Avenue

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Wyrm

Avenue


Era uma casa de show pequena e nada glamourosa, mas a vivência de um rockstar inspirava a essência do local. Ártemis se sentiu muito à vontade, os bastidores era pequeno, buracos pregados em madeira, quadros de fotos de outros que já haviam passado por ali. Acharam até uma foto de Nathan e Jullian. A equipe trouxe comida chinesa e lanches para os que pediram.

– Toda vez é a mesma coisa. – Leah explicava sentada em um banquinho alto. Ela estava em um shorts curto e uma tomara que caia listrada verticalmente em vários tons de azul. Os olhos claros contornados de delineador preto ressaltavam o azul, e os cabelos pretos estavam jogados de lado. – Por favor, sobrinha, invista na minha fábrica de comida vegana. A comida é horrorosa.

– Além de muito ruim, Leah adora comer carne. A mídia ia ficar falando. – Ártemis comia o yakisoba sentada no colo de Ladirus, dividindo com o Dragão. O camarim não tinha espaço para todos.

– E eu nunca fui próxima desse lado da família. De repente eu tinha tia avó que eu nunca vi. – Leah falava com certa braveza.

– Acontece quando você tem muito dinheiro ou é famoso. Minha mãe sempre reclamava dos Strauss. – Nyra analisou. Estava em um banquinho ao lado de Leah. Antes da conversa se desenvolver, Blair surgiu depois de um longo tempo com Audrey. Pela demora e pela cara da maga, havia sido uma luta convencer Audrey a ir.

A princesa estava com um jeans branco, botas pretas por cima até o joelho e uma jaqueta jeans fechada e larga ao corpo. O cabelo continuava no mesmo corte negro, e o batom vermelho decorava seus lábios desenhados. Blair acariciou as costas da amiga e se direcionou até o grupo, cumprimentando quem não tinha visto até chegar em Rhistel e se sentar ao colo dele.

– Onde está o Henry e a banda? – Blair perguntou.

– Estão fazendo a passagem de som. Acho que já descem. – Nyra disse, distraindo-se com Audrey que pegou o último banco e se sentou encostando na parede ao fundo. A maga havia observado a todos, especialmente Ladirus e Ártemis, e pareceu preferir não incomodar ou ser deixada em paz no canto do pequeno local.

Ele já não sabia se ela estava chateada ou se estava realizando uma espécie de punição consigo. Ladirus descansou o rosto sobre o ombro de Ártemis, aceitando os garfos que ela lhe servia. Estava preocupado, mas também sentia a distância. Parecia que nunca conseguiria estar inteiro com as duas ao mesmo tempo. Ele fitou Blair e Rhistel. O irmão abraçou a namorada fortemente, aconchegando-se. Já havia comido todo o seu prato e estava entregue a somente receber os carinhos de Blair. Seria mais fácil amar uma pessoa só…

– Família por conveniência. – Acksul disse a Leah, sentando-se ao seu lado e abrindo um sorriso cruel. – Tem uns membros da minha que eu queria que continuassem sumidos também.

Rhistel lançou um olhar semicerrado para Acksul.

– Obviamente, eu não estou falando do Tsuru. – O Dragão da Matéria o olhou com um descaso divertido e retornou o olhar para Leah. – Você devia dizer a ela que vai abrir uma churrascaria. Eu fui em uma excelente no Austrália. Não vivo sem carne. Eu acho que no fundo os veganos são infelizes. Gosto das carnes que Jullian faz. Por que ele não veio, Nay?
Leah riu do comentário de Acksul, e concordou, comendo uma batatinha antes de falar:

– Uma churrascaria. Mas acho que nem isso ia intimidá-la, ela só quer meu dinheiro! E algumas fotos para postar.

– Fotos… – Acksul massageou os joelhos, franzindo o cenho com descrença, observando os belos olhos claros da fada.

– Ah! Ele estava ocupado. Todos estavam muito. – Ajeitou o cabelo atrás da orelha – Eu também não viria… Mas terminei o que precisava mais cedo e não quis ficar sozinha em casa… Mas já marcaram de vir no próximo show. – A Theurge disse com a voz mais manhosa que o comum.

– Eu acho que você terminou o que precisava fazer correndo. – Ártemis provocou maldosamente – Só para vir ver! Todo mundo virou muito fã do dia para noite.

“Quase isso…” Nyra concordou mentalmente, e negou externamente:

– Não é isso! Eu apenas terminei mais rápido e quis ficar com vocês. – Justificou-se. – Mas é claro que eu também queria muito ver o show.

– Eu tenho um motivo especial para amar essa banda. Avenue me proporcionou momentos incríveis na minha vida. Já sou fã ouvindo faz na semana… – Rhistel apertou o abraço em Blair, aconchegando o queixo sobre o ombro da Maga. – Ainda não sei como eles são ao vivo…

Apertando os lábios, Ladirus mirou o irmão com as sobrancelhas erguidas. Ele também tinha uma memória perfeitamente quente… Mas não sabia como se sentir sobre ela. Os olhos pequenos fitaram Audrey brevemente.

– Henry deve dançar. Ele ama dançar. E dança muito bem. – Acksul disse e bebeu do refrigerante em sua mão. – O sangue oriental nas veias dele…

– Ele sabe dançar? – Ladirus perguntou.

– Bastante… – Acksul o olhou, pensativo.

Discretamente, Rhistel lançou um olhar a Nyra. Está até mais bonita. Ele notava que ela estava ansiosa. “Eu não devia fazer isso… Mas estou admirando…”, ele disse a Blair.

“Ela está muito curiosa sobre ele, não é?” Blair perguntou com um riso na voz, aconchegada nos braços do Dragão de Gelo e confortável com sua pele fria. “Ela está toda agitada e se contendo.” Blair também a olhava “Bem, eu também estou me contendo. Quero muito fugir daqui depois de curtirmos esse show”.

– Isso é divertido. – Nyra abriu um enorme sorriso ao imaginar – Eu não pesquisei nenhum vídeo. Será que ele vai dançar para nós hoje? – Nyra riu e tocou o próprio queixo com a ponta dos dedos.

– Sangue oriental. Ele não parece nada. – Leah riu e entreolhou-se com Polaris – Bem, eu não pareço que tenho parentes latinos também.

– Latina aqui só tem eu! – Ártemis disse com um sorrisinho – Nem sei da onde você tirou esse espanhol até hoje.

Mi mamacita! – Leah respondeu – Que Dios la tenga en su gloria.

– Que linda! – Nyra riu – Falando espanhol.

– Nyra sabe umas dezesseis línguas. – Blair disse como uma curiosidade válida de mencionar.

Audrey os observava com as mãos nos bolsos, quando seus olhos se cruzaram com o do Dragão de Água, ela o desviou para Ártemis, a cena dos dois juntos e desviou para o chão. Fayre fechou seus olhos e se focou em ouvir ou ao que estava em sua mente. Blair dividia a atenção entre a imagem de Nyra, leve e animada, e o pesar de Audrey, querendo se apagar dentro daquela sala. “Eu nunca senti tanta coisa diferente dentro de um quartinho tão pequeno”, Blair beijou o rosto de Rhistel.

“É…”, Rhistel se desviou da Maga isolada, “Blair… Acha que ela poderia fazer alguma cena? Henry comentou de irmos depois para a Click e eu fiquei pensando se era uma boa ideia Audrey ir…”.

– Ah… – Ladirus abriu um sorriso risonho para todos. Tentava se encontrar, pois já não sabia exatamente como se portar com Audrey naquele estado recluso no mesmo espaço que ele. – Eu gostaria de aprender a dançar. Eu acho que eu aprenderia bem rápido.

– Você aprende tudo rápido, Ladi. – Polaris comentou com o irmão de Água. – Tudo.

Rindo sem jeito, não pelo comentário, mas pela Ladirus ergueu os olhos para a porta quando ela se abriu e Henry entrou acompanhado de um rapaz humano.

Ele não devia ter nem um e setenta completos de altura e quase sumia ao lado do Kitsune alto. Possuía um rosto bonito e cabelos negros e lisos jogados de lado. Vestia-se todo de preto: regata, calças jeans e tênis Converse. Os olhos altivos e desconfiados se transformaram com um sorriso assim que viu a reunião de celebridades no camarim:

– Meu Deus. – Ele disse. – Eu não me preparei.

– Pessoal. Andrew. Andy. Andy… Imagino que você saiba quem são eles…

– Óbvio que eu sei! – Ele exclamou com um riso.

Carinhoso e tímido, o Parente passou cumprimentando cada um dos presentes. Henry concordou o pequeno camarim e sentou ao lado de Nyra. Um palito de madeira rodava por seus lábios e ele o jogou fora apenas para roubar um gole do suco rubro da Garou, curvando-se até alcançar o canudo com seus lábios:

– Eu não trouxe o restante porque eles estão muito doidos… – O Kitsune comentou com Nyra, Blair e Rhistel que estavam próximos. Os seus olhos focavam no chão, mas não havia calma em seu corpo. Ele estava agitado e movia o pé no chão insistentemente.

“Desculpa, Rhis… Eu acho que ela vai surtar se ficar por aqui. Ladi não vai poder dar a atenção que eu acho que ela quer. Melhor eu vou voltar com ela. Se você quiser ficar tudo bem.” Blair decidiu finalmente, chateada por estragar a noite que tinha se empolgado com Rhistel, mas achando melhor cuidar da amiga. Ela se ergueu e foi até Audrey no canto do cômodo.

Ártemis se divertia com a conversa sobre seu namorado, e observou as duas magas conversando no canto. Desviou seu olhar para a mesinha de centro e se serviu do vinho que tinham despejado nos copos vermelhos de plástico, oferecendo um pouco a Ladirus.

– Oi, Andy. – Leah o cumprimentou, e Nyra também se levantou do banquinho para beijá-lo no rosto. Ao se sentar, surpreendeu-se com a presença de Henry tão perto e sorriu para o Kitsune, mas também se desviou, para voltar quando ele bebeu sua bebida.

– Doidos… Vocês ficam doidos antes dos shows também? – Nyra sorriu e bebeu do copo quando ele terminou. – Eu fico muito nervosa até hoje quando subo nos palcos… Preciso de muito carinho e meus cigarros para não parecer que nunca estive lá antes…
Ártemis não estava acostumada com drogas e abriu os olhos para aquela conversa.

O riso de Henry foi uma resposta dúbia. Ele abaixou mais a cabeça antes de jogar para o pescoço para trás, fechando com os olhos com força antes de olhá-la.

Ele conseguia ver o seu reflexo através das tempestades. Olhos grandes e felinos, bem abertos, como um convite para se olhar adentro; colocar a sorte em risco sobre o que encontraria no mar cinzento onde raios cortavam os seus e a energia luminosa da magia podia ser sentida, aquecendo o olhar já profundo por si mesmo. O Kitsune também possuía um olhar intenso e encarou o dela finalmente, permitindo-o o silêncio da admiração por um longo instante. Ele a respondeu num tom mais baixo:

– Eles, sim. Eu… Antes? Nunca. – Ele procurou o paliteiro sobre a mesa de centro, curvando para pegar um e colocar na boca. – Depois do show… Às vezes… Se quero sentir algo diferente do que quer que eu esteja sentindo no momento…

Quando os ouviu sussurrar, Rhistel achou que poderia ajudar Blair com Audrey. Ele se levantou e foi até as duas. Diferente do Dragão e a sua percepção, Andrew se aproximou de Nyra e Henry, cruzando os braços:

– Eu aceitaria um cigarro da paz agora. – Disse-lhes, abraçando-se. – Você sabia que é uma grande inspiração para nós, né?

Nyra perdeu-se nos olhos dele da mesma forma que ele ousava encarar os seus. Estava tão hipnotizada pelo Kitsune que sabia que em breve seria uma luta manter a cordialidade… Devia ter avisado aos seus amores o quão envolvida estava, e que acidentes poderiam ocorrer, mas não sabia que gostava tanto assim do rosto dele, olhos e sorriso, a voz… Ela inspirou e desviou a atenção Andrew.

– Eu não trouxe nada hoje. Eu só pensei em assistir e é um show que faço questão de ver sóbria… – Entreolhou-se com Henry – Não sabia muito… Alguma coisa é parecida. Estou feliz de ouvir isso. Vocês me assistiram na minha última turnê? – Os olhos voltavam a Henry a cada frase, o sorriso brincando nos lábios grossos – Eu terminei outro álbum quase, mas é segredo ainda.

– Nós fomos em alguns shows, na verdade! – Andrew confessou, falando tímido, mas empurrando as palavras num lapso de coragem forçada. – Foi um turnê curta… Digo… Curta para você.

– É… – Henry abriu um sorriso, mordendo o palito com os seus dentes. – A banda toda gosta muito de pop… Principalmente, os criativos…

Principalmente você. Ele a olhou novamente. Cada olhar, um novo sufoco. Cada olhar, um pedido mais incisivo. Henry suspirou com descrição. Quero beijá-la. Os olhos escuros desceram brevemente para os lábios cheios e irregulares, perfeitamente tortinhas. Corados e chamativos o bastante para excitá-lo apenas com o vislumbre. Ele retornou para os olhos e puxou uma mecha do longo cabelo de cobre para si, enrolando-o em seu dedo.

– Nossa, sim. – Andrew assentiu com veemência. Estava tão ansioso que não notava nada. – Eu achei tudo incrível. Eu confesso que choro sempre em ‘Pretty When You Cry’…

– Você subiria no palco, Nyra? Para… Cantar uma canção comigo… – Henry perguntou.

Andrew piscou os olhos devagar, fitando Nyra com os olhos bem apertos.

Nyra voltou sua atenção a Henry e abriu um sorriso surpreso. Os olhos desceram pelo braço tatuado, sentindo os dedos enroscarem nos fios vermelhos e sofrendo com o desejo de ter a mão em sua nuca. A respiração em seu pescoço, como foi aquele breve segundo no gazebo.

– Eu? Oh… Qual música, Henry? – Riu, curiosa – Eu decorei as letras ouvindo uma vez, mas… Não sei se consigo!

A língua do Kitsune brincou com o palito em sua boca, meneando-o enquanto filmava cada reação dela com atenção. Já não se desviava. Não conseguia. Acompanhava os seus orbes, caçando a sua atenção e desejando cada pedacinho dela… – Eu deixo você escolher… – Ele disse, puxando levemente o fio em que os seus dedos se enroscavam. – Só diz que sim… Eu canto qualquer coisa com você… Se preferir, até um cover. Eu também cantar qualquer uma das suas…

– E conseguiríamos tocar… – Andrew concordou, ainda com os olhos arregalados.

– Tentador. – Ela murmurou, tocou o próprio queixo enquanto pressionava o céu da boca com a ponta da língua. – Hmmm… – Pensava, sentindo os dedos dele brincando com fios do longo cabelo. Nyra desviou o rosto para ele e assistiu brevemente o palito dançando em sua boca – ‘Daddy Issues’? Eu amo essa música… Mas não sei se a minha voz faz jus… Talvez se eu cantar em La menor… – Ela cortou o pensamento e riu, sem desviar dele: – Eu estou com vergonha. Eu achei que não faria nada disso hoje… Minha gravadora vai me matar. Eu já estou corada?

– Da cor do seu cabelo… – Ele mordeu novamente o palito, esticando o sorriso risonho. – Ela é a… Oitava… No nosso setlist… Eu também a amo. É tão bom saber que você aprecia…

Vagarosamente, ele se curvou em direção a ela, buscando pelo seu ouvido e escondendo o seu rosto dos demais. Andrew finalmente pareceu notar alguma coisa e aceitou se distanciar indo até Ladirus que lhe oferecia M&Ms. Henry esperou pacientemente que o amigo se afastasse. Os seus olhos se fecharam e ele inspirou o perfume próximo, o natural e o floral que ela usava. O calor de sua pele próxima aos lábios que se protegiam da imprudência com o palito que ele tinha em sua boca. – Nyra… – Ele começou, sentindo o próprio coração disparar com a ansiedade e o nervosismo de falar. – … Eu… Estou muito feliz que está aqui. Eu espero conseguir fazer um show digno da sua presença, mas toda a vez que te olho, o meu coração quer sair pela boca… Eu fico… Fora de mim. – Henry suspirou, meneando o palito em sua boca. – Quando você ouvir ‘Swether Weather’, saiba que eu estarei cantando para você.

Ele se endireitou antes de ouvir uma resposta. Alguém do lado de fora deu três toques na boca por gritou “Dez minutos!”.

Os olhos dela se fecharam pelo instante que ele ficou próximo da sua pele. Perguntou-se se ele poderia ouvir seu coração disparar também. O que mais a deixava surpresa era como ele conseguia a revirar inteira, sem nem parecer tentar. Sabia que não era prudente tanta intimidade, e agradecia a censura que ele havia colocado em seus lábios ao morder o palito. Sua pele se aqueceu tanto que logo sentia sede… Que voz gostosa. Seu rosto esquentou ao sentir o sangue circular mais depressa, e provavelmente estava mais corada que um segundo atrás. Ela virou o rosto na direção dele quando ele desviou ao ser chamado, assistiu os olhos muito escuros e entreabriu seus lábios.

– Faça o melhor show de todos… – Ela sussurrou, encarando-o – Eu vou estar assistindo e sabendo quais músicas são para mim. Vou estar lá na oitava… E isso vai ser um improviso e tanto… – Abriu um sorriso: – É melhor pedir para arrumarem um microfone extra…

Henry desviou o fio de cobre dos cabelos longos e descansou as mãos sobre os joelhos, olhando-a com um sorriso selado e mordido. Ela estava tão vermelha que os seus olhos cinzentos pareciam ainda mais claros e destacados. Quero te beijar. O Kitsune piscou os olhos vagarosamente. – Nós não precisamos de um microfone extra… – Sussurrou. – Podemos cantar no mesmo. Eu não quero você muito longe de mim… – Ele se levantou.

Polaris não sabia se observava ou não, se deveria se preocupar como Drawn o fazia ou não também. Não sabia de nada. Vê-los próximos em sua conversa particular deixou o Dragão da Matéria pensativo, mas conformado igualmente. Ele inspirou e acabou rindo com o comentário de Ladirus sobre as drogas:

– Não vão te chamar de careta! As meninas aqui, por exemplo, não usam… – Ele indicou Ártemis e Leah, mas, retornou a Leah. – Bem… – Ele franziu o cenho. – Você, eu não sei… Você tem cara de que gostaria muito de fazer algumas coisas erradas na vida.

– Mas nós não usamos nada pesado! Ou… Não com frequência. É só quando dá vontade. – Andrew se defendeu, erguendo os braços.

– Não parece saudável. – Ladirus comentou, voltando-se para Ártemis e esperando por sua reação.

Ártemis escutava a conversa sobre drogas como se resolvessem falar de esgoto na hora da refeição.

– Eu não uso de jeito nenhum! – Disse como crítica – Aquela história da Leah não conseguir embarcar para a Austrália por causa de maconha é verdade. – Acusou a amiga que abriu bem a boca, indignada:

– Todas elas queriam experimentar! Eu tirei o palitinho menor e tive que carregar! Não é justo.

– Bem, eu não queria. – Arqueou as sobrancelhas – E foi uma ideia bem idiota, porque ainda ficamos presas no aeroporto e quase perdemos o show. Parece perda de tempo além de tudo.
Leah abriu um sorriso irritado e se voltou a Polaris:

– É, eu ainda sou amiga dela. – Negou – Eu usei algumas vezes ou ia ficar depressiva! Não tinha jeito de lidar com a pressão. Meu corpo inteiro doía todos os dias de ansiedade. E medo. Sei lá. Era para desligar a mente.

Ártemis inspirou e girou os olhos.

– Não é tão ruim quanto você faz parecer… É bom às vezes. Bem, falei. É o que eu acho. – Cruzou os braços na altura da cintura.

– Eu entendo a Leah. Às vezes, é bom! Maconha é natural, gente. Erva de Gaia! – Andrew riu, mordendo o sorriso. – Não faz mal.

– Faz. – Ladirus afirmou. Ele olhava para Leah como se ela houvesse feito uma confissão terrível. E estava apenas perturbando a fada.

Polaris desceu no banco em que estava sentado e caminhou até Leah, pousando as mãos fortes nos ombros da moça e apertando-os em uma massagem firme.

– Vocês estão deixando a moça brava. – Ele comentou com um sorriso cruel enquanto movia os dedos. – Você deveria experimentar, Ártemis. Quem sabe, deixa de ser chata? Eu tenho certeza que aquela Alicia vive usando. Destiny também. Elas parecem que vivem com um cigarro de maconha na cabeça.

– Destiny… É qual mesmo? – Andrew perguntou. – Alicia. Eu não lembro. Só gravei o nome de vocês duas e da Nish. Desculpem.

– Ah! Chato é você. E por acaso você usa, Acksul? Vai me dizer que se droga também? – Ela tomava o vinho no copo e os olhava cheia de acusações no olhar.

– Vou mentir se disser que não… Mas faz mais de anos que não faço isso. – Acksul respondeu com naturalidade.

Leah nem teve tempo de se incomodar, acompanhou Polaris se erguendo em toda sua altura se colocando atrás da Pooka. A Changeling levaria a cena de uma forma inocente na sua cabeça: mas percebeu que ele sempre estava atrás de Aisha, e Aisha não o deixava tão livre para ser carinhoso por aí. Quando que pensou que sentiria as fortes mãos em seus ombros estreitos? A Diamond ficou um pouco mais tensa com a massagem casual, e disfarçou com um risinho do comentário de Andy. Ártemis respondeu por ela:

– Destiny é a baixinha gordinha e a Alicia é a alta gordinha. – Disse simplesmente – Duvido que saiba quais músicas cantamos também. Bem, talvez seja melhor assim… Logo eu vou … – Ártemis se engasgou com o próprio vinho, sentiu a pressão baixar quando percebeu que ia dizer que logo cairia fora do grupo e Leah ainda estava por ali. Mas a Pooka Husky não pareceu perceber e tomou a palavra:

– Tudo bem se ele não souber nada além de ‘Worth It’. Nossa música é pop igual a um monte de coisa. Nossas vozes que são a diferença. – Leah disse ajeitando e afastando o cabelo por cima do ombro esquerdo. – E… Destiny e Alicia são boas amigas. Dessie principalmente. – Leah falou com mais carinho das duas e fitou Acksul por cima do ombro brevemente.

Acksul ainda ria da crueldade de Ártemis quando sentiu o olhar a fada em si. Era um olhar tímido, mas ainda sim, por detrás do acanhamento, havia uma firmeza incontestável que ele admirou vislumbrar. Não era a primeira vez que a notava. Uma única sobrancelha se arqueou no rosto belo do Dragão. Ele se curvou, aproximando o rosto do ouvido dela e sussurrando com uma voz mansinha como veludo. – Quer que eu pare? – Ele estreitou os olhos. – Eu precisava de uma desculpa para saciar minha vontade de te tocar.

– Mas ‘Worth It’ é ótima… – Ladirus defendeu a música. Gostava dela de verdade, apesar de ter se incomodado com os vídeos que Ártemis havia mostrado das gravações. – É dançante. Ela já faz sucesso sem o videoclipe… Imagine, quando sair…

– Eu gosto também. – Andrew assentiu com veemência, concordando. – Sempre está tocando nas baladas que eu vou.

Ártemis virou o pescoço e fitou Ladirus em silêncio por um tempo, voltou a beber e disse:

– Mas você gosta tanto que nem lembra o nome da música. Eu estou falando de ‘Worth It’, não ‘Work From Home’. – A bronca foi para Andrew também – Tudo bem, eu vou cantar tanto esses dois singles que você vai decorar na marra. – Sorriu maldosa para ele e o beijou em um selinho.

O Dragão de Água não somente arregalou os olhos como corou. Depois do beijo, ele caiu na gargalhada e escondeu o rosto no ombro da namorada, cobrando os olhos. Andrew abriu a boca e também riu:

– Em minha defesa, eu fui na do Ladi. – Andrew apontou para o Dragão, tentando não rir tanto, mas contagiado pela crise do outro músico. – PARA! – Pediu, rindo.

– Desculpa, gatinha! Eu confundi! Desculpa! – Ladirus a apertou com os braços, carinhosamente. – Desculpa!

– Andy! – Henry apareceu na porta, olhando-o. – Não vem, não?!

– Ah. Desculpa. Ótima hora para eu sair. Foi mal a gafe, Ártemis. – Ele sorriu, tímido e acenou antes de correr até a porta e sair.

Leah os escutava conversando, mas ficou paralisada com a voz de Acksul. Estava mesmo acontecendo? O corpo dela se arrepiou, mas ela também se preocupou. Primeiro com seu coração que se acelerou, a admiração que tinha por ele estava guardada a sete chaves; Polaris a visitou nos seus sonhos por um tempo depois que a mostrou o verdadeiro sonhar. Platônico. Depois, pelo compromisso dele. Ártemis era muito amiga de Aisha…

– Não quero. – Sussurrou em suspiro discreto, preocupada com a própria revelação, mas firme ao falar na sua voz rouca, fitando a parede diante de si – Mas acho que é melhor…

– Ah… Melhor para quem…? – Ele sussurrou em resposta, deixando o sorriso maldoso crescer em seus lábios cheios.

Combinação de mulher e menina que ele saboreava com os olhos curiosos. O deleite de ouvir a voz levemente rouca, soando com promessas de quem sabe que erra e não recua. Polaris se curvou e tocou o nariz ao dela, deixando o sorriso sumir aos poucos.

– Tudo bem… – Ele sussurrou e endireitou-se, realizando um último carinho aos ombros dela antes de se afastar.

– Vamos subir? – Ladirus o olhou ao vê-lo se endireitar.

– Sim. – Ele concordou. – Ei, vocês. Estamos subindo, só para avisar! – Acksul anunciou.

Rhistel apenas assentiu vagarosamente.

Não quero. – Sussurrou em suspiro discreto, preocupada com a própria revelação, mas firme ao falar na sua voz rouca, fitando a parede diante de si – Mas acho que é melhor…

– Ah… Melhor para quem…? – Ele sussurrou em resposta, deixando o sorriso maldoso crescer em seus lábios cheios.

Combinação de mulher e menina que ele saboreava com os olhos curiosos. O deleite de ouvir a voz levemente rouca, soando com promessas de quem sabe que erra e não recua. Polaris se curvou e tocou o nariz ao dela, deixando o sorriso sumir aos poucos.

– Tudo bem… – Ele sussurrou e endireitou-se, realizando um último carinho aos ombros dela antes de se afastar.

– Vamos subir? – Ladirus o olhou ao vê-lo se endireitar.

– Sim. – Ele concordou. – Ei, vocês. Estamos subindo, só para avisar! – Acksul anunciou.

Rhistel apenas assentiu vagarosamente.

Leah se ergueu e seguiu atrás de Ladirus e Ártemis para seguir pelos bastidores até o mezanino. A bela Fada se viu agitada e recuando seus olhos até ele por algumas vezes… Oh, isso parecia uma história de problema, no meio de tantas que aconteciam aquela noite e não havia percebido.

Blair encarou Rhistel, dizendo com os olhos que ele não precisava ficar se quisesse curtir o show. Estava sendo difícil falar com princesa e ela completamente monossilábica. Mas respirou um pouco mais fundo quando o camarim ficou mais vazio.

– Tudo bem. Só me deixe em casa, Blair. Ou sei lá. Eu vou dar uma volta por aí.

– Não vou te deixar, Audrey. – Blair insistiu falando baixinho, segurava uma mão dela. – Eu vou com você para casa. Nós ficamos juntas… Mesmo que não queira conversar…

– Eu não quero ser um peso agora de novo.

– Você não é…

A agonia dela era compreensiva. Rhistel conseguia traçar um perfil de si mesmo, entre outros assuntos, para a reação de reclusão e era bastante solidário. Apesar de acompanhar a movimentação curiosa entre o camarim, com novidades bombásticas e reviravoltas que ele não viu chegando. O Dragão de Gelo pousou a mão no ombro de Audrey e a acariciou:

– Ahm… Eu queria poder ajudar, mas… Eu não sei o que você precisa ouvir. Nós estamos aqui e… Você não é um peso para ninguém. Não teríamos voado até a Rússia para te trazer se você não fosse importante… – Ele dizia com a voz manhosa e calma. – Por onde anda os pensamentos da Audrey?

A expressão de choro dela se intensificou com a pergunta de Rhistel. As lágrimas inundaram os olhos castanhos e ela os apertou enquanto negava.

– Eu não sei. Eu só quero ir para casa… Tomar algo forte e dormir… Eu não quero me sentir mais assim… Eu me sinto um lixo… Eu não deveria ter vindo… – Ela respirou sufocada. – Não… Por favor… Só me levem de volta? – Esfregou o olho com o pulso. Blair se entreolhou com Rhistel e respirou profundamente:

– É melhor voltarmos. – Disse ao Dragão de Gelo.

O soco que a família lhe deu machucara a sua boca e tirava-lhe o dom da fala. O Dragão concordou com a cabeça sem pestanejar.

– Huh-hum… – Rhistel murmurou, fitando ao arredor deles por um longo instante. Era como se ela nunca houvesse estado naquele camarim. A sua energia sequer tocava o ambiente. Estava trancada. – Está bem. É melhor mesmo.

– Ok… Amanhã nós conversamos. – Blair os tocou para materializar o espaço da casa azul em seus arredores. Não havia nenhum remédio como o que Audrey queria, então buscou no estoque escondida depois de pesquisar algum nome na Internet. A maga dormiu sob o efeito do calmante, e Blair ainda devolveu o remédio para o local. Ficou pelo quarto até ter certeza que ela realmente havia dormido, e tirou suas botas para ficar na sala com Rhistel. Achando melhor que eles estivessem por perto quando Fayre despertasse e não a desse a sensação de estar sendo somente vigiada por alguém.

Preocupante. Rhistel conhecia a sensação de querer sumir, a distância e proximidade incômodas e a tristeza sem tradução ou manual. Ele conhecia o escudo da depressão. Não era à toa que as suas canções tinham o propósito de alcançar mentes que sofriam com ela. Ele se escorou no ombro de Blair e deixou os pensamentos viajarem. Tomou um susto quando sentiu Pingo de Prata próximo, deitando-se no sofá. “Está tudo certo”, ele pensou consigo, “Ainda existe um equilíbrio neste caso que eu não tenho capacidade para julgar”.




A namorada do Andrew também estavam no mezanino. Claire levou um susto quando notou Ártemis e Leah, as companheiras de Mixórdia. Não se admirou quando não foi reconhecida por elas. Claire também não as conhecia ou fazia questão de conhecer até ficarem realmente famosas. A fada estava também mais interessada em observar Nyra e Acksul (o namorado de Aisha!) que estavam próximos a si, embora o fizesse silenciosamente. Claire era muito bonita com os seus olhos e o cabelo castanho escuro peso num rabo de cavalo e a franja liberta caindo ao lado do seu rosto. Ela era um pouco maior que Ártemis e Leah, embora altura não fizesse diferença naquele instante com os saltos tão altos que todas usavam.

– Essa expectativa que show comece logo sempre mata, né… – Claire comentou com Nyra. – Eu fico assim toda a vez!

Acksul fitou a moça brevemente, pensando, e voltou a abaixar o olhar para os instrumentos musicais ainda sem dono no palco aguardado. A multidão fazia uma algazarra engraçada, pedindo pela presença dos músicos desesperadamente. Rindo, o Dragão da Matéria se voltou para Leah. Os olhos azuis buscaram pelos dela e o Dragão esboçou um sorriso selado e provocativo.

Ártemis ficou agarrada a Ladirus e nem se perguntou se já havia visto o rosto de Claire em algum lugar. Apenas a fitou algumas vezes e esperava o show se iniciar.

– Mata… – Nyra sorriu brevemente para a garota ao seu lado. Provavelmente era famosa, Namorada de um deles? Havia se perdido e não escutado a introdução. Estava muito distraída. Talvez tão ansiosa quanto os fãs lá embaixo. – Eu gosto. É meu momento preferido no show. Quando entro. Apenas estou surpresa com a casa pequena… Eles tem muito mais público que isso…

Leah escutava aquele trecho da conversa como se estivesse no clímax do assunto. Havia parado de olhar Acksul o tempo todo para que não ficasse mais óbvio.

Mas podia senti-lo, e acabava retribuindo seu olhar. Abriu um enorme sorriso fácil, até demais, e negou um pouco tímida, perguntando em silêncio: o que deu em você. Leah andou devagar até o lado dele e abaixou o olhar para o palco.

O braço do Dragão contornou, como quem nada quer, um cerco ao redor dela, apoiando a mão no parapeito do mezanino. Os olhos também se voltaram para o palco, principalmente porque o som anunciou a entrada dos garotos.

Internamente, Ladirus gostaria de ter mais animado do que se sentia. Quando viu os meninos ocupando os seus lugares e Henry entrando por último, sentiu uma dolorosa falta de Audrey. Os finais de tarde, deitados à beira da piscina, ouvindo canções que ele ouviria num show que ela com certeza gostaria de presenciar, se estivesse no clima para tal. Ladirus suspirou, acompanhando a entrada de Henry e os gritos intensos que se seguiam.

– Boa noite, Nova Iorque! – Ele disse ao microfone.

Eles abriram com ‘Prey’ e canção agiu Ladirus bem no fundo da sua alma. Something is wrong, I can’t explain. Everything changed when the birds came. Pelo momento e a leitura que o seu espírito pareceu corresponder. Ele se movia, dançando e movendo a cabeça com a música.

No palco, Henry realmente dançava. Ele não parava um único segundo, interpretando a música não somente com gestos, mas com o seu corpo e com os seus profundos olhos fixos na plateia. A sua voz canora, suave e manhosa, era um prazer imenso de ser ouvida ao vivo. Ele se aproximava dos fãs, recebia presentes e os abraçava. Os sorrisos surgiam vez o outra e Acksul o observava com uma enorme nostalgia agradável. Foi em ‘24/7’ que ele olhou para cima com um sorriso enorme e já mais solto, tornou a sua dança ainda mais sensual. Em ‘Wiped Out!’, o Kitsune literalmente rebolava enquanto tocava um pandeiro meia-lua.

Nyra acompanhou o show com a empolgação de um fã, mesmo tímida. Ela tirava fotos e fazia algumas filmagens, cantava e ria das gracinhas dele. Mas especialmente se permitiu hipnotizar por ele e sua dança e tudo o que achava sensual no Kitsune… Quando chegou na sétima música, ela desceu pelo caminho de volta, camarim e a outra portinha que dava para o palco. Ela esperou a música acabar enquanto o espiava de trás das caixas de som que separavam-na do público que gritava. Nyra apagou seu cigarro no chão e esperou ele terminar a canção para ser chamada para o palco. Ela cobria o riso tentando se acalmar, mordia o lábio, estava ansiosa.

– Por que a Nyra desceu? – Ártemis perguntou minutos depois enquanto ela não retornava. Seu olhar passou brevemente por Leah e Acksul, e os olhos da Fada se arregalaram em exclamação, e retornou os olhos para Ladirus para confirmar se ele estava vendo o que ela estava vendo. Leah curtindo o show bem perto do Dragão da Matéria, ela ria e comentava algo da canção, familiar ao braço de Acksul que a envolvia.

Distraído e entretido, Ladirus se voltou para Ártemis quando notou o seu olhar e beijou os lábios da fada, tocando o seu rosto carinhosamente. Um sorriso animado pincelou o seu rosto e ele retornou o olhar para o palco.

– Acalmem-se, acalmem-se… – Henry pediu, respirando profundamente. – Ah… Eu vou chamar uma pessoa muito especial para mim para cantar uma canção e, por favor, não se matem. – Henry riu quando os gritos aumentaram.

Os garotos da banda, com exceção de Andrew, fitaram Henry com nítida dúvida.

– Por favor, Nyra…

Os seguranças se posicionaram no mesmo instante que a plateia se espremeu para frente, gritando de uma forma assustadoramente insana.

– O quê?! – Friddie levou as mãos aos cabelos cacheados, soltando o contrabaixo em seu ombro.

A vibração de toda a plateia se espremendo para frente foi quase ignorada por aqueles que estavam mais preocupados em erguer suas câmeras ou perguntar: ele disse Nyra?

A Theurge entrou com um enorme sorriso, e tímida, acenou para o restante da banda, e para as pessoas que gritavam sem parar na plateia. Os olhos dela retornaram para Henry e ela se posicionou perto para dizer no microfone ao aproximar os lábios:

– Boa noite, crianças, como estão?

Afastou-se e continuou o olhando.

Gritos! Freddie, Denis e Brandon deixaram os seus instrumentos e foram abraçá-la. A cada abraço, a plateia ficava mais enlouquecida. Henry sorria quando os olhares chocados dos membros da banda a batia palmas, animado.

– Ei! Cuidam para não se machucarem! – Henry avisou ao ver os fãs estendendo os braços para frente como se pudessem tocar a deusa ruiva ao seu lado. – Quem tem problemas com o papai aqui?

Henry fechou os olhos com força, rindo. Os seguranças tentavam controlar a situação, mas estava impossível. O Kitsune se posicionou mais perto dela e, pela primeira vez naquele concerto, os seus olhos não estavam na plateia enquanto cantava e dançava:

– Take you like a drug… – Ele curvou o suporte do microfone para perto dela, aproximando o seu rosto do de Nyra e ouvindo a plateia ainda mais eufórica. – I taste you on my tongue…

Nyra assistia-o cantar de pertinho e abria seus sorrisos que iam e vinham, entre sua timidez eterna em subir no palco. Aproximou um pouco mais seu corpo e cantou com os lábios perto demais do microfone:

You ask me what I’m thinking about… – A voz soou em suas notas agudas e suaves – I tell you that I’m thinking about… Whatever you’re thinking about. – Seus olhos se fecharam, experimentando as próprias notas – Tell me something that I’ll forget and you might have to tell me again. It’s crazy what you do for a friend… – Ela se afastou do microfone com um novo sorriso selado e se deu espaço para observá-lo.

A desculpa de que qualquer pessoa naquele recinto estaria entregue aos encantados de Nyra Blackwood tornava os olhares de Henry, intensamente cobiçosos, justificáveis. Ele a observava com um calor que corava o seu rosto e lábios entreabertos de uma boca seca por um beijo…

– Go ahead and cry, little girl… – Os dedos tatuados deslizaram pelo rosto dela de toscas, suavemente, insinuando uma lágrima que escorria. – Nobody does it like you do. I know how much it matters to you… I know that you got daddy issues… – As mãos dele se agarraram ao suporte e ele cantou enquanto movia lentamente o corpo em uma dança de vai e vem… – And if you were my little girl… I’d do whatever I could do… I’d run away and hide with you… I love that you got daddy issues… And I do too…

Subitamente, ele largou o suporte, aproximou-se dela. A plateia se inflamava com qualquer movimento deles. Henry sentia a energia, a admiração, o desejo. Havia um fluxo quente de sentimentos e pensamentos. O seu coração não se amansava. Acelerava. Assim que os seus braços a envolveram pela cintura, trazendo-a para si e encostando o seu rosto lado a lado com ela, ele achou que talvez não pudesse ouvir a sua voz perante aos gritos enlouquecidos. Henry fechou os olhos e as suas mãos, ousadas, deslizaram pelo abdome liso da Garou enquanto cantava…

– I tried to write your name in the rain… But the rain never came… So I made with the sun… The shade always comes at the worst times

Nyra mordeu o lábio quando abraçada e piscou um olho para os fãs. Eles gritavam mais alto, mas a Garou conseguia se trancar na sua mente e desejar o que não se deveria. Essa música foi feita para mim? Gaia… A voz em seu ouvido, ecoada pelas caixas de som. Nyra não tinha um retorno de ouvido e desejou que sua voz estivesse boa igual a dele. O show ficaria nas câmeras. Ela se virou de lado para ele e enroscou seus dedos no microfone, trazendo-o para si e cantando o trecho novamente, emendando ao refrão que ela mudou:

Go ahead and cry, little boy… Nobody does it like you do. – Ela estava de frente para ele, a mão em seu peito tatuado, forçando-o caminhar alguns passos para trás e os seus olhos fixos nele. Parou de afasta-lo e colocou seu corpo de frente, sorrindo ao cantar: – I know how much it matters to you… I know that you got daddy issues… And if you were my little boy… I’d do whatever I could do… I’d run away and hide with you. I love that you got daddy issues. – Sua mão desceu pelo braço dele e ela devolveu o microfone antes de terminar, brincando ao sair um pouco do ritmo da canção e falar e pressionar seus lábios os desenhando: – I do too.

O sorriso de Henry se abriu largamente quando a música terminou. Os gritos e aplausos enlouquecidos foram a trilha do seu abraço quando ele se aproximou dela, agarrando-a fortemente e carinhosamente com o sorriso que não sumia. Henry beijou no rosto ao segurá-lo com doçura, afastando-se e olhando-a em seus doces olhos de tempestades. Quero beijá-la. O seu coração voltou a bater de emoção além do que conseguia aturar calmo. Você é perfeita. Olhava-a. Ele suspirou e avançou antes de pensar.

Ele sabia que se profundar como o seu corpo quente implorava seria muito além do aceitável, mas necessitava do beijo dela. Henry pousou os seus lábios aos dela num selinho que se demorou a terminar, sentindo o calor e o tremor da excitação se elevar.  Ao que se afastou e olhou para a plateia, Henry sorriu com os gritos malucos! Ele se aproximou do microfone e disse:

– Ah! Eu sou um fã! Também mereço um selinho! – Ele riu, sorrindo.

Os olhos dele falavam e o dela respondia: você é perfeito. Deitou seu rosto na mão que segurava seu rosto e fechou os olhos com o selinho. Abriu-os surpresa, seu sorriso surgiu pela timidez, e ela riu para se acalmar com a justificativa. Seu corpo esquentou e ela lutou contra a Fúria. Seus lábios continuaram queimando mesmo quando o clima foi quebrado. Ela fitou a multidão um pouco perdida, ainda sorrindo, e se despediu de todos com aceno e abandonando o palco com os gritos e súplicas da audiência. Ela respirou fundo no bastidor, a equipe a olhava, e ela sorriu sem jeito para todos, fugiu para o camarim onde ficou um tempo sozinha com seus pensamentos. Achou melhor terminar de ouvir o show dali, onde podia fechar os olhos e se entregar para sua imaginação. Nyra deitou ao sofá e ficou revivendo aquilo na sua mente junto da trilha sonora… “Take you like a drug… I taste you on my tongue…”

Gostaria de estar indiferente, mas não estava. Acksul havia sentiu o coração disparado o tempo que durou a canção e quase perdeu o fôlego quando assistiu ao beijo. Os olhos do Dragão se fecharam e ele vislumbrou de suas memórias diversos outros beijos apaixonados, mas de Henry e Elara. O Dragão da Matéria meneou a cabeça discretamente e um sorriso de escanteio surgiu em seus lábios cheios. Nyra deixou o palco, mas os fãs da Avenue não a deixaram. Gritavam o seu nome e gritavam, o quê? “Nayry”? O Kitsune riu por um momento, apoiando-se no suporte do microfone, antes da banda se recompor e prosseguir para a próxima música…

– Essa música… – Henry disse ao microfone. – É para ela. Eu quero que vocês cantem bem alto agora…

‘Fawless’… Não era a primeira vez que Acksul ouvia a canção. Ele abaixou a cabeça e passou a encarar os longos cabelos de Leah. Um dos fios, presos à roupa, fazia longas que ele passou a contornar com o dedo, seguindo uma trilha de curvas pelo ombro curto da fada. Poderia sentir o calor do corpo dela por seus dedos, assim como as suas emoções. ProibidoNoite de sensações proibidas. – Linhas tortas, não é… Esses caminhos… – Ele sussurrou. – Terríveis e tentadoras linhas que não saem da minha cabeça desde que te vi brilhando… Como… De alguma forma, eu fizesse parte do que vi…

A voz soou exclusiva no seu ouvido mesmo com todo o barulho. Leah ergueu o olhar até ele e tocou o perfil do próprio rosto. Isso era muito errado…

– Você faz parte. – Ela concordou – Você deu uma parte de você para nós… E a minha com certeza foi um pouco maior. Você salvou minha essência e eu sonhei com você por semanas. – Sentiu seu olhar se perder nele, mas se policiou um pouco ao retornar ao palco. Fechou seus olhos um instante, e riu sem jeito, tímida. Não sabia lidar com o errado… Ainda que fosse algo bom. – Mas eu não devo pensar em você.

Uma sobrancelha do Dragão se ergueu quando ela fez a declaração. Um sorriso largo e terrível desenhou em seus lábios cheios e ele se curvou. – Por que? – Perguntou, olhando-a de perto. – Eu poderia jurar que você está com a mesma vontade que eu…

Os olhos azuis cristais correram pelo rosto dele até aquele sorriso maldoso. Leah riu e encostou seus ombros no braço que a cercava, ficando quase de frente para o Dragão da Matéria. – Não percebeu errado… Eu estou com essa vontade. E nem sei dizer se é de agora só. Mas… Até onde eu sei, as revistas dizem que você tem alguém. Ou eu estou atrasada? – Mordeu o canto do próprio lábio, parecendo pensar se um beijo seria tanto problema quanto prometia.

Ele a acompanhou se virando. Se pensasse demais, teve certeza que poderia se intimidar, pois ela não o fazia. Era uma fada mirando um Dragão com uma segurança excitante. Ele mordeu o lábio, selando o sorriso enquanto a ouvia. Vagarosamente, ele assentiu com os olhos fechados. – É um assunto que resolverei assim que retornar. – Ele franziu o cenho. – Bem. Deveras… É uma posição nobre a sua. Nós podemos separar para saciar vontades assim que eu te falar que resolvi esse detalhe… Ou você pode acreditar agora que eu vou resolver…

Houve uma leve surpresa da disposição dele. A mente considerou assuntos em silêncio, e depois sabia que algo com certeza não iria bem. Poderia acreditar em alguém com um sorriso tão cruel quanto o dele? Faria-a sofrer! Se fosse mentira… Ela ergueu o rosto pensando, sua mão se agarrou à grade do mezanino e ela dedilhou o metal. Ele sabia o que era ser uma pessoa de mídia, e não pouca… Ponderou. Leah por fim sorriu e optou dar a credibilidade a ele, tocou-o no rosto e se afastou do parapeito, um pouco mais para dentro, e o beijou experimentando primeiro um selinho dos lábios desenhados do Dragão.

Alívio. O primeiro sentimento que antecedeu ao beijo que recebeu. Alívio de ter a certeza que estava deixando uma situação que não queria mais para si no plano do passado. Alívio em sequencia de um desejo tenro. O clímax da música nova, ‘Flowers’, e os fãs eufóricos gritando por alguma coisa que Henry estava fazendo e a voz suave, cheia de propostas, contribuía em seus calores, mas não tanto quanto era vontade de experimentar o beijo de Leah.

Sua beleza? Essência? A firmeza em seu olhar? Acksul retribuiu o selinho com a mesma paciência que ela ministrou em si. O braço deixou o parapeito para se encontrar que gostaria de estar, envolvendo-a pela cintura. Lábios se deslizaram pelos dela, também cheios, por saliva quente, sorvendo do toque que antecedeu a um beijo profundamente vagaroso.

Nem a performance sensual de Henry, deitado no chão, cantando próximo aos fãs, fez Ladirus alheio ao que acontecia ao seu lado. Ele fitou Claire que, sem olhá-los, filmava o show inteiro e transmitia de sua conta para ganhar mais seguidores. “Que coisa, gatinha…”, ele disse na mente de Ártemis. “Eu achava que a Leah tinha um caso com o Cassian…”.

Ártemis era muito menos discreta que Ladirus e observou o casal como se nada mais interessante acontecesse. “Eu não acredito! É uma cachorra mesmo! E ele também! Olha isso, Ladi! Na minha frente ainda! Eu! Amiga da Aisha!” Disse inconformada “A sorte que eu não sou fofoqueira igual ela. Porque eu já deveria estar avisando!” Franzia a testa. “Ela disse que o Cassian era muito menino… Achava-o fofo, mas não sentia tudo o que gostaria. Não se engane com aquela carinha de ideais de boa moça. Leah é muito safada. Desde quando era pipoqueira e agora eu estou confirmando.” Ártemis assistia aquele beijo longo e sensual, ao vivo, pensando o que havia perdido naquela história.

“Bom, o Acksul é bem velho… E experiente…”, Ladirus comentou, retornando o olhar para o palco, mas não conseguiu por muito tempo. “Não sei se a Leah é safada, mas o beijo está bem safado. Essa música, Void, também é ousada, né…”. E era um casal simplesmente estonteante, Ladirus admitia. Era como se tudo entre eles estivesse perfeitamente harmonioso. O irmão mais velho estava praticamente deitando Leah no parapeito do mezanino, mordiscando-a pelo queixo e retornando para os lábios. “Eu acho que deu alguma coisa com a Aisha. Ela não te enviou mensagens? Ele chegou bem triste na casa da Blair, eu senti…”, Ladirus a tocou na cintura. “Você deveria me beijar ao invés de se importar com isso agora, gatinha…”.

Leah se entregava ao beijo sem as barreiras iniciais que havia proposto. E não parecia mais pensar nisso, ela entregava sorrisos curtos entre os longos beijos, se deixou encostar no parapeito, agarrando-o pelos ombros e enrubescendo seu rosto quente.

Ártemis continuava observando a cena sensual, e desviou o olhar de volta para Ladirus. Ela sorriu para o convite, admirando-o por um minuto todo antes de beijá-lo devagar.

O show acabava…

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