mim. E é vocalista da minha banda preferida também.  – Abriu o sorriso  – Mas não foi por isso que eu fiquei com você. Eu me apaixonei antes da banda existir, então… – Riu e o beijou em outro selinho.

Ele retribuiu cada beijo nos lábios rosados e roubou outro mais demorado e profundo, vagarosamente carinhoso e quente. Os seus lábios gelados escorreram percorrer o rosto de Blair, aquecido pela timidez. – Você é tão linda… – Ele sussurrou. – Eu fico com ciúmes! Não estou mais com raiva, mas eu fico… Eu sei que não sou o único que te vê… E admira… Eu espero que eu sempre seja o suficiente… – Rhistel se afastou para olhá-la. – Mas preciso confessar, Bee… Eu nunca imaginaria que você gostasse de kpop. É um estilo tão… Feliz. Não que você não seja feliz, mas sei lá! Gaia! Não absorvi… – Ele franziu o cenho. – Você ouve o grupo do Huan. – Afirmou. – Sabia quem ele era esse tempo todo.

– Escuto. – Blair confessou, a respiração discretamente mais pesada dos beijos que ganhou no pescoço. – Eu… Gosto bastante do grupo… – Afirmou e pediu logo: – Mas não conta a ninguém. Por favor… Não… É meu prazer culposo. – Seu sorriso cresceu e ela o beijou em novos selinhos. Um beijo atrás do outro, e um abraço que o envolveu para perto do seu corpo. Pediu um beijo mais profundo, e conteve um suspiro. Ainda estava sensível pelos hormônios, e secretamente apreciava o ciúmes amigável dele. Inevitavelmente se sentia mais desejada. – Enquanto continuar fazendo músicas para mim… Eu tenho certeza que não vou pensar em ninguém além de você. – Provocou com um riso e o mordiscou no lábio – Eu posso pedir que nunca pare de escrever canções? Especialmente para mim…

– Ah… Nãão… Não me ameace… – Ele pediu, manhoso por encenação. A última coisa que transitava por sua mente aquecida era em relação a inseguranças. Nyra com certeza vai demorar com Henry… – Você sabe que não é algo que você precise pedir… – Ele a abraçou mais apertadamente, sentindo o corpo envolvido por uma simples e insignificante toalha de banho como único impedimento para senti-la nua além de suas próprias roupas inconvenientes. – Mas sobre o segredo, eu não sei… Eu não sei… Não vou prometer! Eu fiquei com vontade de desabafar em um tweet… “Minha namorada ama kpop… RIP!”. – Rhistel abriu um sorriso arteiro e a beijou antes que protestasse, calando qualquer tentativa dela de falar com os seus carinhos pedintes.

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