My Cherries and Wine

Categorias:Romance
Wyrm

My Cherries and Wine


A Casa de Madeira era última casa que Henry gostaria de visitar naquele momento. A última. Principalmente, quando a sua face humana. Ele não queria que Sebastian e Nikai conhecessem a sua aparência, mas quanto tempo demoraria até somarem um mais um? Eram raposas velhas também. A prudência não adiantaria mais. Seria um passo inútil.

Sebastian e Nikai estavam ao lado de Drawn. Sebastian vestia uma camisa azul escura com riscas brancas, calças jeans e botas. Nikai em sua forma lupina. A expressão de indignação crescia a cada passo de Henry. O Kitsune não escondia a sua raça mais e o sorriso afiado do Ragabash surgiu com um riso.

– Desgraçado… – Sebastian negou com a cabeça. – Monstrinho dissimulado… Em baixo do meu nariz esse tempo todo!

– Bom dia. – Henry disse aos três e caminhou em direção à piscina, sentando-se em uma cadeira de praia.

– Bom dia. – Drawn respondeu calmamente, embora seu interior não estava. A presença de Nikai, Sebastian e Henry no mesmo local trazia tantas memórias que gostaria imensamente de deixá-las embaixo do travesseiro. Mas o perseguiam cada vez com mais afinco. – Não se esqueçam que vocês estão aqui apenas para auxiliar. – Joshua os olhava sério, cortando qualquer possível briga que fosse gerada. – A decisão de trazer Klaus de volta está praticamente tomada… Embora eu não tenha ideia no que isso vai implicar exatamente… Não consigo ser otimista com o fato de que não vamos lidar com um processo complicado e… – Falava pausado – Um homem enfurecido…

Ao ouvir o comentário apaziguador de Drawn, Henry encostou as costas na cadeira de praia e se deitou, cruzando os braços atrás da cabeça e fechando os olhos. O encontro passado não era somente desconfortável para Drawn, mas teria sido bem mais incômoda em uma ocasião que o Kitsune não estivesse viajando distante pela sensação que ainda estava em suas mãos e rosto. – Klaus foi uma das pessoas que mais amei em minha vida… – A sua voz soou até aéreas – Assim que o percebi, tive vontade de libertá-lo… Mas também senti receio de acabar o prejudicando mais… Não imagino o Efeito que foi usado… Provelmente teremos que investigar bastante… – Ele abriu os olhos para Sebastian. – Sei que não o fez sozinho…

Sem respondê-lo, Sebastian devolveu o olhar.

– Se é que você quer ajudar Klaus… – Henry comentou com acidez na voz.

– Eu recomendaria que ele o ajudasse como se a vida dele dependesse disso. – Jullian disse, neutro, ao sair da Penumbra.

Ele surgiu junto a Annik, Blair, Nathan e Rhistel. O Dragão de Gelo fitou a todos com uma expressão séria. Acksul logo surgiu às suas costas. Diferente do irmão, ele trazia um sorriso selado em seus lábios maldosos. Os dois Dragões miraram Henry e o raposo correspondeu, sem se desviar.

Blair sabia que costumava não ser paciente em tudo que envolvia o assunto, e como já havia deixado claro sua vontade, aconselhou-se internamente a não discutir com Sebastian ou Nikai. A maga fitou Henry por um instante e abriu um breve sorriso ao vê-lo aparentemente despreocupado. Ao menos havia alguém com um forte interesse e ao lado deles. A maga ficou em pé entre Polaris e Rhistel, cansada, mas não demonstrava, em jeans e camisa preta com o logo do álbum da banda do namorado e tênis esportivo. Não havia tido tempo de passar em casa além de trocar o belo vestido negro e vestir o que havia no caminho.

– Seria útil saber como a Mágika foi feita para desfazermos. – Blair disse, fitando-os. – Eu acredito que trazê-lo já não é mais a pauta, e sim como.

– Calma… – Drawn disse, olhando-os brevemente e retornando a Sebastian, mas desviando os olhos claros para a imagem de Nyra que surgiu da porta da cozinha. A Theurge sorriu brevemente para o professor e ela andou para perto da sua Alcateia. Estava com o cigarro acesso entre os dedos e vagou seus olhos brevemente… Evitou o contato com Henry, sentia-se corar sem nem olhar, e por isso disfarçava. Parou as pedras de tempestades na piscina, antes de retornar a Sebastian.

– Você poderia nos contar como foi o processo? Sem poupar detalhes… Já somos todos grandinhos a essa altura. E vamos acabar sabendo de qualquer jeito. – Tragou.

O sorriso ficou aparentemente para Blair, pois ele não queria irritar os ânimos a daqueles que já não apreciaram sequer a sua existência perambulando por aquela ilha, mas diferente de Nyra, ele não evitou o olhar. Não conseguiria evitar nem que quisesse muito. O seu coração que se acalmava, perdeu a paz. Ele também se desviou, mas deixou o olhar pelo chão sem erguê-lo para ninguém.

Sentindo o calor do foco de Acksul nele, Rhistel se entreolhou com Blair discretamente. Ainda tinha uma esperança forte de poder conversar com o Kitsune sobre a sua essência instável, mas os ressalve de Acksul, ainda sem explicação para ele, o preocupava levemente…

Discreto, Jullian rondou por cada rosto e sensação traduzida. O Lendário deixou um suspiro no ar e sentiu a mão de Nathan pousando carinhosamente em seu ombro.

– Posso desconstruir uma explicação sobre o Efeito… – Sebastian começou, sentindo o focinho de Nikai tocar a sua perna. – Não completamente, mas boa parte… Precisaremos de um Ritual e… Precisará ser feito longe daqui.

– Conveniente? – Nathan perguntou.

– Tirou as palavras da minha boca… – Henry comentou, irônico.

A atenção que se puxava, atraída, retornou a Nyra e buscou pelos seus olhos…

– Não… – Acksul respondeu com relutância em defender um pensamento de Sebastian. – Não sabemos o quanto a Árvore de Dagda pode interferir em suas lembranças e memórias. Uma avalanche delas poderia ser fatal. Klaus era muito próximo da Árvore. O que, além da mente e espírito, vocês feriram nele?

– Destino. – Sebastian respondeu. – Vida…

– Vocês realmente se certificaram do que faziam. – Blair fitou Sebastian com seu olhar impaciente e arrogante – Por que não o mataram logo?

Cruzando os braços e disposto de uma indiferença provocativa, Sebastian sorriu para Blair:

– Era a intenção, mas Klaus era poderoso demais naquela época. Foi o máximo que conseguimos. É bom que saibam disso caso ele volte insano…

Henry se levantou, observando o Garou com uma combinação de dores e ressentimentos em seu olhar. Acksul observou o Kitsune de soslaio e retornou a Sebastian. A Fúria do Dragão se erguia mais do que ele mesmo gostaria de estar sentindo.

Drawn, sempre atento a Henry, apenas pode se sentir mais tranquilo da falta de retribuição de olhares da Nyra naquele instante. A maga continuava com os olhos em Sebastian, e quando fitou Henry, foi sem sequer mover o rosto… Tão discreta quanto poderia ser, sem deixar transparecer o calor que se movia dentro de seu peito.

– Quase vamos precisar alinhar todas as esferas para conseguir estabilizar a essência dele. – Nyra comentou, tirando o cigarro dos lábios. – E uma imensa energia.

– Vamos precisar estudar bem isso. Não é algo que possamos dar o luxo de tentar. – Blair analisou, e se entreolhou com Rhistel e Acksul – É conseguir ou conseguir.

– Você teria um estudo inicial para que possamos nos apoiar, Sebastian? – Drawn pensava – Quantos mais olhos para estudar esse Ritual, melhor… Mas vamos precisar de alguém para conduzir a ideia e juntar as peças… Pode ser arriscado…

– Eu posso. – Blair se manifestou e fitou Jullian. – Estou acostumada a conduzir rituais imensos.

– Sim… Mas eu mesmo também não sei o que há além do que eu fiz. Foram quatro seres em cima dele… Até que ele cedesse… – Sebastian disse, tentando parecer neutro frente àquela ira que sentia de alguns deles. – Mas podemos ter um ponto de partida. – Ele se voltou para Jullian e Rhistel. – O quanto vocês dois conseguem ter domínio da energia primordial…?

– Quase nada. – Jullian respondeu de pronto, certo de que aqueles turbilhões internos se alcançados não teriam freio ou intensidade que pudesse conter… – Eu nunca ousei tentar…

– Quanto mais seres contribuindo para conter a energia do Klaus, as possibilidades de erros diminuem… – Acksul respondeu com uma desconfiança na voz.

Rhistel compactuava com a desconfiança do irmão. Muita gentileza para alguém que queria Klaus morto. Ele respondeu com uma humildade falsa:

– Ahm… – Rhistel não se viu na necessidade de afirmar o óbvio. – Henry disse que nos ajudaria… Então… Se eu aprender, eu posso passar isso a Jullian. – O Dragão fitou o raposo brevemente.

– Ao que vejo, danos podem ser aplicados aos realizadores do ritual… – Jullian mudou Blair brevemente.

– Esse ritual pode ricochetear… Certo…? Contagiar com a maldição. – Annik fitou de Henry para Nyra quando o Kitsune se aproximou de si:

– Como você sabe disso?

– Um palpite… – Annik respondeu timidamente, olhando-o.

– Ninguem largaria Klaus vivo sem uma proteção para que alguém o trouxesse de volta. Eu também havia pensado nisso. – Jullian cruzou os braços.

– Um palpite certeiro até demais… – Henry abriu um sorriso de escanteio. – Sebastian tempera os seus Efeitos com um tiro pela culatra para o adversário… É nele que Elara inspirou o seu primeiro Dragão… – Henry fitou Acksul. – História relevante para o momento… É isso? – Henry perguntou a Klaus.

– Elara sabia das coisas. – Nyra disse terminando de fumar o cigarro. – Temos como anular isso?

– Temos que nos preparar e usar um contra feitiço. – Blair disse, fitava Acksul – Sebastian poderia lidar com a própria magia mais facilmente, mas quem confiaria… Isso vai ser complicado. Muitas possibilidades. – Pensava, percorrendo seu olhar pela piscina.

– Você pode nos contar essa história, Henry? – Nyra finalmente o olhou, acostumando-se ainda com sua profundidade fixada em sua memória. Estava sensível àquele olhar, e era difícil apenas não demonstrar.

– Elara precisava se proteger de certos desgraçados que se interessaram pelas habilidades e posses dela fingindo amizade. – Acksul comentou, fitando Blair de soslaio, mas retornando o olhar a Henry. – É sempre desanimador relembrar a fonte de sua inspiração em mim.

Ao que parecia, Rhisel e Ladirus eram os únicos que não o olhavam com ressentimentos. Quando fitou o Dragão de Gelo apenas sentiu a sua curiosidade. Henry sorriu discretamente para ele antes de retornar os olhos para Nyra.

Rosto coração, pele quente. Uma garota linda. Sentia perfeitamente a profundidade que se escondia nos seus olhos. Olhou-a e sofreu um breve delay de resposta, pois a imagem do seu corpo em seus braços e a voz entre suspiros sussurrando o seu nome trouxe um calor despreparado para si e pediu pela respiração ser controlada aos poucos. Henry entreabriu os lábios, demorando-se a pronunciar:

– Acksul pode nos ajudar… Quando Elara deu forma a ele, inspirou nesse Efeito que sempre acompanha as magias do nosso amiguinho aqui. Acksul leva o nome de “Matéria” porque ele pode fazer o amiguinho reverso de qualquer Esfera e movê-las como se fossem uma… – Ele mirou Blair por um instante. – Acontece que ele precisa estar pronto para absorver o que vai sair… Então, de qualquer modo… Nós precisamos estudar… Enquanto isso, eu posso ajudar Blair e Rhistel… Se me permitirem…

– Não sabia que estava nos nossos planos treinar a Mensageira, Sr. Drawn… – Sebastian se voltou para o professor. – Estamos confiando na sanidade do Chang agora?

O sorriso de Blair cresceu com a menção de ser ensinada por Henry, mas sumiu assim que Sebastian falou.

– Tanto medo assim? Eu não preciso de mais poder se eu quiser te eliminar agora, Sebastian. Agradeça que ainda está vivo. – Respondeu irritada.

– Blair… Pare… – Drawn negou, estendendo brevemente a mão em aviso. – Não vamos começar a discutir. – Desviou sua atenção para Henry – É melhor você não dizer mais nada, Chang. Isso ainda está por ser decidido. Você chegou na Ilha há pouco praticamente… Tem muita coisa que precisa ser verificada…

Nyra fitava o professor, notando todo o receio e dedos que ele ainda tinha sobre Henry. A dúvida lhe veio se tratava-se apenas de um triângulo mal resolvido. Sabia que Henry havia revirado a ideias de Elara… Ele poderia ser tão perigoso? Não conseguia ver dessa forma. A sua atenção ia do mago, ao Kitsune, cheio de perguntas no olhar, e seguia até Jullian.

– Não podemos resolver isso agora, então? – Blair perguntou. – Estou cansada de nos enrolarmos onde não interessa. Rhistel e Ártemis precisam dessa orientação, mais do que qualquer coisa.

– Eu… Gostaria de verificar algumas coisas antes de batermos uma decisão sobre isso… Se for possível. – Joshua pediu a Jullian – Eu compreendo a importância. Mas como eu disse… Henry só acabou de chegar e… Enfim… Eu ainda não tive tempo de conversar sobre isso com Jullian. Há coisas que precisam ser vistas quando se trata do Kitsune…

Blair desviou o olhar impaciente.

Que… Resistência. Joshua estava ao lado de Nikai e Sebastian e não os tratava com a metade do receio que demonstrava com Henry Chang. Nunca o vira ser tão direto e fechado com alguém. O professor tinha uma alma que se abria até para as piores causas, oferecendo o seu coração. O Lendário devolveu o olhar de Nyra e se voltou para Henry. Suas sobrancelhas se arquearam ao se encontrar com os olhos muito escuros diretamente nos seus, tentando pescar alguma impressão que Jullian não dispôs. Ele nem a tinha! O que sabia sobre Henry, além de suas poderosas sete caudas, do talento inegável para a música e do seu caso com Elara Blackwood?

– Você pode falar comigo, Joshua… Eu estou aqui… – Henry se virou para o professor com uma calma inabalada. – O que é preciso ver, ahm? Eu não estou aqui a pouco tempo. Estou visível a pouco tempo. Tenho observado a tudo e você mais do que ninguém sabe que os três precisam de mim…

Desanimado, Rhistel se virou para Blair. Ele buscou pela mão dela e a acariciou suavemente. “Eu acho que o Joshua não considera que temos um problema…”.

– Eu sei. – Jullian disse, tendo de novo os olhos do Kitsune em si. – Eu sinto principalmente por Rhistel… E agradeço a sua pré-disposição em nos ajudar, mas é melhor resolvermos um problema de cada vez…

“Aconteceu alguma merda forte”, Nathan disse a Nyra através de uma ligação mental, “Drawn tem tanta mágoa desse cara que chega o coração fica apertado. Eu percebo pelos olhos. É um grande sacrifício para ele falar com o raposo sexy”.

– Jullian, com todo o respeito… Se Rhistel perder o controle e você, por consequência, perder igualmente… Eu rezo para a Mãe Esmeralda que ninguém esteja perto. – Henry disse, voltando-se para Nyra com um suspiro. – É um risco que estão correndo, majestade…

Os olhos azuis de Acksul se ergueram até Drawn e ele mordiscou o lábio, pensando.

“Eu acho que sim… Mas até o Jullian sabe que não podemos ficar simplesmente passíveis de reuniões dessa vez.” A Theurge respondeu a Nathan. Nyra observou Henry, e pensou até considerar que era melhor se posicionar:

– Nós quase perdemos a Arty, e Rhistel vive conosco em situações que mexem com o controle dele… Isso não deveria ser passível de decisão… Ninguém mais pode ajudar para decidir… – Nyra usava seu tom firme – Ainda… A Blair tem muitos inimigos lá fora para não estar preparada. Não continuar ganhando força. Vamos realmente ponderar sobre isso? Henry já… – Molhou o lábio inferior – Está me ajudando em várias coisas que preciso. Vamos superar isso, okay?

Olhando-a, o Kitsune passou a mão pelo pescoço e suspirou, deixando o olhar pelo chão por um momento antes de sondar as reações.

Blair apoiou seu rosto no ombro de Rhistel e os olhava. “Ele é magoado. Entendo… Mas nada vai impedir o treino. Eu quero que você fique no controle dessa energia e compreenda tudo isso…” roçou seu rosto ao ombro dele.

“Eu não acho que seja somente mágoa, Bee…”, Rhistel respondeu, beijando-lhe os cabelos. Ele voltou a observar Acksul, mas o irmão parecia fechado para falar no assunto ainda. Ele observava de Drawn e Henry.

Drawn assistiu Nyra falar, seus olhos foram até o chão e ele coçou o perfil do próprio rosto. Estava segurando seus comentários e emoções e isso não foi difícil de decifrar. Joshua piscou os olhos devagar e assentiu discretamente em silêncio. Nyra sentiu um certo pesar ao ver as palavras engolidas de Drawn.

– Professor. Eu gostaria de conversar com o senhor a sós… – Jullian começou.

– Se me permite, majestade, eu quero falar algumas coisas… – Henry deu um passo a frente. – Você pode não pode querer me excluir da história que eu também faço parte. Você não pode. Não é justo. Eu tive os meus erros, sim, e nenhum deles foi pensando no mal dela. Eu a amava pra caralho. Eu nunca quis que nada disso terminasse assim…

– Eu não gosto desse assunto. – Acksul avisou, esboçando um sorriso largo e cheio de presas repentinamente afiadas.

– Eu estou me explicando… – Henry disse ao Dragão, firme.

– Eu não quero ouvir, Tsuru. Esse assunto somente machuca. – Polaris inspirou. – Eu não quero. Cale a boca. – O Dragão bufou. – Fico feliz que queira ajudá-los. Recomendo que aproveite para conhecer a Arty e se organizar onde irá instruí-los… Blair pode… Te levar lá. – O Dragão indicou a Maga.
Drawn não olhou Henry enquanto ele falava, permaneceu com seus olhos muito azuis na água e a respiração tranquila.

– Era sua história, Chang. Não é mais. – O Mago disse quando houve silêncio, e caminhou para dentro, entreolhando-se com Jullian ao aceitar o diálogo a sós.

– Melhor irmos. – Blair concordou ao ver Polaris se alterando, continuava segurando a mão de Rhistel. – Vamos para a Casa Azul, Henry.

Nyra observou a cena com um ressentimento que não sabia exatamente de onde. Fitou Henry e os demais, parando em Polaris. A Theurge se aproximou do Dragão e segurou sua mão. – Vamos conversar. – Nyra pediu.

O Dragão da Matéria a olhou, ponderando enquanto acompanhava Jullian seguindo o seu querido professor, antes de retribuir o toque e caminhar com ela.

Histórias inacabadas. Se Rhistel pudesse arriscar um palpite, apostaria que Drawn havia cutucado um ponto de tremor. O Kitsune arregalou os olhos enquanto o enxergava se afastar. Orbes que brilhavam demais, úmidos. Ele suspirou, fitando Blair e Rhistel brevemente, pois os escuros orbes firmes buscaram pelo olhar de Nyra.

– Chang? – Rhistel o chamou.

– Sim… Melhor. – Respondeu, exasperado. – Vamos…

Annik se entreolhou com Nathan, que não entendia nada, e ela talvez entendesse um pouquinho mais do que ele. Ela acompanhou Sebastian seguiu para a Casa de Madeira com Nikai próximo. O Ragabash se divertia e ela não gostou de presenciar o sorriso que viu nos lábios dele.

Acompanhou Jullian e Drawn adentrando a casa, e desviou seu olhar cinza para Henry. Nyra voltou seu rosto para frente e caminhou para longe segurando a mão de Polaris com ambas as suas.

Seguiu com ele para a estrada, e desviou o caminho para a Ilha da Casa de Vidro enquanto Blair, Rhistel e Henry seguiam na direção da Casa Azul.

Nyra andou um tempo em silêncio com o Dragão, agarrada a seu braço, e seguiu o curso do rio para encontrarem a segunda ponte. Seus pensamentos vagaram por muitos lugares, tentando se distanciar, mas retornaram para o momento em que decidiu sair do gazebo e ele a puxou para perto de novo. A cena se repetiu quatro vezes na sua cabeça até voltar para a realidade. Suas mãos podiam captar a tensão no braço do Dragão da Matéria, vinda de seus ombros e mente.

– Você anda nervoso… Mais do que estou acostumada. – Ergueu seu olhar a ele – Você já teve a oportunidade se conversar com Henry? – Nyra andava na beirada do rio.

– Não.

Distraído apenas em aparência. Três mentes trabalhavam a todo o favor, traçando pensamentos e formando ideias e conclusões. Acksul observou o reflexo do Sol nas águas transparentes. O orbes azuis, aqueles que se viam em matéria, acompanharam um cardume colorido passar por entre as pedras:

– Quanto mais se ama uma pessoa, mais difícil é entender por que ela te abandonou… – Acksul sussurrou como se pudessem serem ouvidos por alguém. – Eu sei que ele só terá desculpas para me dar. O que passamos não se alterará. Eu ainda não estou preparado para ouvir a história triste que ele tem para me dizer. – Ele piscou os olhos e buscou pelos olhos dela. – Eu estou feliz que ele esteja vivo… Mas também triste, pois ele esteve vivo esse tempo todo… – O Dragão da Matéria estreitou levemente os olhos. – Você também está feliz…
Ártemis parou de mastigar a pipoca quando Henry parou diante de si, devolveu o olhar direto e o ergueu quando ele se levantou, curiosa e a com expressão que perguntava: como você sabe sobre Mani?

– Vem. Eu vou te levar. – Blair se adiantou em direção ao corredor – Vou ver se eu consigo o cigarro. Audrey e a Vinny costumam ter… Mas elas não estão por aqui ainda.

A Maga esperou o Kitsune a seguir, e quando se afastaram, Ártemis fitou Rhistel:

– Quem é ele? – Perguntou ao Dragão de Gelo, se levantando.

– Alguém muito bonito também. – Leah disse risonha e pegou o balde de pipoca para si.

– Ahm… Ele é bonito mesmo… – Esperando-os sumirem de vista, Rhistel apertou os lábios e se voltou para as duas. – Ele é o vocalista da Avenue… Uma banda alternativa que eu e a Bee amamos… – O Dragão de Gelo cruzou os braços e suspirou com pesar. – E também é um metamorfo raposo. Um Kitsune… Ahm… Um Kitsune muito triste. – Ele terminou a frase baixinho. – Eu acho que ele está precisando de gente, sabe. Bee foi mais sensível que eu ao convidá-lo… – O sorriso de Rhistel voltou surgir. – Ahm… Vamos num show dele amanhã!

– É verdade! – Ártemis se lembrou dos clipes. – Nossa! Que coisa. – Voltou a se sentar e pegou seu celular. – Vou perguntar se o Ladi vai. Bem… Qualquer um que aceita viver aqui na Casa Azul é porque quer ver gente. Se quer ficar sozinho é melhor arrumar um lugar no Castelo e se trancar. – Ártemis disse, enquanto digitava – Oh casa para ter tanta gente.

– Ah, que legal! Eu até queria ir, mas vou voltar para a casa da minha família amanhã. Estou carente de um lar. – Leah sorriu e voltou os olhos para a televisão.

– Eu também… – Ártemis pensou e olhou ao redor, “Essa é a minha nova casa?”, sentiu estresse ao lembrar da situação com Tayrou e respirou chateada.

– Eu não sinto falta nenhuma da minha antiga casa… – Rhistel comentou e, por algum motivo, acabou rindo. – Ahm… – Ele esfregou os olhos. – Ele com certeza quer ocupar a cabeça…

– Você pode se acomodar do jeito que quiser, o quarto é seu. Todo mundo sempre personaliza quando começa a morar aqui. – Blair disse ao Kitsune, abrindo o armário para checar se tinha todas as cobertas e lençóis, também abriu o banheiro para ver se estava arrumado, com toalhas e os itens de higiene pessoal. – Rhistel falou sério quando disse que você podia desabafar conosco… – Blair retomou o assunto ao parar perto da saída do grande quarto, um andar abaixo onde apenas existia algumas salas de convivência e outros quartos ocupados e vazios. O de Henry tinha vista para o mar e para o Castelo. – Bem, comida também nos ajuda com o humor. – Ela sorriu timidamente – Você parece que gosta de pizza. Você quer que eu peça algo para trazer aqui ou come com a gente mais tarde?

Mansões, casarões, casas humildes, hotéis de luxo e fuleiros… Henry não se surpreendia com luxo. Além do mais, muitos daqueles detalhes ele havia proposto para a reforma. Ele observou a janela agora, sentindo o cheiro do mar vir até si como um afago…

– Você é muito fofa… Nunca te imaginei tão fofa assim… – Henry disse à Blair, olhando-a com um sincero carinho. – Eu agradeço muito a preocupação. – Ele uniu as mãos e curvou-se. – Mas eu nem saberia por onde começar a desabafar… E nem quero perturbá-los com os meus problemas… – Ele pousou as mãos na cintura nua. – Eu aceito comer com vocês… Eu, ah… Vou tomar banho um banho e dormir um pouco… Tentar dormir. – Henry abriu a mala, remexendo nela e tirando um caderno velho. – Minhas anotações sobre a Décima Esfera… – Ele entregou a ela. – Ninguém precisa saber que eu vou te dar aulas, ah?

Blair entreabriu os lábios surpresa e se aproximou para pegar o caderno, esticou sua mão, hesitou por um segundo e então o tocou a capa e trouxe o caderno contra o próprio peito. Ela ficou alguns segundos imóvel e pensando… A mente dando uma volta estranha, e o caderno sumiu dos braços dela para um portal de coisas que a Maga guardava.

– Obrigado… – Ela disse com uma calma mais séria, como se por um minuto não falasse só por ela. Era Meris quem respondia. – Estive esperando por isso. – Ela sorriu brevemente depois de alguns segundos: – Não, ninguém precisa. Eu só… Queria que soubesse que eu sei que não é uma decisão fácil para você… Treinar a nós todos… Envolve muitas coisas mal resolvidas… Por isso estou agradecida. Isso é importante para nós.

– Envolve… – Com o dedo indicador e o dedo do peito, Henry tocou o peito sobre o coração em uma saudação. De repente, ele pareceu ainda mais cansado ao visitar os acontecimentos recentes. Os olhos pesaram, querendo se fechar. – Tudo bem… – Ele sorriu brevemente. – Leia um pouco por vez… Antes de dormir. Soará tudo confuso, mas não desista… Quando começarmos a treinar, elas farão mais sentido. – Ele desviou os olhos dela. – Há muitas anotações de Scarlett Blackwood também… Ela me ensinou praticamente tudo o que sei sobre a Décima Esfera. Tenho certeza que você pegará com facilidade…

– Tudo bem. – Blair respondeu mais calma, embora tivesse muitas perguntas, foi sensível ao cansaço mental do Kitsune. Observou-o na sua necessidade de ficar sozinho e se afastou, falando antes de encostar a porta. – Fique à vontade. Você é bem-vindo. – E fechou a porta devagar.

– Obrigado… – Ele disse.

O corpo pesava mais quilos do que o normal e ele precisou fazer um tremendo esforço para se levantar e caminhar até suíte. Despiu-se e banhou-se no chuveiro. Os pensamentos ásperos lixavam o seu humor e ele deitou o box com o corpo ainda mais pesado, com uma pedra invisível sobre os seus ombros largos. Sentou-se à beira da banheira, acompanhando a água dominá-la ao ligar as torneiras. Henry se deitou nela, escorando o pescoço na beirada e ligando a hidromassagem. Assim que relaxou, sentiu-se apagando para um lugar sem sonhos.

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