Real Friends

Categorias:Romance
Wyrm

Real Friends


Havia dito para Leah. Tudo mesmo. Felizmente, entre todas as meninas, sabia que uma das coisas que Leah não era, era preconceituosa, e especialmente não julgava. Qualquer situação ou ensinamento que ela teve da vida e de seus pais, ela absorvia muito bem, e embora muito surpresa, conversava com a Changeling sem se exaltar.

– Agora eu me sinto no caminho. O que eu deveria fazer? Não é certo a Audrey ficar sem a imagem dele. Mas eu também não quero que saibam… Mas agora todo mundo vai saber que ela perdeu. E que era dele.

– Bem, eu sei. – Leah concordou. – Eu entendo o que quer dizer…

As duas estavam sentadas na praia da areia dourada, com as pernas esticadas sobre cangas coloridas no escuro da noite e de frente para o mar. Ártemis usava um tope branco e um short jeans desfiado; já Leah ainda estava em um conjunto de biquíni simples, preto.

– Mas se você quer muito, sempre tem possibilidades. Ninguém precisa saber da nossa vida particular, Arty. Não é da conta de ninguém, aliás, ainda que saibam. A gente ainda que vive dando satisfação da nossa vida.

– Eu sei. – Ela negou rapidamente – Não é mesmo! Mas eu fico ansiosa quando penso em tudo isso. Se ele realmente for pai… – Abaixou o olhar lentamente.   – Vai ser tudo diferente.

Enganava-se, mas já tinha tempo que o fazia.

Antes de vê-las, Connor já ouvia as suas vozes e os pensamentos fluindo como discursos secretos, mas harmoniosos com o desabafo de ambas. Cobrou-se a surpreso e tentou não se sentir tão chateado quanto estava. E não conseguiu atingir nenhuma das façanhas.

A veste combinava com o seu luto. Um luto sobre a sua influência exercida como o pai da Kithain. O poder de decidir por ela. De asas abertas, ela voava. Voava e vivia uma vida que ele nunca teria escolhido para ela. Uma dilema não investigado. Nunca condenou os Versos da Magia pelo relacionamento que vivenciavam, mas não aceitar o poliamor na vida de sua querida Ártemis era outra história. Não lhe descia mesmo que tentasse observar por todos os ângulos que conhecia. Rosstrider e Tayrou ficariam loucos e ele tentava manter o controle racional de uma situação que não mais lhe pertencia. Possivelmente, o pior golpe era não estar sabendo e a informação cair de qualquer jeito em seu colo.

Fez-se notar, caminhando sem silêncio. Usava uma camisa de linho leve, shorts de cor creme e sandálias, visando o conforto além de qualquer estilo a contrabalancear o desconforto que sentia em seu peito. Connor caminhou até as suas e se sentou ao lado de Ártemis na areia. Os olhos azuis acompanhavam a ondas do mar que mal tinham força para quebrar.

Ártemis assistiu Connor se aproximar, e a certeza que naquele momento ele sabia de exatamente tudo foi forte. A morena desviou o olhar para o mar quando ele sentou, e Leah os olhou em dúvida.

– Oi, Connor. – Ela o cumprimentou gentilmente e se ergueu, direcionando-se a Ártemis – Eu vou voltar. Eu estou naquele hotel que tem no lado dos humanos, mas vou passar na Casa Azul. Me manda uma mensagem depois.

– Olá, Leah. – Connor respondeu sem mover os olhos.

– Ok. – A Changeling a olhou e assentiu com veemência. Seus olhos castanhos retornaram a Connor quando Leah se afastou. – Você está… Magoado? – Perguntou insegura e desviou o olhar para a areia.

Eu estou magoado? Perguntou-se internamente antes de responder. – Não. – Respondeu, sério. – Eu apenas preciso saber se você está vivendo a situação que você quer… Ou está vivendo uma situação para ter o que quer. São duas opções parecidas, mas extremamente diferentes.

Ártemis negou antes de falar sem hesitar. Seus sentimentos sobre o Dragão de Água eram muito claros:

– Eu o amo muito, Connor. Muito mesmo.  E eu sei que ele me ama muito também. – Dobrou as pernas – Mas ele ama outra pessoa ao mesmo tempo… Eu não sei se consigo sentir o mesmo por ela para funcionar do jeito que era ideal? E agora… Eu sinto como se eu tivesse algo bobo e infantil com ele, um namoro assim. E eles estão em algo muito mais profundo…  – Mordeu o lábio, mantendo o olhar baixo. – Eu não estaria com ele se não sentisse metade disso o que sinto… Mas a situação é estranha…

Ele cruzou os braços sobre os joelhos, olhando-a quando deitou o rosto neles. Connor franziu o cenho e disse, com uma voz naturalmente carinhosa com ela. – Amores e vem e vão. Você só pode segurar um amor se ele te fazer bem… Se ele não faz, ele também será uma dor… E você está fechando a porta para outros possíveis amores mais leves… – Ele respondeu, buscando por seu olhar. – Não estou te julgando, apesar de nunca ter passado pela minha cabeça que pudesse acontecer… Mas você não acha que se você tivesse com a alma nesse relacionamento, a última coisa que você sentiria é inferior?

Ártemis ergueu seu olhar a ele e em silêncio pensava em suas frases. Difícil algo que Connor dissesse e não fosse avaliado pela Fada. Ela respirou fundo e negou:

– Eu não me sinto inferior. Eu não sou não. Só está acontecendo muito rápido… E eu não queria que ninguém soubesse…  Eu não gosto como as pessoas olham quando sabem coisas demais da gente, como se soubessem da minha vida toda, como se eu fosse uma revista de fofoca para comentarem. Sabe? – Mordeu o lábio inferior e segurou-o entre os dentes, abrindo a boca para concluir:  – Mas agora nada vai ser como antes parece.

– Sei. – Connor concordou. – Suspeito que ser esquecido e desinteressante seja muito pior. As pessoas pensarão sobre a vida daqueles que brilham, independente de como a vivem. Para ser você mesma, você terá que se importar menos com isso. – O Dragão da Escuridão se sentiu na obrigação do comentário imparcial. – E nada será como foi antes e não significa que precisa ser ruim. Mudança quer dizer simplesmente mudança. É uma vida. É um milagre. Um sonho, como Polaris citou. Você precisa decidir se quer viver isso ou… Está pensando que não quer porque está com medo dos dedos que apontarão para você. Ser feliz sequer coragem.

Ártemis sorriu brevemente quando ele exaltou o estilo de vida dela. Ártemis não tinha medo de trabalhar e fez isso duramente durante o ano que passou viajando, mas havia a deixado ansiosa sobre quase tudo também. E com medo de outras coisas.

– Eu sei que o bebê é especial. Eu fico feliz. Sei o quanto é importante. Você tem razão… Requer coragem… E agora eu acho que estou com muito medo sobre muitas coisas… E ansiedade…   – Tocou os próprios joelhos e os massageou. A pergunta ficou na sua garganta e saiu em um tom de voz baixo: – Você está orgulhoso de mim? De alguma forma…?

O sorriso dele nasceu selado se abriu aos poucos. Connor estendeu os braços e abraçou de lado, trazendo-a para perto de si. – Sempre… – Ele também sussurrou. – Você é o maior presente que o destino poderia me dar. Eu não tinha noção que aquela menininha que trouxe para a minha vida seria uma parte tão frágil do meu coração. Por isso que, quando eu te vejo triste, a primeira coisa que quero fazer é acabar com a raça do culpado… E, ultimamente, eu te vejo tomando conta de si mesma e… Nadando sozinha entre as correntezas da vida… Perseguindo sonhos… Quem fica inseguro, sou eu. – Ele a acariciou. – Você sempre foi corajosa até demais, mas, às vezes a nós… – Connor meneou a cabeça. – … Precisamos daquele momento para digerir, pensar… Ver o que é invenção da nossa cabeça, criada pelos nossos demônios internos, e o que é real mesmo.

O sorriso dela tomou todo seus lábios grossos, de ponta a ponta, e os olhos escuros chegaram a brilhar. Encolheu-se ao abraço e devolveu o carinho o agarrando de volta.

– Obrigada por acreditar em mim… Eu sempre fico calma quando lembro que posso largar tudo e correr para casa a hora que eu quiser… E você vai estar lá… – Confessou – É o pensamento que sempre me acalma. – Sorriu o fitando e se ajeitou, em dúvida: – Você acha que eu deveria contar para o Ross? – Olhava-o – Tayrou me odeia de qualquer jeito.

– Tayrou não te odeia… – Connor afirmou, mas não sentiu vontade de falar nada muito além do fato certo. – Quanto a Rosstrider, sim, você deveria. – Afirmou. Quem sabe, somente assim, ele siga a própria vida adiante. – Ele não anda por aqui. Está tocando o café. Faz dias que não o vejo. – Comentou. – Por sinal, nós fomos expulsos do castelo. É possível que eu volte para casa, se a nossa situação não for resolvida. Provavelmente será, mas até então, estamos em casa.

Ajeitou-se sobre os próprios joelhos, e se aproximou mais dele, escorando seu corpo ao de Connor.

– Vou falar com ele logo de manhã. – Ártemis o fitou – Me odeia sim. Ele falou horrores do meu grupo, só faltou dizer que eu tinha virado uma vadia. Quando souber disso, vai me por na cruz. Ainda bem que ele não é famoso. – Franziu o cenho – Quem expulsaria vocês…? Oh… Você pode ficar na casa azul. Blair aparentemente deixa qualquer pessoa fazer um quarto e quando lotar, certeza que vai expulsar o Remi lá debaixo e fazer mais. Mas… – Voltou ao assunto – Quem expulsou?

– Aisha não gostou de saber que Acksul saiu com Leah. Os dois gritaram várias coisas quando brigaram e suspeito que teremos mudanças. – Connor disse com a voz indiferente. – Eu estou apenas brincando. A corda sempre arrebenta para o lado mais fraco, mas eu não faço questão de ficar no castelo. Não vamos nos precipitar ainda. Quando Jullian retornar da sua viagem, poderemos conversar melhor a respeito. Para o bem de Aisha, é melhor que ele não demore a voltar.
– Nossa! Pelo grande inverno como ela é sem noção… Quem expulsaria vocês? Se bem que eu ficaria bem brava também… Mas ainda não faz sentido. – Mordeu a bochecha por dentro. – Se a Nyra descobrir isso vai chutar ela daqui. Nossa. É muito difícil defender a Aisha. Ela é outra que iria me destruir se soubesse… – Cobriu a boca – O que a Leah fez…!

– Ela já sabe. Todo mundo ouviu Acksul gritando. Por isso, espero que a viagem do rei não dure tanto. Não aprecio o caos. Sei que Aisha é necessária, apesar de emocionalmente instável. – Connor se voltou para frente e retornou o olhar a ela. – Espero que ela não se meta com você, pois de destruição, eu entendo muito bem… E não estou falando de mortes.

– Aisha acha que todo mundo joga o jogo dela. – Ártemis se entediou na expressão, mas depois abriu meio sorriso ao escutar que ele a defenderia. – Acho que ela não vai… Ela tem consideração por mim. Eu acho. Você acredita que a Nyra não pode cuidar bem da Ilha enquanto o Jullian está fora? Ela é a Rainha, não é? E é bem inteligente. – A Changeling franziu o nariz – Aliás, porque ele foi embora? Do jeito que você tá falando ele vai sumir meses.

Porque a cabeça de Jullian está um local difícil de habitar e até alguém como ele tem os seus momentos de fraqueza. Ele precisava respirar. Foi uma atitude sábia. – Connor respondeu com suavidade. – Ele está pensando em voltar em dois dias, no máximo. Provavelmente, cheio de presentes de Londres. – Connor fitou Ártemis brevemente. – E, sim, Nyra é o segundo comando aqui. Ela é perfeitamente capacitada e organizada, mas ela e a Aisha tem uma rixa… E o divisor de águas é o Jullian.

Ártemis arqueou as sobrancelhas e sorriu maldosa: – E você acha que ele vai gostar de tê-la no comando quando souber de tudo isso? – Apoiou sua mão ao ombro dele – Eu chutaria bem chutado. Além do mais, deve ter muitas pessoas que ficariam só focadas nisso. Aisha por exemplo, só deixa convidar quem ela quer. Leah e as meninas estão longe do Castelo porque ela despreza. Aliás… Eu não sei se ela vai mexer comigo, mas vai acabar com a Leah. – Piscou os olhos devagar – Era bom avisar minha amiga. – Ártemis tateou a canga e pegou seu celular. Abriu o Instagram e abaixou as fotos na timeline. – Eu fiquei sabendo que você colocou um cachorro dentro de casa desde que sai. Hunf. – Ártemis disse o fitando e voltou para a tela do celular – Sabia. Ela já postou algo. Era uma foto do seu rosto com maquiagem clara e um cenário digno de realeza atrás. – “A música deveria vir da alma. Eu estou cercada por pessoas talentosas que me ajudam a compor, construir, criar música para que vocês recebam o melhor de mim sempre. É um tanto triste que a mídia ainda se aproveite de sexo para subir e vender.” – E cinco diamantes de emoji compunham o final da frase. Ártemis mal conseguiu piscar e navegou por notícias que diziam sobre tweets apagados da estrela americana do pop “Última moda em Paris roubar namorados?” “Não é bonito fazer de tudo para subir” e os fãs jogavam fotos de Acksul com uma mulher, que especulavam ser alguma das Shapes graças ao post do Instagram. Mas segundo investigação de fãs, Nish e Alicia estavam em um evento ontem à noite. E Dessie fazia uma live quando a foto foi tirada. E a repercussão terminava concluindo que era Leah, a ladra de namorado? O Instagram da Fada chovia de críticas negativas à música sexualizada do grupo e comentários sujos.

– Meu Deus. Isso é grave. Eu não acredito que ela fez isso! ¡Malparida! – Ártemis se estressou e apertou o celular na mão– ¡No creio!

– É? – Enquanto espiava, quase perguntou à Ártemis se a provocação era tão grave na vida delas assim, mas pela expressão da Kithain, era. – Melhor avisá-la, então… – O Dragão coçou a lateral do rosto. – E se você disser que não gosta de cachorros, eu terei que duvidar. – Ele esboçou um sorriso de escanteio, olhando-a com cinismo no olhar.

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