The Queen is Dead

Categorias:Romance
Wyrm

The Queen is Dead


Entre lojas de grife, música e cafeterias, Jullian passou o resto do tempo que podia em Londres. Comprou uma porção de presentes para levar para ilha, entre roupas, joias, gostosuras e alguns instrumentos musicais novos. Sentia-se soltou e leve o suficiente para até sorrir bastante. Cantou com fãs em uma loja e tomou café com outros. Ao passar pelo Palácio de Buckingham, seguiu para o Green Park e alugou uma bicicleta, pedalando e relaxando ainda mais ao som de Heathens e Nyra.

Apenas no final da tarde, ele enviou Floco-de-Neve até a ilha para avisar sobre as mórbidas notícias sobre Alana. A sua recomendação foi que o Espírito entregasse primeiramente a notícia à Adrian e Audrey. Por segurança, não permitiu que eles comparecessem. A sua intenção sempre fora ir sozinho. Somente depois que a notícia fosse dada aos filhos de Alana, a notícia seria passada a Oliver para alertar os demais com um uivo solene. Jullian observou o pôr do Sol bebendo de um vinho no restaurante Darwin Brasserie, Sky Garden. A sua mente se limpou de todos os problemas que sabia que teria de resolver quando retornasse. Ele suspirou, coçando a testa e negando com a cabeça. Antes de seguir para as suas obrigações, ele foi caminhar um pouco mais pelas ruas londrinas.




A Rússia nunca lhe soou tão fria quanto naquele momento e, ao mesmo tempo, tão calorosa. Jullian uivou o pedido para liberarem a sua entrada e foi rapidamente atendido. Assim que pisou as patas dentro das fronteiras da Membrana Prateada, ele assumiu a sua forma hominídea e aguardou Floco-de-Neve pousar em seu ombro esquerdo para caminhar pela neve.

Em seu ombro direita, a Fênix pousou docemente.

Sozinho, nunca pisaria naquele território que parecia repeli-lo como se retornasse ao dia do seu último julgamento.

O pequeno pássaro de fogo, do tamanho de um falcão peregrino, lhe cutucava os cabelos com o bico e a sua longa cauda iluminou as costas do Garou descendo pelo seu sobretudo. Jullian já aguardava pela surpresa com que foi recebido, mas ignorou com classe até precisar explicar que o pássaro renascido apreciava muito se empoleirar na Árvore de Dagda e que ainda não se expressava verbalmente. Obviamente, precisou afirmar que não tinha a intenção de assumir o trono da Sociedade Garou e ouviu alguns suspiros de alívio em resposta. Todavia, sentia que o seu voto teria o peso que ele almejava que tivesse. Tudo em seus conformes.

Ninguém apreciava votar se não possuísse um forte interesse por detrás da opção. Isso também valia para a Sociedade Garou e o seu trono. Jullian observou Vlada chegando com os demais Romanov com a expressão mais lisa que alguém poderia ostentar em um velório. Garou possuíam direitos até serem mortos. A morte apagava as acusações no ar. Em partes, uma boa notícia. As acusações de Alana contra o Lendário se tornaram pó assim que a sua alma retornou a Gaia e estariam fadadas ao esquecimento se ninguém ousasse reavivá-las.

Quando avistou Jullian, Gabrielle Colladel se aproximou com passos rápidos. A Garou trajava um longo casaco marrom escuro e felpudo e um vestido de lã preta comprido. Ela abriu um sorriso nos lábios rubros e envolveu o braço de Jullian com os seus, olhando-a com os seus olhos muito claros e curiosos:

– O que você acha que será? – Ela perguntou num sussurro excitado. – Eu fiquei feliz por ter aceitado o meu conselho. A Fênix é muito significativa aqui…

– Obrigado, mestra. – Jullian disse a ela.

Gabrielle riu e o estapeou de leve no braço:

– Mestra! – Ela negou com a cabeça.

A Rainha do Arco Branco era tão parecida com a filha Aisha Arnezeder que sempre causava em Jullian uma leve confusão inicial ao vislumbrar uma das duas. Talvez a confiança que desenvolvera em Aisha se devia também ao carinho que alimentava por sua primeira mestra de Klaivaskar?

– Em quem você votará, Jullian? – Gabrielle perguntou.

– Em uma reforma.

A Garou o fitou com uma expressão de confusão:

– Nunca aceitarão.

– A Fênix acabou de me sussurrar que é o melhor caminho…

Abrindo um sorriso selado, a Rainha estreitou os olhos com maldade. Ela negou com a cabeça, embora ele houvesse conseguido implantar a dúvida de que era possível aceitarem o seu conselho.

– Preciso cumprimentar os demais. – Ela disse a Jullian.

– Naturalmente.

Jullian curvou a cabeça em uma breve reverência quando ela se desvencilhou do seu braço, esboçando um sorriso selado em seus lábios finos. Gabrielle passou a presentar com sorrisos Garou que não mereciam a sua graça, mas o Philodox a compreendia. Obrigações. O seu afastamento foi o momento que Keith estava aguardando para se aproximar do primo. O Lendário acompanhou o rapaz se aproximando com a sombra da apreensão em seu semblante. Keith Albretch estava belamente vestido com um blazer acolchoado sobre um terno preto e sapatos lustrosos.

– Não voltará em mim? – Keith sussurrou, olhando-o em seus olhos.

Sussurrou tão de perto que Jullian desconsiderou a tentativa de intimidação para não retribuir de outra forma.

– Eu não disse isso, Keith. – O Lendário respondeu em tom baixo, igualmente.

Os dois se encararam. Jullian deixou um suspiro escapar…

– Nyra não quis comparecer? – “Que tipo de reformas você quer fazer?”, Keith perguntou na mente do Lendário. “Não pode ser depois?! Qualquer motivo besta para por uma coroa na cabeça do Sage estão aceitando… Inclusive, alguém querer deixar os antigos costumes…”.

– Nyra está ocupada com outras coisas. Decidi poupá-la. – “Você pode defender os antigos costumes, se quiser”, Jullian disse com leve humor na voz pensada.

– Entendo. Aliás, vocês sabem viver. Cantam, possuem banda… – “Mas eu não quero defender os antigos costumes! Só não posso chegar dizendo isso…”, Keith passou a mão pelos cabelos. “Jullian, por favor…”.

– Sim. Eu, Nathan, Alexander e Galen estamos escrevendo um álbum surpresa para a Desert Fox. – “Você já sabe se tem chances de vestir a coroa?”, o Lendário perguntou.

– Nossa. Mal posso esperar. – “Si, si, si! Eu tenho! Eu sou o marido da princesa da Sociedade Garou…”.

– Será ótimo. – “Um casamento não consumado”, Jullian observou ao redor, “Desconfio que Audrey não apreciará mantê-lo”.

– Como vai Annik? – “Calma. Eu vou dizer que foi consumado. Quando a Audrey, ela pode esperar alguns dias?”.

Descrente, Jullian voltou os olhos para o primo.

– Ótima, como sempre. – “Eu não sei sobre Audrey. Você vai mentir perante o Conselho?”.

Já menti frente a coisas piores. Eu vou. Sou um ótimo mentiroso…”.

Espero que seja, Keith”, o Lendário assentiu vagarosamente.

A Tumba dos Heróis Sagrados da Seita da Membrana Prateada era um jardim de gelo ao ar livre, em que as árvores esqueléticas e brancas carregaram em seus galhos os pertences pessoais de muitos Garou, conservados através da cortesia dos Espíritos. Jullian observou a sua própria respiração se tornar vapor diante de si, sentindo falta de sua querida ilha. Alana Thorheim possuía um corpo para se velar e isso raramente acontecia na vida dos lobos. Olhá-la dentro de um caixão, perfeitamente conservada e bela, lhe causou uma estranha sensação de vazio. Era como se ela pudesse abrir os olhos a qualquer momento e agarrar a sua garganta com as suas mãos, amaldiçoando-o por ter consentido com o seu assassinato. Afinal, a palavra final foi dele.

Alana era uma figura muito presente em sua vida, de uma forma negativa, importante e obrigatória. As suas ideias revolucionárias a levaram até aquele caixão através de um caminho de sede por poder, glória e inconsequências. Foi uma grande ironia do destino que tenham convidado o seu rival de anos para falar por si ao pé de sua cova. Jullian não estava honrado, mas não negou a posição de prestígio. Afinal, Curtis não se sentia em condições de falar. Com a Fênix aquecendo o seu ombro e Aputsiaq atenta às expressões alheias, ele fez o melhor que pôde.

Jullian não era nenhum Galliard de palavras doces, mas foi, ao máximo, justo com os feitos gloriosos da Garou. Conheceu-a bem até demais. Falou bastante e poupou as páginas desonrosas da história de Alana. Um outro Garou que ele nem conhecia falou por Auric, mas deste, somente trouxeram uma corrente de ouro com o pingente do falcão. Não havia corpo para se enterrar. Um Dragão havia engolido por inteiro, mas para o conhecimento geral, Auric havia perecido bravamente em uma luta contra Dançarinos da Espiral Negra. A cerimônia terminou e ninguém derramou lágrimas por eles além de Curtis. Este, por sua vez, chorou silenciosamente o tempo inteiro.

O momento que todos esperavam era a votação, no fim. Um pouco triste pra alguém cheia de ideias ótimas – Jullian não chegava – como Alana. Ninguém questionou a veracidade do casamento de Keith e isso foi um começo esperançoso, mas a votação em si começou desanimadora. Infelizmente, Sage tinha muitos fãs e apenas acumulou votos animados para o seu nome. Aos poucos, aconteceu um equilíbrio. Um equilíbrio à risca e inconveniente entre Sage… E Keith. Ou seja, o trono da Sociedade Garou seria resolvido com um combate.

Péssimo. Keith nunca fora um bom lutador e Jullian não contava com muitas melhoras em um ciclo lunar, mas precisavam tentar a chance. Ele chamou o primo ser o seu pupilo e Keith lhe prometeu que compareceria na ilha em três dias.




Apesar de ele ter surgido longe da Casa de Vidro, próximo ao seu galpão, Annik o percebeu. A lupina se endireitou, sentada no sofá, e pousou os punhos fechados sobre as coxas. Ela estava vestida com uma blusinha de manga cumprida cinza clara, calças de moletom pretas e meias. Fazia um frio gostoso e, ao que parecia, na Inglaterra também perante as vestes que ele usava.

Jullian chegou carregado de sacolas de grifes. Annik se levantou e correu até ele para abraçá-lo bem forte, apertando-o e beijando-o diversas vezes em sua bochecha esguia. Jullian selou um sorriso para ela, fechando os olhos e apreciando o carinho bem-vindo.

– Você cortou o cabelo! – Ela pousou ambas as mãos nos fios negros, tocando-o. – Conheço esse corte… Significa “música inesquecível”. – Comemorou, batendo palminhas e tocando o rosto dele, sentindo as pseudocosteletas que ele usava. – ‘Time is Running Out’! Adorei esse terno…

Ele estava vestido com um terno com o blazer preto de riscas de giz cinza claras, calças pretas e o tênis Converse de sempre.

– Obrigado. – Jullian a beijou num demorado selinho, roçando o nariz ao dela carinhosamente.

– Você está bem…? – Ela perguntou, seguindo-o. – Vimos várias fotos suas por Londres e Manchester…

O Philodox colocou as sacolas sobre o sofá. – Sim… – Ele concordou. – Bem melhor. Eu estava com saudades da minha terra. Foi ótimo. – Agachou, abrindo um sorriso quando Nick Cave correu até si e começou a enchê-lo de lambidas. Quindim e Jane também vieram correndo logo depois. – Senti saudades também. – Jullian dizia, acariciando-os. – E vocês…?

A Ragabash mordeu o lábio. – Tudo bem. Trabalhamos muito ontem. Todo mundo decidiu do nada ter uma audiência, mas ocorreu tudo bem. Estão todos tensos com a morte da Rainha…

Jullian concordou.

– Você foi ao velório? – Annik perguntou.

– Sim. – Jullian respondeu simplesmente e se sentou no sofá com Quindim em seu colo. – Por onde anda a minha pequena estrela? Nate?

– Nate foi ver o pupilo dele… O Arthur. E Nay… Está no Henry faz dois dias… – Annik disse, sentando-se ao lado dele. – Tem certeza que está tudo bem?

Ele se virou para Annik enquanto afagada a Shiba Inu, olhando em seus olhos cevados…

– Ficará tudo bem.

Annik o olhou desconfiada e tocou-o no rosto, acariciando-o.

– Você ficou aqui sozinha… – Jullian a trouxe para perto, abraçando-a de lado.

Ela riu, gracejando ao morder o próprio dedão.

– Tudo bem! Não faz tanto tempo que o Nate saiu… E nós tivemos uma noite ótima.

– Eu vi. Você registrou bastante coisa na internet. – O Philodox a beijou nos cabelos. – Então, Nyra está na casa do raposo… – Jullian fechou os olhos enquanto degustava do carinho em seu rosto. – Eu acho que vou até lá.

– Vai?! – Annik se surpreendeu, olhando-o com os seus grandes olhos arregalados.

– Você acha que eu faria mal?

– Por Nay? – Annik negou rapidamente. – Claro que não… Mas talvez você mate um Kitsune do coração, Jules… – Annik riu com humor.

Um sorriso aberto e largo se desenhou aos lábios finos do Blackwood:

– Gostei. – Jullian disse e acabou rindo.

– Ah! Antes de você ir… Aconteceu uma coisa. Eu e Nate também passamos um tempo com o Anthony ontem. Elle também estava na Sala de Jogos de castelo… Então…

– O quê?

– Ela disse que estava feliz por Aurora ter voltado para nós.

Confusa, Annik não entendeu por que Jullian gargalhou.

– Bom, eu disse que Aurora não voltou para nós! – A Ragabash disse, exaltada.

– E Elle?

– Ela ficou bem sem graça e a conversa acabou. Ela teve que ir embora.

Teve que ir embora…”, Jullian negou com a cabeça e coçou o lateral do rosto, tentando não sorrir demais. Que situação horrível. Annik o olhava sentida e receosa, não compreendia bem como ele conseguia ver humor naquela tragédia.

– Você vai expulsar o Remi? – Ela sussurrou. – Gosto do Remi ainda. Ele é legal e faz ótimas sessões de fotos.

O Lendário pensou por um instante.

– Eu não sei. – Ele mordeu o lábio, ponderando. – Não depende somente de mim. Nós vamos conversar. Eu, você, minha estrela e Nate.

– Mas por você o que acontecerá?

– Ele será expulso.

– Oh, Jule… – Annik murmurou, entristecida e esboçou um beicinho descontente. – Coitado.

– Ele nos traiu, Annie. – Jullian se voltou para Quindim, beijando-lhe os pelos.

Ela o mirou com demora e, por fim, assentiu vagarosamente:

– A verdade é que nenhum ex-namorado ou ex-namorada dura aqui. Lyra sempre visita a ilha com pressa de sair, Damon só vem obrigado e Jesse também. – Ela comentava. – Hannah foi embora…

Jullian parou o carinho na cachorrinha, erguendo os olhos nitidamente interessados para Annik:

– Hannah foi embora?

A Ragabash o olhou com curiosa e apenas assentiu. Jullian se desviou da Ragabash, voltando-se novamente para Quindim.

– Nathan contou que vocês namoraram. Vocês não se falavam mais… – Annik se curvou para olhá-lo nos olhos. – Não é?

Fitando-a brevemente, Jullian concordou. – Não… Não nos falamos mais. Isso foi na época em que eu ainda estava no colégio. – Jullian se endireitou no sofá e não encontrou um ponto fixo para fixar o olhar. – Não tem importância.

– Eu achei a Hannah linda demais. Eu acho que fui até atrevida com ela. – Annik confessou, olhando-o com os olhos arregalados. – Vocês deviam ser um casal muito bonito. Ela parece uma bonequinha inglesa…

– Ah. Eu não sei o que dizer a respeito disso, Annik. É passado. – Jullian disse, erguendo-se com Quindim em seus braços. – Bom. Eu vou ver o Nathan.

Franzindo o cenho e apertando os lábios, Annik assentiu bem devagar.

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