I Lied To Be Someone Else For You

Categorias:Romance
Wyrm

I Lied To Be Someone Else For You


Deveria estar animado para se encontrar com os seus irmãos, mas não conseguia mentir para si mesmo. Rhistel estava sentado na escadaria do castelo, ainda pensando sobre as palavras do morto vivo e da expressão transtornada que enxergou no semblante da namorada. Estava terrivelmente preocupado por não saber se tomavam a decisão correta em tentar tirar Klaus da sua condição limitada de Espírito e ainda por cima Jullian não auxiliava em seu estado de euforia. Desde que se reencontrara com Hannah e Devon, a paz não fluía para Rhistel. O Dragão de Gelo fechou os olhos. Espero que Huan ao menos encontre alguma coisa e que Blair consiga conselhos úteis em sua meditação.  Ele franziu o cenho, desconfortável e se abraçou. “Nina, você pode sair daí do vilarejo de uma vez? Eu tenho certeza que o seu bate-papo pode esperar, sabe…”, reclamou, manhosamente, na mente da irmã. “Daqui a pouco temos a reunião e eu quero falar com você…”, insistiu. Rhistel mordeu o lábio rubro e olhou para cima. O clima estava perfeitamente frio e ele não conseguia se animar nem mesmo com isso. “Ninaaa…”.

“Oh meu deus, Rhistel” Nina disse com uma risada, e ficou em silêncio por mais alguns minutos. “Eu estou atualizando as meninas, você não terminou com a Blair, certo?” Provocou divertindo-se. “Por que você não vem aqui me ver? A terra é um problema para vossa realeza? Oh, eu não deveria estar reclamando, visto que você está concedendo alguns minutos de atenção a sua irmã. Mas ainda sim… Acho que não somos bem vindos aí no Castelo.” 

“Não… Eu continuo firme e forte com a Bee. A gente só discutiu no lugar errado”, o Dragão comentou com tédio na voz. “Eu não tenho nenhum problema com a Ash. Ela é minha amiga… Eu acho que ela não teria problemas com você, mas… Okay… eu vou até aí”. Rhistel se levantou, esticando-se e começou correr em direção ao vilarejo.

Nina saiu da casa no meio da conversa, as meninas bebiam e conversavam fazendo planos antes do trabalho. Atravessou com passos vagarosos a vila e seguiu até a praia, no leste extremo, onde pudessem falar sem ser vigiados. Naquela ponta, havia uma fonte saída de uma hidromassagem que desaguava no mar. A hidro era coberta por um gazebo, e cercada pelos coqueiros mais lindos que aquela Ilha poderia reproduzir. Piso de madeira e bancos em volta de uma mesa formatavam a plataforma ao lado da banheira. A Vila era até um nome engraçado para um local que vinha ficando extremamente sofisticado graças aos investimentos de Sophie, que despejava seu dinheiro sem dúvida de melhorar a vida de todos: aquecedores, ar condicionado, quartos decorados. As casas há um tempo não eram mais só de madeira. Vinham se improvisando em conforto e beleza como um grande spa no meio da selva. O wifi além de tudo era ótimo. Nina estava com um tope branco, combinando com calças esportivas brancas e os pés descalços. A Dragonesa tinha os cabelos soltos, negros e ondulados. A maquiagem era um nude, e parecia produzida o suficiente para sair dali para uma festa até. Os olhos delineados por inteiro ficaram na areia adiante, e as latas de cerveja que trouxe na mão foram colocadas ao lado no banco que se sentou.

O passo dele só diminuiu quando a viu. A corrida combinava perfeitamente com a vestimenta esportiva que ele trajava – e sem derramar uma única gota de suor. Existia um alívio por ter ouvido o seu humor, mas não havia esperança que ele duraria quando assuntos mais densos fossem tocados. Rhistel se aproximou dela pelas costas a abraçou tão forte quando a sua carência de irmã pediu. Beijou-a pelo rosto e pelos cabelos com o carinho gelo que o seu corpo proporcionava. – Ai, ai! Você está linda, ahm… Por que tão linda? Está de caso novo, é? – Ele perguntou, mordendo-a na bochecha. – Já não gosto dele.

Ela riu com todo o carinho e encolheu seus ombros arrepiada com a sensação gostosa do gelo, mas que facilmente atiçava qualquer pele mais quente.

– Bem. Eu nunca estou sozinha. Sinto lhe informar, mas acho que você já me conhece. – Virou o rosto por cima do ombro e o beijou no rosto. – Pegue uma cerveja. É islandesa. – Fitou a sua que estava na própria mão. – Aqui também se vive com estilo. – Balançou a latinha quase vazia na mão e segurou o braço dele para que não a soltasse do abraço. – Não gosto do seu caso também. Acho que vocês se monopolizam muito. Gostava mais quando você ficava no meu pé, irmãozinho. – Falou contrariada, mas sorriu e riu depois – Um ano e ainda não aceitei!

– Oh, não é isso! – Ele fez um beicinho. – Blair vive querendo te chamar para… Sei lá, qualquer coisa! Experimentar um cupcake ou tomar um cappuccino. Ela só fica um pouco intimidada com você, acho… Ahm… Não quer te incomodar. Ela sabe que você é muito importante para mim… E ela adota todo mundo que é importante para mim como parte da família dela. – Ele disse, fechando os olhos e descansando o queixo sobre o ombro dela. – Blair é um anjo. O que me mantém antissocial é a minha banda. É muita coisa… – Murmurou. – Às vezes, eu acho que ficarei doido, sabe. – Olhou-a. – Jullian me mantém muito ocupado também… Apesar da nossa relação estranha. E você… – Suspirou. – Está longe de mim… Daqui… De todos nós.

– Sério? – Franziu o cenho e o encarou – Você está mantendo uma banda da forma errada. É para se divertir, não ficar tenso e enclausurado. – Sorriu de canto e voltou-se para o horizonte. – Eu estou… Mas eu sempre estive… Parece, não? Desde que me isolei… As coisas tem menos sentido por aí. Eu fico feliz que vocês tenham encontrado suas naturezas nessa vida. Já eu… Nunca vou me achar… Eu tenho certeza, é a minha natureza.

– Ah. Eu fico tenso por qualquer coisa. A ansiedade não me deixa em paz. – O Dragão se sentou ao lado dela, mantendo os braços carinhosos no abraço de lado. Rhistel franziu o cenho com estranheza. Relembrou-se de Veronica desabafando com ele e Blair em uma noite em uma note aleatória. – Nikki esteve em casa falando de você… Bebeu e falou bastante. Foi meio… Do nada. Queria saber onde você estava, mas nem parecia saber exatamente o porquê de perguntar. A Monarca parece que funciona assim, se empurrando com a bebida para ter coragem de se abrir… Né.

Nina deitou sua cabeça no ombro dele e repousou sua mão no pescoço de Rhistel. Mas a conversa sobre Nikki a fez o olhar e franzir o cenho.
– Ela é estranha. Estranha demais. – Voltou a deitar a cabeça – E não deve ser ela. Eu não sinto nada muito perto do que vocês narram sentir. É incompleto. É estranho. Eu tenho receio demais. Verônica é sombria também, não deve ajudar. – Reclamou e brincou: – Você quem admira um ou uma psicopata, Ras… Não eu. Você é a pedrinha de gelo mais carinhosa e amorosa que eu conheço, mas é uma pedrinha de gelo ainda. – Ergueu o olhar até ele, afastando o assunto de si: – Tantos anos em uma caverna de gelo, aconselhando lobos. Como você enxerga aquela vida daqui?

O Dragão de Gelo a olhou com uma expressão pensativa enquanto a mente folheava algumas memórias bem antigas de sua vida. – Ahm… Eu vivi muitos anos ao lado de açougueiros, Nina. Os Crias de Fenris tem uma visão bem reta sobre inimigos e morte. Eu me acostumei a ver sangue. Não sei se é um bom costume, mas eu ficaria louco se me importasse. – Ele fez um beicinho. – Eu vivi o coração da Segunda Guerra Mundial. Gaia, Eu vi o próprio Hitler discursar na televisão e engoli membros da Gestapo. Isso é muito doido! – Ele riu. – Eu fiquei apavorado quando senti a ligação com Jullian. Não foi se primeira que eu abracei isso. Eu adiei alguns anos. Ele não era nada do que eu estava imaginando para mim.

– Hm! Ainda que seja diferente de matar algo por prazer… Né… Eu nunca suspeitaria vocês dois. – Nina pensou sobre o relato e disse com um suspiro cansado: – Tudo bem então eu esperar alguns anos, né? Claramente ela não está preparada, nem eu. – Fechou os olhos e devaneou – Como deve ser a ligação do Ladi com a Nyra? Ele deve ser o mais sortudo. Nyra tem uma devoção desleal para tudo que ama. E ele é a única razão para eu acreditar que há um sentido nisso tudo, Nyra precisaria de alguém centrado.

– Nina… Você está sendo inocente se pensa que Crias de Fenris só matam para se defender… – Rhistel esboçou um sorriso sombrio para ela. – Eu vi muita coisa. – Completou, resumindo dessa forma para não descer para os detalhes vermelhos desnecessariamente. – Eu devo muito ao Coração se Thor, mas não voltaria pra lá. A liberdade tem um preço… É como se eu tivesse saído do berço, mas faz parte. Eu não me arrependo. – Ele deu os ombros. – Nao acho que existem ligações certas ou erradas. Acontece que são pessoas… Cada uma traz a sua bagagem para a ligação. – Ele pensou em Hannah e Connor. – Nós também levamos as nossas. Eu esperei pela ligação até começar a ficar agoniado demais. Quando começou a pegar diretamente na minha saúde mental, eu cedi. Comecei a enviada para ele músicas através da rádio que ele ouvia. Ele não estava bem e isso me matava por dentro. Daí… Derrubei-o da bicicleta… Literalmente. Foi assim.

O riso do Dragão de Gelo veio fácil só de imaginar a cena das duas. Rhistel continuou sorrindo enquanto formulava um pensamento, ouvindo a voz da própria alma para dar uma raciocino. – Não… Ahm… Eu acho que você não deveria se forçar. Deveria parar de fugir, mas não se forçar. Fugir faz você perder a percepção do que pode ser. Quanto mais tempo você passa perto da sua ligação, mais certeza você tem… – Rhistel arqueou as sobrancelhas. – Eu acho que você é diferente. Eu não vejo a mesma “ponta” que a nós temos. Tenha paciência com você mesma… Mas pare de fugir da Monarca. Ela não vai te morder… Acho? E se morder… Bom, você estará no lugar de milhares de pessoas que iriam amar uma mordida dela.

– Okay. Você tem um ponto. – Nina riu e esticou as próprias pernas, fitando os pés sujos de areia. – Gaia. Você acredita que eu a escutei falando que só cantava pelo dinheiro, playback era nada? “Tem algumas músicas que eu gosto. Essa é fofa.” – Riu desgostosa – Maya que é muito fã um dia desses disse, “vi seu clipe hoje, parabéns! Está lindo, lindo!”, – Nina imitava o jeito delas – Verônica deu um sorrisinho meio: sério que você está dando uma de fã aqui? Abanou a mão e disse “Eles saem o tempo todo, mas obrigada”– Nina revirou os olhos – Bem, se ela me morder eu mordo de volta, eu não estou na minha fase mais paciente. Raios e trovões, sabe?

Rhistel começou rir somente de imaginar. – Ela é engraçada. Eu acho curioso esse desprezo dela com a própria carreira. Bem doida. Às vezes, ela aparece lá em casa e fica conversando comigo e a Blair à noite. Você deveria ocupar um lugar lá… Conosco. Só acho. Aquela casa é tão grande que é quase uma vila. – Ele sorriu, olhando-a. – Por que não leva Nikki para a reunião…? Ahm… Sei lá. Você vem, não vem? Falar sobre Klaus… Vocês eram… Muito próximos… Não? – Ele arqueou as sobrancelhas. – Sei que ele te visitava naquela Seita de doidos…

Nina estreitou o olhar, estranhando o cuidado educado dele de insinuar algo. – Você não era assim, Rhistel. – Negou como se lamentasse – Sim, nós éramos. E obviamente estou ansiosa demais. Mas ainda tenho pensado… Estou com medo, sabe? E não é pouco. Acordei em pânico, e demorei para descobrir o porque. E é isso. – Franziu o nariz – Eu não aguentaria o ver quebrado… E se ele voltar outra coisa? – Apoiou as mãos nos próprios joelhos – Algo que tenhamos que conter. Não sei. Começou a me tirar o sono. Mas não há outra forma…

O sorriso do Dragão cresceu largo em seus lábios rubros e ele a abraçou mais forte, encolhendo-se a ela. – Ah! Não sei! Vai que o assunto machuca! Eu estou sendo cuidadoso como você… – Murmurou com manha na voz, mas respeitou a seriedade do assunto. – Eu estou preocupado também. – Rhistel sussurrou. – Fiquei esses dias me lembrando dele. Nos últimos dias, ele estava tão… Depressivo. Eu acho que foi a depressão que o deixou ser pego pela Goetia e por Sebastian. Eu não sei como ele voltará. Eu também tenho sentido Tayrou tenso… Se ele ao menos se abrisse… Talvez ele saiba de algo que nós não. Ele não se manifesta. – Rhistel olhou para o céu. – Eu acho que não haverá meio fácil. É um pouco… Querer demais que ele volta completamente inteiro. Ele foi torturado de tantas formas que não imagino como está a sua mente. A única coisa que sinto é que precisaremos ter paciência. Pelo que, eu não sei… Mas é o pensamento que me vem…

Nina o olhou pelo tempo que o escutava e moveu o rosto em concordância no final. – Minha esperança é essa quantidade de pessoas envolvidas. Eu sinto segurança em tudo o que Jullian, Nyra e Blair se comprometem. Além dos nossos irmãos. Então parece que as chances serão as melhores. – Sorriu sem jeito – Vou pensar sobre Nikki. Duvido que ela queira se envolver, sabe. Ela não parece que liga pra muita coisa. – Franziu a testa – Mas… Vou pensar.

– Deixe-a te responder. Pare de julgá-la. – Ele disse, sério, mas depois sorriu. – Corta um pouco essa expectativa fora, mana…

O Dragão de Gelo aceitou a cerveja, pois sentiu que precisaria – e a cerveja era ótima também, embora não quisesse admitir. Se Jullian possuía as suas diferenças com Arabella, Rhistel ainda tinha as suas com Sophie. Em suma, as duas pessoas muito importantes da Areia Dourada. Talvez somente o seu irmão Torvoethardurg acabasse visitando com mais frequência aquele local por culpa de Vinny.

– Jullian é cheio de amigas alternativas, né… Que parecem modelos indie de Instagram… – Rhistel comentou do nada enquanto seguiam em direção à Árvore de Dagda.

Que não esperasse por uma organização melhor, mas o propósito de reunir os seus irmãos não passou de uma troca de carinhos, saudades e amores. Com exceção de Ladirus e Tayrou, todos estavam dispostos a conversar e, principalmente, fizeram mil perguntas a Connor sobre Hannah e demonstraram a felicidade de vê-lo finalmente junto de alguém.

Polaris não parava de sorrir e rir. Uma única pergunta havia sido feita e respondida em uníssono: “Iremos todos ajudar Klaus a retornar?”. Não havia dúvida. Precisavam trabalhar juntos. A união deixou o Dragão da Matéria muito feliz. Embora os ressalves fossem levantados, não parecia haver outra escapatória. O Lobo-Fantasma vivenciava uma espécie de prisão e merecia a liberdade de volta. Os olhos azuis e excitados se voltaram para Tayrou, Rosstrider e Nina e ele começou a caminhar em direção aos três.

– Você está namorando uma belíssima garota, Polaris… – Rosstrider lhe disse com um sorriso carinhoso. – Ela parece que está te fazendo bem.Polaris envolveu Rosstrider num abraço, afagando os seus cabelos prateados. Rosstrider sorriu até com os seus olhos, também exoticamente prateados naquele instante.

– Ela é até bonita demais pra você. – O Dragão de Metal completou.

No mesmo instante, Polaris o empurrou, rindo. Rosstrider abriu um sorriso largo, quase fechando os seus olhos coreanos e negou com a cabeça.

– Você gosta dela ou apreciou ultrapassar toda a concorrência? – Tayrou perguntou com leve acidez na voz.

– Eu gosto dela. Bastante. É pra valer. – Polaris respondeu, fitando o Dragão de Luz. – Você… Como está? Nunca mais vai falar com Sirius?

O suspiro profundo de Tayrou decretou que não queria falar sobre isso. Ele desviou os olhos brevemente e escorou a cabeça à de Nina.

– Deixe-me ter o meu tempo de ódio, Polaris…

Nina agarrou o irmão pela cintura e beijou seu rosto. Riu com toda a animação deles, mal percebendo que se sentia extremamente confortável e feliz naqueles momentos. Mesmo nos assuntos delicados.

– Seu tempo de ódio tá durando bastante, Tay. – Murmurou. – Ela já tomou a decisão. Não culpe quem não deve. Respire. Estamos indo atrás de Klaus com os melhores, além de tudo.

– Huh. – Tayrou fechou os olhos. – Klaus acordará e vai adorar olhar para a cara de Ártemis tanto quanto eu adoro.

– Klaus é mais sábio. Não vai transferir pesos de encarnações passadas. – Rosstrider respondeu como quem nada quer. – Não se preocupe.

– Fácil para vocês… Falar. – Tayrou negou com a cabeça. – Muito fácil. – O Dragão roçou o nariz nos cabelos de Nina. – Só Gaia sabe o quanto isso tirará um peso de mim. Esse… Vazio. Eu não desejo nem para o meu pior inimigo…

– Para-se ao vazio de, sei lá, sem ligação… Ou achar que tem uma…?

– Você acha que tem uma, Ross?

O coreano franziu o cenho e voltou os olhos puxados para o céu nublado brevemente, expressando um desânimo até cômico:

– Espero que não. – O Dragão de Metal arregalou os olhos. – Só uma desconfiança… – Ele desviou os olhos. – Gaia me ajudará que não há de ser nada. Ligações deveriam nos deixar felizes, não?

– Não é uma regra… – O Dragão de Luz riu. – Enfim… Não. É bem pior. – Tayrou garantiu. – Polaris…?

O Dragão da Matéria olhava fixamente para o chão com uma respiração que se transtornava aos poucos.

– Polaris? – Ross se curvou para olhá-lo.

– Definitivamente pode não te fazer bem. – Nina disse enfática, e como se a situação houvesse se realizado, Polaris entrava em um breve transe de informações e assustava aos outros. – O que houve? – Também se curvou para o olhar. Nina estendeu o rosto para a casa de madeira ao sentir um certo alvoroço, e a imagem de Nyra saiu pela porta da frente com um olhar preocupado.

Vazio. Polaris ergueu o rosto, fitando os irmãos. Rosstrider, Nina e Tayrou. Vazio. O Dragão sentiu a própria Fúria se elevar tão rapidamente que chegou a pensar que pudesse ser acometido por um frenesi como qualquer outro metamorfo. A sua Fúria bateu como uma o da contra a de Rhistel. O Dragão de Gelo pousou a mão em seu ombro, mas num lapso de ódio Polaris a afastou com a mão a cintilar garras espelhadas. Rhistel encarou com os lábios a desnudar presas.

– O que aconteceu? – Ele sussurrou, mas em seguida, deu um grito de Fúria. – O QUE ACONTECEU, POLARIS?!

– FIQUEM AQUI! FIQUEM AQUI! – O Dragão da Matéria gritou antes de seguir para a Umbra.

– Ô CARALHO! – Rhistel seguiu logo atrás.

Começou. Ladirus fitou os irmãos, mas virou-se por cima do ombro ao que um agonia que não era sua lhe tomou as emoções.

Nyra assistiu a confusão e logo pensou em Blair. Henry estava distante e Blair com certeza, sumida. Mas Henry não sairia da Ilha. Ele disse que não. Haviam conseguido invadir o espaço? Sugá-los do nada? A ideia a sufocou fortemente e desestabilizou sua Fúria.

– Nina. Ladi. – Não terminou de falar e a Dragonesa passou a película atrás dos dois irmãos Furiosos.

A Garou deu meia volta e procurou Jullian dentro da casa, avisando o que tinha certeza:

– Henry e Blair estão com problemas. Eu não consigo senti-lo. Eu não tenho ideia do que possa ter ocorrido… – Conforme falava, seus olhos cinzas se enchiam de água.

Ladirus se aproximou, assim como Torvoethardurg às suas costas. Jullian os olhou brevemente, mas concentrou-se em Nyra, pousando as mãos em seus ombros:

– Ele me informou que dariam uma saída e que seria rápido… – O Lendário franziu o cenho, estreitando os olhos e usando de sua força espiritual para checar o território da ilha. Blair e Henry com problemas… Sebastian foi a sua primeira desconfiança, mas o Garou ainda estava pelo vilarejo, aguardando ser chamado para a reunião… – Nathan. Vá checar o vilarejo com Kraz. Verifique se encontra alguma irregularidade. Agora.

O Galliard se aproximou, atônico e assentiu. Sem fazer perguntas, seguiu correndo para o lado de fora em direção à Dragonesa.

– Alguém sabe para onde foram? – Jullian perguntou, passando o olhar pelos rostos silenciosos.

– Rhistel ou Acksul pelo jeito não sabem… Como eles saíram correndo para a Árvore se Dagda… Eu acho que estão tentando descobrir… – Ladirus respondeu, incomodado.

O Lendario suspirou e retornou a Nyra:

– Eu vou até a Árvore de Dagda verificar o que está acontecendo… – Jullian a beijou num selinho e deu um passo para a Penumbra depois de citar Joshua.

Nyra aceitou o selinho, mas seguiu o Lendário de pronto. Atravessando a Película e correndo para onde a confusão estava. Nina observava os irmãos ao lado da Árvore, e tomava cuidado com o controle dos dois. Muito perto de uma explosão, ao que pareciam. E demorou… Os minutos corriam lentos e nenhum sinal. Estavam muito perto de uma segunda decisão delicada:

– Vamos sair procurando. Ok? – Nyra disse de súbito – Por favor. Vamos fazer uma trajeto, lugares possíveis. Vocês não saberiam para onde ele iria? Ou Blair? – A Theurge perguntava ofegante, agoniada, chorava em silêncio com medo de não poderem fazer nada. – Tem que haver uma forma de rastrear…

Sentado no chão com as pernas cruzadas, Polaris mantinha uma mão à uma raiz da Árvore de Dagda e a outra na perna de Rhistel. Os olhos estavam abertos, mas ele não mexia as orbes. Jullian observava os três, passando por Nina, Rhistel e Polaris. A sua Fúria alta em resposta ao transtorno do Dragão de Gelo, que sofria pela namorada e pelo mentor, e a sua própria preocupação, pois Blair já lhe era muito cara… E Henry…

– Ele está tentando, pequena estrela… – Jullian sentia o fluxo de energia que o Dragão da Matéria sugava tanto de Rhistel quanto do Lendário. – Eu já consultei os nossos Vigias. Eles não foram vistos. Blair deve ter usado um teleporte…

– Polaris. Use essa merda de ligação… Caralho, nós vamos até lá… – Rhistel choramingou. Os olhos vermelhos das lágrimas caladas. – Use-

– EU NÃO POSSO USAR A LIGAÇÃO COMPLETA PORQUE TENHO UMA CABEÇA INÚTIL, PORRA! – Polaris berrou, cuspindo saliva. – Deixe-me tentar o que posso… Deixe-me, por favor…

– Você não os sente? – Jullian perguntou a Polaris. – Nada?

– Nada. – Polaris negou com a cabeça. – Se não estão mortos, estão em outra dimensão. Eu não sei… Outro planeta…

Não adiantava pedir ajuda ao Luna, Polaris saberia se Blair tocasse a cidade com sua presença. E não conseguiu concluir alguém que pudesse fazer uma busca melhor. Rhistel estava em pico, Polaris com a Fúria sensível, e se achava que Nina os ajudaria, também tinha faíscas em seus olhos. Jullian era o mais centrado, pois nem Nyra se via em condições de uma decisão sábia. Sentia-se fraca em pensar em cenários. Que logo se formaram em sua mente… Os olhos de Nyra se arregalaram quando o cheiro de sangue invadiu o local. Blair estava em seu manto, e coberta de sangue. Cabelos, rosto, perfurações e correntes. E o corpo de Henry, não estava muito atrás, mas psicologicamente pior. Blair se afastou um pouco do corpo dele e o chamou. A Maga pareceu nem perceber que estava cercada de aliados, chamava o Kitsune atônita; perdendo grande quantidade de sangue que ignorava. Estado de cirurgia. Nyra sentiu o ar fugir do peito de uma vez, mas não conseguiu expressar nada. Aproximou-se em resgate ao mesmo tempo que os outros.
Envolvendo Blair com os braços, Rhistel a afastou de Henry, pedindo calma em sussurros e despindo-a do manto vagarosamente. Não se sentia tranquilo, mas não se via em posição de ajudar mais do que isso. Polaris os observou entre o alívio e a agitação. Os olhos azuis se fixaram em Henry enquanto perguntava:

– O que aconteceu com ele?! O que aconteceu com você?! – Perguntou para Blair.

Devagar, Jullian se agachou ao lado do Kitsune e tocou o seu pulso, sentindo a frágil pulsando do seu coração. O Lendário o tocou pelo rosto, sentindo o pescoço, estendeu as pálpebras e curvou-se para ouvir o pulmão que respirava frágil. O ferimento que havia em seu abdome a Árvore de Dagda começava a curá-lo sem que o Lendário houvesse manifestado qualquer Dom.

– O que ele tem…? – Rhistel perguntou, esganiçando.

– Parece um coma… – Jullian respondeu, franzindo o cenho. O Lendário o tocou nas mãos. – Ele está um pouco frio…

– Chamei Connor… – Polaris disse, apertando os lábios.

Blair não se deixou afastar, mas não relutou sobre a retirada do manto. Os olhos verdes continuavam em Henry, e a corrente lentamente desprendeu de sua mão, revelando a mão rasgada entre os dedos, distorcida sem os tendões. Ela piscava os olhos devagar, procurou o olhar de Rhistel, chorosa. Encarou Polaris, Jullian, Nina e Nyra que também havia se ajoelhado perto; esperava resposta.

– Eu nunca enfrentei um Nexus… – Blair disse tremendo muito. Nyra encarou a mão que se curava em relutância. E voltava a Henry. A Fúria alta.

– O que aconteceu…? – Nyra resfolegou com medo. A palavra Nexus a fez esperar o pior, ainda sem entender como a história poderia ter parado ali. Blair apenas negou, sem conseguir falar, ou se erguer. “Desculpa…” ela balbuciou entre o choro crescente.

Rhistel apenas negou com a cabeça, pedindo para Nyra não existir e o mesmo fez com o olhar Furioso de Polaris sobre a Maga. Rastejante Nexus. Criaturas que nenhum ser gostaria de encontrar frente a frente. Um acerto e a morte poderia ser o menos dos problemas. Os olhos escuros acompanharam a sombra que o corpo enorme de Connor fez ao planar sobre eles. O Dragão desceu, mudando de forma elegantemente antes que as suas patas tocassem o chão. Connor correu até o Kitsune, sentando-se no chão e tocando-o em sua testa. O seu ganhou mais uma sombra e o imenso Dragão de cornos curvados em direção ao focinho pousou igualmente próximo, tornando-se Torvoethardurg. Lavinia desceu de suas costas com um salto e os dois correram até Connor.

– Torvo acha que pode ser necessário… – Vinny explicou-lhes. – O que aconteceu?

– Rastejante Nexus. – Jullian disse a Ahroun, dando-lhe espaço.

O Lendário se ergueu e caminhou até Rhistel e Blair, gentilmente, examinando a mão da Maga e aplicando um Efeito, envolvido com o Dom Toque da Mãe, para reconstruir sem que houvesse dor. Rhistel o olhou, agradecendo silenciosamente com os olhos aguados. Blair fechava os olhos e apoiava o rosto no ombro de Rhistel. Assustada por estarem a vendo realmente.

Com um grito desaforado, Polaris se desviou da visão horrenda do sangue. Sozinhos. Sozinhos sem avisar ninguém!

– Connor. – Torvo segurou o pulso dele. – Verifique se ele não está infectado antes.

– Aparentemente, não. – Connor respondeu.

– Verifique. Não sabemos se é uma armadilha… Nem sabemos se ele está vivo ou sendo mantido. Seja cauteloso. – Torvo disse, frio como um médico.

– Aqui?

Jullian suspirou e assentiu para Connor, impaciente. O Dragão da Escuridão afastou a mão do corpo do Kitsune e, estendendo-as sobre eles, invocou a sua própria escuridão.

Nyra não quis, mas se viu obrigada a se afastar também. A apreensão ficou em seu rosto e olhar, com uma agonia crescente toda vez que pensava nas possibilidades. Um Nexus poderia ter feito qualquer coisa em sua mente… A Theurge se afastou alguns metros, apoiando-se nas costas de uma árvore de frente para a clareira que mantinha a Dagda; pois não tinha condições de sequer escutar aquelas suposições.
Apenas ergueu o olhar quando viu a Loba Negra se aproximando, Hannah se direcionou da Areia Dourada para lá assim que sentiu os pensamentos e encarou Nyra. A Theurge não precisou dizer nada, Hannah desviou-se devagar e observou enquanto caminhava lentamente na direção.

– É melhor checar se ela está sã também. – Nina tocou o ombro de Rhistel e o indicou para se afastar com Blair para que Jullian a curasse sem ficar no caminho. Eles precisariam de espaço para Henry.

No dia da reunião? Que coincidência. Polaris dava gritos aleatórios de raiva ao se levantar, caminhando de um lado para o outro. Lavinia o acompanhou por um tempo antes de retornar a Blair e Rhistel. A Garou engoliu a seco e estendeu as mãos sobre o corpo do Kitsune.

Annik, Nathan e Kraz surgiram pouco tempo depois. A Ragabash correu até Nyra e Nathan seguiu até a prima. Jullian o fitou em silêncio. Também realizava um processo de purificação auxiliado pela Árvore de Dagda. Feridos de muitas formas.

“Blair”, Connor pediu a Hannah, fitando-a por cima do ombro brevemente antes se retornar ao Kitsune. Ele abriu a mente assim que sentiu que a Wyrm corruptora não estava à espreita para agradá-lo. Connor fechou os olhos e se aproximou da mente do metamorfo com a sua.

De início, apenas enxergou o negro. As memórias demoraram a vir, surgindo como flashes borrados que se escureciam rapidamente. Caminhava no escuro enquanto o procurava. “Henry!”, chamava-o, “Henry!”.

– HENRY!

O grito dentro de sua cabeça parecia tomar o espaço todo em que estava. Henry ergueu o tronco. Subitamente, resfolgando como se todo o ar não fosse o suficiente. O Kitsune fitou os rostos ao redor, respirando com desespero a vontade de sobreviver.

– Henry? – Connor o chamou.

– Deixe-o respirar. – Torvo disse, observando-o.

– Eu estou… Bem… – Henry fechou os olhos, falando devagar enquanto o corpo recuperava o fôlego. – Estou bem…

A cabeça doía, mas a dor não lhe era uma novidade após uma possessão. O Kitsune se tocou nos cabelos loiros, esfregando o couro cabeludo com os dedos incomodados com a sensação. O coração disparado e os olhos lacrimejando. Conhecia muito bem a sensação de estar num corpo que não era o seu e como o seu correspondia renegando a experiência. As memórias eram vagas, mas sabia perfeitamente o que havia ocorrido embora não tivesse as imagens para provar a si mesmo. Ele sentiu a mão de Torvo em sua testa que recuperava calor e a mão de Connor na sua.

– Tudo o que eu queria agora era um baseado. – Disse, ainda resfolgando.

Ao escutar a voz de Henry, Nyra se aproximou em uma corrida até o Kitsune e se sentou ao seu lado. Tocou seu rosto e sorriu com sua última frase. A Theurge tocou-o no rosto e roubou um selinho demorado:

– Seja lá o que vocês tenham feito, não façam mais. – Brigou fazendo a expressão manhosa de preocupação.

O Kitsune esboçou um sorriso preguiçoso quando a sentiu perto e jogou os seus braços em torno dela, agarrando-a. Ele retribuiu o selinho, buscando pela sensação de calor e amor que de repente se viu tão necessitado. – Melhor que qualquer baseado… – Ele sussurrou. – Pensei tanto em você… Tanto, tanto

Hannah parou ao lado de Jullian e observou o rosto coberto de sangue de Blair. Braços, pernas, pescoço. Tentou se aproximar da mente dela, para entender se estava bem, e se surpreendeu com a quantidade de vozes que escutou.

– Parece que há mais de uma voz… – Fechou a própria mente para não ser tragada por tantos pensamentos. – Mas parece bem…

– Eu estou bem… – Blair respondeu, suspirando de alívio ao perceber que Henry estava vivo. – Obrigada. – Ela agradeceu Hannah e a Jullian ao fitar a própria mão. – Obrigada. – Repetiu eufórica ainda e apertou os olhos ao pensar em toda situação. – Ainda bem…

Annik caminhou até o Kitsune e Nyra e se ajoelhou ao lado dele, olhando-o ainda preocupada. Qualquer dúvida que Vinny pudesse ter em relação do raposo e os Versos da Magia se dissolveu naquele instante. A Ahroun se ergueu e caminhou até Jullian. Também imaginou que as boatos em relação a Hannah e o seu amigo rei não eram tão absurdos assim ao ver a forma que o Philodox mirou a Galliard.

As mãos de Rhistel percorriam os cabelos loiros de Blair. Sentia-a tão estressada que apenas a expressão irritada de Polaris o deixou em defensiva. Nathan tocou o ombro da Maga, acariciando-o e se entreolhou com Kraz. A Dragonesa do Fogo estava calada e séria.

– O que aconteceu? – Jullian jogou novamente a pergunta aos dois.

– Tivemos problemas com algo que não parecia tão grave quando… – Henry fez uma pausa, respirando. – … Era realmente. Ah… Temos algo para nos preocupar…

A tensão do momento, a adrenalina, a fonte de paradoxo pulsando na sua cabeça… Blair sentiu que choraria enquanto falasse. Mas respirou fundo algumas vezes e ajeitou a postura para se sentar. Seus olhos encontraram os de Polaris, e desviou logo, mesmo sem poder evitar a tensão sob seu corpo. Depois encarou Rhistel arrependida, sua mão procurou a dele para segurar.

– Eu achei que daria conta. Foi algo que eu comecei no passado e queria terminar… Sem que se preocupassem, sequer soubessem. – Limpou os olhos aguados com a mão sem ferimentos – Desculpa, Henry. Achei que era algo mais simples, no máximo batalhas com espíritos e espirais… Menos fortes. Eu não pensei direito, não fui tão sincera…

– Vocês deveriam ter dito. – Nyra reclamou ainda agarrada ao Kitsune – Por que não esperaram? Não é assim que resolvemos as coisas e isso deveria estar claro. Especialmente para você, Blair.

– Sinto muito… Eu estava com outra situação em mente… – Murmurou e desviou o olhar para Jullian: – Posso dar os detalhes depois? – Pediu sentindo agitação – Eu quero fazer parte da reunião.

Em dúvida, Jullian fitou de Blair a Henry. Assim como ele próprio, o Lendário imaginou que todos tinham uma opinião pronta na ponta da língua para dar, assim como a sua rainha o fazia, mas não se sentiu apto a julgar qualquer situação sem entender exatamente o que havia acontecido. O Lendário franziu o cenho e cruzou os braços:

– Você está bem para ir para uma reunião como está? E você, Henry?

O Kitsune voltou os olhos negros para os oceanos, apertando Nyra para si, embora bem longe de demonstrar a sua força habitual. Ele ponderou por um instante:

– Eu estou bem… Não estou me lembrando de muitas coisas. Talvez, eu mude de opinião à noite se os pesados chegarem na minha cabeça… – Henry fez uma careta, embora não estivesse brincando. – Não se culpe, abelhinha… – Ele disse à Blair.

– Henry… Você não vai dormir sozinho. Se pedir ajuda, a gente acorda. – Nathan disse, olhando-o com um sorriso de escanteio. – Só chamar…

Annik bateu palmas e riu. Jullian sorriu, mas franziu o cenho.

O Kitsune abriu um sorriso infantil com os olhos fechados. Rhistel até esboçou um sorriso ao sentir o bom humor do metamorfo. Ele beijou Blair nos cabelos e virou-se para Polaris. O irmão era o único que não estava inclinado a sorrir ou sentir algum alívio.

– Tomem um banho, pelo menos. Vocês estão cheios de sangue… – Polaris disse, sem olhar para Blair ou Henry. – Irmãos. Chamem as suas conexões… As que quiserem ir, ao menos… E sigam para a Casa de Madeira. Esperaremos lá.

Nyra fitou Nathan com uma repreensão divertida e encarou Henry novamente. Estava mais calma ao sentir a leveza dele, acariciou seu rosto e disse baixinho. – Você pode tomar banho na Casa de Vidro. – Beijou-o nos lábios outra vez. – Eu vou com você.

Blair tentava se sentir melhor, mas estava tão tensa quanto seu Dragão. Recebia o carinho e acolhimento de Rhistel, e conseguia respirar mais calma. Abraçou-o mais forte e o beijou em um selinho. “Desculpa”, ela silabou e desviou o olhar para seu Dragão. Ergueu-se após um pouco da dispersão e foi até Polaris, Blair o olhou e o abraçou mesmo nervoso.

O sorriso de Henry se desenhou levemente tímido, influenciado pelo carinho sem fim que recebia da Garou. Henry se sentiu corando, mas sentiu brevemente os olhos para Polaris quando Blair foi até o Dragão de Três Cabeças.

Mesmo para o Kitsune, que amava os Dragões de Elara, não foi fácil aceitar Polaris. A imagem dos dois abraçados já não encontrava lógica na programação que a antiga Lendária fizera em vida. Fluía naturalmente, encontrando os seus pares, sem a intenção referência racional de alguém.

A raiva que ele demonstrava era simplesmente preocupação. Polaris não toleraria perder mais ninguém que amasse, principalmente por um deslize tão bobo de segurança. Ele abraçou Blair com força e deixou os olhos fechados por um longo instante enquanto se sentia tão necessitado do gesto. Olhando-os, Rhistel se aproximou com as sobrancelhas arqueadas. Até quis brincar com eles, mas Polaris não estava inclinado a humores. A adrenalina e o rosto ainda manchado de lágrimas fazia o Dragão de Gelo querer abraçar algo mais leve para o seu próprio bem. Se a perco assim… Gaia. O que seria de mim? Sentiu-se emocional apenas por imaginar. Suspeitava que Polaris estivesse com uma dolorosa sensação parecida.

– Sim… Eu aceito. Vamos… – Henry disse, finalmente respondendo a Garou. – Majestade… – Ele a tocou no rosto acariciando-a. O sorriso do Kitsune se desenhou terno para Connor, Torvo e Lavinia em um silencioso agradecimento.




Deixou-o confortável escolhendo roupa e se despindo no quarto enquanto terminava de encher a banheira morna. Felizmente haviam saído pouco antes da chuva começar, e haviam todos concordado em aguardar as ligações enquanto recebiam lanches e bebidas do castelo. Ladi aproveitaria o intervalo para ir ver as duas, Ártemis e Audrey, na casa azul, e Nyra podia sentir a razão dele de estar um pouco paranoico. Haviam quase perdido duas pessoas, poderosas, para uma batalha. Também queria ficar perto de quem amava, e Henry era a urgência. Deixou a água em uma temperatura ideal e perfumou-a com uma espuma doce.

– Eu não sei se você quer mesmo. Mas busquei um para você… – A Theurge deixou a caixinha dourada com baseados na mesinha ao lado da banheira. – Entra e deixa eu te mimar…

Enquanto Jullian se vestia mais jovial, Nathan aderia ao social. Henry misturou os dois: pegou uma camisa social preta de Nathan, bordada com uma rosa vermelha em cada lado do peito e uma calça skinny em sarja caqui e um Converse todo preto de Jullian. Ele se apoiou à porta, observando a Theurge. Morri. Um sorriso se apertava em seus lábios que se resistiam em se abrir. Morri, e por algum milagre, eu estou no céu. Ele acabou rindo quando mirou a caixinha dourada e se aproximou vagarosamente da banheira, entrando nela e agachando-se. Os olhos se fecharam quando os ferimentos lhe cobraram a dor, principalmente do o braço recém-colado. A cicatriz se disfarçava entre as tatuagens, mas estava lá…

– Deixo… – Ele murmurou, abrindo a caixinha e tirando um dos perfeitos bolados que a Garou fazia. – Perdoe-me, mas eu quero sim. Preciso. – Disse-lhe, criando as chamas para acender o baseado e levando-o aos lábios. – Gaia. Eu achei que fôssemos morrer.

Nyra se acomodou sentada do lado de fora e repousou o rosto sobre os braços cruzados na beirada. Seus olhos o admiravam em silêncio, entre sorrisos fáceis e contidos. Ajeitou-se um pouco mais próximo para massagear o ombro ferido dele, usando Vida para aliviar os efeitos colaterais.

– Por que vocês fizeram isso, Henry…? Porque não sabíamos de nada… ? Vocês podiam não estar aqui agora. Você sabe disso… – Fez um beicinho – Meu coração quase não aguentou.

Ele tragou do baseado, fechando os olhos e entreabrindo os lábios quando decidiu soltar a fumaça. Henry descansou os braços pela banheira – e que banheira! Enorme. Parecia uma pequena piscina quente. Quando as mãos tocaram a sua pele, o Kitsune se encolheu levemente, sentindo o prazer e súbito desejo. Ele a olhou por cima do ombro ao tragar novamente, observando-a. – Alguém consegue não ficar excitado com a sua massagem? – Ele perguntou com um sorriso malicioso, mas dispersou. – Não parecia tão sério. Parecia sério, mas nada que eu não conseguisse lidar. Ah… Eu fiquei sem acesso à Percorrer Atalhos. Tive que improvisar…

Nyra sorriu maliciosa e o provocou deslizando a mão pelo peito do Kitsune. – Você quer uma companhia? Ou a água já está quente o suficiente? – Riu e o mordiscou no pescoço. A adrenalina de quase perder alguém sempre subia ao seu sangue… E Henry já era tão amado. – Você sabe que tem armadilhas por aí. E você não é um que querem vivo, tenho certeza. Por favor… Avise antes… Sempre… Somos mais fortes assim. – Trouxe seu rosto para um selinho e afastou para assisti-lo tragar. – Por que não conseguiu usar atalhos?

Ele fechou os olhos com mais força. Toques sensíveis num corpo dolorido. Henry mordeu o lábio e continuou de olhos fechados ao receber o beijo, esperando por mais. Abriu-os apenas quando a sentiu se distanciar. Relaxava. Ele não sabia qual era o truque que ela usava em suas plantas, mas se sentia particularmente humano naquele instante. – Ah. Eu… Não conseguia. Eu não sei o que foi, mas ele conseguiu nos trancar num espaço enorme… Não conseguíamos fazer a passagem… E isso é um problema para mim. Eu faço muitas invocações durante batalhas. Eu tive que ir para o corpo a corpo… E eu não sou um lobo. – Ele virou o tronco para ela e pousou o baseado em seus lábios cheios, olhando-a. –  Ele me afastou de Gaia. Não senti isso nem na Umbra Negra… Onde é bem distante da Mãe Esmeralda…

Nyra aceitou o cigarro nos seus lábios e o tomou entre os dedos. Fumou, tragando profundamente e sorriu ao final, quando se percebeu admirada pelo Kitsune.

– Eu estou rindo, mas ainda estou desesperada, ok? – Beijou-o em um selinho – Você sabe que a Blair é a Mensageira. Sem problemas pequenos. Mas não vou brigar… Ainda que meu coração esteja disparado… – Devolveu o cigarro a ele – Mas… Me fez pensar em algo… Essa habilidade… Elara a usou algumas vezes para conter Polaris… Nina… Pelo o que entendi. – Falou mais baixo – Quando eles ainda não pareciam amigáveis. Para não fugirem por aí. Ela se trancava com eles e tentava os acalmar… Devia doer. – Dizia o que havia lido, ou conversado com Elara. – Eu sei que a Blair tem uma habilidade parecida. Enfraquecendo ou reforçando Películas. Mas não tão perfeita… Bloqueio de uma área. Definitivo. Aprimorou esse feitiço e usava em casos extremos… Segundo o que ela disse… Mas não deve ser a mesma coisa que o Nexus fez. – Fez um beicinho e sorriu ao final – Desculpa trazer essas memórias à tona. Elas tem sido minhas também…

– Tudo bem, majestade… Pode falar… – Memórias negras. Henry se lembrava desses momentos como se estivessem acontecido no dia anterior. Traumáticos. O Kitsune tragou, demorando-se com a fumaça dentro do pulmão antes de deixá-la ir lentamente por seus lábios. – Não… Mas ele pode ter tido inspiração de alguém… Talvez… O que o torna mais perigoso ainda. – Henry ficou em silêncio por um instante, fitando as águas perfumadas. – Os Dragões sentiam como se fosse um castigo… Demoraram a alcançar estabilidade… – Henry tragou novamente. – Precisaremos avisar as demais Seitas por aqui… Sobre esse monstro. É importante… – Ele distanciou assunto da mente e deixou o baseado no cinzeiro. Henry virou novamente o tronco, olhando-a de frente. – Vamos falar de algo que também está me incomodando… – Disse-lhe, aproximando-se para beijá-la pelo queixo. – Eu pintei o cabelo e você não falou nada… – Sussurrou. – Quer me deixar inseguro? Conseguiu. Até Nathan comentou sobre o meu cabelo… – Os lábios dele se roçaram aos dela. – Ele quer meu corpo… Mas espero que também queira o meu coração. Eu ando sensível e carente…

A seriedade em sua expressão mudou para leveza e um riso. Nyra fechou os olhos para o carinho e abriu mais seu sorriso, até suas bochechas ficarem em evidência.

– Vamos falar sobre Nathan primeiro… – Riu e o beijou em um selinho – Meu Galliard não é fácil de conquistar. Ele é muito atirado. Se joga quando sente algo. Mas minha relação com ele no começo por um tempo foi apenas sexo… Mas eu tenho certeza que ele mira no coração. Apenas precisa se sentir seguro. – Explicou com sua voz manhosa e estendeu sua mão até o cabelo de Henry. – Eu comentei sim! Você quer que eu fale o quanto te acho perfeito? – Fitou-o nos olhos – E, na verdade, queria pedir que ficasse assim com o cabelo. Porque está perfeito. Você tem o rosto mais lindo, Henry… Seu corte apenas confirmou isso… – Avançou lentamente e um pouco sobre a banheira e beijou sua boca. Convidando-o para um beijo profundo, roçando seus lábios e mordiscando-o com cuidado. Afastou-se apenas para enxergar seu rosto. – Não sei o quanto Nathan já se entregou. Mas eu quero seu coração todo, Henry… Eu quero que me ame incondicionalmente e seja meu… Quero que pense em mim… Antes de qualquer decisão.

De lábios mordidos, ele a observava falar de Nathan. Nem precisava se esforçar para descobrir o quanto ela amava o lobo, sentindo o carinho nas palavras e na forma como ela o descrevia.

– Wow. Eu não consigo te imaginar numa relação carnal. Você é tão mordível. – Ele franziu o cenho, roubando selinhos demorados dos lábios sorridentes. – Ah. Não. Eu consigo imaginar sim… Ele a mordeu de leve ao lábio inferior.

Henry se desmanchava, caindo aos pedaços na forma de um tapete estendido. Os olhos de escuridão acompanhavam as palavras saindo dos grossos lábios cheios, mas também a observava aos olhos de tempestades. Ouvi-la falar de si era um prazer. Ouvi-la qualquer coisa para si já era um momento que ele guardava. Amava-a tanto. O olhar devoto e o sorriso bobo eram fotografias que o seu coração expressava. O desejo sempre acompanhava a sua admiração, mas ele chegava depois do sentimento intenso que levava dentro do coração, fazendo o seu rosto corar e os seus batimentos alcançaram picos quentes…

– Eu terei que inventar uma palavra para te descrever, porque perfeita não me soa o suficiente. Você é tão única. Eu te amo, Nyra… Eu te amo tanto e tanto… Que cada momento com você é especial, não importa qual seja… Você me tem por inteiro… – Os dedos molhados a tocaram no rosto quando ele a beijou. – Nem a morte me separaria de você. Se, por ventura, um dia acontecer… Tenha certeza que eu vou te procurar. Eu amo amar você… Eu amo a forma que você me ama… – Henry suspirou. – Me ame, me ame agora… – Ele a beijou enquanto envolvia as suas mãos, chamando-a para a banheira.

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