7th Element

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Wyrm

7th Element


É errado sentir que isso é FODA PRA CARALHO?!”, Nicholas pensou, querendo gritar para o mundo com a força dos seus pulmões, embora não o fizesse por medidas de classe. Quando aceitou os óculos de voo, não imaginou que enfrentaria tanta ventania em seu rosto. Os Dragões não somente voavam, mas eram extremamente rápidos. Ao passo que se elevavam para furar as nuvens, um frio de ansiedade, tensão e prazer subiu pelo ventre de Nicholas e imaginou que não fosse o único, apesar de notar os moradores da ilha pareciam acostumados com a sensação… Ou pousavam. Os Espíritos do Etéreo se afastaram todos e os Planetas próximos pareciam observá-los com atenção. Uma onda de reclamação cômica se sucedia das aves coloridas e espantadas. Nicholas não aguentou e riu, observando ao redor. Não podia se culpar. Estava fazendo algo que somente se acreditava existir em contos medievais.

Kraz brilhava intensamente na frente do grupo, demonstrando-se muito mais rápida que os seus irmãos. Rhistel quase feriu os seus olhos quando o som iluminou as suas escamas de gelo. Cada um possuía a sua forma particular de voar. Ladirus se diferia pela ausência de asas. Seu voo era um ondulante processo impulsionado por sua enorme cauda de peixe e suas patas também remavam. Polaris voava com as três cabeças a rondar o ambiente. Escamas como espelhos. Três cabeças. Nicholas suspirou, apertando fortemente a cintura de Nyra quando Ladirus acelerou o seu voo extraplanar para tomar a frente, guiado pela Theurge para encontrar o ponto certeiro para descer para a Rússia.

Furar novamente as nuvens e descer trouxe ao coração do Valerius a lembrança que no fundo não estava obedecendo lei alguma ao aterrissar com Dragões. Alana não havia chamado o Luar do Oceano para a festa de casamento. No fundo, Nicholas nem entendia bem o que estava realmenteacontecendo. O imenso e majestoso Palácio do Lobo Branco parecia tão ter fim. Um alarde movimentou a vida espiritual da Seita e Espíritos Falcão começaram a voar para todas as direções completamente eufóricos. Jullian tomou a liderança com Rhistel antes de pouso, aterrissando no tapete que substituía o longo gramado diante do Palácio coberto de neve.

– Que gostoso. – Rhistel afofou a neve com as suas garras. – Jullian. – O Dragão fitou o Lendário ao virar o pescoço. – Há um grupo de Garou, juntos com a Rainha Alana, na Tellurian. 

– Sim, eu vi. – Jullian respirou, observando o ar de dentro de si se tornar vapor. O Lendário observou ao redor, refletindo.

– E então? – Polaris perguntou com as suas três bocas.

– Parece que eles não virão. – Ladirus rosnou baixo.

– Parece. – Jullian concordou, assentindo com a cabeça. A mão direita tocou as costas de Rhistel. – Vamos para Tellurian.

– Tem certeza? – Nathan perguntou com uma sobrancelha arqueada.

– Tellurian?! – Nicholas disse, quase sem voz.

– Sim. – Jullian assentiu. – Tenho.

– São poucos os dias que o Jullian acorda querem criar caos. – Nyra disse risonha e fitou Nicholas atrás de si. – Você curtiu o passeio com os vilões. Que bonitinho.

– Qual é o plano, Jullian? Nós vamos conversar? Fazer propostas? – Blair perguntou, baixando o escudo de força entorno de seu corpo e de Ártemis que a acompanhava. A Changeling ainda não havia conseguido fechar a boca, completamente impressionada sobre o local e a visão… A Penumbra era uma novidade estranha. Quando Blair as tirou da proteção, logo o estado maravilhado mudou para o intenso frio que rapidamente cercou sua pele. Ártemis os viu tranquilos sobre a temperatura enquanto seus dentes batiam:

– ¡Dios! ¡Ay que frío! – Apertou os olhos.

– Desculpa, Arty. – Blair moveu sua Magia para protegê-la novamente.

– Talvez eu tenha me excedido… – Nicholas respondeu a Nyra, olhando-a com uma expressão entediara. – É a minha primeira vez voando em um Dragão… – Disse, cínico.

– Nós vamos solicitar uma audiência com a Rainha Alana. – Jullian disse calmamente. – Provavelmente, o conselho pedirá para participar. Negaremos, mas não estamos aqui para ferir ninguém. Que seja em último caso e que não parta de nós. Estejam afiados em com as suas magias. Qualquer ajuda será bem-vinda agora. – O Philodox fez uma pausa. – Se caso usarem da violência, voaremos e invadiremos. Minimizem qualquer dano a nossa segurança…

Apertando os olhos, Nathan sentiu a Fúria se elevar com a adrenalina. Quando acompanhou Rhistel Percorrendo Atalhos, ele fechou os olhos, sentindo a passada arrastada de Kraz. “Por favor, que ninguém esteja inclinado a se matar hoje…”, pensou.

Neve chegou aos seus cabelos. Nathan abriu os olhos, vislumbrando o castelo majestoso diante deles, que parecia tão frágil naquele instante. As janelas estavam todas ocupadas por cabeças curiosas e os gritos previsíveis começaram a soar de dentro, assim como todo o tipo de praga rogada.

– Olá… – Jullian usou de um Dom para transferir a sua voz para perto dos Garou diante do castelo. – Eu, Jullian, Rei da Seita do Luar do Oceano, solicito uma ausência com a Rainha Alana. – Um sorriso surgiu em sua voz. – Sei que estão todos muito elegantes para desfrutar de uma festa inesquecível, mas receio dizer que o meu assunto é de extrema urgência.

Da maior porta de vidro, Alana saiu com um grosso casaco de pele branco. Sustentava uma coroa em seus cabelos negros e curtos e os olhos demonstraram interesse na situação.

– Permissão concedida. – Sua voz retornou até perto deles, e ela deu as costas para entrar em sua sala novamente, sem expressar muito. Aproximadamente dez Garou começaram a falar e discutir… Blair escutou a conversa com facilidade.
“Eles estão com medo. Alguns querem levantar defesas, outros estão sem entender… Melhor entrarmos.” Blair riu por fim “Estão perguntando o que os Valerius estão fazendo aqui assim.” 

“Alguém deveria ir atrás da Audrey…” Nyra disse, não enxergando onde ela poderia estar.

“Eu já a achei. Ela está nos quartos reais, última andar da ala leste. Décimo quarto do corredor norte.” Deu as coordenadas do imenso lugar.

“Não”, Jullian disse firmemente, “Nós vamos tirar Audrey daqui pela porta da frente… Não vamos agir como traidores. Não precisamos disso hoje”.

“Melhor não entrarmos todos os Dragões…”, Polaris aconselhou com um humor incorrigível na voz, “Ladirus e Kraz, vocês ficam… Ladirus está instável e Kraz, é sempre instável…”.

“Acksul… É importante para mim… Eu quero ir…”, Ladirus rosnou.

“Kraz… Você se importa de ficar?”, Polaris perguntou após suspirar com as suas três cabeças.

“Não”, a Dragonesa ronronou.

Ao que Rhistel se curvou, Jullian saltou o Dragão para a neve, aguardando-o acompanhá-lo. Ladirus curvou a cauda e ofereceu uma espécie de escorredor para Nyra, Ártemis e Nicholas. Polaris levou uma das cabeças até Blair e pousou a Aparentada docemente no chão.

Nathan precisou saltar de onde estava. Kraz não fez questão de se mover. O grupo caminhou unido quando os Dragões que entrariam mudaram de forma e mesmo quando se aproximaram, o Conselho demorou a se dispersar. Jullian sentou os olhos cheios de Fúria de Sage. O homem de cabelos nos ombros, alto e de expressão sempre cansada se incomodou ao ter o olhar retribuído pelos orbes faiscantes de oceano.

Ladirus se manteve entre Nyra e Ártemis, observando Polaris que não tirava o sorriso cruel do rosto. Quando passou pelo vão criado pelos Garou, fingiu que morderia e gargalhou quando a multidão recuou um passo.

– Acksul… – Rhistel o censurou, olhando por cima do ombro e aproveitando para mirar a imponente namorada.

Blair evitou um sorriso e manteve o ar sério, mas achava graça das exibições de Polaris.  A Maga apenas sustou seu olhar, e sorriu brevemente ao sentir o olhar de Rhistel em si e em seu caminhar. Ela andou ao lado do Dragão de Gelo, e seguiu até o final da sala, próximo de onde Alana estava.

– Nós queremos uma audiência em particular com a Rainha. – Nyra falou. Já não usava mais as roupas menos informais a qual havia viajado, antes de descer de Ladirus, usou seu Fetishe para se arrumar em um vestido preto de alças grossas e cumprimento curto, bem justo ao seu corpo. À partir da cintura, a seda transparente descia em uma camada extra até seus pés vestidos por elegantes sandálias. Roupas de frio eram uma opção quando se era um Presa de Prata; e Ártemis não estava acostumada. Blair havia desativado sua proteção, e a sorte era que o aquecedor estava ligado dentro do palácio quente. Completamente fora do ninho, um pouco desconfortável, mas segura ao lado de Ladirus. Estava curiosa pela interação, e as palavras de Nyra já causaram certo alvoroço.

– Entendo que queiram conversar. – Uma Garou pálida e de olhos muito verdes começou. Ela devia estar na casa de seus oitenta anos, e pelo rosto tocado pelo tempo, ainda se poderia dizer que deveria ter sido linda quando jovem. Nyra sabia o nome de todos os integrantes do conselho, e a senhora se chamava Darya “Filha-do-Anoitecer” Isayev. Única do seu nome. Havia realizado grandes feitos para a sua Seita, mas seus progenitores não se sucederam como Garou, mortos muito jovens ou aparentados. No entanto, ela tinha muitos discípulos. – Mas o conselho precisa fazer parte. E vocês chegaram em um péssimo momento.

– Mas agora que estão aqui, eu não posso manda-los embora, claramente, vieram para serem ouvidos ou não teriam trazido seu pequeno exército. – Alana disse com calma e se virou ao Galliard da Reserva – Me surpreende que esteja com eles, Valerius. Igualmente você, Blair.

– Não fique surpresa. – A maga respondeu no mesmo tom calmo.

– Alteza, eu somente peguei uma carona. Não participarei desta reunião… A não ser que seja necessário. – Nicholas ergueu as mãos, defendendo-se. Minha irmã já é um caso perdido, mas tudo bem. 

– É necessário, Nicholas. A sua presença é conveniente. Fique. – Nathan disse ao outro Galliard. – É melhor que você ouça.

O olhar claro do Valerius pousou em Nathan com confusão:

– Ah…

– O Conselho também precisa ouvir o que é conversado com a Rainha. – Sage disse em aparente calma, embora a Fúria desmentisse.

Sage “Pico-da-Fúria” MorningKill era um Garou bom, Jullian sabia. Leal, inteligente e um ótimo guerreiro, mas tão fiel às tradições arcaícas e tão terrivelmente preconceituoso e rígido que o Lendário não conseguia admirá-lo por mão que os seus feitos fossem extensos…

– Senhores, eu me recuso a falar diante do Conselho. Falarei com a Rainha Alana à sós, pois temos um contratempo a ser resolvido. – Jullian ignorou os suspiros de desprezo. – Onde podemos conversar com privacidade? – Ele se voltou a Rainha.

Jullian poderia ter ignorado a tensão instalada, mas Rhistel não. O Dragão de Gelo encarava rostos e impressões, guardando-os e repassando-os.

Havia uma grande curiosidade ao redor. Poder era glamoroso e atraente e, apesar da posição de adversários, os olhares não desgrudavam de deles e havia de todos os teores. O seu olhar se encontrou com o de Ladirus no momento que o Dragão de Água envolvia à cintura de Ártemis com um braço.

– Alteza. Não deveria se arriscar. – Um Garou idoso e cego disse. Sua voz era áspera como se houvesse areia.

– Permitam-me. – Keith surgiu no corredor com passos bastante apressados. – Creio que não será um problema, não?

Alana desviou seu olhar até Keith que entrava na sala, e fitou ao redor pensando.
– Uma coisa de cada vez. Luar do oceano primeiro. Eu vou pedir a gentileza que aguarde, Vossa Alteza, o assunto é urgente. – Disse a Keith com educação e se voltou ao primeiro grupo – Sigam-me, por favor. – Deu suas costas para sair do salão, mesmo diante dos protestos. Nyra se entreolhou com eles, e logo percebeu que Keith era o primo Blackwood. A loba guardou um comentário e seguiu Alana.

– Rainha… – Keith apertou os lábios com força e se voltou para Jullian.

O Lendário apenas negou com a cabeça. Já estava sendo difícil demais conversarem a sós, pior se precisassem reaver termos de presenças…

Curioso, Polaris analisou o Rei do Reino da Pérola com interesse, mas nada manifestou além do olhar calado. Ele foi o último a entrar na enorme sala de reuniões após uma longa caminhada. Tudo no Palácio do Lobo Branco parecia distante. O aroma de delícias chegava do salão – que era mais longe ainda – e o Dragão da Matéria sentiu o estômago reclamar de fome.

A sala era bela o suficiente para ser a comparação de uma bijouteria e uma joia verdadeira valer para a modesta sala do Luar do Oceano. Os quadros das grandes figuras da Sociedade Garou estavam pelas paredes. Nenhum Blackwood. Polaris franziu o cenho, analítico. Glória seletiva.

Polaris não se sentou. Assim como Rhistel e Ladirus, ele ficou de pé atrás da cadeira de Blair. Ladirus o olhou e se virou para Jullian, mas o Philodox pareceu não se importar com certas posições mais claras para a Rainha…

– Pedimos a audiência, mas… É a sua palavra que estou desejando ouvir… – Jullian disse, cruzando os braços sobre a mesa.

Alana inspirou e expirou devagar. Tomou seu lugar e os olhou como se não tivesse pressa nenhuma.

– Eu não a conheço. – Seu olhar parou em Ártemis e retornou a Jullian, vagou até Blair e sorriu: – Engraçado como costumávamos tomar chá todas as tardes. E você está desse lado. Ninguém entende como você pode ter tantos Aparentados em posições de lobos… – Disse a Jullian, ainda fitando Blair. – Mas eu entendo.

Blair mantinha seu sorriso selado, analisando-a com os olhos verdes, sem falar.

– Bem… Não é sobre isso que viemos ouvir, Rainha. – Nyra disse – Mas… Já que entende, eu fico mais curiosa ainda pela sua resposta.

Ártemis entreolhava-se com Ladi a todo instante, e olhava os quadros curiosa, e então a Rainha. O lugar tinha manchas fortes de banalidade e isso era um pouco assustador, pois eram recentes e traduziam bem a situação de Alana – descrença e desespero pintavam o sonhar.

– Bem. – Alana retirou a coroa de seus cabelos e afastou o casaco do corpo. Dedilhou a madeira maciça e pensou mais um pouco antes de continuar. – Eu preciso de aliados e minha filha aceitou me ajudar. Eu a convidei, nós conversamos, e ela compreendeu minha situação e decidiu me ajudar. Irá se casar com o Rei do Pérola, que eu acredito que vocês o conheçam, e ele garantiu minha segurança e da Rússia com um terço de suas Alcateias. – Explicava com tranquilidade – Audrey mudou muito. Mas ela ainda está do meu lado…

A Furia de Ladirus se despertou com a história mal contada. O Dragão cerrou os dentes e Rhistel alcançou o braço do irmão antes que um desaforo saísse da sua boca. Rhistel fitou o irmão e se voltou para Alana.

– Alana. – Ele disse, sem formalidades. – Poderia nos contar a versão crua, sem ressentimentos passados, orgulho…? O Dragão de Gelo apertou os dedos no encosto da cadeira de Jullian. – Se Audrey estivesse aqui de bom grado, não teríamos vindo…

– Não me é interessante que alguém te tire daqui, alteza. – Jullian disse, encarando-a. – Ferir Audrey emocionalmente dessa forma? Ela é sua filha. – O Philodox fez uma pausa. – Uma das poucas certezas que tenho sobre você é o amor que tem por seus filhos.

Alana os olhou, desviou o rosto, negou e riu. – Gaia. Isso é entre eu e a minha filha. Eu não estou mentindo, nós conversamos, ela concordou. Ela ficou assustada, claro, eu ficaria. Obviamente eu não fui atrás de qualquer um para ela. Além do mais, isso pode ser tudo arranjado, eu expliquei a ela. – Os olhos de Alana passaram brevemente por Ladirus e retornou a Rhistel e Jullian – Ela pode viver a vida que ela tem escondida. É o que a maioria dos aparentados fazem.

– Você claramente não conhece mais, Audrey. – Blair disse.

– Eu acho que não mesmo. – Alana concordou, fitando Blair por um instante. Novamente moveu o rosto em negação: – Eles crescem e mudam. Mas ainda, ela sabe que minha vida depende dessa aliança, e ela vai me ajudar gostando ou não, eu não estou a obrigando, ela apenas se importa demais para me deixar sozinha.   – Riu nervosa – É a minha situação agora. Ela pode escolher, se quiserem verificar… No final, ela vai estar do meu lado, como eu disse, gostando ou não… E eu não estou nada feliz de ter que fazê-la passar por isso… Nunca foi a minha intenção…

Relaxando na cadeira, Nathan franziu o nariz com uma expressão de altivo desgosto. O Galliard se voltou para Nyra e, depois, Jullian e acabou dizendo com uma voz que parecia ter preguiça de existir, arrastando-se:

– Audrey some, nos impedem de falar com você… Então, Audrey nos liga… Desesperada… Pedindo para que a tiremos daqui e que ela não quer se casar. – O Galliard esticou o braço pela mesa. – Eu acho que Audrey precisa estar nessa conversa, porque porra… Cada vez mais, eu fico confuso sobre quem é o doido ou a doida.

Jullian fitou Nathan com um sorriso aparente. Quis rir, mas não o fez. – Creio que seja a única forma de esclarecermos o que está acontecendo. – O Philodox dedilhou a mesa.

– Ela telefonou? – Alana os olhou em dúvida, e pensou sobre o assunto e negou – Eu adoraria, mas ela está se trocando. O casamento é daqui duas horas. Além do mais, não há muita coisa que possa ser feita. Ela já casou nos papéis e essa é apenas a festa. Eu sei que vocês acham que ela não quer, e eu tenho certeza que ela não quer… Mas Audrey não está sendo forçada. – Olhava-os – Eu corro risco de vida e ela, como minha filha, aceitou me ajudar.
– Nós queremos falar com ela. – Nyra reforçou o comentário de Nathan e Alana respirou fundo:

– Pois bem. Uma pessoa pode ir checá-la. – Concedeu – Eu não vou interromper a preparação dela, nem posso trazê-la aqui.

Blair se ergueu no mesmo instante, se voluntariando. Alana passou a demonstrar desconforto, mas não falou contra.
– Vamos, Ladi? – A loira disse ao Dragão, ignorando a regra de “uma pessoa”.

Sem pestanejar, Ladirus se levantou para correr até Blair, mas acabou retornando. Observou Ártemis com preocupação, mas Rhistel o tranquilizou com um sorriso selado e uma piscadela. Rondar o castelo naquele instante seria mais perigoso. Ártemis estava com eles…

Neutro, Jullian observou os dois seguindo para fora da sala de reuniões. O Lendário esperou a porta encostar para se voltar novamente para Alana:

– Entendo. – Jullian respondeu, buscando pelos olhos orgulhosos da Rainha. – Se ela quiser ir embora, nós a levaremos conosco. Imagino que o casamento ainda não tenha sido consumado e pelas nossas leis, ainda não tem validade real. Então, creio que não será um problema. – O Philodox dedilhou a mesa e recolheu com dedos. – Eu tenho certeza que compreenderá a minha posição. Eu também preciso levar Athos comigo, o filho de Judith MorningKill… E é melhor eu verificar se Solara também não quer retornar, não? Essa Seita está fervendo.

Calmamente, Acksul deu a volta na cadeira de Blair e se sentou, relaxado.

– Por que não confiou a nós a aliança? Precisava arrancar Audrey às escondidas?! – Nathan perguntou, impaciente com toda aquela conversa. – Não era mais fácil, caralho?

– Não.

O Galliard se voltou para Acksul quando ele respondeu.

– A Rainha precisava que estivéssemos bem indignados para aparecermos armados, prontos para incendiar o castelo, se preciso. Então, com sorte, seria a melhor aliança que ela poderia fechar em anos. Falar que Dragões existem, é uma coisa… Mostrar que Dragões existem e que são seus os seus amiguinhos… Fazem os seus inimigos pensar muito bem antes de te atacar. – Acksul arranhava a mesa, mantendo um sorriso selado em seus lábios cheios. – Eu acho que deveríamos fazer tudo o que Jullian disse. – O Dragão olhou brevemente para o Rei. – E eu proponho alocar um ou dois irmãos meus aqui… Para a proteção da Rainha.

A Rainha inspirou e olhou Acksul por um tempo.

– Eu sinceramente não acreditava que iriam tão longe por Audrey. Foi um palpite. – Ela disse – No máximo algumas conversas que eu evitaria. Da última vez que a vi… Ela apenas estava muito curiosa sobre Ladirus. Foi Blair que atribuiu toda essa importância a ela? É bom saber que ela tem uma boa amiga. – Pensou, recordando-se do menino – Sobre Athos… Talvez vocês precisem conversar com Keith… Ele já havia me pedido para levá-lo. Eu não estou segurando ninguém aqui.

Ártemis olhou Rhistel e depois a Rainha. Parecia guardar um monte de pensamentos atrás da sua língua, mas segurava seus comentários como havia prometido. Mas a vontade de falar era grande.

– Estou curiosa. – Alana continuou. – Por que vocês me ofereceriam uma proposta assim? Isso é um Trato? Me interessa muito a presença de um Dragão aqui.

– Porque nós sabemos o que vem depois de você. – Nyra respondeu – Aparentemente faria a gente sentir falta da Rainha Alana.

Acksul riu. – Audrey é mais importante do que você imagina, Rainha. Na verdade, acho que imagina. – Ele selou um sorriso.

Calado, Nicholas apenas observava a conversa, compreendendo perfeitamente porque tinham pedido pela sua presença. A Rússia estava próxima de uma guerra bem debaixo dos seus narizes e o restante da Sociedade Garou parecia praticamente alheio à explosão.

– Só estamos evitando um dano maior… – Jullian disse, apoiando o rosto na mão ao descansar o cotovelo na mesa. – Deixando as nossas diferenças de lado, Alana, eu realmente não quero ver a realeza Garou se lançando mais uma vez na época medieval.

– Colocar Dragões aqui não trará só paz… Vai dividir também, porra. A Corte Presa de Prata, no geral, vai torcer o nariz… – Nathan comentou, voltando-se para Jullian e Nyra. – Já estão enlouquecidos só porque pousamos aqui.

– Essa divisão não é de todo mal, Nate. – Rhistel se curvou, descansando a cabeça sobre os braços cruzados no encosto da cadeira de Jullian. – O Palácio está instável… Esse lugar não pode ficar assim. Toda essa Fúria pode acabar acordando quem há muitos anos dorme…

– Exatamente. Lastimável. – Acksul disse com um humor ácido. – Você e Ladirus estarão voando pelo mundo, tratando dos seus assuntos musicais? – O Dragão perguntou ao irmão de Gelo.

– Huh-hum… Rhistel respondeu manhosamente.

– Vocês poderiam voltar para cá. Audrey estará com vocês, ela poderia conviver mais com a sua mamãe… E a proteção estaria garantida. – Acksul sorriu. – O que me diz?

O olhar de Jullian seguiu até Acksul, olhando-a com uma sobrancelha arqueada.

– Podemos discutir quem virá depois.

– Certamente. – Acksul assentiu. – Mas tenho certeza que até Ártemis gostaria de desfilar por este Palácio, não, querida? – Ele se voltou para a fada.

Ártemis o olhou por um tempo. Não tinha pensado nisso, e na verdade, o lugar havia a deslumbrado em primeiro instante, mas nada que a cativasse. Odiava frio com todas as suas forças.

– Sim. – Respondeu a Acksul, mesmo pensando o contrário. – O lugar é legal.
Nyra sorriu com a resposta e continuou:

– Diga ao Rei que ele não irá mais casar hoje, Alana. Você tem o que queria. Audrey volta conosco.

– Certo. – Ela se ergueu – Farei isso. Agradeço a disposição de vocês. – Sorriu, claramente satisfeita – Ele vai ficar decepcionado.

– Eu acho que não. – Nyra devolveu.

A ameaça era tamanha para um casamento arranjado com a filha relutante ser necessário? Jullian voltou os olhos para a mesa, observando o próprio reflexo no vidro limpo. Não é esta traição que você sofrerá. A certeza lhe viera como uma forte intuição. O Lendário pensou em Keith e o seu desespero pela ascensão na Sociedade Garou. Sage e Keith, Garou que grande parte da Corte Presa de Prata amaria por no trono. O que estava lhe escapando que precisamente não soava tão óbvio assim?

“Jullian…”, Rhistel disse ao Lendário através do elo que mantido em suas mentes, “Eu acho que seria bom falarmos com o Keith, não?”.

Aqui não…”, Jullian respondeu de pronto.

É, por-JULLIAN!”

Por reflexo, Rhistel afastou-se na cadeira antes que ela voasse para trás. Jullian saltou sobre a mesa, empunhando a Grã-Klaive em posição de defesa, à frente de Alana. O Dragão trouxe para as suas mãos uma lança de gelo e moveu-a duas vezes, defendendo tanto Jullian quanto Nyra. Três farpas enormes e prateadas caíram no chão.

Quatro. Acksul segurava duas em suas mãos. Uma para Nathan e outra para Ártemis. Polaris resfolegou, mergulhando no Umbral.

– Magia?! – Nathan ofegava.

– Dom. – Rhistel respondeu.

– Alana. – Jullian a encarou. – Vamos até o Coração agora localizar os Garou da Seita. AGORA.

“BLAIR, LADIRUS! ENCONTREM OS PRÍNCIPES!”, Acksul gritou na ligação mental, farejando o trajeto que o Dom traçou na Penumbra.

– Eu sabia que isso não duraria. – Blair disse ao receber a mensagem, segurou no pulso de Ladirus para o afastar para um vão decorado no corredor principal e o fitou nos olhos: – Vamos. Tem alguém com eles.

Seus corpos foram levados para o outro lado do Palácio, dentro do quarto de Audrey. A cena em primeira visão foi um choque. Havia muito sangue pelo quarto e um Crinos pequeno voando em cima de um maior, o maior desnorteado por estar recém cego e com muitas queimaduras no pelo. Ele avançava no menino Athos que era um Crinos menor, enquanto Audrey estava esgotada e segurava o corpo inconsciente de Adrian nos braços no canto do quarto. Adrian havia levado uma garrada nas costas quando o assassino entrou, Audrey conseguiu agarrar o irmão e Athos corajosamente voou no Garou. A princesa conseguiu auxiliar Athos causando queimaduras e a cegueira instantânea no assassino, e Athos continuava indo para cima ao aproveitar sua rapidez e não ser mais alvo dos Dons do outro. Mas por pouco tempo. O filho de Judith foi acertado no minuto em que Blair e Ladirus chegaram, e a primeira reação da maga foi impedir que Athos voasse pela janela do quarto andar, abrindo um portal e fazendo o corpo do menino teleportar direto para a cama.

– LADI! – Audrey gritou, ensanguentada e agarrada ao corpo do irmão gravemente ferido. Blair deixou o Dragão lidar com o Garou e se adiantou até Fayre e Adrian. – Tá sangrando quando ele respira. – Chorou a Maga, pressionando um ferimento aberto no pescoço de Adrian. Ele tinha um rasgo de garras do início do pescoço até o fim das costas. – Eu não quero que ele morra, por favor! POR FAVOR.

Aproveitando do elemento surpresa da sua presença, o Dragão correu até o Crinos, empurrando-o até a janela. A sorte sobrenatural ao seu lado fez com que ele errasse todos os ataques que tentou desferir no Dragão e acabasse perdendo o equilíbrio quando próximo ao vidro fechado. Keith surgiu à porta, em sua forma Crinos, em tempo de presenciar um clarão alaranjado tomar o quarto inteiro e um enorme focinho em chamas quebrar o vidro da janela fechada, penetrando o cômodo. Como um morcego pendurado à parede, Krazugnis pescou o Garou com a imensa boca, puxou-o e voou.

Ladirus observou a cortina tomava pelas chamas e se apressou até Adrian, usando do famoso Dom Garou para curar o ferimento do Aparentado enquanto uma corrente de água seguia das torneiras da suíte até os focos de fogo.

Keith, paralisado por um instante, seguiu até a cama e tocou o rosto felpudo de Athos.

– Athos! Athos! ATHOS! – O Garou rosnou, pegando o lobo menos nos braços.

– Tio…? – A voz humana soou logo que ele voltou a sua aparência humana. Estava zonzo e as palavras saiam enroladas – Eu nem sei porquê eu estou dormindo. Eu sonhei que eu era corajoso e estava lutando… – Quando Athos tocou o próprio peito, sentiu-o molhado e ergueu os dedos sangrentos até a mão. O menino arregalou os olhos para o vermelho.

– Eu vou atrás do Auric. – Blair disse a Ladirus enquanto retirava Adrian de cima dela com cuidado. Ele abria os olhos devagar, mas a dor e a perda grosseira de sangue o deixou atordoado. Fayre ainda o olhava como se pudesse morrer, mas quando viu que havia parado o sangramento, respirou aliviada. Seus olhos se voltaram ao namorado e ela se adiantou para abraçá-lo forte, muito forte.

– Precisamos nos mover rápido. – Blair fitou Keith e perguntou rápido, caminhando em sua direção – O que você sabe sobre isso?

– Eu poderia te fazer a mesma pergunta. – Keith devolveu, encarando-a. – O que sei é que uma Ponte de Lua foi aberta. A Rainha passou por mim com os Blackwoods e um Dragão e eu realmente conclui que só fiz parte de um plano maior até agora. – O Ragabash se virou para Audrey e Ladirus.Pelo beijo que presenciou pousou no pescoço de Audrey, Keith não precisava mais de nenhuma explicação. O Dragão a tocou docemente em seu rosto, acariciando-o antes de erguer Adrian em seus braços.– Polaris está próximo ao Príncipe Auric… Meu irmão tem um refém na mão e três corpos perto dele. Estão fora do palácio. Blair. – Ladirus a olhou firmemente. – Alguém precisa avisar o Sol Poente…

– Não precisa. Eu vou trazer o exército que prometi. – Keith respondeu de pronto enquanto pousava Athos no chão.

– Meu. Deus. É sangue…É o meu sangue?!– Não! – Keith se apressou em dizer. Havia retornado a forma hominídea assim que Athos também o fez. – É de outra pessoa! Não se preocupe…

– Ufa! – Athos ofegou e se colocou em pé, desequilibrando-se um minuto e ainda prestando atenção no sangue, assustado e depois um pouco enojado. – Estamos em Guerra? Eu não me preparei para isso! E agora?!

– Calma, campeão. Você já fez o bastante. Salvou o Príncipe Adrian. – Keith o tocou nas costas. – Eu estou muito orgulhoso de você… Agora, deixe o resto conosco. Não se preocupe.

Blair desviou o olhar de Keith e Athos para Ladirus e colocou as mãos nos bolsos do vestido negro, pensando.

– Ok. Eu vou até Polaris. Talvez eu consiga escutar algo, não consigo escutar todos os cantos sem andar. E vou de encontro a esse refém. – Declarou – Melhor levar Adrian até Nyra. Se esse sangue todo é dele…

Audrey segurava o braço de Adrian com uma força desnecessária e fitava Ladirus. Os olhos dela declaravam um imenso sentimento de culpa, como se pudesse absorve-la inteira.

– Minha mãe… – Começou, mas não conseguiu terminar.

– Ela está salva, Audrey. Coloque um casaco antes de sair. – Blair disse antes de se afastar. Fayre ajeitou o robe que usava, olhou ao redor e respirou. – Meu tio… Kaya… Eles devem estar atrás de todos aliados e família… – Disse a Keith. – Devem ter achado que era uma boa oportunidade de destronar minha mãe…
Sem pestanejar, Ladirus saiu do quarto, passando por Keith e Athos e correndo pelo corredor. Antes de sumir da visão do cômodo, ele chamou Audrey com um aceno da cabeça. Keith encarou o Dragão, mesmo não tendo o seu olhar e pegou Athos pela mão para segui-lo com passos rápidos.

Por mais infame que a informação soasse, Jullian nunca havia visto o Falcão-Sem-Nome, Totem da Seita da Membrana Prateada, diante de si. O Lendário observava Alana entrando em contato com o Espírito atentamente, de pé ao lado de Ártemis, Nicholas, Nyra e Rhistel. Havia muitos Garou feridos, mas Jullian já imaginava que uma grande parcela dos traidores do trono tinham fugido antes que os ataques acontecessem.

– É melhor irmos para a Alemanha, Alana. Eu posso ir com você. – Rhistel disse suavemente, temendo atrapalhar a conversa, mas apreensivo com os perigos erguidos. O Dragão de Gelo ergueu os olhos por cima do ombro.

Acksul surgiu logo atrás deles ao lado do Príncipe Auric e arrastando um Garou em sua forma hominídea inconsciente e ferido. Jullian caminhou até o refém, erguendo o rosto do homem pela franja ruiva e mirando o seu rosto com atenção.

– Piotr Romanov. – Sussurrou. – Imagino que Vlada não está mais presente.

– Traidores. – Nyra murmurou com os olhos no homem inconsciente.

Ártemis tinha seus olhos bem abertos para tudo, um pouco surpresa, um pouco assustada; embora menos do que deveria parecer, já que o mundo feérico poderia ser bem grosseiro quando se aventurava. Nyra estava extremamente curiosa sobre o arco e flecha de prata lunar que repentinamente ganhou forma às costas da fada, não era grande, mas havia tantos símbolos e desenhos desde o arco até na ponta dos flechas, que sentiu que precisava estudá-lo. Mesmo sabendo que não deveria se distrair ali. Ainda, Ártemis não parecia mais tão frágil, com aquela arma… Talvez soubesse se virar melhor do que já deu crédito a ela.

– Não posso. – Alana respondeu a Rhistel ao agradecer o Falcão pelas informações. – Há muitos feridos por aí. Eu abandonar meu posto é o que desejam. Mas… Eu gostaria que dessem abrigo a meus dois filhos. Adrian e Auric. Assim como ofereceram a Audrey.

Quando escutou seu nome, o Athro terminava de saltar para a neve e mudava de Crinos para humana. Sua Fúria estava muito alta e Nyra podia sentir o orgulho ferido em sua voz:

– Eu não vou a lugar algum. Eles estão tentando tomar o que é seu da forma mais baixa que já presenciei na história. – Auric rosnou e limpou a boca de mancha de sangue de um lobo que ele havia mordido no ombro. – A última coisa que farei é recuar.

Auric não estava pensando, mas era um ponto fraco da Rainha Alana, mesmo com todo o seu posto e prestígio. Nathan observou o rapaz com uma expressão pensativa. O Galliard não iria contestar a decisão dele, pois faria a mesma coisa. Alana também precisava de gente que pudesse confiar…

– Por acaso, a ideia do casamento de Audrey partiu de você… Ou de outra pessoa? – Rhistel perguntou. – É que são muitas coincidências para não crermos em um golpe…

– O golpe pode ter sido arquitetado depois. Uma parte reino já estava insatisfeito. Sentimos essa tensão do Solstício… – Jullian respondeu a Rhistel.

– É mesmo… – Rhistel suspirou.

– Krazugnis ficará… E eu vou pedi a Connor que voe até aqui o quanto antes. Eu ficaria bem perto dele por esses dias… – Acksul disse a Alana. – Levaremos o Príncipe Adrian… Hm. – O Dragão se virou quando sentiu Blair se aproximar.

– Foi isso… Algumas pessoas sabiam do casamento apenas. E isso já alguma pista.  Ainda há um grupo de Garou do meu lado… Eu vou reorganizar e investigar. – Ela falava enquanto pensava, mas voltou sua atenção a Polaris – Obrigada. Eu agradeço.

Auric esboçou um sorriso descontente e negou, Alana apenas o olhou e ignorou; sabia o que ele pensava dos Dragões, e aquele não era o momento.

– Eu trouxe alguns nomes. – Blair apareceu subitamente, mas como se sempre estivesse ali. Ela estava com a ponta dos dedos sujas de vermelho, mas impecável ainda no restante das roupas. Ela se olhou, tentava a sujar a própria roupa para limpar os dedos da mão, mas desistiu; Nyra também achava o vestido lindo demais para aquilo. Então ela apenas afastou as mãos da roupa e continuou – Que podem ser investigados… Nada concreto.

– Onde estão Adrian e Audrey? – Alana perguntou outra vez.

– Com Ladirus. Estão a salvo. – Nyra respondeu de pronto e prosseguiu: – Você tem certeza que não quer vir junto e descansar? Você ainda parece que não dorme algum tempo…

Alana pareceu tentada com a resposta, mas negou.

– Se eu sair, eles arrumam uma desculpa… Eu apenas faço questão que Auric vá. – Ela insistiu.

– Eu já disse que…

– É uma ordem, Auric. – Alana o olhou firme – Fique com seus irmãos. Quando eu ter certeza que está tudo bem para voltarem, vocês são bem vindos de volta..

Calado, Jullian apenas acompanhava a conversa. Não teria sido tão gentil quando Nyra havia sido, mas agradecia o posicionamento maduro da sua pequena estrela. O Lendário fitou Auric e cruzou os braços, desviando-se para qualquer ponto desinteressante da neve.

– Nós levaremos este, se não se importar. – Jullian indicou o Garou desacordado com a cabeça. – Creio que podemos extrair alguma coisa…

– Com certeza. – Acksul abriu um sorriso aberto e maldoso que tão rapidamente quando nasceu. – Com certeza… – Ele se entreolhou com Blair brevemente. – Cuidamos disso.




Havia uma ala separada de enfermagem no castelo, onde dois enfermeiros e um médico sempre faziam plantão em turnos trocados. Todos eram aparentados e Aisha gastava um bom dinheiro para mantê-los em equipes reduzidas por ali. Eram de famílias diferentes e vinham de uma mesma organização de Aparentados que serviam Garou por um preço alto.  Adrian precisou de uma grande transfusão que foi doada por Auric e acompanhado por Audrey. O príncipe também ganhou diversas costuras nas costas para não absorver as cicatrizes e um atestado de repouso, entre outras instruções para limpar os ferimentos.

– Eu não quero imaginar como estão minhas costas.  – Foi a primeira coisa que Adrian disse ao entreabrir os olhos, focar o braço da irmã e notarem que estavam sozinhos naquele lugar todo branco. – Se eu estou em um hospital…
– É só para não ficar inteiro com cicatrizes. Você é muito lindo para isso.

– Ah… – Ele respirou fundo e riu desanimado. – Ai… – Reclamou da dor. – Não tenho ideia de onde estamos.

– Na Ilha… – Audrey respondeu, estava deitada na poltrona e um pouco sonolenta.

– Na Ilha? Sério? Mamãe e Auric? – Franziu a testa.

– Auric foi dormir… Christina o convenceu a ir. Mamãe ficou na Rússia… Mas ela está bem, está protegida por dois Dragões.

– Hm… – Ele colocou o braço sobre a barriga, deitado de lado por força maior, e usando um pijama azul marinho. – Fome.

– Ladi foi buscar algo para nós. – Audrey disse, usava um jeans rasgado e uma camisa branca larga.

– Você está com raiva da mamãe? – Ele a fitava nos olhos entristecidos. Audrey o observou por um tempo e desviou o olhar para o chão.

– Não sei…

– Gaia. Audrey. Você é muito passiva sobre ela, e Auric. O jeito que eles te tratam… Tudo bem sentir raiva.

A maga negou, sem querer responder sobre o assunto.  O silêncio ficou no cômodo por um tempo.

– Nós vamos ficar na casa da Blair. – Disse em certo momento.

– Blair? Ela me viu assim? – Ele falava ainda preguiçoso, mas sorriu ao ver o riso da irmã:

– Ela namora agora, Adrian.

– Merda. Sério? Que pena… – Ele riu desanimado, mas segurou ao ar ao sentir a dor nas costas. – E você está mesmo com o Dragão?

Ela mordeu o lábio e segurou a resposta por um tempo, pensando:

– Sim. Mas é segredo.

– É? – Arqueou as sobrancelhas – Não parecia. Eu não consegui deixar de reparar naquelas mensagens quando você abriu a conversa com ele no iPad. Eu queria não ter visto, mas…

– É… – Ela sorriu incerta – Mas ainda é segredo. Xereta.

– Eu sou. – Ele assentiu e se esforçou para se sentar. – Vamos sair daqui. Eu quero conhecer esse lugar agora.

Audrey se levantou e foi até ele, sentando-se ao lado de Adrian.

– Calma. Ladi foi buscar algo.

– Tá bom. – Ele coçou os cabelos negros e curtos, levemente ondulados. – Mas a gente come a anda.

– Ok… – Ela riu e o beijou no rosto, feliz pela presença do irmão, embora o coração estivesse apertado.




Assim que chegou na cozinha, Ladirus fez um pedido muito específico para a janta do príncipe, equilibrando um prato com riqueza nutricional, assim como o suco de frutas selecionadas. As cozinheiras eram sempre muito sorridentes e simpáticas. O Dragão agradeceu com um sorriso largo quando elas prontamente correram para atendê-lo. Ele se sentou em uma banqueta e passou a aguardar.

Quando relaxou, sentiu todo o cansaço atingi-lo, acompanho de uma a fome crítica. O Dragão pediu um frango inteiro para si e não esperou que ele assasse. Comeu-o cru, feliz que nenhum dos seus amores estivesse presenciando o processo sangrento e nada sensual. O frango não terminou com a sua fome, mas pelo menos permitiria que ele aguentasse até que pudesse caçar pela manhã. Ladirus escovou os dentes em um dos banheiros, usando uma escova descartável, e retornou à cozinha.

Não se sentia feliz, embora estivesse tudo praticamente resolvido. Talvez fosse o fato de Audrey ainda estar casada e mesmo que Jullian houvesse explicado que um casamento não consumado não tinha validade nenhuma na Sociedade Garou, ela estava casada no mundo dos homens. Lembrava-se do desespero que sua amada e sentia o coração doer por não ter conseguido impedir esse acontecimento desastroso.

Ladirus cruzou os braços sobre o balcão e curvou-se, descansando o queixo sobre os braços e fechando os olhos. Queria dormir. Dormir abraçado com Ártemis e Audrey, sentindo os seus perfumes bem de perto acalmarem a sua noite. Nem precisava de muito. Apenas dormir e carinhos. Ele acabou se assustando quando sentiu uma mão pousando em seu ombro nu.

Estremecido, ele ergueu o rosto, fitando o semblante que não havia se atentado tanto pela manhã no café. Os olhos escuros eram tão intensos que a sua alma parecia exposta neles sem a película de proteção da carne. Era um rapaz magro, mas definido, alto e bonito. Ladirus fitou brevemente o conjunto de tatuagens no corpo no raposo que também não usava camisa.

– Posso me sentar aqui? – Henry indicou a outra banqueta ao lado do Dragão.

– Sim.

Ele caminhou calmamente, sentando-se apoiando-se de lado com o braço no balcão. A mão livre carregava um pirulito azul que ele levou a boca, brincando com o doce com a língua de uma forma peculiar…

– Você também tem raiva de mim? – Ele perguntou perante ao silêncio analítico do Dragão.

– Não. – Ladirus respondeu de pronto.

– Isso é bom. – Ele sorriu seladamente, mordendo o pirulito sem quebrá-lo. – O Dragão trouxe a Princesa de volta. – Comentou, mantendo o contado nos olhos de Ladirus com interesse. – Por que não trouxeram a Rainha?

– Ela não quis…

– Hm… Nunca vou entender essa gana por um trono tão amaldiçoado…

– Sinceramente, nem eu… – Ladirus apoiou o rosto na mão como ele o fazia. Olhou-o em silêncio antes de comentar. – Eu me lembro de você, Tsuru. Foi você quem cuidou dos meus ouvidos enquanto fugíamos…

O sorriso de Henry se estendeu mais.

– Também me lembro de ouvir você cantando. – Ladirus continuou. – Lembro-me da sua alegria… Mas nada muito além disso.

– Receio que eu não seja mais tão alegre quanto te conta a sua lembrança… – Henry chupou o pirulito. – Foi tudo bem? Todos ficaram bem…? Nyra?

– Sim… Todo mundo… Somente ferimentos reparáveis…

Os dois se desviaram para a cozinheira que se aproximava com uma bandeja com um conjunto de inox fechados e cheirosos.

– Seu pedido, senhor Ladirus.

– Obrigado… – Ladirus se ergueu e pegou a bandeja.

Henry também se ergueu, novamente mordendo o pirulito, mas dessa vez o quebrando com os dentes.

– Bem, eu… Já vou… – Ladirus o olhou de novo.

– Tudo bem…

A ousadia na mão que alcançou o rosto do Dragão o deixou sem reação. Henry se aproximou, olhando-o mais de perto enquanto o palito do pirulito rondava os seus lábios finos, pilotados por sua língua azul. Os dedos claros e pintados acariciaram o rosto do Dragão com suavidade. Ladirus o mirava de volta, estático, com a bandeja na mão.

– Melhoras ao príncipe… – Henry sussurrou antes de se afastar.

Ladirus se sentiu tão perdido que não conseguiu encontrar nada para responder a ele. Observou-o se afastou com os lábios que se entreabriam pela surpresa. Quando ele se lembrou de caminhar, mas o fez devagar e aéreo.

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