Hopeless Fountain Kingdom

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Hopeless Fountain Kingdom


O noivo não podia ver a noiva antes do casamento para não dar azar, mas precisava haver uma cláusula que anulasse o ritual quando a própria cerimônia em si corria o risco de nunca acontecer?! Droga. A eminência de um vexame parecia tão óbvia que chegou a passar por sua mente que todo o esforço que estava fazendo para a união matrimonial ocorrer trazia apenas uma fonte de tormento para si. Keith levou a mão aos cabelos e puxou-os para trás, fechando fortemente os olhos. É só a droga de um casamento arranjado como todos os outros. Como todos os outros, uma grande farsa. Uma forma politicamente correta de gerar descendentes Garou. Que fosse consensual, ao menos.

Os seus dentes se apertaram, rangendo. A humilhação que antecederia uma confusão já lhe causava um mal-estar. Como a Rainha Alana casava a própria filha sem que ela mesma soubesse? Keith fora alertado por seus conselheiros de Seita e não quis ouvir. Fazer negócios com Alana significava perder de alguma forma. Como retornaria ao Reino da Pérola sem poder sequer exibir a sua esposa de mentirinha? Keith desferiu um único soco no espelho à sua frente, quebrando-o. O que restou para vislumbrar era a sua real forma partida. O orgulho como uma armadura desfeito e o Garou “Zé Ninguém” retribuindo um olhar que nunca deixou o fundo de sua alma.

Sequer era um Albrecht. Ao menos, de suas mentiras, poder-se-ia dizer como um Presa de Prata. Estava roubando uma Aparentada do Luar do Oceano, então? Roubando a ilha dos Dragões?! Precisava se explicar com urgência. Quanto demoraria para que os seus primos puxassem a sua máscara e Keith se tornasse uma piada generalizada? O seu pai, um mero Salas. Salas era o sobrenome de um ninguém. Poderiam fazer pior ainda, não? Matá-lo, por exemplo? Keith levou as mãos ao rosto, cobrindo as suas bochechas. Preciso fazer alguma coisa. Qualquer coisa. O pensamento emergencial o tirou do seu quarto e o fez caminhar pelos corredores do Palácio, sentindo-o já distante de suas mãos. Ao virar em direção a um corredor perpendicular, trombou-se com quem menos deveria se encontrar.

– Keith…

A relutância de encarar a antiga princesa destituída da Sociedade Garou não foi superada naquele instante de tormenta.

– Willa…

O vestido era cor-de-rosa bebê, com babadinhos de pureza e cumprido para zelar por sua castidade.

– Eu estava procurando por você. – Ela sussurrou.

– É mesmo?

– Sim. – Ela disse. Sua voz tomada pela emoção. – Tudo está confuso hoje… – Resfolegou. – Você é o noivo da Princesa Audrey?

Quando sentiu a voz dela embargar, Keith ergueu os olhos até os muito azuis de Willa. Pobre moça. Bela moça, mas não mais a Aparentada mais importante da Sociedade Garou. As juras de amor entre os dois morreram com a perda do trono de Vlada e graças a Gaia não tinham ido a público ou não estaria sequer casado…

– Sim. Apaixonei-me. – Keith respondeu com uma firmeza que surpreendeu até a si mesmo. A força do medo.

– Mentira. – Willa se aproximou e Keith ergueu o rosto, distanciando-se. – Mentira… Apaixonou-se pelo trono… Não por Audrey. Não se apaixonou nem por mim.

– Ah… – O Garou suspirou. – Preciso ir, Willa.

– “Precisa ir”! – Willa elevou a voz, chorosa.

– Sinto muito. – Disse-lhe, desvencilhando-se da Parente.

– Keith…

A história não viria a público, pois se tratava de uma vergonhosa mancha para ela. Única sorte do dia, ao que parecia. Keith seguiu apressado em busca dos quartos reais, pedindo a Gaia que lhe cedesse somente mais uma única chance de sucesso e que a princesa prometida ao menos estivesse em seu quarto, alheia a toda a conspiração. Ele bateu duas vezes, fechando os olhos novamente com força. Por favor.




A própria visão no espelho sequer respirava direito. Fayre tinha os olhos escuros e vagos no reflexo e se perdia em pensamentos silenciosos que recapitulavam.

Sua mãe havia implorado a ajuda, ou o pescoço dela estaria na guilhotina dentro de poucas semanas. “Por favor, filha”, pediu com educação e violência que não deixavam marcas na pele. “Você apagou todas suas tatuagens, mãe, o que aconteceu com você?”, lembrou-se de notar, e a voz respondia “Você precisa aprender a se misturar uma hora. E eu preciso que tire esse cabelo e as suas tatuagens também. Precisa parecer o mais tradicional possível.” Uma longa discussão, gritos e pressões de Alana, “Você quer que sua mãe morra? A culpa vai ser sua se sim.”

Quando começou a considerar, entre a agonia e o desespero, Auric disse “Não é como se você não tivesse dormido com um monte de gente. Casa, vai pra Seita, depois você se vira. Não é difícil, Audrey.”

Os olhos negros desceram até o próprio colo descoberto. Fayre apenas usava uma lingerie branca, e estava com o roupão aberto. Em seu peito enxergava um buraco invisível, e sua visão se perdeu por ali. Não havia mais tinta no seu corpo e os cabelos estavam no natural negro, desalinhados e acima dos ombros. Uma boneca apagada de personalidade.

“Mesmo que você conseguisse entrar em contato com eles, você acha que começariam uma guerra contra a Rússia? No máximo, um jogo de políticas cansativo…” Alana explicou, destruindo qualquer esperança de Audrey, fazendo-a acreditar que sua melhor chance era voltar com o Rei para o Reino, e de lá, dar um jeito de retornar a Ilha. Talvez Blair iria rápido, e Ladi… Mas não poderia estar dentro de Seita nenhuma, ou poderia ser uma Guerra. “O Luar do Oceano não pode em hipótese alguma entrar em guerra com a principal Seita da Sociedade”.

“Mas o que aconteceu com você, mãe…? Auric?”.

Fechou seus olhos e respirou dolorida. Não percebeu quantas lágrimas haviam se alojado para caírem por seu rosto maquiado.

“Amanhã eles vão perceber que eu sumi… Com sorte amanhã eu estarei indo para o Reino da Pérola e dando um jeito de fugir.” Concluía, mas se perguntava se valia a pena, sequer. “Porque você está fazendo isso comigo?”… Apertou os olhos. “Você é a porra da minha mãe, eu não vou entender um dia!”. “Você é a porra do meu irmão”. “Vocês são a porra da minha família”. 

“Vá para o seu quarto, Audrey, os preparativos estão terminando. Espero que goste do seu vestido, eu escolhi algo que achei que aprovaria.” Alana disse, e Fayre obedeceu. No meio do caminho para o seu quarto, sentiu um imenso desespero, e gritou. Auric a arrastou pelo braço, machucando-a, e Audrey usou Mágika contra ele… Gaia, aquilo mexeu com a cabeça do primogênito.

– Você é uma Violadora!?

– É! E pergunta para aquela filha da puta como ela chegou na porra do trono!

Audrey gritou no quarto, e próximo de uma Frenesi, Auric a jogou na parede e a trancou. Seu corpo ainda estava dolorido e marcado. Auric foi tirar satisfações com a mãe, mas ela provavelmente o contornaria. Ela sempre fazia isso com os três.

“Eu preciso me acalmar…” Audrey olhou para o teto. Tentava se convencer a obedecer e teria uma boa chance de escapar. Mas seu sangue fervia como água em bule, e escutar a porta batendo a fez menos paciente. A Maga correu para a janela, e checou a altura. Estava tão frio e a nevasca tão forte, que mal se via a cor do céu.

– Merda. – Ela procurou algo que pudesse usar como arma. Iria atacar antes que fosse tocada e fazer qualquer insanidade. Não morreria. Eu já morri uma vez. Mas precisava voltar… De qualquer jeito.

Audrey soltou uma barra do aquecedor, e segurou firme na mão. Blair fazia parecer tão fácil assassinar um Garou. “Provavelmente eu vou morrer”, convenceu-se e colocou o pedaço de ferro atrás das costas. Posicionou-se um pouco atrás da porta e disse docilmente:

– Oi? Quem é…? – Perguntou casualmente, mas estava tensa até o último fio de cabelo. “Eu vou morrer… Mas quem se importa?”.

Cheiro de medo era o aroma que um Garou se acostumava a sentir à distância. Principalmente, um cheio de desconfianças e receios quanto Keith. Ele deu um passo em distância da porta e afundou as mãos nos bolsos do fraque antes de dizer com cautela proposital na voz:

– Keith, ah… Keith Albrecht. Infelizmente, ainda não nos conhecemos pessoalmente. – Ele disse com rapidez e o sotaque de suas terras espanholas se tornava evidente em sua voz grave. – Perdão surgir assim, Audrey. Eu estou tão confuso quanto você… – Pestanejou, olhando para os lados com incerteza.

Apertou o ferro entre dedos às suas costas. Audrey prendeu a respiração para não ofegar, e não sabia se poderia confiar. Provavelmente não.

– Eu não estou confusa. – Disse, tentando não entregar o nervosismo em sua voz – Eu… Estou me preparando… Eu… Bem… – Andou pelo quarto e guardou o ferro abaixo do travesseiro da cama e ficou alguns passos de distância, do lado oposto da cama em relação a porta, do imenso quarto. Tão vasto e luxuoso que poderia valer mais que casas. – Mas… Você não deveria estar aqui… Alteza… – Franziu o nariz, sem saber se deveria jogar o jogo da realeza, ou atacá-lo como tinha vontade. Apenas sabia do medo que sentia…

Pela movimentação que ouvia e percebia, a situação era pior do que esperava. Keith escorou as costas ao lado da porta, buscando do bolso do fraque a sua cigarreira e o isqueiro. Fumar sempre acalmava os seus ânimos e ele precisava de todos os artifícios que lhe trouxessem uma paz naquele instante. Acendeu então um cigarro e levou-o aos lábios. – Os costumes me condenariam. – Ele arqueou as sobrancelhas retas. – É uma pena, pois adoraria ter a surpresa de vê-la como minha noiva, mas… Eu estava contando que esta união de paz estivesse acontecendo porque você sabia e queria. Uma velha amiga deu a entender que você não sabia. Pelo seu nervosismo, eu entendo que não sabia mesmo. – Keith tragou do cigarro e expirou para cima. – Eu gostaria que pudéssemos conversar, se for não um problema para você. Infelizmente, se você estiver aqui contra a sua vontade, eu também ganhei um problema enorme…

A Maga observou a porta em silêncio por um tempo, sem saber se deveria acreditar naquelas palavras. “Eu não quero se você não quiser?” Ou apenas veio para “me tranquilizar?” Seja qual fosse a intenção valeria o diálogo. “Só preciso me manter calma…” concluía, reconhecendo sua dificuldade de dar razão para as situações.

– Ok… – Ela olhou para a parede onde o belíssimo vestido estava sustentado por um cabide na parede. – Eu estou trancada pelo lado de fora. Você pode abrir. – Disse, apertando os punhos e mantendo a distância da porta, tensa e ansiosa…

– Trancada? – A voz de Keith soou calma e controlada. Bem diferente do seu interior fervente de tão incrédulo. “Em que merda estou me metendo…?”, o Ragabash apagou o cigarro no chão com o sapato e abriu a porta.

Bem diferente do que esperava, deveras. Uma princesa que se parecia devidamente com uma princesa. Audrey não era somente linda, mas detinha um olhar tão intenso que Keith entreabriu os lábios e deixou-os assim conforme encostava a porta suavemente. Sacrifício algum. Ele pestanejou, desviando-se para a porta e para ela, de novo.

– Por que está trancada, princesa? – Ele franziu o cenho. – Por que você não me conta o que aconteceu com você e eu te digo o que aconteceu da minha parte? – Preciso de um cigarro. Ele tirou a cigarreira novamente do bolso do fraque. – Importa-se?

Os olhos entristecidos o fitaram em cada movimento. Audrey respirava devagar porque controlava sua agitação como podia, mas estava assustada mais do que deveria, mesmo quando ele surgiu amigável. Estava sendo difícil acreditar em alguém. Keith era maravilhoso, mas não foi algo que conseguiu se apegar naquele instante. Ela negou sobre se importar do cigarro, teve vontade de pedir um por ela mesma, mas ainda não queria se aproximar. Estava em pé do outro lado da cama.

– Meu… – A história parou entre seus lábios. “Você quer matar sua mãe?” – Irmão… É melhor você falar primeiro… – Completou, a cabeça dolorida pela dúvida. “A culpa vai ser minha?”.

– Certo. – Ele tirou um cigarro a cigarreira e acendeu-o, levando aos lábios. – Eu, hm… Bom, você deve saber quem eu sou… Enfim. Eu sou o Rei do Reino da Pérola e consegui juntar duas Seitas em uma só e construir uma grande força entre Portugal e Espanha. Eu sou espanhol… – Ele disse, sentindo-se óbvio ao comentar e tragou do cigarro, deixando-o entre os seus dedos. – Meu pai foi um Albrecht e a minha mãe, uma Blackwood. Irmã de Elizabeth Blackwood, a mãe de Jullian, o seu Rei. – Ele inspirou profundamente. – Eu estava fechando uma aliança com o meu primo, mas adiei quando a A Rainha Alana chegou até mim oferecendo a sua mão. Ela só não mencionou… A sua relutância… Em se casar comigo. – Keith voltou a tragar do cigarro. – A sua mãe, ela… Precisa do meu exército para se manter aqui e eu ofereci uma grande proteção a ela em troca da sua mão. Essa é a minha parte.

Ao descobrir que ele era um Blackwood suas emoções se misturaram no que podia ser um bom sinal, ou péssimo sinal. Ela franziu a testa e recuou brevemente o olhar.

– Você trocou uma aliança com o Luar do Oceano por um casamento com uma Aparentada? – Audrey percebeu que não via sentido naquela Sociedade mais. – Eu fui enganada até aqui. Eu não pretendia me casar. Provavelmente eles não foram convidados. Nem eu sabia que tinha sido. – Olhava-o, sua mente ia se acelerando e as perguntas mencionadas rápidas: – Quanto em problema minha mãe está? O quanto ela precisa do seu exército? Você acha que ela corre risco de morte?

Quem corre risco de morte sou eu…”, Keith pensou enquanto a ouvia e fumava. Fumava sem parar. – Ela está sem aliados aqui, praticamente. Apenas os Thorheim. Isso é um grande problema para ela… E eu cederia um terço do meu exército pra cá, o que lhe garantiria uma proteção. – A Ragabash fez uma pausa. – O Luar do Oceano não se interessa por casamentos… Mas ainda estávamos negociando. Estávamos próximos de um acordo em que um dos seus Dragões ficaria boa parte em minha Seita, o que seria perfeito. – Provavelmente, o mesmo Dragão será usado para comer a minha cabeça agora. – Casar-se é um sacrifício tão grande para você, neste momento?

Audrey o olhava tão perdida quanto estava por dentro. As lágrimas vieram em uma urgência de confusão e desabafo, mas ela as segurou para que não caíssem.

– Eu… Não deveria estar aqui… Eu tenho um namorado na Ilha… Eu não quero me casar. Mas se eu preciso fazer isso para sair da Rússia… E não condenar a minha mãe. – As lágrimas finalmente escorreram pelo canto de seus olhos – Mas eu não quero! E eles não podem me buscar ou vão desfazer alianças… Eu acho que eles podem não ter percebido que eu sumi ainda. Eu sei que eu preciso ir embora. – Ela se sentou a cama, cansada e sugada da situação, até que uma luz veio a sua mente: – Deixa eu usar seu celular? – Ela andou até ele. – Eu preciso tentar falar com eles.

Namorado. Só piora essa situação. Keith voltou a tragar do cigarro. Já nem conseguia piscar mais os olhos. O seu coração começava a disparar e seu rosto corava. Ela começava a chorar e ele queria fazer o mesmo naquele instante. – Princesa. – Ela tirou o cigarro dos lábios. – Eu também tive o meu celular confiscado quando entrei aqui… Eu já teria ligado para ninguém e desfeito esse mal-entendido com cara de traição. Olhe. – Keith se aproximou cautelosamente da cama, sentando-se de costas para ela. – Eu também tenho alguém me esperando no Reino da Pérola. – Ele fez uma pausa. – Você não precisará estar comigo, em minha Seita… Podemos manter isso… E só precisaremos posar em situações importantes. Você pode continuar vivendo no Luar do Oceano por mim. Ficará tudo bem. Você voltará para casa, eu ajudarei a sua mãe e… – Suspirou. – Conversarei com o meu primo como amigo, não traidor. O seu namorado pode entender, não? Assim como a minha namorada entendeu…

Audrey engoliu seco e tocou o próprio ombro. Seus olhos aguados não mudavam o estado e ela ficou naquele silêncio longos minutos. Abraçou-se por outro minuto e desceu as mãos até os joelhos nus e os massageou.

– Entendo… Ok… – Ela concordou, respirando devagar – Tudo bem por mim. É a melhor forma. – Fitou-o por cima do ombro – Você vai me deixar mesmo falar com o Luar do Oceano quando chegarmos no Reino? E… Eu posso continuar cantando, não é? Essas coisas…

Os dedos do Ragabash se afundaram em seus cabeços. Keith fechou os olhos. – Ah, é… – Ele meneou negativamente a cabeça e levou de novo o cigarro aos lábios. – Você garantiria para mim que nunca seria pega pelas câmeras com outro? – Ele tragou do cigarro. – Audrey. Tem um detalhe que talvez você ainda não saiba. – Ele a olhou por cima do ombro. – Nós já estamos casados no civil. Essa festa é só uma formalidade.

Audrey se ergueu lentamente e se virou para ele. A maga sentiu o desespero roubando sua respiração. “Que diferença fazia? Ladi não poderia.” Mas ainda fazia.

– Casada no papel? Mas eu nem… – Ela voltou a chorar e se virou para o vestido. Por que estão fazendo isso comigo? Audrey apertou os olhos por um instante e arrancou a roupa cheia de diamantes para o chão. Pegou-a no braço e saiu do quarto a arrastando pelo chão. – Eu não vou casar PORRA nenhuma! – Ela gritou no corredor.

GAIA, ME AJUDE! Keith correu até ela, parando ao seu lado e fechando a porta. – Princesa… Princesa… Acalme-se. – Ele pediu. Já não escondia mais o seu nervosismo. – Isso só piorará as coisas… Eu sei que o que fizeram com você foi horrível, mas… Entenda… Qualquer passo agora pode gerar um grande problema! – Ele passou a mão pelo rosto. – A sua mãe está brincando literalmente com fogo ao te trazer aqui contra a sua vontade… Jullian me deixou bem claro como as leis do Luar funcionam. Deve haver um meio termo, sim?! Ela conta que os Versos da Magia não farão nada… E se ela estiver errada? Eu sou o primeiro a morrer e eu nem fiz nada, só vim aqui para casar, então… Por favor… Ajude-me a pensar em alguma coisa… – Ele pediu, unindo as mãos diante dela. – Você não tem ninguém aqui em quem possa confiar?

Audrey se assustou com a aproximação dele e recuou seus passos com o susto. A maga o fitou nos olhos, desesperada de uma forma que seu colo ofegava e a voz apenas saia durante as pausas.
– Eu sou a droga de uma MAGA! Eu não sou Aparentada droga nenhuma e não sirvo pra nada pra essa porra de sociedade! – Ela falava rápido e quase gritando. – E você está parecendo igual a todos eles! Assinando certidões sem nem saber quem é sua esposa! – Ela tocou a própria testa – Eu não… – Andou até a penteadeira e largou o vestido no chão. Audrey se apoiou na estante e tentou pensar – Eu não… A… Adrian! Adrian! – Virou-se para ele – Eu quero ver o Adrian, meu irmão…

Maga. Keith voltou os olhos para o teto. Quanto mais fugia naquelas criaturas, acabava sendo perseguido por elas. “Eu estou ferrado… Mesmo”, Keith fechou os olhos. Nem havia chegado no ponto da conversa mais importante e ela estava completamente eufórica. E nem noção alguma do quanto é preciosa. – Aceitar um casamento arranjado é tradição da minha Tribo. Não era o que eu almejava para mim… Aconteceu… – Não do jeito que eu esperava… – Você ganha mais sendo a minha amiga, Audrey. – Dane-se as formalidades. – Eu não estou te obrigando a nada. Se quiser, eu anulamos esse casamento e retorno para a minha Seita e é cancelada qualquer aliança possível… – Ele pousou a mão na maçaneta e a abriu. – Eu vou buscar o seu irmão…




A sorte de Alana era que Auric existia, pois contar com os dois filhos caçulas talvez a história nem houvesse chegado até a Rússia. O filho mais distante havia chegado nos últimos meses, acompanhado as transições a pedido da mãe, mas ele mesmo não interagia muito com o lugar além da biblioteca. Ao observar a sociedade a distância, encontrou algum hobby; e ao ajudar sua mãe a ler sobre as famílias e encontrar brechas nas histórias, achou um passatempo. Dos perigosos, mas como sabia que a última preocupação dos lobos era lidar com um Parente fora da curva, não tinha o mesmo medo que havia percebido em sua mãe e Auric. Mas ainda, tinha interesse em ajudá-los. Eram sua família afinal… Nada bom ter o nome com mais pessoas no caixão do que andando pelo mundo.  – “Algo que os MorningKill queiram muito”… – Murmurou para si entre as estantes das imensas e intermináveis prateleiras, tentava encontrar a isca que sua mãe estava tão desesperada por. – Quanta história chata, meu Deus… – Bocejou, virando outra página e logo se distraindo. O cheiro de petiscos já chegava longe, e ele estava até ansioso para ver o casamento, uma vez que parecia até surreal ver Audrey em um vestido de noiva. Ao menos a irmã estaria bonita, disso tinha certeza. “Mamãe deve tê-la assustado?”, começou a se perguntar o porque Audrey aceitaria. Era verdade, Alana estava muito esquiva sobre a história, mas sua irmã também costumava colaborar com todas as façanhas da matriarca; aliás, todos os três. Exceto que a irmã do meio andava muito diferente. Há um tempo não conversava com ela, mas quando acompanhava sua carreira, Audrey nunca havia sido tão polêmica. O que era até bom…

Audrey costumava ser tão passiva que superava Auric e seu instinto de obediência. – Eu vou levar isso comigo. – Ele caminhou até o final da prateleira enquanto arrumava um jeito de esconder o livro sagrado dentro do blazer que usava, por cima de uma cacharrel preta. Adrian usava muito a cor, e destacava sua pele pálida e olhos que mudavam de cor facilmente com a luz. A diferença do restante da família era tão nítida, na personalidade, na aparência e nos gostos, que Alana não costumava citá-lo por aí, mas sabia que um dia seria bom para casar. Talvez. Infelizmente, a progressão machista do mundo era tão grande e escalada, que até as Aparentadas chamavam mais atenção por razões erradas e cruéis. Apenas esperava que sua irmã estivesse bem; Audrey era mais família que o resto da família e sabia que ela se sentia da mesma forma sobre ele.  – Eu deveria tentar achá-la… – Espiou a curva antes de continuar, aparentemente despreocupado.

O relógio corria mais rápido do que ordenava a lógica das horas. Não duvidava que seriam chamados até antes para descer ao salão. Keith olhou para cima num pedido silencioso de clemência. Clemência que não terão comigo caso essa história dê errado…

O Elder estava escorado na parede ao lado da porta da biblioteca. Aguardava o príncipe, pois também precisava se acalmar um pouco e nem a merda do cigarro estava adiantando mais. Queria poder falar com a sua namorada ou com um dos membros da sua Alcateia. Estava sozinho com os seus pensamentos. Não acreditou que passaria por tanto estresse. Deveria tê-los trazido consigo. Todos eles…

– Príncipe Adrian! – Distraiu-se e acabou elevando a voz mais do que gostaria de tê-lo feito. – Perdoe-me. Eu sou Keith… – Ele estendeu a mão para o Aparentado.

Os olhos de Adrian se arregalaram em primeiro momento. Sentiu a forte Fúria de Keith, antes de saber quem era. O Aparentado travou na porta e o fitou por um segundo, como se pudesse ler qualquer intenção antes de se pronunciar. – Um minuto… – Colocou parte do corpo para dentro de volta e jogou o livro antigo em uma das mesas. O susto ainda tinha seu coração disparado. Mas a história pareceu interessante antes mesmo de começar. O noivo da sua irmã! “Meu deus, ele não vai me pedir conselhos, né…”.

– Prazer… – Apertou a mão dele firmemente de volta. – Alteza por alteza, eu te chamo de Keith e você me chama de Adrian somente. – Sorriu de canto se lábio rapidamente. Fechou delicadamente a porta da biblioteca e o olhou por alguns segundos… A curiosidade cresceu junto de um certo sarcasmo interno e um pouco de preocupação. – Noivos ficam ansiosos também, não é mesmo. Quem diria. – Olhava-o e expressou estranheza brevemente – Bem ansiosos, aliás… – Negou – Eu ficaria também. Minha irmã é maravilhosa e preciosa, já a conheceu pelo jeito. E tem muita gente querendo estar no seu lugar hoje.

Se o santo não havia batido com Auric, a afinidade com Adrian foi instantânea. A diferença entre ele e Audrey de Auric até era gritante. Nem pareciam da mesma família. Provavelmente teria gostado de conhecer a princesa em outra situação, mas naquela não pode se conter da gargalhada que ele segurou tardiamente, abaixando a cabeça e e esfregando os lábios com a costas da mão.

– Ah! – Não queria sorrir, mas queria muito rir da própria desgraça, então o máximo que conseguiu foi conter o riso. “Posso fazer um sorteio do meu lugar…”. – Certamente… – Ele assentia, estendendo ainda mais o sorriso por seus lábios finos. – Adrian. – Ele suspirou tão profundamente que parecia que desfaleceria. – Adrian… – O Rei fechou os olhos, sem deixar o sorriso morrer… – Eu acho que a sua irmã fará um escândalo no salão de festas e… Juro por Gaia, se ela fizer isso… Eu vou embora. Já sinto que deveria estar indo, na verdade. A sua irmã está aqui a força…

Ele acabou rindo com os risos nervosos de Keith, e quem passava poderia achar que uma ótima piada foi dividida naquela situação. Mas a felicidade de Adrian foi sumindo, se tornou uma expressão entristecida, confusa e no fim séria.

– É por isso que ela está isolada. Mas que sentido teria… Que estranho… Vocês já não casaram no civil? – Fechou os olhos brevemente, como se percebesse algo – No mínimo ela foi chantageada. – Disse para si quase e voltou seus olhos a Keith. – Calma. Que bom que tenha sido inteligente o suficiente para checar a história antes de se jogar no salão. Agora precisa manter a calma. Não fuja. – Falava baixo para não intensificar a urgência da situação – Consegue me levar até ela, Keith? Você estava com ela, certo?

“Manter a calma…”, Keith se perguntava como faria isso. Que calma?! O Garou inspirou Fúria e concordou vagarosamente. Os olhos voltavam a mal piscar…

– Ela quer falar com você. Pediu-me para que eu o chamasse… – Explicou até meio aéreo enquanto verbalizava os pensamentos. – Eu não quero fugir. Quero esse acordo… Bom, pelo menos eu queria. – Ele pousou as mãos à cintura, negando com a cabeça. – Meus primos… Você sabe quem são? São os reis dela… A essa altura me consideram um rato. – Ele começou a caminhar ao lado do príncipe. – Se ela passar uma ideia de estar sendo maltratada, eu… Temo por todos. – Keith assentiu. – Eu vi um Dragão… A sua mãe… Não sabe que briga está comprando… Essa foi uma atitude sem pensar… Maluca. Insana…

Os olhos de Adrian não poderiam estar mais abertos. Ele pareceu guardar a informação e processar. Quando subiram o primeiro lance de escadas, ele disse:

– Minha mãe… Perdeu-se… – Lamentou, distante – Ela nunca faria isso com Audrey. Algo está mais errado do que parece… Ela acabou de voltar nos Estados Unidos atrás de uma aliança com eles. – Cruzou os braços – Você acha mesmo que eles viriam buscá-la? – Olhou-o ainda surpreso. – Eu já ouvi falar das leis, mas… Eles jogariam tudo para o alto por causa da minha irmã? Filha da Alana? Isso seria… Muita coisa para lidar… Isso é antecipar uma guerra, Keith! – Concluiu exaltado e apertou o passo. – Dragões pelo céu hoje à noite… Seria útil descobrir o porque ela quer tanto seu exército. É um preço alto. Você não tem ideia?

– Eu chuto que seriam necessários quinze Garou para derrubar um Dragão. Quinze Garou experientes… – Keith disse, ainda tecendo uma reflexão. – … Eu acho. – Ele fitou o príncipe de soslaio. – Fala-se muito sobre o Elder Sage MoningKill dar um Rei melhor. A sua mãe está sem aliados aqui dentro. Até mesmo os Romanov lhe viraram as costas… É motivo de desespero. Meu exército tem uma fama excelente. Resolveria os problemas dela, com certeza. Deveras, eu imagino que ela iria amar tê-lo aqui se Lâmina-Mortal pousar com Dragões. – Keith sentiu o coração acelerar de novo. – Posso dizer que o Luar de Concreto é muito cauteloso com alianças. Eu acredito que a Seita Luna de Concreto só conseguiu a Ponte de Lua porque a mãe da Rainha Nyra é praticamente dona da Emissora On. – Keith mordeu o lábio, ponderando. – Eu não os conheço pessoalmente, mas se você puxar a lista de feitos dos Versos da Magia, é uma das mais longas. Eles têm sangue no lugar dos olhos. Espero que saibam perdoar traições.

Olhava-o com atenção, pensando nas palavras e encaixando os contextos. Adrian sabia bastante sobre o grupo. Alguns textos recentes haviam entrado na biblioteca, além do que circulava na Internet.

– Eu sei quem são… Parecem fazer bem a minha irmã… Se ela quer voltar tanto. – Os olhos passearam brevemente pelo chão – Você deveria ajudar minha mãe. – Disse a ele, ganhando convicções aos poucos em suas palavras:

– Não porque ela te ofereceu um casamento. Mas ela vale todas as ideias. É sério. Qualquer outro Garou naquele trono seria um tormento. Os boatos por aí… É que minha mãe deveria ser mais firme em relação aos Dragões… Eles querem dominar de alguma forma. Alana é mais esperta. – Explicou e fez uma pausa, olhou-o de canto de olho e voltou sua visão para o corredor – Talvez se você desse a solução para Audrey, ela ficaria menos desesperada… Tenho certeza que a minha mãe entrou na cabeça dela e ela está com medo da mãe correr riscos… Então… Ajude a Rainha… Cancele o casamento… Audrey pode ir para casa e te coloca em bons lençóis com os Versos. E você ainda faz um favor para o Luar do Oceano. – O sorriso selado cresceu em seu rosto. – Não é tão ruim, é? Minha irmã é a chave para você ter a aliança com seus primos. Ou perder tudo…

O Dragões não são meus. Quase que um arco-íris espontâneo se criou em cima da cabeça do príncipe. Cancele o casamento, ajude a Rainha e….? Keith observava Adrian com uma expressão neutra. Eu devo ter cara de idiota. Concluiu, certo de que o nervosismo que transpassava devia estar causando uma impressão de instabilidade. Estava nervoso, Furioso, mas ainda pensava. Se abraçasse tais soluções, no mínimo seria jogado ao mar quando retornasse ao Reino da Pérola. Retornaria sem um terço do exército, sem casamento e ainda com uma aliança que poderia conquistar de outra forma?

– Veremos o que é possível ser feito. – O Rei respondeu, neutro, enquanto buscava de novo por sua cigarreira.

Adrian o fitou e acabou rindo quando o viu pegar o cigarro de novo. – Eu tentei.

A porta do quarto de Audrey estava semiaberta, ela fazia um exercício de respiração, que foi por água quando viu o irmão. A maga se adiantou para agarrá-lo em um forte abraço e voltar novamente. Adrian, que não esperou a encontrar em um estado tão intenso, demorou alguns segundos até devolver o carinho… Ficando realmente preocupado.

– Eu só quero… Retornar, Adrian… Eu não consigo fazer isso. O que aconteceu com a nossa mãe?

– Eu… Eu não sei, Audrey… Ainda estou tentando descobrir… – Falou mansinho, ela estava em um estado de explosão e então entendeu a preocupação de Keith. Quando a princesa se afastou, os olhos inchados pararam no Rei.

– Eu preciso falar com o Ladi, ou a Blair, ou o Rhistel… Eu preciso falar com alguém! Eles não sabem que estou aqui…

Adrian abriu bem os olhos para a escalação de nomes e assentiu somente para tranquiliza-la, pois nem imaginava o que ela falaria para aquelas pessoas além de invocar uma grande confusão e briga. Mas talvez não fosse tão ruim…

– Precisamos arrumar um telefone, então…

Audrey assentiu.

Ladirus, o Dragão de Água da Rainha Nyra…? Blair deveria ser Blair Valerius, a outra joia da Sociedade Garou. Joias intocáveis e difíceis ao que parecia. Se não fosse pose de mídia, o cristal Presa de Prata estava namorando o Dragão de Gelo do Rei Jullian. À essa altura, já imaginava que a sua má sorte apontava para que o namorado de Audrey fosse Ladirus. Não diria que “era só o que faltava” porque ao que parecia tudo que faltava estava lhe acontecendo…

– Eu não sei se será possível… – Keith disse, distanciando os olhos para a janela. – Talvez… Esperem… – “Meu herói!”, ele enviou a mensagem a Athos, “Consegue vir até o quarto da Princesa Audrey com o seu iPad? Preciso que você seja discreto e ninguém te veja… É importante… Caso de vida ou morte…”.

Coletava parafusos no HayDay quando escutou a voz adorada de seu tio. Estava já um tempo tentando falar com sua mão de novo, mas o celular dela caia na caixa postal e ele imaginou que ela estava sem sinal. Uma pena! Queria mostrar a nova roupa para ela.

Athos se ajeitou na cama, saindo debaixo do lençol e fitou a porta por um tempo. “Tio!” Ele sorriu “Tudo bem?!” A voz soou animada, e depois questionadora: “Da Princesa?! Eu vou ficar de castigo se fizer isso.”  Pensou um pouco. “É uma missão?” Athos correu até a porta e a entreabriu bem devagarzinho para não fazer barulho, e não havia ninguém no corredor. “Eu estava no HayDay, você quer que eu te passe alguns parafusos? Comprei vários!” Outra pausa “De vida e morte!?”.

“Pode ser depois, Athos! Quero os parafusos, mas são os meus que irão rolar se caso eu não conseguir o seu iPad. É uma missão. Colocaram-me em um problema, campeão. Você é a minha única esperança. Se você ficar de castigo, prometo que te recompensarei… Se conseguir, te recompensarei em dobro”. Keith fechou os olhos, apertando-os fortemente. – Meu sobrinho está com o iPad. Pedi para que ele nos trouxesse. – O Ragabash passou a mão pelo rosto e sentou-se na cama. Sentiu o corpo tão pesado que acabou se largando no colchão. – Desgracia. Qué infelicidad. Tengo que depender de mi sobrinho para eso. – Ele negou com a cabeça, sussurrando para si mesmo. – Desgracia.

A palavra iPad deixou Audrey esperançosa. Adrian a assistia se perder em pensamentos e se preocupava ainda mais. Como ela havia ficado tão impulsiva? Ele a abraçou de novo e ela aceitou o carinho, mas os olhos sempre na porta. Não demorou dez minutos e o garoto Athos surgia com o tablet na mão. Ele entrou eufórico e fechou a porta atrás de si… Ao ver o príncipe e a princesa, teve certeza que estava em problemas. Mas se acalmou ao ver Keith. Audrey pegou o tablet do filhote e ele sequer ligou, correu para abraçar o Rei.

– Que saudades, tio!

– Saudades! Muitas saudades! – Keith abraçou fortemente o garoto. Vê-lo foi como encontrar um motivo a mais para respirar. Amava-o tanto como a um filho e o gesto e os beijos clareavam ainda mais o carinho. – Você é incrível. Não imaginava que conseguiria tão rápido.

Adrian os observou, mas logo se desviou para Audrey que tentava encontrar o aplicativo para logar sua conta.

– Cuidado Audrey… – Adrian se sentou ao lado dela. – Suas palavras vão ter… Impacto…

– Eu só queria que viessem me pegar, Adrian. Eu só quero isso…! – Reclamou.

– Cuidado com o que vai dizer… O seu irmão tem razão. – Keith avisou. Já não sabia se tinha feito bem em pedir o tablet.

– Que houve…? – Athos se afastou para olhar.

– O que houve é que te levarei comigo para o Reino da Pérola. – Keith sussurrou, olhando-o nos olhos. – O que houve também é que a Princesa Audrey não quer se casar comigo… Mas ela talvez consiga evitar agora que algo terrível nos aconteça. – Ele se voltou para Audrey. Eu espero.

– Eu vou para o Reino da Pérola?! – Athos sentiu o coração bater mais acelerado. – Eu preciso fazer minha malas! Eu comprei roupas novas! – Ele andou de um lado ao outro – Minha mãe precisa saber! – Tirou o celular do bolso da calça social que vestia para ligar para a mãe. Adrian abriu um sorriso risonho com a interação, e pelo fato do garoto ainda ter conseguido esconder um celular. – Mas e agora você vai ficar sem noiva, tio? – Perguntou,com o iPhone no ouvido.

Audrey digitou duas mensagens a Ladi, mas elas não alcançaram o destinatário. Estava tão ansiosa e fitando a tela do iPad, que não percebeu que Athos conseguia falar com Judith.

– Oi, mãe! Eu estou bem… Tio Keith está comigo.

Verdade? Que legal, Athos. É um assunto urgente… Posso falar com ele? – Judith respondia e escutava no viva voz, para que os Versos e os Dragões também ouvissem a conversa. Havia passado muitas horas, e nada de Audrey ligar, e haviam escolhido esperar na Casa de Vidro, onde os sinais e celulares não tinham os sinais frágeis.

– Ok! Tio Keith vai me levar para o Reino da Pérola, sabia?! Ahhh! Estou hiper feliz. Mas um pouco nervoso também. – Athos passou o telefone para o Rei.

A vontade foi voar no celular do sobrinho, mas Keith se conteve, fitando o aparelho como a um cão que acompanhava um petisco. O Garou quase deixou o celular cair quando o teve em seus dedos:

Judith. – O Elder falava nervosamente. – Judith, eu não tenho nada a ver com isso. Você precisa explicar na ilha. Chegou uma versão do acordo para mim e a outra bem chegou pra Audrey! – Ele falava tão rapidamente que o seu sotaque espanhol prejudicava a clareza das palavras. – A princesa não sabia que viria para se casar comigo! Você precisa fazê-los acreditar em mim! Ela está aqui. Ela e o Príncipe Adrian. Por favor, Audrey… – O Elder colocou o celular no viva-voz igualmente.

Rey?! – Era a voz de Ladirus.

– Quem está com você? – Keith perguntou, passando a mão pela testa.

Todos os Versos, Ladirus e Rhistel. – Judith disse, erguendo os olhos a Ladi. A voz de Audrey veio do outro lado do telefone, rápida e nervosa:

– Ladi! Eles me trouxeram para cá! Eu não quero ficar aqui. Eu não quero. – Ela ofegava.

– Você vai para o Reino da Pérola se casar com meu tio. – Athos disse espantado ao ver o nervosismo de Audrey. – Lá é bem legal.

Athos… – A voz de Judith soou e explicou. – Ela não quer se casar.
– Ah!

Audrey continuou, quase se atropelando:

– Minha mãe me trouxe para cá, mas agora ela disse que corre risco de vida se eu não me casar porque ela vai perder parte das Alcateias que combinou com Keith. Eu… – Audrey perdeu a voz em meio a respiração chorosa.

Adrian observou a cena sentado de onde estava na cama, pacientemente se ergueu e andou até a janela. Observou o relógio e depois o céu escuro, parecendo se perguntar quanto tempos os Dragões demorariam a chegar.

A Fúria do Elder lhe deu de cabeça. Boa ideia? Havia sido realmente boa ideia? Sentiu na voz de Ladirus uma Fúria tão palpável quando ele estivesse ao seu lado:

Desgraçados…

Audrey, fica calma! – Annik disse.

Keith. – Era a voz macia de Jullian Blackwood. – Pode me explicar exatamente o que aconteceu?

O Elder tomou fôlego e começou a explicar na mais transparente sinceridade que conseguiu. A visita de Alana, o acordo e os acontecimentos que se seguiram assim que pisou os pés na Seita. Celulares confiscados, casamento no civil assinado e a conversa com Solara…

– Eu vim falar com Audrey assim que soube… – Explicava. – Foi isso.

Você está sozinho, Keith? – Rhistel perguntou.

Alguém bateu na porta. Vlada. Keith pegou Athos e puxou-o para o Umbral, largando o celular sobre a calma com o despreparo.

Adrian observou o celular sobre a cama e rapidamente o jogou para debaixo do travesseiro. Audrey olhou ao redor, levando um susto ao perder tudo de vista e se voltou para a porta.

“Calma”, Adrian silabou e fez o gesto com a mão. A Maga concordou em silêncio e se aproximou da porta, abrindo apenas um vão para observar a beta pela fresta.

– Sim?

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