Your Baby, She’s Mine

Categorias:Romance
Wyrm

Your Baby, She’s Mine


Ausência de sonhos, como véus opacos sobre a natureza colorida. Jullian observava o semblante de Drawn enquanto caminhava, mirando-o de soslaio. Perguntas existiam, mas sinceramente o Lendário não sabia se gostaria de ter todas as respostas esclarecidas. Necessitava que o assunto se desenvolvesse, mas queria toda a verdade? Ela estava ao lado do seu ouvido, acompanhada por seus olhos de oceano em uma vertente que Jullian se esquivava para não assumir a problemática maior. Ele umedeceu os lábios, adentrando a casa arejava e fresca. Pingo-de-Prata estava deitado no sofá e Dogo adormecido na poltrona ao lado. A conversa fresca que ficara do lado de fora se repetia em sua mente que buscava por detalhes que não havia dado devida atenção.

Preferiu não ficar no andar inferior. Subiu as escadas até o seu quarto e deixou a porta aberta quando entrou. Drawn se sentou à cadeira da mesa do pequeno escritório que havia em seu dormitório e se sentou quase se largando. O mago afrouxou dois botões da camisa folgada e listrada, usava-a em conjunto de um jeans escuro, e respirou por um instante.
– Eu… Peço desculpas… – Ele começou, esfregou seu rosto para evitar transpassar emoções que transbordavam em tristeza no seu peito. – Essas histórias… Eu não sei se consigo lidar mais com tudo isso… Eu achei que poderia ajudar mais… Não imaginava que vocês se envolveriam nesse passado de erros. Mas… – Ele fitou a luz que atravessava as árvores e tocava o chão do imenso quarto – Parece que é algo inevitável. Sempre foi.

Silencioso e elegante, Jullian se aproximou da mesa e sentou-se de frente para Drawn. A mão pálida pousou sobre a mesa e ele passou a encarar os próprios dedos que tamborilavam sem ritmo enquanto o ouvia. Os oceanos preocupados se voltaram para o professor e a mão quente do Garou se deslizou pela mesa até encontrar a dele. – Desculpas não são necessárias. – Jullian sussurrou com a voz amaciada. – Eu confio em seu julgamento com tudo o que o meu coração que é capaz de sentir. Eu não quero que se esforce ou se machuque, mas infelizmente, eu preciso saber o motivo da sua resistência com o Sr. Chang… – Ele fez uma pausa. – Até porque, eu… Sinto que Nyra está muito… – O Philodox fez uma pausa, entreabrindo os lábios. – … Eu arriscaria dizer: atraída… Embora não tenha me confidenciado ainda.

Drawn observou o toque em sua mão e sorriu brevemente. Jullian representava muitas coisas na vida do Mago e boas, receber o carinho dele era significativo o suficiente para ele sorrir brevemente, mesmo no turbilhão que foi crescendo… Nyra atraída por Henry parecia uma história se repetindo cruelmente. Joshua ergueu os olhos até Jullian, surpreso e respirou fundo.

– Não… – Ele negou lentamente – Isso não é bom. É justo eu falar sobre o meu receio… É uma história que me traz muita dor… Mas você precisa saber o porque… Não é só uma mágoa. – Ele encostou-se a cadeira e tentou relaxar os ombros, piscou os olhos devagar e tentou acalmar-se para retomar o passado. – Eu nunca disse… Mas talvez Acksul ou Nina tenham contado, eu imagino… Por um tempo eu e Elara ficamos juntos… – Disse paciente – Éramos muito ligados. Antes dela decidir que criaria o equilíbrio no mundo. Henry surgiu meses depois e aflorou as ideias mais insanas nela… Eu não a reconhecia muito depois… Embora eu ainda a amasse e tentasse mostrar prudência e não conseguisse deixar de ajudá-la. – Ele explicava devagar, como se precisasse do próprio tempo para processar – Elara conhecia pessoas, se envolvia, acrescentava suas ideias, doava o próprio sangue e mudava suas ideias de novo. Os Dragões não eram assim de início. Eram seres espirituais, não humanos, no papel. Mas acho que as emoções dela acabaram atrapalhando seus planos originais… E de entidades que ajudariam o mundo, se tornaram falhos e tão humanos quanto poderiam… Eu nem preciso explicar como isso trouxe muita dor… Eram humanos sem uma origem, sem um chão, cheios de personalidades que se construíram rapidamente. Elara sofreu muito com Acksul. Eu duvido que ele se lembre do tamanho do trabalho que nos deu logo de início. Desculpe, eu estou divagando… – Ele negou – A verdade é que… Todas as inconsequências de Henry trouxeram uma parte muito obscura da Elara, e ele estava sempre lá, sussurrando suas ideias… – Ele respirou fundo – O suicídio dela… Foi orientado por ele, guiado por ele… Ela estava no limite da luta… E não ia deixar suas criações… – Drawn fechou os olhos quando sentiu as lágrimas virem – Ela se perdeu… Henry estava lá com a ambição semelhante a dela… Mas foi ela quem precisou morrer. – Abriu os olhos devagar– Isso ainda não se acalma em mim…

Mal conseguia piscar a medida que ouvia o relato de Drawn. Jullian se curvou sobre a mesa e apoiou o rosto na mão, franzindo o cenho. A história de Elara Blackwood já lhe soava densa para si desde que soube que a Lendária era uma Ronin e os seus feitos, que imaginava serem inúmeros, eram todos desconsiderados pela Sociedade Garou. Com muita dificuldade, Jullian havia encontrado o depoimento do Lobo-Fantasma crescendo a missão deles para caçar um Zmei…

As emoções de Drawn tocaram o seu coração frio. Ouvia-o sabendo que uma história possuía dois lados sempre, mas se sensibilizava por aquela dor nas palavras. O Lendário apertou os lábios e muitas imagens propostas vieram em sua mente. A decisão de transformar espírito e carne. Soava-lhe uma sede tão grande de poder. Desesperada.

E lembrou-se de Elizabeth e seu nascimento sangrento, de gritos e gemidos. O seu olhar se tornou distante por um momento, antes de retornar aos oceanos entristecidos de Drawn. Jullian o acariciou na mão e disse com a mesma suavidade anterior:

– Cada detalhe que me surge sobre o passado, eu sinto que ele desce mais andares e que não existe um fim para a complexidade dele. – Sussurrou. – Eu sinto muito, Joshua. Eu não consigo me colocar em seu lugar, pois nunca perdi ninguém assim. É uma pena que alguém como você tenha passado por tamanho trauma… – Ele fez uma pausa e inspirou com profundidade. – Henry se tornou mais complexo agora… Para que eu possa definir o que eu acho sobre ele. É estranho dizer que eu sinto como se já soubesse de tudo isso? Talvez uma memória de Rhistel… – Jullian arqueou uma sobrancelha. – Perdoe-me fazê-lo relembrar tudo isso, professor… Preocupa-me pensar, porque me soa exatamente algo que Nyra faria. Parece-me que o erro todo começou com “vamos criar vida”…

Drawn negava sobre as desculpas; os olhos retornaram aos claros como os seus de Jullian, e sabia que ele conhecia aquela dor, talvez de uma forma até pior, e era uma das coisas mais doloridas que poderiam marcar a vida de uma pessoa.

– Ela não aguentaria a ideia de perdê-los… Então… Ainda… Se eu estivesse lá, eu não deixo de pensar que poderia ter feito algo…  – Apoiou o rosto na mão e negou lentamente  – Mas não havia nada que eu dissesse que convencesse Elara a parar… Ninguém poderia, eu não sei. Acho que nunca vou saber. Eu não confio em Henry… Ele sumiu depois de tudo… Tivemos poucos encontros não amigáveis. Eu não deveria guardar tanto rancor, mas eu me apego à tudo que sei quando o assunto é ele…  – Respirou fundo  – Eu não conheço Nyra há muito tempo, na prática, mas ela é exatamente como Elara em tantas formas… Que para nós que a conhecemos, é quase como se ela estivesse aqui. A paixão, esse jeito incondicional, as ideias fora da caixa parecem tão normais quando ela fala… Me assusta a ideia de que Henry possa ser a mesma sombra na sua vida… Me entende? Além do mais, ele pode estar confundindo as coisas. Ainda que sejam muito parecidas, não são as mesma pessoa. Nyra tem posturas que Elara nunca teria, ainda são diferentes. Outra vida, outra época, a mesma essência, mas outra pessoa…   –  Franziu a testa, menos leve quando falava  o nome do Kitsune  –  Eu não o queria perto de nenhum de vocês, mas especialmente dela… Eu não sei o quanto Elara está nela… Mas é precoce envolvê-la em algo que não é dela. Eu não sei… Eu receio por ela. Desculpe preocupá-lo, eu não faria isso se não tivesse certeza que isso será um problema, Jullian…

Elara devia ser muito incrivelmente interessante para marcar tantas pessoas dessa forma. Rancor era um sentimento que não assistia o professor alimentando. A mudança de Elara com a aproximação de Henry soava como um divisor de águas. O que alguém com ideias visionárias e inconsequentes poderia fazer com a sua pequena estrela? Jullian voltou os olhos janela afora, franzindo o cenho. Por mais que eu tente, não consigo me preocupar como deveria com Henry Chang. Estava sendo imparcial, visando o fato do Kitsune oferecer ajuda a Rhistel? O Philodox retornou a Drawn com um olhar menos seguro do que de início:

– Dizem que a Mariposa de Esmeralda veio das Cortes Bestiais da Mãe Esmeralda. Imagino que foi Chang que a trouxe para Elara. – O Philodox estalou a língua. – Eu tenho certeza que o Sr. Chang está confundindo as coisas, Joshua. Já notei como ele a olha… O detalhe… – Jullian franziu o cenho. – … É que ele não olha sozinho. – Ele fez uma pausa. – Eu estou em uma situação entre a cruz e espada nesse momento…

Joshua confirmou assentindo brevemente sobre a história da Mariposa.

– Elara trouxe essa energia de outro mundo, e ele conseguiu parte do recipiente. Que ainda não era grande o suficiente e ela dividiu…

Inspirou e apertou os olhos. A imagem ainda descia devagar. Não acreditava que o Kitsune teria a ousadia, depois da chance que o deu de ficar entre eles. Saia muito do combinado.

– Gaia. Parece que não se tira nenhuma ideia dela, não é? Eu realmente gostaria que ele ficasse longe… Talvez eu possa dar algum aviso. Eu não sei. – Negava relutante – Eu não gosto das ideias dele. Ela pelo menos deveria estar ciente e tomar cuidado, converse com ela… Porque… Ela se influencia com qualquer pensamento, com a continuidade das ideias da Elara… Eu não sei onde vai parar… Eu não sei o que passa na cabeça dele…

– Parece? Joshua… Minha estrela é movida pelas suas paixões. Apaixonei-me por ela justamente por esta qualidade. Nós não nos julgamos… E funcionamos perfeitamente dessa forma. Confesso que eu não estaria… Cismado… Se você não estivesse me levantando todas essas questões. Deixo-a livre… Amo-a livre… – O Lendário cruzou os dois braços sobre a mesa, observando a madeira com os olhos levemente arregalados. – Eu penso em falar com ela e tudo o que me vem em mente para dizer só a deixaria mais curiosa. Penso que, independente do que alguém diga, tudo seguira um curso… Que pode dar em algo ou não dar em nada. Nyra se tornou mais prudente nos últimos meses, dada a posição que precisou assumir, mas… – Philodox retornou o olhar para o professor. – Fazia muito tempo que eu não a via dessa forma. – Franziu o cenho. – Não vi com Remi… E com Nathan e Annie, o desejo chegou muito antes do amor…

Estava preocupado e não escondia. Os olhos acompanhavam as poucas expressões de Jullian e no final ele apenas assentia.

– Eu… Consigo entender… Era assim que Elara agia. Eu não tinha a mesma compreensão que vocês tem um ao outro… Época diferente… Aprendi da pior forma. – Ele sorriu de canto, entristecido – Mas eu também sei que a garota é única. Você acha mesmo que ela está interessada a esse nível? Faz pouco tempo que Chang surgiu por aí… Bem… Talvez seja tudo isso. – Comcluiu sozinho – E eu sei que não posso fazer nada sobre isso. Nyra não tem nada a ver com o que eu sinto do Kitsune… Ele pode não ser a mesma pessoa… Eu não sou mais. Ainda… Era uma tranquilidade para a minha alma saber que de alguma forma Elara encontrou paz por aqui… De alguma forma perto das coisas que ela ama. Ainda que seja extremamente conturbado. Era como ela iria querer. – Desabafava – E eu achei que ela tinha… Mas com Henry por aí, é como se a vida me dissesse alguma coisa e eu não estou entendendo mais nada. – Ele fitou Jullian e negou sem jeito – Acho que não estou fazendo mais sentido… Só… Eu queria muito estar errado sobre tudo o que penso de Henry…

Queria poder fazer sumir a agonia que ele demonstrava sentir. Jullian o observava e, apesar as expressões rasas, estava distante de estar alheio ao que ele sentia. Os olhos azuis seguiam os dele, atentos. Quando Joshua se distanciou da conversa e mergulhou o seu desabafo em si mesmo, o Lendário passou a compreender melhor o centro de toda a dor que ele estava sentindo.

Se havia um momento em que pudesse agradecer à sua natureza, poderia dizer que aquele foi um dos mais importantes. A face neutra expressava muito pouco o que a mente explodia por. O relato focado na preocupação da possível relação de Nyra e Henry deixou Jullian perdido por um instante. Com todos os Dragões da ilha, por que Nyra seria a preocupação maior? Ele chamou Nyra de Elara e não percebeu. Jullian umedeceu os lábios e se sentiu com a mente amortecida por um instante, tonteando-o como se houvesse usado alguma das drogas que a sua pequena estrela.

– Ele também retornou atraído pelos Dragões. Notei que se importa muito com eles, aparentemente. Rhistel fica muito empolgado perto dele… – Jullian disse, com certeza, pois também sentia a empolgação do Dragão e, naquele momento, só queria distanciar o assunto de Nyra… – Ele não se lembra de tudo. Acksul é o que mais se lembra. Ele… – E Nina… – Enfim… Klaus e Henry eram próximos, correto…

Drawn o escutou distante no seu pensamento, e a pergunta o fez retornar para o chão.

– Klaus… Sim… Eles eram. Da Scarlett também. Scarlett era a irmã deles e… Tinha o mesmo Avatar que está no corpo de Blair. Ela foi uma das grandes percursoras, ou… Enfim… – Negou brevemente, a respiração tinha um profundo pesar. – Eu era mais afastado. Eu tinha muito contato com os Blackwoods na época… Elara os odiava com todas as forças. Eu estava no meio do caminho, tentando ser a razão. – Cruzou os braços – Scarlett morreu logo após Polaris Rhistel nascer. Ajudou muito, mas não teve contato. Ela foi o ponte para muitas coisas. Klaus era incentivador. Não se jogava tanto quanto os três, mas estava presente… Atento. Dava-se bem com Henry… Ao que eu escutava… Depois que Elara morreu, nem tanto… Deus. – Cobriu o rosto e o esfregou um segundo. – Desculpe, Jullian. Eu acho que preciso me afastar um pouco… Talvez eu devesse ficar pelo Castelo um tempo. Acho que não estou tão bem quanto achei que ficaria…

Drawn não conseguia deixar de citar Elara. Nesse ponto, Jullian conseguia imaginar a amplitude do sentimento que ele carregava. E era imenso. Imenso o suficiente para deixar o Lendário desconfortável com a ideia. Gaia, isso não é nada justo comigo. Não seria ignorante de culpar o seu amado professor, mas a coincidência não podia ser mais cruel consigo e com ele…

– Não se desculpe, Joshua. São histórias cheias de dramas dolorosos. Eu entendo. Eu mesmo me vejo perdido entre eles. Eu… Compreendo… Ou estou tentando. – Jullian passou a mão pelos cabelos. – Imagino que esteja desesperado por um pouco de paz no momento. Eu vou pedir para Aisha requisitar um quarto especialmente para você…

Jullian só saiu da Casa de Madeira quando acertou tudo o que podia com Aisha, enfatizando diversas vezes a importância de Drawn estar muito confortável e frisou também para que o quarto não tivesse vista para o vilarejo.

Passos lentos, comandados por uma mente distante. O Lendário deixou a casa com a sensação que havia esquecido alguma coisa lá dentro. A sua paz, talvez. O Sol manhã feriu os seus olhos abertos por muito tempo. O ato natural de piscar os olhos se interrompeu boa parte do tempo em que conversou com Joshua Drawn. Ele viu Annik e Nathan conversando à beira da piscina, esperando por ele, mas não quis interrompê-los e muito menos cortar o fluxo de raciocínio em que estava. Em suas patas de lobo, o Garou correu pela Tellurian até o vilarejo.

A corrida não o livrou do tormento, muito menos da agonia que estava sentindo. Chegar naquela área sempre o fazia se sentir um devido Presa de Prata, mas não conseguiu nem mesmo se deter aos olhares de surpresa e sussurros entre os presentes. Rei e rockstar. A distância com a população do vilarejo era gritante…

Ele observou brevemente ao redor e seguiu direção para a casa das Dançarinas. Jullian tocou a campainha e afastou-se, cruzando os braços. Ao que Lara abriu a porta, alarmou-se:

– Majestade! – Exclamou, franzindo o cenho.

– Lara. Eu fico feliz em te ver. – Jullian se aproximou para sussurrar. – Está ocupada?

Lara não escondeu a desconfiança sobre o “feliz em te ver”…

– Para o senhor, não.

– Drawn está de mudança. Ele ficará na Casa de Madeira. Você poderia ajudá-lo? Ele me disse que faria tudo num passe de mágica, mas… Eu creio que ele apreciaria uma companhia… Como a sua. Eu acabei não insistindo… Estou com dores fortes de cabeça… Só… Enfim…

Ela assentiu vagarosamente. Falando demais. Corado demais. Prontamente, saiu e encostou a porta:

– Claro, majestade. Eu vou agora mesmo.

– Antes… – Jullian ofegou. – Onde está Arabella?

– Bella está na padaria…

– Padaria…? – Jullian negou com a cabeça. – Esqueço-me que temos uma pandaria aqui…

– Ótima, por sinal. Sei que Nathan adora os nossos croissants. – Lara sorriu seladamente para ele. – Está tudo bem, majestade?

– Sim. – Jullian assentiu, franzindo o cenho. – Eu só preciso falar com ela. Obrigado, Lara. – Ele tentou esticar um sorriso, mas não conseguiu. Deixou-a e seguiu em direção à padaria praticamente correndo…

– Você tem certeza que eles caíram nessa? – Arabella perguntou a Veronica no escritório.

– Você vai confiar no que estou dizendo ou não? – A morena falava, já um pouco alta da meia garrafa de vodka que ela bebia enquanto falava. Arabella odiava aquele jeito despojado da Galliard, mas nunca teve razões para desconfiar da eficiência de Nikki, que até fazia tudo bem demais.

– Ok. – Arabella riscou o item da lista com a caneta. – Próximo passo.

– É comigo. – Judith levantou a mão e a abaixou brevemente. – Eu vou…

– Athos está bem? – Veronica interrompeu, e recebeu um olhar tão gelado da Ahroun que perdeu o sorriso e deu as costas para sair sem dizer mais nada. Ao encontrar Jullian no caminho, a morena se surpreendeu, mas deu dois tapinhas no ombros dele ao seguir para fora. Judy viu a cena e mordeu o sorriso.

– Olá, Jullian. Você por aqui! – A loira disse.

Arabella abriu mais a porta e o fitou sem entender. Ela já interpretava a presença dele com outros olhos: problemas e problemas.

– Tudo bem…? – Arabella arqueou as sobrancelhas.

Ele teria estranhado a intimidade de Veronica, mas estava muito focado nos próprios assuntos para se deter ao simples detalhe. Olhou-a e até dispôs de um breve sorriso. O Lendário ignorou a atenção que chamou e sentiu-se à mesa. O ambiente era muito bonito e claro. As mesas eram confortáveis e a cadeira macia. Ele também dispôs de um sorriso para Judith – mas este, até sincero. Era impossível não se cativar pelo sorriso de menina que ela possuía:

– Sim… Tudo bem… – Jullian cruzou os braços sobre a mesa e ergueu os olhos quando uma garçonete se aproximou.

– Bom dia… – Ela entregou um cardápio ao Garou. – Nós temos o café da manhã britânico completo!

– Bom dia. – Jullian riu sem graça e folheou brevemente o cardápio. – Um suco de maracujá, por favor… – Ele devolveu o cardápio. – Obrigado.

O Philodox esperou que ela se afastasse para se voltar para as duas lobas:

– Eu só quero fazer algumas perguntas. – Jullian pousou as mãos sobre os joelhos.

– Ok… – Arabella estranhou toda a calma e a forma que ele estava se comportando. Suco de maracujá. Claramente nenhuma delas havia comido ainda, no canto da loja de pães, falavam de assuntos pertinentes a cuidados do vilarejo e arredores. Havia uma lista que Arabella riscava e estava quase completa. Deu meia volta na mesa e se sentou ao seu lugar, ainda fitando o Philodox. – Perguntas? Ainda estou curiosa.

– Oba. – Judith abriu mais seu sorriso. – Quer dizer… Espero que não seja problemas. Aliás! Obrigada por deixarem Athos seguro… – Lembrou-se – Keith disse que o trará assim que as coisas se acalmarem pelo Reino da Pérola. Athos está ansioso para vir… Bem… Vou agradecer melhor quando souber como.

Quando sentiu a curiosidade delas, Jullian se sentiu repentinamente tímido. Já estou aqui mesmo. Ele se virou para Judith, olhando-a mas abaixando molhar para mesa ao comentar:

– Tudo bem. Espero que ele se adapta aqui. Com relação à retribuições, eu confio na sua criatividade, Judith… – Ele brincou. Não era bom humor. Era agitação. – Bem… – Ao apoiar o cotovelo na mesa, ele descansou o rosto na mão. – É sobre o nosso arquiteto… Henry Chang…

O sorriso de Judith sumiu e cresceu de novo. Ele estava agitado e as duas notaram.

– Henry…! – Judith pareceu ter alguma recordação dele. – Ele está sempre nas festinhas da areia dourada.

– O que foi que ele fez? – Arabella perguntou desconfiada – Eu sabia que ele uma hora ia aparecer com uma.

– Ele é bonzinho! – Judith a olhou surpresa – Ajuda a todos… Ele fez algo de errado? – A loira também o fitou.

O Lendário franziu o cenho, observando de Arabella para Judith. – Ele… Não fez nada… – Jullian disse, pausadamente. – Ele, hm… Eu gostaria de saber mais sobre ele. Detalhes, se puderem. O que vocês podem me dizer? Qualquer coisa que seja relevante… Como é a convivência?

Arabella e Judith se entreolharam por segundos. Estavam mais curiosas do que quando Jullian chegou eufórico, mas seguraram as perguntas.

– Ele ajuda a todos no vilarejo. – Judith disse – Quase um marido de aluguel, sabe? Ele é arquiteto, mas troca lâmpada, conserta pia, arruma porta.

– É… – Arabella concordou – Participa de algumas festas na areia dourada… Engraçadinho. Gosta de beber e dançar… Mas acho-o muito cheio de sorrisos… Não sei da onde veio. Sei que dali tem.

– Mas ele é meio reservado… A casa dele é mais longe. Ele não fica pela vila… Vem, mas não fica muito. Volta.

– Não faz muita hora. – Arabella concordou e perguntou. – Qual é a dele?

– Ele é bem misterioso no fim. – Judith falava pensativa. – Todo mundo quer saber porque tanta tatuagem. Ele é meio doidinho, né?

Era bem diferente do imaginava do Kitsune… – Entendo. – Jullian coçou a barba muito curta, mas levemente aparentemente. – Amigo da vizinhança, reservado… – O tom de voz do Garou se tornou um sussurro. – Ele tem alguém por aqui? Amigos… Namorada… Um caso? Os rapazes da banda dele moram aqui?

– Não… Ele não fica com ninguém. – Judith tentou se lembrar de algum evento. – Flerta muito. Mas normalmente as meninas que vão… Ele é muito reservado. A gente achava que ele tinha uma namorada em algum lugar.

– É, mas não sabemos de nada também. Um membro da banda mora. – Arabella prendia o cabelo enquanto falava – Mas essa banda aí pelo o que entendi é um hobby?

– Mais ou menos! Eles tem álbuns profissionais… Eu pesquisei e achei um dia. Nada igual vocês… – Judith olhou Jullian. – Acho que ele está só de passagem… Ou quer descansar…

– Eu suspeitava. Ele não tem parente Garou, não têm sobrenome. A gente só viu falando com o Professor umas poucas vezes… Fiz várias perguntas quando ele chegou… Depois só observei. – Arabella fitava Jullian. – Podemos saber o que houve para essa curiosidade?

– Alguém tão discreto só pode ser problemas, é? – Judith riu, sem imaginar a gravidade

Sem rastros ou detalhes. Henry sabia exatamente o que estava fazendo. Jullian mordeu a bochecha pode dentro da boca e somente não continuou quando a garçonete se aproximou para deixar o seu suco. O Lendário agradeceu e bebeu de um longo gole:

– O professor desconfia dele… Eu só quero ter certeza que não teremos problemas. Ele… Não é um Aparentado. É um raposo… Um Kitsune. – Explicou. – Ao que parece, Chang não é um sobrenome falso…

– Nossa. – Arabella arqueou as suas sobrancelhas – Drawn desconfia dele? Isso é um imenso problema.

– Que surpresa…! Deveríamos ficar alerta… Com algo? – Judith perguntou surpresa. – Um Kitsune… Não imaginava! Criaturas misteriosas… O que um deles faria aqui?

– Eu estou me fazendo a mesma pergunta…– Arabella demonstrou-se preocupada e Judith curiosa.

– Pode não ser nada, mas é melhor nos precavermos. Eu preciso que vocês fiquem de olho nele sempre que possível. Tudo bem? – Jullian as olhou com atenção e terminou de beber o suco, que, por sinal, estava muito bom. – Perdoem-me a intromissão, mas é um assunto urgente… – Disse-lhes antes de se erguer. – Se notarem alguma situação além do normal, comuniquem-me mediatamente.

– Tudo bem. Ficarei de olho com certeza. – Arabella o olhou preocupada, entendendo que os detalhes ficariam para depois. Judith também concordou, embora começasse a se lembrar que Nyra aparentava confiar muito no Kitsune, pois ele e Sera eram as únicas pessoas que ela visitava eventualmente. “Algo grave aconteceu?” A loira se perguntou e acenou timidamente:

– Quando eu puder fazer uma visita, me deixem sabendo. Quero notícias do Thony também… – Disse a Jullian.

– Claro… – Jullian assentiu, apertando os lábios num pseudo sorriso para Judith. Ele deixou uma nota de dez dólares sobre o balcão de atendimento e saiu.

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