Life and Death

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Wyrm

Life and Death


Ergueu-se da sua cama e tomou o remédio da auto-alta. Tinha certeza que estaria melhor por aí, conhecendo a ilha, do que na maca. Audrey também não atendia suas chamadas há horas e estava estranho. Adrian caminhou para fora depois de falar algumas bobagens com dois enfermeiros, convencendo-os de que já estava saudável. O Aparentado foi pedindo informações, até encontrar o cômodo de Auric e a esposa Kristina. Adrian bateu na porta algumas vezes, até o irmão mais velho abrir a porta, vestido de pijama. Era de manhã e lembrou-se que os Garou russos não tinha o mínimo de hábitos matutinos.

– O que foi, Adrian? – Auric perguntou sonolento.

– Nada. – Adrian sorriu brevemente e terminou: – Eu só queria dizer que eu quero que você e a Alana paguem pelo o que fizeram com a Audrey. Ela não merecia isso. Vocês são um lixo.
A Fúria de Auric se moveu no mesmo instante, mas claramente ele não estava propenso a brigar, pois respirou fundo, cansado e rebateu:

– Ela é uma Aparentada. É como as coisas funcionam. O que você quer? Vai me deixar dormir ou…?

– Não. Nada! – Tocou o peito cheio de cinismo – Era só isso. Meus sinceros desejos. Volte para a Rússia o quanto antes, ok?

– E você não pretende voltar, pelo jeito? – Sorriu amargo e com desdém – Se esconder aqui igual qualquer covarde faria. Nossa m-

– Olha. Guarde suas palavras. – Adrian ergueu a mão – Eu não quero saber, apenas suma.
Auric franziu a testa e o acompanhou com seus olhos sérios , fitando Adrian se afastar tranquilamente, mancando levemente e dobrando o corredor.

Silenciosa como nunca havia sido, Kristina afastou o acolchoado do corpo e pousou as mãos sobre os joelhos assim que a porta se encostou. Kristina também nunca havia tido tal aparência. Estava mais alta que o normal e, apesar de esbelta, dotada de seios cheios, sensualmente exibidos no decote em “V” de sua camisola. Ela sorriu com os seus lábios medianos e rosadas:

– Ela sempre odiou os russos. – Kristina disse, mas não era em sua voz. Era uma voz macia e firme. O canto de um pássaro. – Sempre.

Devagar, ergueu-se. Os seus cabelos não estavam desalinhados, mas escovados com as pontinhas curvas pontadas para cima, cortados na altura do ombro. Castanho escuros em contraste com os seus grandes olhos cinzentos como tempestades. O nariz levemente arrebitado era a face do glamour real. Ela inteira impactava somente com o seu olhar de segredos ocultos.

– E eu tenho certeza que ela gostaria de ter derrubado todos vocês antes de morrer. – Kristina sussurrou e esboçou um sorriso de canto. – Ela odiava pessoas sem humor, sabia? Odiava. – Ela soltou um risinho.

A visão Garou o permitiu enxergar e concluir rapidamente que estava sendo encurralado quando a voz soou diferente, as formas mudaram, e não estava diante de Kristina. Auric recuou alguns passos, levemente hipnotizado pela imagem de Elara, tendo uma vaga lembrança de já ter encarado aqueles grandes olhos.

– Grande azar. – Ele sorriu, embora passasse a ofegar, recuando alguns passos – Eu não sou russo. Alemão. Nasci lá. – Auric mudou sua forma para Glabro e a Grã-Klaive de título do seu principado surgiu em suas costas. – Onde está minha mulher? – Rosnou, tentando farejar sua natureza e falhando todas as vezes.  – Quem a enviou? – Disse entre as presas despontadas, dificultando a articulação da sua fala, mais animal do que homem. Estava agitado, mas era mais do que a situação estranha pedia. – Quem inferno te enviou?!

– Huh… – Kristina meneou a cabeça. – Não é, não. A sua mãe sobre foi muito esperta. Sabia para quem dar.

Auric andou seus passos para trás até ficar perto da porta, mas não se encostou. Observava a imagem como um oásis venenoso, e mudou de forma para de combate. A respiração soava rosnada e seus olhos continuavam pregados. A proposta não pareceu sequer ser considerada, ele voou na imagem, penetrando um golpe debaixo para cima; mas quando adentrou a imagem, sentiu o impacto retornar pela lamina e estremecer seus braços em forte dor, o suficiente para largar a grã. Com o susto, ele recuou, puxou a arma de novo e rosnou mais alto em um chamado de auxilio. Auric não virou as costas, o receio de não saber o que enfrentava, o fez sair do quarto pela porta da frente.




A verdade é que gostaria de que, ao menos uma única vez, a sua intuição estivesse errada. A aliança com a Rússia sempre lhe soou uma grande piada de mal gosto. Cedo ou tarde, as intenções reais emergiriam como corpos cuspidos por um rio. Polaris caminhava com o peso de um corpo que não era dele, deixando-o curvado. O som forte da chuva do lado de fora fazia bem para o seu estresse, trazendo algum conforto. Ele seguia em direção à Casa de Chá, onde a presença dos seus irmãos era sentida junto a Blair.

– Por que você não me disse?

Antecedendo o seu olhar, um suspiro profundo soou dos lábios cheios. Acksul ergueu os olhos até Ladirus. O Dragão de Água caminhada ao seu lado. Os seus olhos pequeninos se manchavam abaixo com os rastros de suas lágrimas. Acksul parou de caminhar e o abraçou.

Muitas vezes, eles não se comunicava com palavras. Havia sentimentos e emoções envolvidas mais facilmente trazidas com gestos e pensamentos. Ladirus sabia que não teria inteligência emocional suficiente para agir longe da sabedoria da realidade. A sua vontade, assim que lhe foi esclarecido, seria invadir e destruir até as ideias que mencionavam o príncipe.

Novamente, chorava. A tristeza sem fim não cessava. Muito menos, a sua Fúria.

Quando os dois entraram, Rhistel correu de encontro com o irmão mais próximo, abraçando-o fortemente. Ladirus desabou em seu gesto. Torvoethardurg também e aproximou para demonstrar todo o seu carinho. O único que não se moveu fora Connor.

– Já temos notícias? – Acksul perguntou o que os olhos de Ladirus perguntavam.

– Ainda não…. – Rhistel lamentou. – Ela está em mãos mágicas. Jullian está dando tudo de si…

Ladirus assentiu vagarosamente.

Era estranha a sensação de não se poder fazer mais nada. Blair sabia trabalhar com mortes, apagar problemas, mas e quando se tratava da não vida de um ser que já era amado? E nunca o conheceram… Sentiu dor pelos irmãos e absorvia isso de Acksul. Assim como também sentia por Audrey.

Não se conformava que a informação havia caído em Alana primeiro…

Quando Julia entrou pela porta, Blair quase teve um sobressalto, achando que era o irmão da Thorheim. A bela Garou de olhos azuis os fitou e se sentou ao lado de Blair, paciente, mesmo sentindo que eles queriam qualquer informação. Mas ela quem desejava saber mais:

– Nunca nasceu o filho de um Dragão? – Julia os olhou e perguntou abertamente, achando que poderia levar algo ao Philodox. – Por que? Nenhuma teoria do que pode vir a ser?

Todos os irmãos se voltaram para Acksul, mas principalmente, quem ansiou pela resposta, foi Ladirus. O Dragão de Água se estressou visivelmente, mudando o peso de um pé para o outro. Acksul mirou Ladirus de soslaio e retornou aos olhos azuis de Julia. A sua voz fluiu no mesmo respeito e calma que usava com Jullian:

– Desejo… Sonhos… – Ele disse, piscando os olhos vagarosamente, tentando pensar na melhor forma de expressar a teoria de Elara sem que ela soasse tão infame. – Segundo a nossa Criadora, era o necessário. Elara tentou ter um filho com cada um de nós, mas no coração, ela nunca desejou ser mãe. Não sabemos o que gera do nosso gene. Ele não é comum e é único.

Os olhos de Ladirus se destacaram:

– Pode nascer um ser especial…

– É melhor ninguém saber que é seu, Ladi. – Connor disse com a voz fria. – Eu nem sei o porquê de ser seu.

– Isso não vem ao caso agora, Connor. Não importa. – Rhistel disse de pronto. – O que importa é que ele foi muito desejado e aconteceu, não é? Desejado por Audrey?

– Eu não sei se eu diria que foi a Audrey… – Acksul apertou os lábios grossos. – Mas ela também… Com certeza.

– Não deixam de ser somente teorias. Ainda que sejam possíveis… – Julia concluiu. – Parece um pouco coisa daquelas fadas.

– Que bonito. – Blair apoiou o rosto na mão e o cotovelo na coxa, curvando-se e pensando. – Audrey tinha desejo de algo sólido. Mas nunca imaginei que já tivesse pensado nisso.

– Bem… – Julia arqueou as sobrancelhas – Ela definitivamente não soube o que fazer com a informação. E eu entendo. – Franziu a testa brevemente. – É uma pena…

– Vingança costuma me acalmar. Não dessa vez. – Blair ajeitou a postura.

– Imagino que essa notícia vai mexer com a Nyra. Ela já sabe? – A Garou cruzou os braços – Bem. Eu vou avisar ao Jullian sobre essa teoria. Talvez ele possa direcionar melhor seus esforços… Ela estava bem instável… Ele disse que a energia dela estava oscilando muito. Talvez tenha absorvido algo para ela… Eu não tenho ideia e acho que ele está tendo alguma agora.

– Essa notícia já está mexendo. Eu os avisei antes de sair. – Ladirus a respondeu, abraçando-se. – Pedi para que ela e Nate ficassem com a Arty…

Estendendo as mãos à frente do rosto, Rhistel observou os visíveis e pequeninos raios que se interligavam em seus dedos. Torvo acompanhou o gesto do irmão e assentiu vagarosamente.

– Ele está te drenando. – Torvo se voltou para Julia, preocupado. – Talvez exista algo que eu possa fazer também. Jullian chamou Vinny para auxiliá-lo.

– Drenando? Isso… – Blair se ergueu e observou as mãos de Rhistel.

Acksul assentiu para ele e o irmão se ergueu. Ladirus observou Torvo com um nó formando em sua garganta de um choro dolorido que queria sair novamente. Se Jullian estava pedindo por ajuda, qual o resultado estava caminhando mais próximo? Eu serei pai? Nunca imaginou a ideia, nem considerava que fosse possível. Sentia o apoio de todos os seus irmãos em seu coração e até Kraz havia lhe enviado uma mensagem mental: “Fique firme. Ele vai viver”. Hawky se sentou ao seu lado e abraçou-o. Ladirus sentiu o toque da sua preocupação como se pudesse tocá-la com as mãos.

– Estou torcendo. – Ela murmurou. – Estou torcendo, meu irmão…

Ele estava revertendo o processo? O bebê ainda estava vivo? Blair tentou não sorrir com esperança como sentiu-se, e se voltou para Ladirus. A ansiedade agitou seu peito e depois a dúvida. Ou ele só estava tentando salvar Audrey? Blair sentou-se ao outro lado e também o abraçou forte.




– Eu não acredito nisso ainda.

Nyra murmurou depois do longo tempo em silêncio. A história foi contada e contada de novo, e mais uma vez quando Henry chegou. Estavam todos na sala, nos sofás entorno da mesinha de centro.

E ainda não havia tido tempo de prestar atenção em Ártemis… A Changeling nem se movia. Os olhos escuros estavam fixos em um ponto e sua mente parecia trabalhar, mas não saia do estado distante. “Gaia…” como Ladi se colocava em tantos problemas! Mas esse pensamento durou apenas um segundo breve… A ideia de luto dominava sua mente por quase inteiro.

– Ai… – Nyra suspirou como se sentisse dor e fechou os olhos aguados. – Eu não acredito que Ladi vai passar por esse mesmo luto também… Henry… – Olhou-o. – O que você saberia dizer sobre isso? Sobre o que seria esse bebê…

Henry se voltou para Nyra, quase distraído, pois parecia preso em um raciocínio complexo enquanto fitava o chão, curvado sobre os joelhos e os cotovelos sobre eles. Ele não somente encontrou o olhar dela, mas o de Annik e Nathan.

Os dois estavam sentados um em cada lado da Theurge. Annik, ereta e cheia de postura, com as mãos pousavam cruzadas na saia do vestido. Nathan, largado no encostado do sofá com os braços estendidos por ele e com os olhos nitidamente a soltar faíscas mágicas com o poder a transbordar. Gaia, perfeitamente lindos e interessantes em suas particularidades. Observar os três era vislumbrar a certeza das escolhas feitas entre eles. O Kitsune não sabia exatamente o que se passava na mente dos dois, mas tê-los olhando-o deixou-o, ironicamente, muito tímido.

– Eu nunca vi isso acontecer. – Ele confessou, desviando os olhos para o chão. – Nunca chegamos nessa parte.

Pingo-de-Prata estava deitado do seu lado no sofá oposto ao deles, entre ele e Ártemis.

– Você acha que é possível que ele sobreviva? – Annik tocou sobre o peito. – O bebê?

– Jullian está tentando salvar Audrey e o bebê. – Henry disse, direto. – Os dois não estão bem…

– Merda… Eu acho que não o ajudei. – Nathan desabafou mais para si mesmo, pousando a mão sobre o rosto e massageando-se.

– Nate? – Annik se voltou para o Galliard.

Nyra desviou o olhar de Henry e observou ao redor. Agoniada demais. Estava com a garganta dolorida, o peito apertado. Seria possível? Pelo o que havia entendido, Audrey demorou quase três dias para buscar ajuda. Fechou seus olhos chorosos, derramando novas lágrimas silenciosas. Mas logo os abriu para fitar Nathan:

– Como assim, Nate? – E desviou de novo para Ártemis, pois ela se levantou subitamente. A morena abriu e fechou a boca e disse algo finalmente:

– Eu vou para o vilarejo ver a Leah… ‘Tá? – E saiu andando para fora da Casa Azul, sem esperar realmente autorização.

Apesar do pedido de Ladirus, Nathan não se viu na posição de impedi-la. O Garou apenas a acompanhou com o olhar antes de se voltar para Nyra. O Galliard escorou a cabeça no ombro da Theurge e a envolveu em um abraço de lado. Annik a tocava em seu rosto, recolhendo as lágrimas com os seus dedos.

– Ele estava tenso por alguma coisa e eu acho que cooperei para piorar. Espero que isso não influencie. – Nathan murmurou.

– Jullian sabe separar as coisas… – Annik disse suavemente. – Está tudo bem.

Endireitando-se, Henry observou ao redor. Pingo-de-Prata havia sumido para o Umbral e a sala parecia menor do que realmente era. O Kitsune massageou os joelhos, mordendo a bochecha por dentro:

– Ah… Eu vou deixá-los à vontade… – Ele se levantou.

– Você não está nos deixando desconfortáveis. Fique. – Nathan disse.

– Ah… – Henry assentiu. – Obrigado. Enfim… Eu vou fazer um chá para nós enquanto aguardamos notícias… Eu estou me sentindo tenso…




Nyra acompanhou o Kitsune se levantar e ir. Teve vontade de ficar perto dele, mas também não quis sair de perto de seus amores. Estava paralisada de agonia e preocupação – por ser ligada a Ladirus, tudo piorava. Encostou-se igualmente a Nathan e manteve seus olhos fechados e aguados. Queria poder avançar o tempo algumas horas.

Da Casa Azul, acabaram resolvendo seguir para a sala de chá no castelo. Primeiro porque Nyra queria muito ficar perto deles, depois porque Judith os procurou e aconselhou ficarem juntos mesmo. A loira havia sentido toda a agonia de Hawky e se juntado ao grupo que fazia intervalos, embora alguns nunca saiam dali, como o próprio Ladirus.

Em certo momento, alguém bateu na porta fechada do imenso cômodo, e depois a abriu. Era Aisha. Ela soube que todos estavam por ali através de uma funcionária e achou mais estranho ainda quando presenciou a cena do lugar cheio. A loira estava agitada, e não quis perguntar o que foi. – Acksul. Pode vir aqui? – Chamou-o para fora do lugar. Blair apenas ergueu o rosto de olhou do Dragão da Matéria para a Aparentada.

Rhistel, ao seu lado, mordeu o lábio, voltando o olhar para o chão. Péssimo momento para se terminar um relacionamento.

Embora Acksul não quisesse conversar, a ideia de uma confusão instada pela Aparentada lhe soou tão provável que ele se ergueu no mesmo instante e deixou a sala de chá, encostando a porta atrás de si e fitando Aisha com os seus olhos azuis, sérios e preocupados.

Quando ele fechou a porta, Aisha respirou exausta. A loira estava em um vestido evasê verde claro, e salto alto preto. Embora parecesse deslumbrante, era nítido que seus olhos estavam inchados de um choro continuo.

– Por que você está me ignorando o dia inteiro? – Ela disse eufórica – Eu estou lendo boatos horríveis na Internet. Eu não acho que é certo terminarmos assim! Nós nem conversamos direito. Eu não sei o que aconteceu, Acksul! Estávamos indo bem. Nós íamos viajar no final do ano, lembra? Estávamos apaixonados… – Ela o fitava nos olhos tentando entender.

– É para o seu próprio bem, Aisha… E para o meu. Eu comecei a perceber que eu estava necessitando muito de alguém que estivesse fazendo parte do meu mundo, que eu pudesse desabafar e poder falar o que anda pela minha mente… – Ele apertou os lábios. – Eu não quero te envolver em nada disso. Você nem merece. Você tem uma vida perfeita. Quantas você ouviu “não é nada” de mim? – Ele meneou negativamente a cabeça. – Inúmeras. Eu não pensei que isso seria um problema, mas começou a ser… – Acksul fez uma pausa. – Confesso que fiquei muito magoado desde a nossa última discussão. – Fungou. – Me fez pensar o quando você não sabe absolutamente nada sobre mim… E o quanto isso era bom ou não.

Ela se desestruturou por um instante. Aisha fechou os olhos brevemente, procurando informações de como lidar com o término dentro de si. Mas ainda não se conformava:

– Não é como se eu não pudesse ouvir sobre essas coisas! É um pouco estranho, mas eu não sou tapada também! Eu sei conversar. – Disse nervosa, sem perceber que ficava – Não é só isso. Eu tenho certeza. É a sua amiguinha do estúdio, não é? Você se apaixonou por outra. Eu sei que é, Acksul! Você teria me dito que era isso antes se fosse.

– Você já não está ouvindo mais o que eu digo. – O Dragão franziu o nariz. – O nome dela é Dolores e ela não tem nada a ver com isso… – Acksul girou os olhos, levemente impaciente… – Eu nem sei o porquê você ter se encucado com ela. É por que ela é linda? Gaia, ela é casada. Já cansei de te dizer isso! – Ele meneou a cabeça. Ela vai atacar a Leah… – Independente se estou com alguém ou não, é a minha decisão final. Eu não quero mais nos magoar. A culpa é minha. Pronto.

– E daí que ela é casada!? Você é lindo, ela pode não estar nem aí! – Ergueu o tom de voz – Você é um canalha machista, Acksul! Olha como você está terminando comigo!? – Esbravejava sem se importar com a possibilidade de todos estarem ouvindo porta a dentro – Onde você estava ontem à noite, HM!? – Abriu o celular e procurou alguma mensagem – Na Click!? Depois de visitar o show da Avenue com a vadia da Leah!? É isso o que achei na Internet. – Mostrou a foto para ele – É você! Está saindo com quantas mais!? – Ela riu com cinismo – Já ficou famoso o suficiente do meu lado para entrar na balada que você quiser, né. Você é igual a todos eles. TODOS!

Acksul deu um grito e, ao tomar fôlego, a sua voz começou a soar igualmente alta e ecoar tanto quanto a dela o fazia:

– Saí! Saí! Saí com a Leah! – Ele assentia, nervoso. – Para mim, já havia acabado assim que você taxou Nyra como uma vadia que pegava além de mim, mas todos os meus irmãos! Eu não estou nem aí se você falou sem pensar, por ciúme ou qualquer motivo egoísta! Você acha que continuaria na minha vida depois de ter falado dos meus irmãos?! De Nyra? Eu já tinha ouvido você falar o suficiente de muitas pessoas queridas para mim! Eles deviam é te colocar para fora dessa ilha! Eu não quero o seu amor! Você, quando ama, quer prender, duvida e ainda arruma todo o tipo de trama para formar! Você nem gosta de amar! É insegura demais para isso! – Ele abriu um sorriso cruel. – Eu sou um DRAGÃO! Diferente da sua espécie, a minha conhece o significado de união! Eu sou sair com quantas eu quiser! Pode falar o quanto quiser de mim, porque nessa sociedade machista em que vivemos, ainda acharam isso lindo!

Ela recuou alguns passos, encarando-o como se nunca o tivesse visto antes. O choro vinha a seus olhos e manchava a pele em lágrimas de raiva e um olhar de ódio.

– Você se chama de Dragão e diz que entende de união? Você não é NADA, Acksul. Você só tem dinheiro para bancar o próprio carro por minha causa. Me dá as costas e se diverte com aquela vadia para saber o que acontece. – Ela deu meia volta, pegou um vaso com flores naturais e jogou nele com toda sua força humana – Seu. CANALHA! Você acha MESMO que sabe o que é amor!? Então vai encontrar na sua toca com seus irmãos porque esse castelo é MEU. O dinheiro é MEU. A administração é toda MINHA. E você não merece estar aqui. – Ela derrubou a mesinha e correu até o outro pilar de decoração – Então, SOME. Volta pro buraco de onde veio com sua manada de irmãos! – Alcançou uma peça de decoração de porcelana, mas antes de jogar, o objeto quebrou e cortou a palma da sua mão.

– Aisha. Por todo respeito que temos sobre você, e suas limitações, dê as costas e vai se acalmar. – Nyra havia saído e fechado a porta atrás de si. – É melhor você ir cuidar da sua mão.

Nyra disse sem paciência e imperativa. A loira segurou o próprio pulso e deu as costas para caminhar rápido pelo corredor. Mas ainda os fitou por cima do ombro, e gritou:

– Eu os quero FORA!

O tempo todo em que durou o surto, Acksul apenas a olhou. Já havia visto humanos com a famosa mania de grandeza tantas incontáveis vezes que não conseguiu se incomodar mais quando ela saiu de si. O Dragão no máximo moveu os dedos, impedindo que algum caco o acertasse, mas decidiu nem mesmo respondê-la. Acompanhou-a se afastando, mas não indiferente. Gostava de Aisha, só não o suficiente.

– Perdoe-me por isso. – Acksul se voltou para Nyra e a tocou no rosto. – E não se preocupe… Pois eu não estou. No máximo, ela está mais preocupada em perder a posição no grupinho e o mimo que a mídia tecia em cima de nós do que o relacionamento em si. Eu sou uma pessoa muito legal na internet, né. – Ele sorriu, mas não com a maldade de sempre.

Assustada, Annik também saiu da Sala de Chá. A Ragabash mordeu o lábio, acompanhando a princesa do castelo se afastando…

– Leah? Não acredito. – Ela tocou o Dragão no ombro. – Os boatos são verdadeiros, então… Está tudo maluco na internet! Gaia…

– Ah, não… Eu nem queria que isso explodisse dessa forma. Preferia que ela dissesse que terminou comigo. – Acksul girou os olhos. – a Click não vaza nada… Não era assim?

– Fotos do show… – Annik se voltou para Nyra. – Não da Click…

– Os fãs especularam… Não dá para provar, mas Aisha conhece e é paranoica. – Nyra completou o pensamento de Annik e tocou Acksul de volta em seu rosto, beijando depois onde encostou seus dedos. – Você não tem que pedir desculpas. Eu odiei ouvir tudo isso… Eu não sei se quero alguém tão preconceituosa nos representando aqui… – Desceu as sobrancelhas, brava – E ainda falando assim de vocês… Não precisamos disso.

Sem paciência para o assunto, Acksul franziu o cenho e negou, acariciando a mão da Theurge. Ele estava prestes a fazer um comentário quando sentiu a Fúria em pessoa caminhando na direção deles.

Passos silenciosos, mas a Fúria era uma denúncia. Jullian tinha as mãos afundadas no jaleco que havia vestido, tão apático em sua expressão endurecida e cansada. Os lábios estavam descorados e sua tez anormalmente mais pálida que o comum.

Ele não traz boas notícias. Annik arquejou de preocupação e uniu as mãos enquanto o acompanhava vir. Apesar de inexpressivo, os olhos embaçados estavam derrotados. Nyra espantou-se quando viu Jullian. Tantas horas preso no quarto que havia se tornado um consultório.

Quando se aproximou de Nyra e Annik, a Ragabash sentiu a vontade de abraçá-las vinda dele mesmo de longe. Uma vontade que ele segurou dentro de si.

– Audrey está dormindo… – Ele sussurrou, olhando brevemente para o chão, mas não o suficiente para esconder as lágrimas que lhe surgiram aos olhos. – Sinto muito. O bebê não estava mais vivo e não respondeu aos Efeitos. Tentamos de tudo.

A Theurge andou na direção dele e o abraçou. Ignorou a Fúria dele e o beijou em um selinho. Ele mal reagiu ao abraço e ao beijo. Sorriu pouco, mas expressou menos ainda ao tentar. Os olhos azuis pareciam não conseguir tocar nada por muito tempo.

– Preciso de um tempo sozinho. Vocês podem segurar alguns dias para mim? Eu só… – Ele negou com a cabeça.

Annik voltou os grandes olhos preocupados para Nyra.

– Alguns dias? – Nyra afastou um passo, e fitando-o. – Tem certeza…?

– Sim. Lavinia saberá cuidar da Audrey. Já passei tudo o que é necessário. – O Lendário disse antes de, igualmente, recuar um passo, mas para a Penumbra.

Acksul escorou a cabeça e retornou abriu a porta da Sala de Chá. Sem segui-lo, Annik apenas olhou brevemente. A Ragabash cruzou os braços e caminhou praticamente no mesmo lugar.

Derrota.




O cansaço emocional era grande o suficiente para a deixar adormecida. Estava acordada, mas não conseguia se manifestar sobre muitas coisas. Apenas acompanhava os olhos pensativos e assustados dele. Oh, aquela mente poderia ir para qualquer direção…

Audrey apenas agradecia por estar sendo agarrada por aqueles braços. Não estava em condições de sequer relembrar o que havia ocorrido na Rússia. Seu peito apertava e a respiração rasgava a garganta… Melhor dormir. Encostou seu nariz no peito dele e se deixou levar pelas ideias do que teria sido…? Melhor assim? Os sonhos percorriam por trechos do era e o que não foi… Risos e choros. Pelo menos estou com você.

Estava em um sono profundo quando a porta se abriu, Ártemis entrou quieta no alto da noite e os olhou da porta, esperando que alguém estivesse acordado. A Fada andou até a cama, às costas de Ladirus, e quando apoiou o joelho no colchão, Audrey respirou assustada, sem despertar, apenas se exaltar e voltar ao descanso mal colocado.

Ártemis recuou o corpo, com medo de acordá-la e esperou para ter certeza que ele não dormia também.

– Ladi? – Murmurou muito baixo, sentia-o conturbado.

O rosto dele tombou vagarosamente em direção a ela. Os olhos sem uma sombra de sono se estacavam em alerta em seu rosto, mas se encheram de amor quando a focaram. Ele esticou a mão pelo colchão e a chamou com um gesto. “Não consegui dormir…”, ele disse à mente dela, “Eu queria voar, mas não quero deixá-la sozinha…”.

Sentia-se endurecido e dolorido, com o peso de um mundo sobre os seus ombros largos. Estava cansado mentalmente, mas o corpo elétrico se agoniava pelo estado de repouso. Os olhos pequenos e estatelados mal piscavam.

Ártemis voltou a avançar pela cama e se deitou às costas dele, abraçou-o pela cintura e beijou seu ombro tenso. A morena ergueu o rosto a ele e disse numa voz sussurrada mesmo que mentalmente, “Eu posso vigiá-la se você quiser ir”, “Você está bem? Desculpa, eu não tenho ideia do que é passar por isso. Mas você pode chorar se quiser… Eu te abraço forte.”

Franzindo o cenho, Ladirus ergueu brevemente os olhos para o teto como se pudesse enxergar o céu através dele. Ele inspirou profundamente e umedeceu os lábios mesmo que não fosse usá-los para falar. “Não sei o que você pensará sobre isso, mas não estou triste pela perda”, o Dragão confessou, franzindo o cenho, “Todos estão crentes que eu estou triste e parece o certo a se sentir… Eu estou assustado por Rey passar por isso e ter corrido risco de vida e é como se isso ainda pudesse acontecer, mas eu não estou preparado para ser pai. Não seria uma boa hora… Não estou comemorando a perda, mas… Entende?”.

Ártemis assentiu, entendia o sentimento revelado porque também não conseguia ver vida e alma em algo que sequer havia se desenvolvido. Uma luz que piscou fraca e se apagou. A ideia ainda era triste, mas não forte o suficiente.

“Eu entendo…” Murmurou na voz pensada “Eu espero que ela não continue triste… Eu não acredito que a família dela seria tão violenta. Por que obrigariam Audrey a tudo isso? Sequer faz sentido pra mim… Corta o coração só de pensar.” Fez uma pausa, seus dedos começando a acariciar a região do abdome dele “Eu estava com a Leah e contei a ele. Connor também sabe agora. Foi a primeira vez que falei sobre a gente…” Outra pausa “Connor não está bravo… Nem decepcionado. Eram as pessoas que eu queria que soubessem…”.

A mão dele se deslizou até se encontrar com dela, entrelaçando os seus dedos carinhosamente. Ladirus abriu os olhos e inspirou com profundidade enquanto ouvia o relato. Um riso seco fluiu dos seus lábios. “Gatinha”, ele murmurou como ela o fazia, “Eu tenho saudade daquele dia na sua Mixórdia. Sempre que eu estou triste, eu volto para aquele dia. Eu também volto para quando você me deu aquele bonequinho de madeira… Eu tenho saudade dessas coisas doces”, Ladirus trouxe a mão dela até os lábios e a beijou. “Eu te amo”.

Ela sorriu e assentiu, também se lembrava dos dias, mas nem sempre de maneira tão confortável pois correu riscos sérios de passar as maiores vergonhas da vida. Estava apenas feliz por ele ter memórias ternas.

“Você falando parece que não tem momentos doces!” Roçou seu rosto no braço do Dragão “Eu gosto de todos os meus dias do seu lado. Dá medo só de lembrar que ainda tenho trabalho pela frente com as Diamonds até me desvencilhar de vez…” Beijou o pescoço dele e disse sussurrando: – Eu te amo mais.

– Eu te amo mais… – Ladirus sussurrou de volta. “Eu tenho”, ele fechou os olhos, rindo brevemente, “Mas o medo e a ansiedade que eu ando sentindo ultimamente são ruins. Parece que sempre estamos perto de dar um passo e tudo sair dando errado… Ao menos, você está treinando agora… E, bom… As Diamonds são passageiras na sua vida”.

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