Show Me The Scary Parts

Categorias:Romance
Wyrm

Show Me The Scary Parts


Era a primeira foto de si mesmo que surgia em seu Instagram. “Trabalho duro” foi a legenda em que ele e Rhistel beijavam as bochechas de Mitzi ao mesmo tempo. Ladirus havia gostado tanto da foto que Audrey tirou que decidiu aparecer na internet. A legenda fez jus ao processo, pois havia muito o que ser feito e decidido, embora a ajuda fosse grande. Todavia, a bagunça também era.

Rhistel fazia alguns stories em seu Instagram pessoal, tão misteriosos que nada diziam e somente teorias eram deixadas pelo ar. O Dragão de Gelo caminhava de um lado para o outro, retornando à sala de controle correndo sempre que tinha alguma ideia ou acreditava que poderia mudar um ou outro detalhe. Ele já tinha certeza que não terminaria naquele dia, mas ao menos a perfeição que ele parecia buscar estava próxima e cada canção que tocava o almejado tom ideal o deixava mais e mais agitado…

– Bee não veio me ajudar hoje e eu estou me sentindo mais ansioso e vou culpá-la da minha ansiedade. – Ele falava para a câmera do celular que fazia mais um story. – Não vou mandar direito para ela, porque quero que todos saibam. – O sorriso acabou vindo fácil e ele voltou a câmera para Ladirus, largado no sofá. – Perdi meu soldado. – Rhistel reclamou, rindo. – Ali, podemos observar o desinteresse. – Ele filmou Audrey e Mitzi no outro sofá. – Sinto falta da Bee…

– Ah é? E quando a Bee vai vir nos visitar? – Mitzi perguntou para a câmera, arqueando as sobrancelhas, mas rindo com um sorriso aberto em seguida: – O que você está fazendo agora, hein Bee? Rhistel está abusando de nós!

– Se ela estivesse aqui, estaria ‘Yeah! Amei aquela virada na bateria’, ou ‘Oh meu Deus! Essa rima ficou tão legal! Você podia repetir ela várias vezes.’ – Fayre a imitou sem muita perfeição, mas se saindo bem no olhar empolgado. – Desculpa, Blair, fui péssima na imitação! – Ergueu a mão para cobrir seu rosto.

– Olha o que eu tenho que aguentar! – Rhistel disse entre os risos antes de deslizar a gravação. – Bee tinha um compromisso hoje. – Explicou a Mitzi. – Ei… Acorda, Ladi. – Ele se aproximou do irmão adormecido, mas bateu uma foto antes que ele despertasse e postou: “Melhor companhia de todas”. – Ladi.

O Dragão se remexeu no sofá, virando-se de costas para Rhistel e bocejando. O Dragão de levo sentou-se no braço do sofá e puxou uma mecha do cabelo rubro do Dragão de Água.

– Ladi.

– Terminamos? – Ladirus perguntou com uma voz preguiçosa.

– Não. – Rhistel respondeu, empurrando-o no braço.

– ¡Déjame en paz! – O Dragão de Água rosnou, mas arqueou o pescoço, olhando-o. – Já vamos?

– Ladi e o espanhol por reflexo. – Mitzi pegou uma garrafinha de água para abrir e beber um gole – Ártemis sim é difícil de ver por aqui. Compartilhar as aulas.

Ladirus se sentou no sofá e Rhistel escorreu para o seu lado, abraçando-o. O Dragão de Água abraçou-o de volta e observou Mitzi, esboçando um sorriso sem jeito:

– Ela anda muito ocupada. – Disse.

Fayre apenas os olhou brevemente, desviou o rosto para seu próprio celular, mas o desligou para não ficar ansiosa. Espanhol a deixava ansiosa.

– É melhor irmos para refrescarmos as ideias. Vocês principalmente. – Fayre disse, olhando-os e desviando o assunto de Ártemis. Mas foi difícil não pensar na Changeling quando alguém bateu na porta e entrou em seguida. Leah surgiu com um enorme sorriso ao vê-los e se aproximou quase saltitando, fechando a porta atrás, sozinha.

– Melhor dia no trabalho! Me disseram que estavam aqui e escapei correndo! – Ela comemorou e se adiantou para abraçá-los. Leah usava uma calça legging de couro e um tope decotado e também negro. Por cima, uma jaqueta petróleo sintética, seu rosto não tinha muita maquiagem, e o cabelo estava amarrado para trás, longo e na usual cor negra.

– Leah! – Fayre a agarrou em um forte abraço e a Pooka também retribuiu.

Os dois irmãos se ergueram. Rhistel esboçou um largo um sorriso animado – animado ou ansioso demais – e se adiantou para também abraçar a Changeling. Ladirus o esperou se afastar para fazer o mesmo e o seu gesto durou muito mais tempo, necessitado de carinho. Ladi ouviu o som da câmera de Rhistel e suspirou. Tentava manter a calma com o irmão, mas ele estava forçando muito a sua amizade.

– Mitzi, Leah… Eu não sei se vocês já se conhecem… – Ladirus disse, sonolento e piscando os olhos para tentar despertar mais rapidamente.

– Claro que ela conhece. – Rhistel disse, ríspido.

A Pooka Husky sorriu e o apertou forte no abraço, não sabia o que estava acontecendo do lado dele, mas sabia o que se desenvolvia do lado de Ártemis, e era bem estranho.

– Rhistel. – Fayre só consegui olhar para o Dragão de Gelo, irritando-se do dia. Falava baixo: – Você não pode postar essa foto, né? Pela segurança da Leah, ela não fica dando localização dela. E já deu de foto. Ninguém precisa ficar sabendo quando você e os outros respiram. Especialmente os outros.

O suspiro do Dragão de Gelo foi audível e impaciente. Ele se voltou para Audrey como se houvesse sido ofendido, recolhendo o lábio inferior para dentro da boca e o mordendo.

Mitzi fingiu nem escutar a discussão dos dois e concordou com Ladi:

– Eu conheço! Elas já vieram algumas vezes nesses meses.

– Estamos revisando a nova fase, aprovando algumas músicas… – Leah explicava, arqueando as sobrancelhas – Mas na real não aprovamos nada. Só assinamos.  E… Infelizmente… Perdemos três dias de férias para gravar um clipe. Conseguiram arranjar lá na Ilha. – Ela sorriu. – Na praia! Estão todas empolgadas.

– Uau… Novos bilhões de visualizações eu suponho. – Mitzi riu – Isso é muito surreal…

– Sim. – Leah franziu o cenho brevemente, não se animava tanto, mas tentava. – Vão usar isso como marketing, certeza.

– Nossa, deve ter ficado muito bom. Eu tenho certeza. – Ladirus disse, tentando injetar algum ânimo com a sua voz mais desperta. – A ilha tem umas paisagens maravilhosas… combina com vocês.

Rhistel olhou de Leah para Ladirus, pouco animado e entediado.

– Eu amo todas as prai-. – Ladirus continuou, mas foi interrompido.

– Leah… A gente está de saída. Quer dar um pulo em casa ou…? – Rhistel perguntou, visivelmente impaciente. Os olhos irritados se completavam com o sorriso amarelado em seus lábios.

Leah escutou o corte de Rhistel e parou para prestar um pouco de atenção, percebendo que a animação de vê-los não era tão recíproca. Tentou pensar se Ártemis tinha algo a ver com aquilo.

– Não… – O sorriso dela foi se apagando sem graça – Tenho que terminar de assinar os contratos ainda. Fugi só para vê-los, mas parece um momento ruim.

– Não, Leah… – Ladirus chegou com a cabeça rapidamente, enfatizando. – Estamos cansados. Rhistel fritou a mente o dia inteiro… – Ele fitou brevemente o irmão. – E nem terminamos. Não é nada com você.

– Você deveria ir depois, então. – Fayre desviou o olhar irritado de Rhistel para a Changeling e disse rapidamente: – Vai ser legal ter você uns dias por lá. Muito difícil ver vocês meninas livres. Beber algo, ficar na praia…

– Eu bem que gostaria, mas… É que… Enfim, eu vou ver. Vou deixar vocês ‘de saída’. – Leah disse, e ia se virar, mas pausou um instante – Só, antes… Vocês sabem da Ártemis? Ela sumiu e não responde ninguém. Seria bom se ela aparecesse pelo menos no final… Ela é sempre tão preocupada com as reuniões…

Ladirus apenas entreabriu os lábios. Rhistel se voltou para ele, fitando-o com atenção e levou as mãos à cintura. Pelo que sabia, Aisha já havia retornado para a ilha, então… – Ahm… – O Garou não escondeu a sua estranheza. – Eu não sei… Nós ficamos meio incomunicáveis aqui. Eu só usei meu celular para gravar as stories… Você sabe… Ladi?

– Não… – Ladi respondeu, parecendo que diria mais alguma coisa em relação ao assunto, mas desviou-o. – Amanhã à noite, podemos fazer uma festa na piscina. Vamos, Mi? – Ele se voltou para a Garou. – Ficar sem fazer nada.

– À noite, sim. – Rhistel respondeu antes das garotas.

Leah estreitou os olhos brevemente e confirmou a fofoca que as Shaped vinham alimentando. Eles haviam dado um tempo ou pior! Mas tentou não demonstrar. Cruzou os braços e disse, olhando-os:

– Posso chamar as meninas? – Mordeu os lábios, animada. – Al, Dessie, Nish…

– Claro que sim. – Ladirus respondeu no mesmo instante, abrindo um sorriso mais sincero. – Nós só vamos conversar, nadar e… Comer. Beber, talvez. – O Dragão buscou pelo olhar de Rhistel.

– Festa… – Mitzi abriu um sorriso sem graça, de repente parecendo uma pilha de nervosos – Eu acho… Amanhã é meio em cima demais. Sabe? Mas obrigada.

– Você tem até amanhã para mudar de ideia e ir com a gente. – Rhistel disse a Mitzi, olhando-a. – Vai perder meus coquetéis. São únicos. Vai ser bem de boa. – O Dragão se voltou para o irmão, olhando-o, reflexivo.

Apesar da rispidez do coração ansioso, Rhistel também estava preocupado. A forma nada convencional de tentar entreter o irmão era atormentando-o. Embora soasse irritante para quem assistisse de fora, também era uma maneira de não deixá-lo sozinho com os seus próprios pensamentos. Rhistel arrastava Ladirus como a criança que num desgrudava do amiguinho favorito e queria (exigia) que ele participasse de tudo. Uma preocupação egoísta. Ladirus não comentava sobre as suas dores, mas não escondia que as sentia. O irmão de gelo se sentia agoniado. Queria ajudar, mas nem havia espaço para tal.

Rhistel sabia que ele havia tingido os cabelos de vermelho porque Ártemis recomendara. O mesmo valia para a maquiagem que ele decidiu adotar na fase nova da banda, pintando uma sombra vermelha ao redor dos seus olhos. Tudo bem. O Dragão de Gelo gostava bastante do tom sombrio que ele adotara como rockstar. Só não sabia dizer se era realmente sadio. Assim que chegaram, Ladirus caminhou ao redor da piscina enquanto se despia. Ficou vestido apenas com o short de decido leve e se jogou na água. Rhistel parou à beirada, observando-o mergulhar e voltando-se para Audrey. A maga parou ao lado de Rhistel e assistiu Ladirus se afundando, ergueu seu pulso até os olhos, coçando-o o esquerdo e usando daquele segundo para pensar. Já fazia mais de uma semana? Fitou Rhistel brevemente, e inspirou… Seu corpo dizia o que as palavras não falavam, e embora quisesse entrar na água e estar com o Dragão de Água, ultimamente ele ficava com metade da mente lá… Era questão de tempo.

– Acho que… – Disse para si mesma, mas não conseguiu virar o corpo antes da voz manhosa de Nyra vinda do fundo.

– Rhistel… Vem cá… – A Theurge se aproximou caminhando, e ergueu a mão para ele, pedindo para que se aproximasse com uma certa urgência. Fayre engasgou sozinha quando percebeu que Ártemis vinha caminhando atrás da Garou-Maga, com uma expressão receosa e passos cuidadosos no salto plataforma.  A morena apertou o jeans do macacão que usava e desviou o olhar contido até o chão brevemente, procurando Ladirus em seguida.

A voz dela já desenhou um sorriso acanhado e doce nos lábios do Dragão de Gelo antes que ele se virasse. Rhistel estendeu o sorriso que morreu bem rápido ao ver a acompanhante que ela trazia. O moreno correu em direção a Nyra e agarrou-a em um abraço apertado, encostando seu rosto gelado ao dela carinhosamente. Ele fitou Ártemis e, depois, a piscina onde Ladirus estava no fundo, sentado.

Nyra o agarrou tão carinhosa quanto, cercando-o pela cintura com seus braços e roçando muito brevemente seu rosto ao do Dragão.

– Vem. – Puxou-o pela mão para caminharam para longe da área da piscina e deixarem o trio sozinho.

– Vou… – Rhistel respondeu, manhoso, sendo levado como se estivesse sendo conduzido por uma fada mágica que despejava o pó controlador em si. Ele beijou a mão dela com a sua e seguiu com ela próxima ao seu rosto.

Ártemis observou a cena brevemente surpresa com o carinho trocado, e se voltou para Fayre. A Pooka andou devagar na direção da borda da piscina e fitou Ladirus lá embaixo, o olhar retornou a Audrey e as duas se encararam por um tempo – a princesa sem conseguir ler Ártemis, e a Kithain no seu usual silêncio e observação. Rapidamente a morena se desfez do macacão, deixando-o pelo chão junto das sandálias. Ártemis se sentou e entrou na água usando a calcinha branca da lingerie ,e o tope rendado curto antes embaixo do macacão largado para trás. Entrou devagar e andou até diante dele, apoiando delicadamente suas mãos pequenas nos ombros fortes do Dragão de Água. A princesa observava tudo da ponta onde estava, atormentada por uma repentina ansiedade e calor.

Os olhos fechados fortemente não inibiram-no de percebê-la. O seu mundo era a água. Senti-la nela fora como tê-la sem tocá-la, percebendo e tapeando o seu corpo que era envolvido pela temperatura morna de um dia inteiro de Sol forte. Ladirus abriu os olhos o receio da fuga das sensações oníricas. Sentia-a perto realmente? Estaria senão louco? O seu coração disparada e quase parou quando sentiu as mãos dela em si. Ele respirou profundamente antes de emergir, virando-se de frente para ela com os seus olhos descrentes de que realmente a enxergavam diante de si. A respiração saiu toda de uma única vez uma expiração emocionada.

Assistiu-o emergir da água como fazia em seus sonhos molhados e íntimos. Ártemis ofegou, mesmo com os cabelos ainda parcialmente secos por não ter ficado submersa.

A Changeling não tinha a intenção de beijá-lo, mas toda a história de uma conversa calma e sensata vinda de Nyra parecia até uma armadilha, porque só conseguia pensar nisso quando estava perto e o tinha a desejando com seus olhos pequenos, coberto pela água e os fios rubros que ela achava tão perfeito nele. A fada o envolveu pelo pescoço, apertou seu corpo contra o dele, e buscou sem perguntas os lábios do Dragão em um beijo aquecido e possessivo.

O gemido abafado pelo beijo dela correspondia à volúpia que o seu corpo necessitou perdidamente ao ser agarrado; beijado; prensado. Modos de menina que muito bem escondiam a mulher felina que ela era. Terrivelmente sensual. Dolorosamente quente para ele. Só para ele. Ladirus a mordeu ao lábio, resfolegando seus ferimentos feridos. Buscou-a em beijo que traduzia as suas agonias e saudades, movendo a língua em uma dança indócil com ela em uma massagem que quase feria. As suas lágrimas se misturavam com água do seu rosto, mas ainda conseguiam cortá-lo quando deslizavam dos seus olhos. Feliz, agoniado. Insano. Os seus braços a envolveram firmes, não permitindo que ela saísse de perto de si. Minha… Gatinha… Você está mesmo aqui? Ele a tocou em suas costas, escorrendo os dedos afiados por suas garras ao se afastar minimamente para respirar.

Os braços a cercaram com facilidade por inteira. Gostava como seu corpo era pequeno diante do dele, e se aconchegava perfeitamente em seu peito quando agarrada. O fôlego perdido e reencontrado no intenso beijo, a excitação vibrando na água morna e todo seu corpo arrepiado. Seu beijo o tomava com leves arranhadas de seus dentes, e suas unhas longas se afiavam nos ombros largos dele. Cariño mio… Sua boca se afastou e os olhos o encararam cheia de ardor: abraçou-o forte e rondou suas pernas na cintura dele, apoiou a cabeça em seu ombro e ficou agarrada fortemente.

– A gente precisa conversar… – Ela murmurou e ergueu o olhar até Fayre, que observava tudo exatamente do local onde estava. A maga pareceu precisar de força para sair daquele estado petrificado e ofegante, sentou-se na beirada da água e decidiu não ir embora, ou se aproximar, mas observar com seu olhar expressivo em tímida agonia.

A concentração foi um exercício árduo para Ladirus. Conversar. Como conversaria daquela forma? Sentia-se tão rijo que não parecia mais saber comandar sua consciência.Pensar com a cabeça de cima, lembrou-se do comentário infame de Rhistel. Nem se lembrava o porquê da frase. Ladirus mordeu o lábio inferior, olhando-a e assentiu vagarosamente. – ‘Tá… – Sussurrou, seguindo os olhos dela atento, mas levemente aéreo. – Eu senti… Muitas saudades… – Ele roçou o nariz ao rosto dela, carinhosamente. – Muitas… Gatinha… Mas… Tudo bem. A gente conversa…

Até se sentiu falando da boca para fora quando o viu morder o lábio, lembrou-se da sensação do calor, do vai e vem dos seus quadris, e suspirou menos racional.

– Eu acho que consigo… Conversar agora… – Ofegou, agoniada pelo ar quente que fluía da respiração – Mas a gente precisa, tá? – Tocou-o no rosto, esquecendo das palavras… Ártemis fechou os próprios olhos com força e beijou-o em selinhos tímidos. – Eu quero ficar com você… Porque eu te amo… Mas eu não estou certa como eu queria que as coisas fossem… – Seu olhar foi até Fayre, sentada à beira da piscina, escutando-os e os olhando – É muito estranho ainda…

Ele ainda se pegava questionando em como ninguém havia notado toda a malícia que se escondia por detrás dos olhos lânguidos. Ártemis compunha uma imagem tão tentadora que ele temia apenas estar prestando a atenção em parte da conversa… – Eu também te amo muito, gatinha… Me dói tanto ficar longe de você. Eu me sinto até perdido dentro de mim… E eu sei que o mesmo aconteceria se eu ficasse longe da Rey. Eu sinto meu coração doendo só de imaginar… – Ladirus sussurrou, tocando-a em seu rosto e roubando um selinho demorado. – Quando eu penso em vocês duas, eu me sinto completo… Eu nem consigo olhar para outras mulheres como se elas fossem mulheres… – Ele ofegou, percorrendo as pernas que o envolviam, contornando-as e fazendo-a mais para si. – Vocês… Poderiam começar conversando…?

Suspirou quando foi ajeitada em seu colo, agarrando mais forte suas mãos no ombro dele. Ela o fitou como se tudo estivesse sendo muito difícil já, incluindo se manter racional sobre o assunto.

– Sobre o que…? Eu não sei como conversar sobre isso… – Confessou baixinho, falava manhosa, a mão deslizando pelo braço da tatuagem – Eu não me sinto numa posição tão livre … Nem me sinto tão segura… Eu nem sei como me sinto, na verdade… Só sei o que sinto sobre você e mais nada. – Dizia o que vinha na sua mente – Eu estou com medo de me envolver… Isso é muito diferente. Todo mundo vai olhar diferente.

O olhar dele seguiu os dedos por sua pele, arrepiando-se a medida que a sensação de garras fazia riscos em sua pele que ele não enxergava… Ladirus fechou os olhos brevemente e inspirou com profundidade ao olhá-la tentado. Ladirus entreabriu os lábios corados pelos beijos e olhou-a. – Gatinha… Eu entendo… – Ele disse, buscando os olhos escuros dela antes de se desviar para Audrey, o seu anjo. O seu anjo-demônio atento e sensual. Ele suspirou novamente antes de estender a mão para a Maga. – Eu acho que você precisa ter se gostam ou não… Antes de pensarmos em uma posição… – Ladirus mordeu o lábio novamente. – Não acha…? Suposições não tirarão as nossas dúvidas, gatinha… Eu precisei estar com você para ter certeza que eu não viveria sem…

Aquela sugestão novamente… Ártemis se encolheu no abraço dele quando se aproximaram de Fayre. O olhar da felina observava cheia de dúvidas e receio, arisca.

– Mas elas protegem a gente de nos ferir também…

Audrey segurou a mão de Ladirus e ainda observava a cena em silêncio, com receio de dizer algo e espantar a vontade que segurava Ártemis ali perto dos dois. Mas paciência também não era seu forte. A maga guiou Ladirus para mais perto da beirada e se inclinou para roubar um beijo da bochecha da Fada. Ártemis ergueu os olhos para ela e foi pega de surpresa por outro beijo, mas nos lábios, primeiro um selinho tímido. Os olhos de Audrey encararam os sensuais de Ártemis ao afastar lentamente o próprio rosto, e se sentiu segura para um beijo mais profundo; roçou seus lábios aos dela e buscou sua língua para o beijo inseguro da Kithain. A morena respondeu cravando suas unhas no braço de Ladirus conforme a ansiedade subia ao seu coração e o corpo pequeno esquentava, respondendo devagar ao beijo sensual de Fayre, afastando a boca um breve momento para experimentar o próprio lábio com a língua e testar o gosto doce… Corada, retribuiu o selinho de Audrey, mas se afastou devagar…

Os pequeninos olhos do Dragão de Água ficaram enormes pelo tempo que durou o beijo tímido delas. Lábios mordidos para se acordar, ele se deu conta que também precisaria de calma consigo. Ladirus pousou os lábios aos ombros de Ártemis, beijando o seu pescoço. Isso é muito… Para mim. Sentiu-se eufórico quando a Fúria nublou os seus pensamentos, acalorando-os. Isso é muito. Ele as observou, tentando inutilmente conter a respiração agitada. Perigoso demais. Os lábios dele se entreabriram vagarosamente enquanto ele sentia as presas em sua boca com a língua.

– Eu ainda não… Sei… – Ártemis respondeu com os lábios avermelhados e o colo agitado. Audrey afastou o corpo e apertou os lábios, sorrindo em seguida:

– A gente pode testar até você ter certeza, Arty. – Arqueou a sobrancelha e Ártemis abriu bem seus olhos para a resposta, voltando a abraçar Ladirus como uma criança tímida.

Audrey deixou o próprio corpo mergulhar devagar na água e apoiou as mãos nas costas de Ártemis, deixando um selinho em sua nuca da Felina, o suficiente para a morena suspirar e se agarrar mais forte em Ladi. O Dragão para o céu, suspirando. A mente estava lhe escapando fácil demais. Eu também não estou preparado…

– Gatinha… – Ele sussurrou, ainda olhando para cima. – Por que você não nos explica a sua ausência… Na On? Leah parecia bem agoniada para falar com você. – Melhor falarmos de qualquer coisa ou vou surtar. Ele baixou o olhar, fitando Fayre em sua malícia de fogo. E imprudência. – Você não devia estar na reunião? Não é importante?

Fayre fitava Ladirus com malícia por cima do ombro de Ártemis, encontrando diversão maldosa nas expressões de desespero dele. A própria maga também não tinha sua respiração calma, e o corpo de Ártemis parecia apenas ganhar temperatura entre os dois, embora ela não desse sinais.

O rumo da conversa mudou e Audrey continuou os desenhos nas costas da Kithain, escutando-a respirar e encontrando uma forma de falar no meio do calor:

– Ah… – Pareceu se lembrar só naquele instante – É verdade… – Olhou Fayre brevemente por cima do ombro e retornou ao Dragão em uma Fúria sensível. Sensível e inflexível pela intensidade da situação na piscina escura. Ártemis o sentia apertando-a mais forte e ela tentou não miar. – Eu deveria, mas… Eu… Não vou assinar mais nada… Vou cumprir o restante do contrato e sair.

– Sair do grupo? – Fayre perguntou surpresa.

– Sim… – Ártemis respondeu, poupando-se palavras ao tentar esconder o quanto seu colo ofegava.

Preocupante? Ladi não estava conseguindo se preocupar com nada ou avaliar o que poderia ser grave ou não. Sentia-se até anestesiado, como se qualquer problema fosse ter solução e… Tudo bem! Deveria se afastar daquela situação calorosamente arriscava? Ficou em dúvida se não estava sendo imprudente demais em brincar assim com a própria Fúria. Sentia-se tão excitado que nem conseguia ter criatividade suficiente para se imaginar calmo. Cada suave movimento dela já elevava as fortes pulsações. Ladirus desprendeu os olhos de Audrey e retornou aos de Ártemis, aproximando-se para roubar um selinho demorado dos lábios tímidos. A Maga estava o provocando somente com o olhar…

– Tem certeza…? Vocês acabaram de gravar um videoclipe… Que parece lindo, pelo que a Leah disse… Eu só não sei muitos detalhes porque o Ras estava… Um pé no saco… – Ofegava. Nem pensar na chatice do irmão mudou o seu foco. Ladirus passeou novamente a língua por sua presa, sentindo-a. – Eu… – Inspirou, mordendo o lábio. – … Talvez seja melhor eu… Não saber sobre o videoclipe agora…

O selinho de Ladi foi acompanhado de um de Fayre em seu ombro. Ártemis perdeu rapidamente o foco do assunto e passou a fitar o Dragão como se não tivesse muito a dizer naquele instante também… Rijo e apertado entre seus quadris, pedindo. Ela gemeu contida.

– É melhor… Devagar… – Soltou-o sem pressa e apoiou a ponta dos pés no chão. Ártemis se virou para Audrey e a olhou por alguns instantes também – É melhor nos sentarmos… Ok?

Fayre assentiu e Ártemis caminhou devagar até a hidro dentro da piscina, sentando-se no elevado e respirando fundo. A maga entreolhou-se com o Dragão com um breve sorriso e andou até o degrau dentro d’água para se sentar de frente para Ártemis, que molhou o rosto. Da maneira que a Kithain e o Dragão respiravam, não parecia que iriam durar muito tempo.

Com o lábio mordido e as sobrancelhas erguidas, Ladirus as acompanhou se afastando. O Dragão devolveu o olhar de Audrey com uma afirmação interna: você quer aprontar. Ele também queria. Queria muito. Desesperadamente. Tanto que precisou se ajeitar dentro a boxer apertada naquele instante e do short. Ladirus fechou os olhos por um instante. Até se tocar naquele momento lhe soou tentador demais. Ele ofegou, erguendo as mãos para os cabelos e penteando-os para trás. Devagar, ele também seguiu para a hidromassagem e se colocou entre elas, sentando-se e olhando-as com um pseudossorriso de curiosidade. Lindas demais molhadas desse jeito. Lembrou-se de amar Ártemis na banheira… E Audrey na gruta… Gaia…

– Estamos quase terminando de mixar o álbum… – Ele disse o primeiro assunto não-quente que lhe passara pela mente. – Pedi para o Rhistel mudar um verso e colocar em espanhol… – O Dragão disse a Ártemis e inspirou, companhando uma gota que descia pelo seu rosto até a boca. Ele se virou para Audrey, mordendo o lábio ao se encontrar com o seu olhar intenso… – Eu até dormi hoje… – Ele cobriu o rosto com as mãos. – Nós não podemos nos beijar? Eu estou morrendo de vontade…

A pergunta de Ladi arrancou um riso fácil de Fayre, mas que tentou se conter ao perceber que Ártemis ainda transitava na sua linha de insegurança, embora sentisse desejo e curiosidade, ela se continha em uma tensão segura. As mãos entre as coxas, o olhar surpreso, a face corada. Ela havia sorrido timidamente ao saber da frase em espanhol, e olhava Ladirus na sua admiração silenciosa e lânguida. Fayre tentava reunir os traços da felina cuidadosa, e imaginava que ela gostaria de se enrolar no seu jogo de ser conquistada antes de se lançar.

– A gente só está muito feliz que esteja aqui, Arty… É isso que Ladi quer dizer. – Audrey disse e se aproximou do corpo do Dragão, deitando seu corpo ao dele e a olhando. – Você está saindo do grupo… Mesmo?

– Estou. – Ártemis disse mais incisiva e apertando seus lábios grossos em seguida: – Elas ainda não sabem… Tem sido difícil… – Ajeitou a franja atrás da orelha. – Tudo difícil… E novo… Meu corazón está na garganta… – E se aproximou um pouco mais do Dragão de Água – Não tenho falado com ninguém…
Ladirus suspirou de desejos, roubando um selinho dos lábios da Maga ao que tinha consigo. Ele a envolveu com um braço, cheirando o seu rosto molhado e virando-se para Ártemis em seguida.

– Estou. – Ártemis disse mais incisiva e apertando seus lábios grossos em seguida: – Elas ainda não sabem… Tem sido difícil… – Ajeitou a franja atrás da orelha. – Tudo difícil… E novo… Meu corazón está na garganta… – E se aproximou um pouco mais do Dragão de Água – Não tenho falado com ninguém…

– Minha gatinha… – Ladi murmurou, deslizando a mão pelo chão da piscina até tocá-la em seu quadril, roçando suas garras à pele morena. – Aconteceu algo no videoclipe…? – A pergunta pulou dos seus lábios como uma frase intuitiva. – Algo que te deixou desconfortável…? – Ele até diminuiu o tom de voz, dizendo com mais carinho do que com o calor que sentia.

Ela sentiu a mão em sua cintura e inspirou, aproximando-se até ficar ao lado dele e pedir para ser abraçada também. Sentia saudades da voz dele se preocupando, perguntando, teve isso poucas vezes enquanto ele estava por perto. Até a relação sem a usual distância soava diferente.

– Estou cansada desses clipes… Eu sempre achei tudo ridículo, mas chegamos ao novo patamar. Vai sair daqui umas semanas, com sorte…  Não é a gente que decide de qualquer modo. – Ártemis acelerava suas palavras em seu sotaque – Mas marca nossa ‘nova fase’. Basicamente somos todas nós em uma obra trabalhando e sensualizando para os caras por lá, e cantando ‘Você é o chefe em casa’.

– Ouch… – Audrey riu sem graça, imaginando algo agressivo, mas tentando pensar que deveria ser menos pior que o estado emocional sensível da Kithain. – Então é sexy? Vulgar?

– Sexy?!  É sério! É a coisa mais vulgar que já vi na minha vida. – Respirou chateada – Eu acho que isso vai acabar comigo… Até quando eu for fazer mina carreira solo… Eu não paro de me perguntar porque eu sempre tomo as piores decisões!

– Ah… – Ártemis também exagerava, às vezes. A esperança de Ladirus era que o videoclipe não fosse tão vulgar e baixo como ela descrevia. Ele a trouxe para mais perto, acolhendo-a e descansando a cabeça sobre os seus cabelos escuros… – Então, você vai sair. Isso acabará… E você poderá trabalhar nas suas próprias músicas. – Ele disse, firme. – Se é tão ruim quanto diz, será uma fase, gatinha. Se você fizer algo muito bom, ninguém vai nem se lembrar da poeira que ficará para trás. – Olhava-a. – Você deveria vir viajar conosco. Conhecer outros lugares, culturas e pessoas, relaxar… E compor. – Ele buscou pelo olhar dela. – Ei… Eu volto dizer… Você ainda não está fazendo sucesso. Há muito talento aí. Eu sei.
As palavras de Ladirus tiraram um breve sorriso tímido dela,  ainda que a história fosse a assombrar por um tempo.

– Obrigada, cariño… Por acreditar… – Acariciou brevemente o peito dele com suas unhas felinas – Eu queria estar preparada psicologicamente para isso. – Murmurou deslizando o olhar pela superfície da piscina. – Às vezes, eu queria piscar e ver os anos passando e só lembrar das coisas como um incomodo distante.

– Essa fase passa, Arty. Ladi tem razão. – Fayre reforçou, falando na sua voz levemente rouca e tom macio – Você tem a gente para te dar apoio.

– Eu sei. Eu deveria me importar menos… Eles colocaram uma psicóloga para nos acompanhar esse tempo todo que viajamos em turnê… Mas ela não tem ideia o que é ser uma criatura sobrenatural também! Eu fico muito nervosa, eu não consigo dormir. – Desabafava, mas tentou dispersar quando percebeu que se enfurecia novamente e aquela energia pulsava em dor em seu peito. Fayre sentiu o estresse da Kithain quase palpável por um instante. – Para onde vocês vão viajar…? – Ártemis os olhou.

– É… O Mundo dos Adormecidos carece muito de compreensão conosco… – Ladirus disse pausadamente, quase distraído, sentindo a energia distinta que não lhe era uma novidade. Destrutiva… Selvagem e sem moldes. Ele pestanejou. – Ah! Pelo mundo… Eu sei que são muitos países… Inclusive, Cuba. Havana… – Ele se curvou, beijando-a na ponta do nariz. – Rhistel disse que vamos destruir. Ele repete muito isso. – Ladirus abriu um sorriso malicioso. – Eu vou trabalhar, mas vocês poderão passear e… Tirar um tempo para vocês em outros lugares. Blair vai também, obviamente. A pessoa mais empolgada do grupo.
Ártemis escutou o convite e sorriu um pouco mais animada, embora fosse uma possível ilusão acreditar que estaria tudo bem um pouco de calmaria.

– Talvez eu consiga… Eu vou tentar. Tenho certeza que vai ser ótimo e grande… Sou viciada em tudo o que vocês lançam.

– Você vai ter sua chance também, Arty. – Fayre tentou animá-la. – Paciência agora… Pensa nas coisas boas que você conquistou.

– Eu sei… – A Kithain respondeu inspirando e fechando seus olhos acomodada ao corpo dele. Fayre estendeu o braço para tocá-la no ombro em um carinho, nunca havia a visto tão desanimada e não sabia o que pensar sobre aquilo na situação.

Ladirus abriu um sorriso mais fácil ainda antes de agarrá-la com o seu braço mais fortemente:

– Eu fico muito feliz que goste… Nós vamos voltar pela madrugada alguns dias. Não iremos desaparecer completamente. Tente acelerar esses compromissos, gatinha…

– Você vai ter sua chance também, Arty. – Fayre tentou animá-la. – Paciência agora… Pensa nas coisas boas que você conquistou.

– Eu sei… – A Kithain respondeu inspirando e fechando seus olhos acomodada ao corpo dele. Fayre estendeu o braço para tocá-la no ombro em um carinho, nunca havia a visto tão desanimada e não sabia o que pensar sobre aquilo na situação.

– Fãs, principalmente. Você sabe que te amam muito. – Ladi a acariciou suavemente no ombro. – Eu não acho que irão te abandonar. Pelo que lemos por aí… Os fãs reclamam bastante da distância da Nish, Alicia e Destiny. Nós acabamos vendo alguns vídeos… – Ele se entreolhou com Audrey. – Então por todo o YouTube.

O carinho deles era recebido por ela, que pareceu finalmente mais leve desde que surgiu por ali.

– Eu não faço nada pela metade. Dou meu sangue pelo grupo e elas nem valorizam, sabe! Vão sentir minha falta quando eu for. – Negou, seu indicador subia pelo peito de Ladirus, distraída, e parava em seu ombro. Ela tirou os pés do chão da hidro e dobrou as pernas de lado sobre o degrau. Fayre tentou não se distrair demais com a movimentação felina e natural da Fada. – Mas ainda não contei nada… Talvez elas nem liguem. Eu só atrapalho segundo as divas…

– Bem… Eu acho… Que elas vão perder a membro mais importante. – Fayre disse – Vai parar a internet essa notícia.

Ártemis sorriu em resposta.

Se Ladi pudesse traduzir em palavras que o seu coração sussurrava a cada batida se envolveria em curtas e explosivas frases de felicidade. Uma preocupação breve se aproximou muito tímida dos seus ouvidos, mas ele sequer quis ouvir. Família, zumbindo. Poderia pensar nisso posteriormente. Não lhe soou importante. Arriscava-se em estar na piscina com elas? Não estamos fazendo nada demais… Connor, Tayrou e Rosstrider não aparecem por aqui. Está tudo bem. O que haveria de ter mais importância do mundo além da proximidade quente em seu corpo? Os seus olhos se fecharam e ele tentou não aparentar o quanto o movimento felino e os carinhos quentes mexiam com os seus instintos sensíveis, suspirando discretamente. O jogo dela… Regras dela. Tudo bem. Ele aceitava e sentia que Audrey estava tão entretida quanto ele…

– Elas gostam desse grupo, afinal? Às vezes, penso que… Estão apenas cumprindo os seus papéis e… Bem mais ou menos. É uma dança até desanimada. – O Dragão disse com uma sinceridade natural e acabou sorrindo depois, rindo. – É o que parece… – Ele se virou para Audrey, beijando-lhe demoradamente a testa. – Vocês duas são tão energéticas no palco. É… Claramente por amor… Eu disse isso a Rhistel… Continuarei com a banda enquanto tocarmos por amor. Senão, eu nem quero. As pessoas gostam das loucuras que fazemos. Pulando, dando mortais… Eu me sinto meio louco e idiota, mas dou muita risada também.
Audrey acabou rindo do último comentário dele, ajoelhou-se e o fitou:

– Você é meio louco e idiota. – Provocou e o beijou em um selinho demorado. – Nenhum de nós três tem pouca energia. Pode ser um problema.

Ártemis tinha os olhos neles, perguntando-se, curiosa, e pensativa de novo. Ainda era uma situação pouco comum, e não muito confortável. Como os Versos haviam chegado numa sincronia? Tinha que amar Fayre igual? Não deveria sentir ciúmes? E se ele a amasse menos? Os olhos negros quase não piscaram por aqueles segundos, e ela se moveu um pouco inquieta.

– Bem… Eu vou ter que ir… – Ártemis disse afastando-se um pouco, tentando não demonstrar sua insegurança, pois não sabia definir todos aqueles pensamentos igualmente – Eu não podia ficar muito. E vou ter que aparecer na reunião também… De qualquer jeito.

O sorriso dele foi selado e divertido com o comentário de Audrey. Ladirus mordeu o lábio, mirando-a com uma malícia crescente.

Ele se desviou para Ártemis, franzindo o cenho, pensando… – É melhor eu ir com você. – Constatou rapidamente. – Não vou te deixar passar por isso sozinha, gatinha. – Ele se virou para Fayre, beijando-a num demorado selinho e tocando o seu rosto carinhosamente. – É melhor…

Ele nem aguardou que Ártemis o respondesse. Desvencilhou-se delicadamente de Audrey e correu para dentro de casa a fim de se secar e se trocar.
Fayre suspirou e tentou segurar seu ânimo quando ele foi. Encolheu seus ombros e fitou Ártemis que demorou para sair atrás.

Pensou em dizer algo, mas já tinha percebido que suas palavras não eram tão efetivas quando se tratava da Kithain desconfiada.

– Boa sorte, Arty. – Disse e retirou a roupa encharcada para caminhar em direção a piscina e nadar sem qualquer roupa. A morena observou por alguns segundos e saltou para fora, secando-se com uma toalha qualquer que havia achado esquecida sobre uma cadeira. – E pode usar algo do meu armário se quiser, você não vai querer ir molhada. – Disse do meio da piscina, observando-a com seus olhos analíticos.

A Changeling agradeceu com um aceno e seguiu em direção a casa, subindo para o quarto da maga e se movendo devagar ao abrir a porta e seguir até o closet.

– Ladi? – Chamou-o suspeitando que ele estivesse pelo cômodo vermelho. – Você não precisa ir…

– Eu sei… Mas eu quero ir. – Calmamente, ele caminhou até ela com a toalha em suas mãos secando os seus cabelos e o corpo sem nenhum segredo a esconder. Ele se aproximou dela, largando a tolha em seus ombros e tomou o seu rosto moreno com as duas mãos. – Arty, você não entende… – Sussurrou pousar um beijo em seus lábios. Um selinho demorado e quente como ele se sentia… – Eu estou necessitado de você. – Ele sussurrou ao se afastar. – Eu vou me trocar… – Ele caminhou para dentro do closet.

Ártemis corou com a naturalidade dele. Embora namorassem há muito tempo, a relação de proximidade era uma novidade cruel. Havia tido apenas uma longa noite com ele e ainda se surpreendia com aquele corpo e atitude. O selinho não era só um selinho, e agradeceu que ele estava empenhado em se vestir ou não teria muita razão de sobra. Ártemis assistiu-o entrar no closet e caminhou curiosa pelo ambiente até o closet, procurando as roupas de Audrey e não demorando muito até achar tope vermelho que pudesse colocar com o macacão que já usava. Prendeu os longos cabelos em um coque e se fitou no espelho de uma porta, admirando-se um minuto ao afastar a franja da testa. Ártemis o esperava no quarto.

– Elas ainda acham que estamos namorando… Só eu e você… – Fez uma pausa, fitando um pequeno mural pessoal de fotos perto da penteadeira – O que você vai dizer agora…?

– Se você não terminar comigo agora, eu ainda sou o seu namorado, gata… – Ladirus respondeu com humor malicioso em sua voz.

Ele puxou uma camiseta preta do Star Wars com o capacete dos Stormtroopers, calças jeans também pretas e justas e coturnos pretos. Ladirus reforçou perfumes e tentou ajeitar os cabelos molhados, bagunçados-os e denunciando que as laterais ainda continuavam com os fios negros.

– Eu… – Ele caminhou até ela, buscando por sua mão. – Gatinha… Eu acho que… Podemos ir com calma com qualquer novidade… – Ladi mordeu o lábio, em dúvida.

Quando conversavam sozinhos era mais difícil prestar atenção lá fora, e ser tragada pelos olhos pequenos e a vontade dele de a dar carinho era mais que tentador, era inevitável.

Ela sorriu tímida e assentiu mesmo insegura. – É fácil quando você está comigo… Falando comigo. – Segurou a mão dele e fez um carinho com os dedos – Eu … – Mordeu o lábio e tocou a própria testa – Ok… Com calma. – Assentiu e segurou a outra mão dele, beijando-o em um selinho demorado e roçando seu nariz ao dele antes de se afastar. – Podemos… Dormir juntos só eu e você essa noite? Eu sinto sua falta…

A resposta dele foi um beijo. Ladirus buscou pelos lábios da fada com volúpia antecedendo uma noite. Os lábios macios que tanto sentira saudade de ter deslizando pelos seus e a língua que buscava pelo gosto quente do desejo num simples beijo. Ladirus se aproximou dela, agarrando fortemente a sua cintura e trazendo-a contra o seu quadril. Eu te quero, o seu beijo dizia. Eu te… Quero.

– Tay. – Ele se afastou de súbito, resfolegando. – Tay está… Perto.

Ártemis engoliu o próprio fôlego quando recebeu o beijo profundo, colando seu corpo feminino ao forte dele e suspirando profundamente. Sua boca expeliam a respiração quente ao se entreabrirem, mas não perdiam tempo em retornar a massagem aos lábios… O arrepio a acolheu e uma moleza breve ao corpo excitado. Mas qualquer resolução que avançava a sua mente foi quebrada abruptamente. “Tay…?” – Tayrou? – Aos poucos ela sentiu a realidade congelando seu corpo e uma fúria mágica e violenta se ergueu na aura da fada. Lembrou-se de como havia terminado da primeira vez e pareceu se preparar antecipadamente para a repetida história.

– Onde? Não. Espera! Eu vou atrás dele, você fica aqui. – Pediu fazendo um sinal com a mão e seguindo para fora do quarto, à saída da casa.

– Não, Ártemis! Eu não vou esconder do Tayrou! – Ladirus correu atrás dela, sem refletir exatamente se deveria fazer isso mesmo.

Diferente dos dois, Tayrou estava aparentemente calmo. Havia aparecido do Umbral, de surpresa, e fitava a piscina e a sereia dentro dela. Os olhos azuis se divergiam daquela calma. Ferviam, como de praxe. Ele trajava um camisa azul, muito similar aos seus orbes, calças sociais e sapatos lustrosos. O seu perfume refrescasse parecia anteceder até mesmo a sua imagem imponente.

– Essa piscina está tão convidativa que eu estou pensando se não deveria tirar a minha roupa e pular aí também. – Ele comentou com Audrey enquanto agachava, tocando a água com os dedos bronzeados como ele todo. – Quente. Hoje fez muito calor.

Fayre não se incomodou, mas se intimidou por dentro. Estava na parte funda e seus olhos ficaram o acompanhando por todo tempo desde que surgiu do nada. Já havia escutado muito como ele era agradável, como mimava Nyra, Blair e Annik com presentes e conversas, mas não tinha nenhuma memória leve sobre o Dragão da Luz ela mesma… Especialmente por estar do lado de Ladirus. Mas que ele tinha uma beleza sobrenatural era nítido o suficiente para atordoar.

– É, por isso estou aqui… Ela é muito espaçosa. – Disse, colocando a mão na borda e arqueando uma sobrancelha. – Na-

– AH! Eu te AJUDO então! – Ártemis gritou furiosa sem nem deixar Fayre entender o contexto. A Kithain, andando na direção dele, usou um forte impulso cinético que jogou Tayrou para dentro da piscina. – O que você quer?!

Péssimo início de conversa. Ladirus arregalou os olhos e os fechou quando viu o irmão voando em direção à água, mas sumindo para o Umbral. Quando sentiu a Fúria do Dragão da Luz, Ladirus suspirou, caminhando até a fada:

– Calma, Ártemis… – Pediu.

Ladirus sentiu a energia de Tayrou se aproximando através do Umbral antes de ele transpassar a Película, ajeitando a camisa com os olhos ferviam.

– Eu estava conversando com a princesa antes de você me atrapalhar… – Ele disse, controlando-se. Ladirus já começou a temer quando reparou naquele leve descontrole no semblante dele… – Connor me pediu para te levar na On. Ele está em uma reunião com Jullian. Se não fosse por isso, eu adoraria pular aí dentro e conversar mais com a princesa.

Ladirus arqueou uma sobrancelha…

– Não se incomode… Eu vou levar a Arty. – O Dragão de Água disse, calmamente.

Ártemis escondia menos sua agressividade no olhar e na energia calorosa do seu corpo. Fayre considerou sair dali, pois se começassem uma briga sua única chance era pedir ajuda, então passou a andar em direção a outra borda, devagar, olhando-os por cima do ombro atenta.

– Até parece! Você só aparece assim quando quer me estressar. – Ártemis disse entre raiva e incerteza, quase se desarmou por um instante, mas sustentou sua posição agressiva– Também duvido que Connor tenha pedido. Ele não ia fazer isso comigo. Agora vai aproveitar sua piscina em outro lugar, vale? – Abanou a mão – Não foi convidado. Você só quer problemas.

Tayrou esboçou um sorriso tão largo que a sua boca até se entreabriu. Ladirus o olhava em tom de aviso, atento aos movimentos do irmão.

– Não. – Tayrou cruzou os braços ao dizer, por fim. – Ele pediu sim. Acredite ou não, ele se preocupa com você. – O Dragão da Luz suspirou, jogando o pescoço para trás antes de olhá-la de novo. – Você está bem amparada. – Ele fitou Ladirus brevemente. – Mas eu quero conversar.

– Conversar. – Ladirus repetiu as palavras dele com desconfiança na voz.

– Sim. Conversar. Não posso? Ou nem isso podemos fazer como irmãos mais, Ladi? – Tayrou o fitou nos olhos.

– Claro que eu sei que o Connor se importa. Eu só quis dizer que se ele realmente fosse enviar alguém, ia ser alguém que iria realmente me proteger. Não você, né. – Cruzou os braços, fitando-o com a mesma desconfiança. – Você não sabe conversar, Tayrou… Da última vez você não foi exatamente amigável. Eu não esqueci.

Audrey saiu da piscina e vestiu sua roupa mesmo encharcada, a camisa e a peça íntima inferior. Abraçou o corpo e ficou olhando de longe de onde estava.

Ladirus se virou para Audrey, localizando-a se precisasse fazer alguma coisa. Ele suspirou, fitando brevemente os seus olhos espertos. Tay era sempre uma caixinha de surpresas…

– Ah… É? Você poderia me lembrar a última vez que foi agradável comigo? Porque eu não me lembro. – Tayrou respondeu-a, esboçando um sorriso apertado que era tudo menos um sorriso. – Vocês dois me irritam. Se não me irritassem, não passaríamos por isso. – Ele pousou a mão na testa. – Mas eu acho que podemos passar um momento agradável sem ninguém sendo escroto um com o outro, não? Maturidade.

Antes que Ártemis pudesse explodir com uma das provocações dele, Ladirus buscou a mão da fada com a sua:

– Certo. – Respondeu, rapidamente.

Tayrou mirou o gesto demoradamente antes de se voltar para Ártemis.

Maturidade?! – Ela esbravejou inconformada, olhou ao redor como se pudesse localizar com antecedência os objetos que iria lançar, mas foi pega de surpresa quando Ladirus segurou sua mão. Ártemis fitou o gesto e depois Tayrou. – Você nunca foi legal comigo. – Disse, com um pouco mais de calma. – Então é mesmo muito difícil imaginar um momento agradável. E eu não sei porque você quer isso agora, nunca nem ligou… É porque sou famosa deve ser.

Arty queria falar. Queria muito falar. Ladirus se voltou para ela, olhando-a agressiva por detrás de uma parede frágil que não conhecia entre os dois. Connor sempre disse que eles brigavam muito, mas nunca descreveu o que acontecia nessas brigas. O buraco que Ladi imaginava começava a afundar um pouco mais.

Tayrou sempre foi o irmão mais complicado. Nem Kraz parecia tão transtornada quando o irmão da Luz. De onde as suas memórias começavam, Ladirus já se recordava da carga de emoções que recebia dele de vez em quando, sempre muito doloridas. Às vezes tinha a impressão que ele tinha muito mais memórias do que o restante ao refletir pelas suas frases soltas…

– Eu sou um Dragão e me lembro de ser um Dragão o tempo todo… – Ele se voltou para Ladirus brevemente. – Eu não me impressiono com muitas coisas. O seu grupinho safado não me impressiona. A bandinha depressiva do Ladi não me impressiona. Se vamos lavar roupa suja, eu vou pegar uma cadeira… Ou podemos ir e você ter o prazer de dizer “eu estava certa”. Você adora, né? Eu também. Acabei de falar para o Connor que você seria uma escrota.

– Arty. – Ladirus apertou a mão dela levemente, ignorando a ofensa do irmão com maestria. Ainda bem que Rhistel não está aqui. – Vamos? Vai ficar tarde.

A cada palavra de Tayrou, Audrey começou a sentir ondulações estranhas no ar. Não costumava ser tão sensível a energias, mas aquela era difícil de ignorar. O vento havia ficado ligeiramente menos suave e madeiras estalavam da floresta que cercava a casa…

– Ladi. – Audrey disse, sem saber se aproximava dele por proteção ou se afastava para não ficar no caminho. Os olhos escuros acompanharam folhagens vindo das árvores e dançando pela piscina que começou a ondular. – Ladi… – E moveu seus primeiros passos na direção dele, mas não conseguiu alcançar. Teve sorte ou reflexos de se abaixar quando uma cadeira de praia começou a levitar e ser jogada ao chão, junto das mesas, e azulejos que se desprendiam do piso em qualquer direção aleatória, sem direcionamento.

Ártemis segurava com força a mão de Ladirus e sua raiva despejava conforme Tayrou a estressava mais com palavras. Claramente não havia um controle da Kithain. – FUERA! – As coisas simplesmente se moviam e até a água tomava ao começar a girar lentamente em ciclos dentro da piscina, como o início de um tornado. A Fada começou a chorar – No te EXTRAÑO! No quiero tu en mi vida! No quiero verte! Vas!

Pela força que ela começou a apertar a sua mão, Ladirus sentiu que o controle já não fazia parte da fada. Não enxergava mais direito o que fazia ou sentia a destruição começando ao redor. O Dragão de Água se recordou por um lapso rápido da emoção de Rhistel quanto fermentada, apesar de ainda ser uma sensação diferente. Ele tentou puxá-la para longe de Tayrou sem que a ferisse ao ver o Dragão mostrar as garras luminosas. Que diabos! O Dragão de Água pediu para Audrey não se aproximar com um gesto da mão. Os seus cabelos ondulavam com o vento e ele passou a desviar com magia os objetos que poderiam acertá-los. Pensou nos primeiros nomes que lhe vieram a mente que estavam próximos: Rhistel e Nyra. E se Rhistel também se descontrolasse?! Connor. CONNOR!

A sua mente tocou a do Dragão da Escuridão com facilidade, como de praxe. Ladirus tentou mais uma vez puxá-la pela mão sem que precisasse exercer muita força, mas sentia-a também com muita força. Teve a impressão de sentir as suas garras e a sua cauda lhe tocando a perna muito rapidamente. O coração do Dragão acelerou quando viu Tayrou caminhando contra o vento em direção aos dois. Era tanto ódio em seus olhos que Ladirus se preparou para lutar.

Connor chegou em tempo, acompanhado de Torvoethardurg e de ninguém menos que Jullian. Em uma organização até instintiva, Jullian seguiu para se posicionar à frente de Audrey, Connor correu na direção de Tayrou enquanto Torvo seguiu até Ártemis. As mãos fortes e gentis do Dragão da Terra tocaram o rosto da fada, encarando-a em seus olhos. Ladirus sentiu perfeitamente a energia dele suando a dela para dentro da terra, tornando-a neutra.

– Ártemis. – Ele disse, fitando-a com os seus grandes olhos calmos. – Está me vendo?

Ladirus ergueu os olhos para Connor e Tayrou, mas ele não estavam mais na Tellurian.

– Princesa. – Ladirus fitou Audrey. – Tudo bem?

Fayre não soube responder se estava tudo bem, pois estava assustada. Toda aquela força se movendo em um círculo desordenado não poderia ser saudável de muitas formas. Mas estava feliz em ver o rosto de Jullian:

– Sim… Eu acho… – Ofegava, fitando um corte no braço de um material qualquer que voou rente sua pele. O ambiente foi se acalmando com muita luta, Torvo deveria estar tendo trabalho, embora executasse como se já houvesse visto e feito outras vezes. Descalça, Audrey sentia o chão levemente aquecido. O vento parava, a água da piscina não se movia e nem as árvores rangiam. Mas Ártemis continuava chorando com seus olhos bem abertos, ela tocou os ombros de Torvo, tateando a realidade que havia sido parcialmente banida, mas ainda não parecia voltar para o chão. Não era a primeira vez que o estresse haviam privado de sentidos temporariamente:

– ¡No escucho, Torvo! Não estou ouvindo! – Ela disse gritando em desespero. Tocou as mãos dele que estavam em seu rosto e o abraçou em seguida. – Me ajuda. – Ofegava – Por favor!

Embora não desgrudasse a atenção dos três, Jullian rapidamente tratou de curar o ferimento de Audrey. Os dedos pálidos se afastaram vagarosamente da pele da Maga como se ainda temesse precisar tocá-la para salvá-la de alguma coisa.

– Eu posso tentar fazer alguma coisa para ajudar…? – Perguntou.

Torvo apenas negou com a cabeça. A luta fez escorrer uma gota de suor pelo seu rosto negro. Ele fitou Jullian e Audrey brevemente, pois a atenção dele na fada era a única coisa que poderia se tornar um foco para ela se agarrar e retornar. Ele suspirava profundamente. – Mani. – Ele sussurrou, apertando os lábios antes de fechar os olhos. – Polaris não está perto no momento. Teremos que fazer isso nós dois. – Torvo resfolegou e passou a cantarolar baixinho uma canção.

Uma canção que Ladirus conhecia e não tinha ideia de onde. Os olhos pequenos ficaram a própria mão avermelhada de quanto que ele era apertado por ela.

Terra tinha o poder de neutralizar. Não deveria ser uma tarefa fácil. A energia de Ártemis pulsava com seu coração e Torvo precisava absorver e isolar aquelas ondas. Ela chorava como se sentisse dor, medo, raiva. Um estresse emocional forte e cheio de consequências. Mas mesmo que seu ouvido zumbisse forte, ela focou seus olhos nos lábios de Torvo, e acompanhou a canção… Lembrando-se como costumava a deixá-la mais tranquila. A respiração ia se acalmando conforme ela se concentrava, e toda aquela energia retornava mais calma… Filtrada. Mas parecendo esgotar a Kithain a ponto de fazê-la ceder sem energias, embora ainda desperta. Tudo o que estava suspenso no ar, terminou de ir ao chão. Audrey respirou fundo, nervosa.

– O que houve? Eu não entendi porque ela ficou assim. Isso é normal? – Observou o braço curado e fitou os olhos claros – Obrigada…

Nem o cuidado de Ladirus com Ártemis conseguiu chamar a atenção de Jullian o suficiente para desviá-lo da preocupação. O Dragão de Água a tomou em seus braços carinhosamente, mesmo que parecesse não precisar. Ele a acolheu, preocupado. Os seus olhos buscaram pelos de Thor por uma explicação e o mesmo fizera Jullian.

– Eu não tenho conhecimento sobre isso, Audrey. – O Lendário respondeu.

Torvo levou a mão ao rosto, roçando a barba. – Ela precisa treinar, cara… – Ele disse a Ladirus inspirando profundamente. O assunto já era recorrente o suficiente para se tornar cada vez mais redundante. A mão do Dragão de Terra pousou nos cabelos escuros da fada, acariciando-a. – Sair debaixo das asas do Connor e treinar… – Torvo se voltou para Jullian. – Rhistel poderia ajudá-la.

– Rhistel não tem controle nem sobre si mesmo… – Ladirus disse. – Eu pensei em chamá-lo, mas isso me soou uma má ideia.

Jullian fitou de Ladirus a Torvo, pensativo. Lembrou-se instantemente que a sua Casa de Vidro quase viera abaixo, entre outros episódios de arritmia que ele causava em si…

– Então, os dois podem aprender um com o outro a ter. – Torvo disse, esboçando um selado sorriso de escanteio. – Evite ficar perto do Tayrou, Ártemis. Ele não sabe lidar com você. Nunca soube. Não se ensina novos truques a um Dragão amargurado como ele.

– Eu não fiz isso, Torvo! – A Pooka reclamou com a voz injuriada – Eu estava quieta! Ele faz isso comigo! Toda vez. Aparece do nada. Não é justo. – Ela esperneou levemente, ainda derramando lágrimas pela dor – Eu não sou difícil de lidar. Não o defenda.

– É melhor a gente não falar disso. – Audrey disse a eles, preocupada que ela fosse mandar tudo para os ares de novo. – Ártemis não tem condições de ir para a reunião. Ela precisa descansar urgente. É sério.

– Eu não vou defendê-lo. – Torvo respondeu calmamente. – Quando Connor pediu a ele, senti que seria uma péssima ideia desde o início. Vocês nunca se deram bem. – O Dragão se voltou para o irmão de Água. – A tendência é piorar agora.

Ladirus abaixou a cabeça, fitando Ártemis.

– É melhor a gente não falar disso. – Audrey disse a eles, preocupada que ela fosse mandar tudo para os ares de novo. – Ártemis não tem condições de ir para a reunião. Ela precisa descansar urgente. É sério.

– A reunião é importante… – Ladirus disse, ponderando enquanto a colocava no chão delicadamente. – Você poderia simplesmente não ir?

– Reunião de quê? – Jullian perguntou, cruzando os braços.

– O grupo… A saída.

O Lendário franziu o cenho, levemente surpreso. – Entendo. – Disse, polidamente. – Bem…

– É melhor ficar longe de celular. Vai ser estressante… E… Enfim. – Audrey não queria nem pensar. – Talvez Aisha possa ajudar. Vou avisar.

– Aí… – Choramingou a Pooka – Porque tudo isso está acontecendo comigo. – Ártemis cobriu o rosto e o escondeu no ombro de Ladirus. – Eu não queria ser assim. Eu só quero dormir e esquecer. Elas podem se virar sem mim… – Apertou os olhos – Está tudo doendo.

Jullian se voltou para Audrey com o cenho franzido e um biquinho aos lábios, mas concordou por fim. Toda a impressão do momento lhe fez se lembrar de Alice no País das Maravilhas.

Quando Ártemis citou dores, Ladirus a retornou para o seu colo com muito cuidado, aninhando-o novamente.

– Ela está febril. – Disse-lhes. – Bem febril.

Torvo se aproximou, tocando-a na testa. – Acontece… É melhor que ela fique num lugar calmo e sem se estressar.

– Eu aviso a Leah que ela não vai poder ir quando chegarmos. – Ladirus disse. – Ela não precisa de algo do povo dela, não sei?

– Não. Ela só pensa estabilizar, relaxar e descansar. – Torvo respondeu seguramente. – Ela não pode dormir. Isso é importante.

– Torvo. Eu gostaria de saber mais tarde se teremos surpresas a mais. Eu gostaria de estar preparado. – Jullian o olhou com uma sobrancelha. – Vamos pelo Umbral…

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