Don’t Blame Me

Categorias:Romance
Wyrm

Don’t Blame Me


Ele não precisou fazer nada além de beijar Leah – beijos intensos, mas tudo bem – para ter certeza que não queria mais o relacionamento mentalmente exigente que estava vivenciando com Aisha. Mesmo com o sumiço de Henry e Nyra, a decisão do grupo de ir para a Click prevaleceu. Acksul até se sentiu um pouco mal-educado em não dar atenção para o restante da banda do Kitsune como Ártemis e Ladirus faziam, mas se viu preso em uma conversa tão agradável e interessante com Leah que nem se sentiu mal pelas olhadas de censura de Ártemis. As ideias dela, muito firmes e maduras, sobre as principais questões do mundo prenderam a sua atenção pela noite inteira. Tinha prometido não beijá-la na balada, mas não conseguiu se conter perante aos olhares que ela lançava…

Engraçado. Ele nem conseguiu dormir. Deitou-se no chão da caverna ao lado de Torvoethardug e Hawky com as três cabeças trabalhando no mesmo assunto. Pensava no sorriso infantil que Leah possuía e deleitava-se ao se lembrar de sua bela voz suavemente rouca. Ela era linda. Engraçado que já tinha ouvido comentários maldosos das amigas de Aisha em relação ao corpo “fora dos padrões” que ela possuía. Acksul admirava o corpo fora dos padrões. Padrões eram questões a serem quebradas.

Nenhuma promessa havia sido feita muito além daquela noite, mas ele sabia que ganharia um sorriso dela se ao menos mantivesse a sua palavra. Quando desistiu de dormir, alçou voo. Com o passar do tempo, o seus voos e dos seus irmãos não perturbavam mais a Penumbra. Sempre existia uma surpresa inicial, mas os Espíritos já os admiravam mais do que temiam. Era uma sensação agradável. Talvez também tudo estivesse agradável naquela manhã. Ele pensou em seguir direto para o castelo, mas pensou por um instante se realmente queria agir com tanto impulso. Precisava conversar. Onde estava Nyra? Pairando no ar, o Dragão arriscou o óbvio, farejando em direção à Casa de Vidro. Quando não sentiu, não teve dúvidas por onde seguir.

Abraçado a cintura da Garou, Henry dormia num sono pesado e relaxado, respirando pesadamente e o bastante para não ouvir o bater na porta da frente de primeira. A Kitsune se mexeu levemente, mas precisou ouvir uma segunda vez para entreabrir os olhos confusos. Henry cheirou os cabelos ruivos e sensação de que não se tratava de um sonho, o fez relaxar mais uma vez.

Mais uma batida na porta.

Nyra inspirou e se ajeitou aos braços dele. Percebeu que alguém batia na porta, mas não conseguiu se preocupar de primeiro. Encarou Henry sonolenta e depois o relógio… Havia passado poucas horas, mas o suficiente para não se sentir mal humorada.

– Alguém quer falar com você… – Murmurou, com preguiça de investigar quem. – Eu acho que é melhor eu voltar… – Concluiu, mas não se mexeu, ainda movida pelo sono e o conforto dos braços de Henry.

Ele abriu os olhos mais uma vez, piscando-os devagar. Henry gostava muito de dormir e se sentia um pouco desnorteado com o sono interrompido. Ele a abraçou mais forte, impedindo-a de sequer pensar em sair… – Não… Não é melhor… – Murmurou, fechando os olhos. – Gaia. – Ele inspirou profundamente, esticando-se. – É Polaris…

A Theurge sorriu quando foi agarrada mais forte. – Ele deve saber que estou aqui então. Polaris sabe onde todo mundo está. – Nyra se espreguiçou e beijou Henry em um selinho antes de decidir se sentar. – Eu vou falar com ele… – Ergueu-se e seguiu até a porta para abri-la.

Henry não se moveu, sorrindo preguiçosamente com o beijo em seus lábios. – Melhor falar para ele entrar… – Murmurou, esticando as mãos entre as pernas e entreabrindo os olhos pesados de sono. Henry esticou os dedos dos pés, sentindo as três bolas de pelo que dormiam ali e riu.

Nyra não precisou pedir para Acksul entrar. Assim que ela abriu a porta, ele deslizou para dentro. O Dragão da Matéria a olhou e se desviou para Henry no sofá distante. O sorriso que desenhou selado aos lábios ao retornar a sua atenção à ruiva foi cheio de maldade.

– Desculpe incomodar, mas o Sol já apareceu. Achei que estariam acordados. – Ele disse.

O Dragão estava belamente vestido com uma camisa verde escura, shorts jeans e um tênis de corrida preto.

Nyra fechou a porta depois que ele entrou e o olhou.

– Engraçadinho. Se soubesse que estávamos acordados já tinha entrado. – Aproximou-se e o abraçou, beijando-o no rosto e se afastando para a sala. – Bom dia… Aliás, você sequer dormiu? – Olhou-o com desconfiança – Ou estava na Click?

– Depende. Poderiam estar ocupados fazendo alguma. – Polaris mordeu o lábio, fechando os olhos quando recebeu o beijo e a seguindo.

Atento o quanto conseguia, Henry os acompanhava, intercalando os olhos. Polaris se aproximou e se sentou na poltrona próxima ao sofá em que estava deitado. O Dragão esticou a mão e roubou um cookie.

– Eu estava na Click. Ainda não consegui dormir. Voltamos tarde… – Explicou depois de mastigar o biscoito. – Bom dia, Chang.

– Bom dia… – O Kitsune murmurou, ainda estranhando. Falara antes de dormir que lamentava não falar com o Dragão e ele na sua sala logo pela manhã estava deixando o Kitsune confuso…

– Bem. – Acksul se voltou para Nyra. – Eu estou com um probleminha para resolver.

Nyra se sentou ao sofá, perto dos gatinhos enrolados em si e fitou brevemente Henry, “Eu não disse?”, mas ela gostava de escutar cada um deles, mesmo que se tornasse um problema imenso. E era o que parecia que aconteceria.

Henry devolveu o olhar de Nyra com um sorriso selado aos lábios.

– Probleminha? – Riu e disse logo com um certo humor: – Chama-se Aisha? Porque eu estou imaginando que sim…

– Hm. – Acksul a encarou com estranheza. – Se você está sabendo, eu temo que eu esteja com um possível problemão. – O Dragão deixou de sorrir e curvou-se, apoiando o rosto na mão. – Nós brigamos ontem… E eu decidi que vamos terminar. Eu imagino que isso envolva você e os Versos da Magia diretamente. Eu estou em dúvida de como fazer isso. Não dá mais. E, ontem… – O Dragão abaixou a cabeça. – Bom, eu estive com uma pessoa e preciso fazer isso logo.

– Bem… Eu e Henry conseguimos descobrir quem é a pessoa. – Dedilhou o queixo pensando em como ajudar. – Talvez isso não caia na mídia porque ninguém nos viu chegando. A não ser que paparazzi tenham os vistos por aí… Mas ainda… Se Aisha desconfiar, isso é mais que um problemão. – Nyra inspirou e fitou o teto brevemente – Eu não tenho nenhuma ideia de como terminar um relacionamento… Realmente? Nenhuma. Aisha é do tipo que se não quiser terminar, não deixa barato… – Encarou o Dragão da Matéria – Rhistel deve te aconselhar bem. Ou a Nina. Mas de verdade? Acho que não vai ter forma fácil…

Devagar, Henry se sentou no sofá, relaxando as costas no encosto do móvel confortavelmente. Ficou em dúvida se deveria continuar a distância, mas acabou escorando-se no ombro de Nyra ao se deitar de lado e torto.

Se Acksul achou esquisito, não manifestou.

– A questão é que eu desconfio que ela talvez queira me atingir e atingir aos meus irmãos. Não sei. Por exemplo, proibir que visitemos o castelo e essas coisas? É o que estou temendo que aconteça. – Ele passou a mão pelos cabelos, jogando-os para trás. – Ontem foi a gota d’água para mim. – Desabafou. – Como sabem de Leah?

– Fãs fizeram um vídeo seu… – Henry respondeu, franzindo o cenho. – Não dá para ver muita coisa, como rostos, mas vocês estavam claramente se agarrando…

O Dragão franziu o cenho e arregalou os olhos. – Ah… Não pensamos nisso. – Confessou.

– Leah é uma popstar… – Henry arqueou uma sobrancelha.

Nyra deslizou a mão para tocar a de Henry e concordou com os receios dele. O Kitsune entrelaçou os dedos aos dela, fechando os olhos brevemente.

– Eu sei que ela sabe descontar. Mas não acho que chegue a isso… Do jeito que ela é, vai prejudicar a Leah. Então… Se vocês querem levar algo juntos, deixa a história se acalmar… Se é que ela não vai descobrir pela mídia. – Mordeu o canto do lábio – Acho que ela não arrumaria confusão com seus irmãos… Mas você se prepare, Acksul… Vai dificultar sua vida mais ainda. Isso tenho certeza. – Olhou-o por um tempo – O que foi a gota d’água? Você já se sente assim há um tempo?

O Dragão os olhou, levemente irritado. Prejudicar a Leah. Com certeza. Aisha era muito mais inclinada a ser machista, apesar de acreditar segurar outro tipo de bandeira. Acksul olhou de Nyra para Henry. Estava tão preocupado que não conseguia formar uma opinião sobre as mãos carinhosamente dadas.

– Inveja. – Acksul disse, jogando o olhar pelo chão. – Ela tem muita inveja de uma pessoa especial para mim. Arrisco dizer que gostaria de estar no lugar dela, mas se priva empilhando poses… – O Dragão esboçou um sorriso maldoso. – Ela falou de você… Julgou com maldade o seu carinho com as pessoas queridas. Ela se incomoda. Eu fiquei muito nervoso… – Suspirou, massageando o rosto. – Sempre me privei de olhar demais para Leah, mas me vi num dia que eu só queria estar com alguém que eu realmente quisesse… – Ele se levantou de súbito. – Eu vou falar com ela. – Ele pegou o celular no bolso, digitando uma mensagem sem tocar no visor: “Precisamos conversar”.

A Theurge fechou a cara um minuto, mas sabia que Aisha vivia espalhando comentários maldosos por aí. E adorava repassar informações distorcidas.

– Bem… Você faz bem a você mesmo, Acksul. – Nyra o fitou digitando – Resolva isso logo e eu fico do seu lado se ela tentar alguma coisa. – Certificou-se a ele. Ela entreabriu os lábios quando se lembrou de outro assunto delicado:

– Só… Bem… Melhor eu falar agora. Eu estava pensando sobre Ladi e Audrey… Eu acho que algo muito ruim aconteceu com ela na Rússia… E o Ladirus vai ficar sabendo a qualquer instante. Não sei. Eu acho que ele pode não lidar nada bem com qualquer notícia… Apenas estou te avisando… Porque é bom manter o olho nele. – Avisou cheia de preocupação – Você sabe como ele é, ainda mais sobre as duas… Eu ainda o sinto tenso sobre a situação.

Ele guardou o celular, olhando-a com seriedade e rosnou, irritado. – Merda. – Acksul fez um muxoxo, franzindo o cenho. – Acham que o primo de Jullian tocou nela?

Os olhos de Henry se arregalaram, despertos subitamente. – Gaia, não. Espero que não. – Disse, endireitando-se e levando a mão de Nyra junto aos lábios.

– De qualquer forma, eu vou pra lá depois que falar com Aisha… – Polaris expirou com exaustão. – Se Audrey tivesse falado algo, seria para Blair… E Blair não me disse nada… Nem Rhistel. – Acksul negando com a cabeça. – Drawn vai reagir de forma péssima também. – Ele olhou de Nyra para Henry. – Eu teria muita paciência até pelo menos conseguirmos acordar Klaus…

Olhando-o, Henry apertou os lábios e se voltou para Nyra brevemente:

– Sim.

– Por favor, Nyra. Eu confio mais em você. – Acksul disse, apontando o dedo para ela antes de seguir em direção à de entrada.

Ela se olhou brevemente ao ter a bronca direcionada a si e o fitou novamente. – O professor não deveria ter muita coisa a dizer. Mas eu entendi. – Disse, sem alimentar muito pensamento a sua mente. Os olhos acompanharam Polaris seguir até a porta:

– Ele não tem que achar nada mesmo, mas ele vai… E será importante que ele esteja tranquilo para fazer o Efeito. – Ele respondeu.

– Boa sorte. E fique calmo. Ela vai dizer tudo o que você não quer ouvir, e não vale a pena… Ela vai ficar um tanto chateada em ter perder de qualquer modo… – Voltou seu olhar a Henry. – Eu disse que os problemas eram diários. – Apertou o lábio – Eu acho que vou até Ladi. Não sei…

– Não se preocupe. Eu não vou discutir. Só irei comunicar a nossa nova situação… – Acksul respondeu com um humor ácido na voz antes de sair.

O Kitsune se aproximou de Nyra quando ele saiu, tocando o seu rosto com os dedos e trazendo-a para si, beijando os lábios macios da Garou demoradamente.

– Majestade… – Ele sussurrou, olhando-a. – Melhor você ir… Se há alguém capaz de acalmar Ladirus… Essa pessoa é você… Mas… – Beijou-a mais uma vez. – Podemos sair hoje à noite…?

A seriedade da situação acabou deixando seus lábios com o beijo e a pergunta. Nyra o beijou nos lábios de volta, tocando o pescoço tatuado.

– Eu diria que sim. Mas acho que o mundo pode acabar hoje. Daqui algumas horas. – Riu e o beijou de novo, sem se aprofundar para que pudesse ter certeza que conseguiria ir embora. – Vamos nos falando por mensagens…

A prudência era que não se prolongassem na despedida, mas os problemas à espreita doeram possíveis saudades. Henry roubou dos lábios da loba um beijo mais profundo e necessitado. Não queria ser deixado. Compreendia, mas não queria. Não, não queria perder nem mais um segundo dela…

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