Never Be the Same

Categorias:Romance
Wyrm

Never Be the Same


Entre os seus dedos, areia úmida. Conforme caminhava, sentia-se acaricida pelo tapete da praia. A areia branca, limpa e fina proporcionava uma massagem aos seus pés, embora não andasse por ela com este propósito.

O pôr do Sol coloria o céu de um tom alaranjado rubro, engolido aos poucos pela escuridão. Annik se sentia frágil e sozinha, embora olhos protetores a acompanhassem. Ela não vestia nada em seu corpo além das longas penas coloridas em seus cabelos. Em seus braços, ela trazia um grande prato ritualístico, populoso de gostosuras marítimas recém-preparadas. Uma janta farta e preparada com zelo. Conseguia sentir o olhar de Luna a observando e o som de sua respiração se misturava com o das ondas e das aves que ainda pescavam. Sentia o seu coração batendo fortemente a cada passo em direção à água, ansioso. O instinto a ensinara a respeitar os limites, mas a vida que se lançara, uma loba em uma ilha, se completava com certas exigências. Quando notou o movimento distinto entre as ondas e uma silhueta de ergueu, a Ragabash sorriu nervosamente, resfolegou e seguiu em direção ao encontro marcado.

– Ela era muito bonita… Como você sonhou, Nay. – Annik contava a Nyra e Nina enquanto pescava frutas em um recepcionar de cristal. A sala de chá fazia causava um eco em sua voz de menina. Ela havia se vestido com um rope cor-de-rosa florido em azul. – Eu nunca tinha visto um Rokea tão de perto e sempre imaginei coisas terríveis… Grotescas! Mas ela parecia uma sereia. Bem mais velha que nós, eu acho… Vi em seus olhos muita sabedoria. Senti a passagem dos anos… Talvez, quarenta. Ela era uma orca, acredita? Orcas são lindas. – A Ragabash fez uma pausa, bebendo da água de coco. – Ela falou muito pouco, mas gostou muito da janta. Eu também. Mia foi excelente como sempre. Disse o povo dela anda feliz com as campanhas que estamos fazendo, protegendo as praias, mas… Eles não gostam de lobo. É um pouco difícil. Senti muita mágoa. Ela concordou em se encontrar comigo na próxima Lua Crescente. Eu acho que… Fiz algo certo. – Ela sorriu com timidez.

Escutou os detalhes da lupina com um sorriso discreto e um olhar orgulhoso. Embora Annik tivesse passado muito tempo com seu lado humano, cada diz que passava seu Espírito se mostrava mais forte e presente: impossível de se ignorar. E até os outros metamorfos talvez percebessem isso.
– Claro que você fez tudo certo, Annie. – Disse simplesmente. Havia um mapa astral na bancada com estrelas e planetas desenhadas perfeitamente em uma folha vegetal. Nyra e Nina haviam alinhado a via láctea muitas vezes, e calculado as fases mais poderosas dos planetas. A Theurge queria a benção de alguns deles para rituais de proteção, e isso envolvia seus cálculos complexos e ocultismo avançado.

Enquanto Nina usava uma calça esportiva e tope preto, Nyra exibia todo seu corpo em um short curtíssimo e uma cropped justa, branca e de tecido felpudo, as mangas coladas até metade do antebraço e a gola alta no pescoço, a barriga inteira exposta. Suas unhas vermelhas e afiadas, os lábios na mesma cor rubra, e os olhos cinzas destacados pela forte maquiagem negra; longos cílios,  sombra que contornava as pálpebras e abaixo dos olhos em um leve esfumaçado. Os cabelos de Nyra continuavam muito longos e penteados em suas curvas comportadas e clássicas. As pernas expostas usavam uma longa bota preta até os joelhos, envernizada e com desenhos de flores vinhas.

– Você tem essa expressão gentil e postura imponente, mas delicada. Além da sua inteligência motora ser muito invejável. Eu sei que elas conversam pelo corpo mais do que as palavras, e você era a pessoa certa. – Pegou o lápis de cor aquarela marrom para pintar um dos planetas com uma leve destreza, os olhos indo até a bela Ragabash a todo instante. – Acha que podemos reverter essa situação de descrença que elas tem sobre nós?

– O que elas tem pensado sobre os Dragões? – Nina perguntou em seguida, desviava o olhar do mapa para Annik. – Elas devem estar mais receosas sobre eles do que os lobos. As caças e tudo…

– Obrigada, Nay…

A Ragabash cobriu a boca com as mãos quando ouviu inteligência. Nyra era a única que usava esta palavra consigo e a Garou sempre achava graça e se sentia tão acanhada que quase se esqueceu de responder à Theurge.

– Levará algum tempo, eu acho… – Annik comentou com franqueza enquanto enrolava uma mecha do seu longo cabelo loiro em um dos dedos, pensando. – Eu acho que teremos problemas se não… Então, é melhor irmos com muita calma, sabe? Parece que há algo na ilha… Algo… Místico… E eles usam também.

– O que elas tem pensado sobre os Dragões? – Nina perguntou em seguida, desviava o olhar do mapa para Annik. – Elas devem estar mais receosas sobre eles do que os lobos. As caças e tudo…

– Ela não tinha nenhuma opinião sobre isso… Mudou de assunto. Ladi me garantiu que nunca mais caçou nada além de lulas gigantes nas profundezas do oceano… – Annik comentou, franzindo o cenho. – Eu não acho que isso seja muito bom também. Os Dragões precisam comer e eles comem muito, muito, muito… Antes era uma lula. Nos últimos dias, eu o observei tirando três dos mares… – A Ragabash franziu o nariz. – Nay, por que você escolheu essa ilha? Por que você… Sentiu que seria esta, você se lembra?

– É uma boa pergunta. – Nina também encarou Nyra. A Theurge piscou os olhos cinzas devagar e largou o lápis de cor de lado. Era sempre desconfortável retornar àqueles dias… Mas a pergunta a levou até lá.

– Eu não senti sobre o local. Eu senti que precisava de um lugar… Eu estava com receio pelos meus trigêmeos. E a Árvore também me pedia ajuda… Uma Ilha sempre foi uma ideia tão calorosa e solitária ao mesmo tempo. Mística e segura. Eu me via constantemente tomando conta de uma. Então essa caiu em minhas mãos… Preço acessível… Pouco visualizada. – Explicava na sua voz manhosa e um pouco saudosa – Bem… Meus bebês não estão comigo agora… – Suspirou magoada, fazendo um breve beicinho choroso – Mas eu consegui proteção para a Árvore… E as coisas tem ido muito além do imaginado. E todas as pessoas que eu amo tem se beneficiado dela. Eu acredito que seja preparação de Gaia.

Nina tocou a Theurge no ombro brevemente e olhou para a janela que dava sua vista ao jardim.

– É um paraíso mesmo. Você sente que a Ilha esteve esperando? – Nina perguntou a Annik. – Eu acho possível…

A Ragabash observou Nyra com demora e inspirou. Decidiu não tocar demais daquele assunto, apesar de também buscar pela mão da Theurge com a sua, apertando-a brevemente:

– Eu não sei se foi de Gaia… – Annik esticou o braço para pegar o iPad da Theurge sobre a mesa e começou a digitar rapidamente. – Eu tive dois insights. – Ela gesticulou o numero com os dois dedos. – Olhe. – A Garou abriu uma foto de Ladirus em um dos shows da Heathens. – Ela tocou o desenho da tatuagem no braço direito do Dragão que formava uma árvore. – Dagda. – Ela olhou de Nyra para Nina. – E isso… – Ela subiu para o ombro do rapaz onde uma espécie de estrela na imensidão azul escura se destacava. – … Está nessa outra ilha.

Que a tatuagem de Ladirus era a Árvore de Dagda, Nyra nunca teve dúvidas desde o dia um. Mas nunca havia se aprofundado no detalhe da estrela. A Theurge pegou o celular de Annik com cuidado e posicionou sobre o mapa astrônomo que desenhava. Nyra deu zoom no desenho da estrela e posicionou perto da constelação de Polaris…

– Hmmm. – Estreitou os olhos e depois fitou Annik com um enorme sorriso – Você foi muito sagaz agora, Annie. É verdade… Isso pode ser uma estrela guia também… Há algo aqui… Mesmo. – Apontou. – Curioso…

A Ragabash sorriu, embora não estivesse compreendendo nada do que realmente fazia sentido ali para Nyra.

– Uau. – Nina arqueou as sobrancelhas – Essa Ilha passou despercebida todo esse tempo?

– Aparentemente. Ladi a encontrou. Não estava nem à venda. Blair esteve lá com Acksul… Se descobriram algo, ainda não disseram.

– Deve estar bem protegido. Muito bem. – Nina caminhou ao redor da mesa.

– Acho que… Bem… Eu preciso pesquisar. – Ergueu os olhos a Annik – O que mais você concluiu?

– Que… Não é bom explorarmos antes de fazermos paz com o povo Rokea. – Annik disse, de pronto. – Eu ouvi a Aisha falando alguns dias atrás sobre esta ilha… Eu não acho que seja o caso de agirmos como foi esta… Podemos arrumar uma guerra… Tola. – A Garou completou e levou uma mecha de cabelo para trás da orelha. – É uma situação muito delicada, eu senti… Mas sobre os enigmas, nada. A Rainha desenhou isto na areia antes de ir embora. – Ela apontou para a estrela de Ladirus. – Ela pode tê-lo visto, não é? Ele adora correr na praia.

– Ela pode sim… – Nina observava o mapa curiosa, pois tentava resgatar informações na sua mente, mas apenas encontrava o inicio de uma dor de cabeça profunda. Lembrava-se de tantas coisas, mas o mais importante nunca estava lá… “Como a chave debaixo do tapete que nunca está lá quando você precisa”.

– Não. Nada de brigas. Eu quero aliados, não brigas. E elas parecem pacíficas, ou já teriam procurado confusão. – Nyra dedilhou os próprios lábios pensando. Sua mente ia novamente até ao Diário, como se fosse um chamado no fundo da sua mente, sedenta por curiosidade e informações, mas conteve-se mais uma vez. – Você lidera isso, tá Annik? Acompanhe o desenvolvimento do nosso relacionamento com elas… Você tem sido muito perceptiva…
Nyra desviou seu olhar para a porta quando ela recebeu duas batidas tão leves quanto alguém que não queria ser percebido e ainda teria a oportunidade de mudar de ideia.

Annik já havia se virado. Os olhos selvagens e as narinas dilatadas de quem farejava o olhar. Ela se levantou vagarosamente.

– Eu acho que é recomendado que eu continue o contato… Eu também acho que eles não estão interessados em guerra, mas podem mudar de ideia… – Ela disse enquanto caminhava calmamente com os pés descalços no piso. – Eles parecem ter um grande problema em confiar… – Annik abriu a porta.

Tantos problemas em confiar quanto Ártemis que estava do outro lado da porta, os olhos curiosos e uma expressão igualmente receosa. A Fada estava em um macacão jeans claro, usando por baixo um tope rendado branco, cheio de transparências. O salto dava uma curva sensual às suas costas, acentuando-a no lombo. Os cabelos negros e ondulados soltos, prendidos discretamente de lado para afastar parte do rosto moreno, a franja longa sobre os olhos. Quando Nyra percebeu que era Ártemis, até se assustou, pois fazia muitos meses que não via a Pooka.

– Arty… – Nyra acenou brevemente.

– Eu não quero atrapalhar seja lá o que estão fazendo, mas… Queria vê-las. Talvez eu não fique muito.

– Que fofa! – Nina riu e se ergueu para agarrar a morena e beijá-la na bochecha. – Sua doidinha, claro que não está atrapalhando. Você surge assim do nada!

– Ai! – Ártemis riu sem graça.

– Eu também quero um abraço da fada mais poderosa do mundo. – Nyra disse com um sorriso malicioso.

Abrindo um sorriso largo, Annik voltou a encostar a porta. Antes que a Fada alcançasse a Theurge, a lupina a pegou pela mão e a girou em torno de si mesma, observando a morena com admiração antes de abraçá-la fortemente e carinhosamente.

– Wow! – Exclamou, batendo palmas ao se afastar. – Você está me fazendo me sentir uma desleixada. – Olhou-se, vestida apenas com o roupão. – Esses meses fora fizeram bem para você, Arty! Você está… – Ela analisou de cima a baixo. – … Até com mais corpo.

– Eu estou no palco vinte e quatro horas por dia, eu malhei muito. – Ártemis disse com um certo orgulho, sorrindo feliz pelo elogio vindo do grupo. – Sabe? Ensaio vinte e quatro horas por dia.

– Eu imagino. – Nyra ergueu-se pra abraçá-la também. Ártemis era um pouco arisca com o gesto carinhoso, mas se deixava ir depois do primeiro segundo. – Mas você ficou muito poderosa, bonita e é claramente talentosa agora. Para quem não conseguia segurar um violão… Tudo isso em menos de um ano…

– Eu sei! – Ártemis sorriu animada.

– As meninas estão por aí? – Nina olhou brevemente para a porta.

– Não. Foram para o Luna. Eu saí com a Aisha e a Nikki… E… – Mordeu a ponta da língua brevemente – Conversei com alguns advogados e os agentes delas… Vocês podem guardar um segredo? Eu preciso falar com alguém sobre isso.

– Claro. – Nyra a olhou brevemente preocupada ao ver a fada agitada repentinamente.

– Eu não contei nada para as meninas… Mas eu comecei a analisar minha saída do grupo. Ainda não está certo, mas… Parece promissor.

Nina e Nyra abriram bem seus olhos, surpresas:

– Agora? – Nina riu. – Que movimento ousado.

– Sim! Argh! Eu não durmo há uma semana! – A Changeling caminhou até a mesa e puxou uma cadeira para se sentar. Nyra sempre soube que Ártemis tinha muitas preocupações em mente, e agora tinha certeza que ela não deveria andar dormindo mesmo. – Eu não consigo ficar feliz. Era o que eu queria, mas…
Os grandes olhos da Ragabash ficaram ainda maiores, arregalados. Como uma loba rondando, ela se aproximou de Nyra e abraçou-a pelas costas, curvando-se e descansando o rosto sobre o ombro da ruiva, fitando Ártemis com as sobrancelhas claras arqueadas:

– Ai… Mas você está segura disso? Vocês estão… Tão famosas! A música de vocês está até no Just Dance! Gaia… Vocês fazem videoclipes tão legais! Eu e o Nate dançamos todas as músicas. – A Ragabash riu, lembrando-se. – Essa indústria é um pouco cruel, sabe… Terrível. Você não acha, Nay? – A Ragabash voltou os orbes cevados para Nyra.

– Obviamente eu não tenho certeza de nada! – Levou as mãos à cabeça – Mas a Aisha disse que era agora ou nunca, já que em algum tempo o contrato termina e eu teria que renovar… E eu não quero mais ser parte desse grupo! Odio demasiado! Vocês não viram o clipe que gravamos… Agora é tudo sobre rebolar e ser submissa! – Falava se enrolando em um sotaque latino quando ficava mais nervosa.

– Entendo… Agora ou nunca. Mas você está bem amparada, Arty. – Nina disse, aproximando-se da fada e a olhando com um meio sorriso – Você acha que pode dar errado?

– Acho… É uma indústria cruel mesmo… – Fitou Annik, concordando. Nyra também assentia para a pergunta – Eu entendo que gostaria de fazer minhas músicas, mas eu sei que isso é delicado também… E eu queria continuar com toda a minha fama… Eu me sinto bem poderosa!

Nyra entendia igualmente, não julgava a necessidade de continuar no mesmo patamar. A pooka continuou: – Parece que nem vou sair viva nessa semana… Está tudo desabando, e eu estou acelerando. – Cobriu os lábios – Eu sabia que isso aconteceria. É como se eu não merecesse nada disso e estivesse esperando uma oportunidade para jogar no lixo.

Nyra arqueou a sobrancelha, em dúvida sobre o que Arty estava falando naquele instante.

Bem poderosa. Annik pestanejou ao sentir uma forte e agressiva força espiritual subitamente. A Garou pousou as mãos sobre os ombros de Nyra, endireitando a sua postura e escorou a cabeça para perto do ombro como uma loba em dúvida…

– Bem. Você está bem rica, não é? Agora, pode fazer música do jeito que você quiser. Você tem bastante fãs. Sempre estão comentando o seu nome! Ladirus nos disse todo orgulho que você é a mais citada sempre! Você ainda tem muito tempo de contrato…? E… – A Ragabash se calou por um instante. – Não sair viva…

Nyra tocou a mão de Annik que estava sobre seu ombro e observava Ártemis.

– Sou muito rica. – Falou manhosa e deu de ombros – Mas eu não posso me lançar sozinha. Um artista igual a mim… Eu teria que investir horrores para ter a minha gravadora… Não é assim! – Seus olhos se ergueram até Annik ou escutar o nome de Ladi e todo o orgulho que sabia que ele tinha, e então recuaram para a mesa, tímidos e sem qualquer brilho.

– Ártemis… – Nyra se aproximou – Você pode falar com a gente sobre isso se quiser.

A Changeling ergueu os olhos para Nyra ansiosa, pareceu pensar um segundo depois, mas logo fitou de Annik a Nina, demonstrando que não ficaria confortável em falar na presença delas.  A Dragonesa inspirou decepcionada, pois queria ouvir a história, mas se recompôs:

– Eu vou pegar algo melhor para beber. Vem, Annie?

A Ragabash pareceu pensar, levemente arrependida de algum comentário que havia feito e não sabia qual era o farpado.

– Claro! – Annik sorriu, mordendo o lábio, voltando-se para Nyra e roubou um demorado selinho dos lábios da Theurge antes de se afastar dela, serelepe. – Eu quero um milk-shake! O que vocês querem?

– Eu também quero. – Nyra respondeu após o selinho longo, observado por Ártemis com atenção. Negou o Milk-Shake e esperou a porta fechar para suspirar como se fosse chorar, mas segurando-se. Nyra deu a volta para se aproximar da fada, e se sentou a cadeira do lado. Ártemis recebeu o abraço da Theurge, apertando bem seus olhos escuros. – Não fica assim, Arty. – Afastou e a olhou. – Eu sei que vocês deram um tempo… Ninguém sabe exatamente, além de que não parecem bem…

– Ninguém sabe entre as Shaped e a Aisha também… – Murmurou, os olhos aguados – Não tive coragem nenhuma. Não disse a ninguém. Eu não consigo falar com ninguém sobre isso.

– É muito difícil mesmo. Especialmente porque ouvir conselhos é um pouco ruim… Raramente são sobre o que a gente quer e mais sobre o que deveríamos.
Ártemis concordou.

– E o que você quer? – Nyra continuou.

– Que ele estivesse comigo… Que ele pudesse ser meu namorado… Só meu.

– Ele é seu. Mas… Ele também não sabe lidar com isso. Ladi não consegue ficar inteiro sem uma das duas, Arty… Eu fico o vendo triste perto dela porque te perdeu, e ela tem tentando segurar o que eles tem… – Fez uma longa pausa, apertando os lábios vermelhos – Um romance assim é tão impossível? Sabe… Vocês podem chegar em acordos… Não precisa ser um tapa na cara do mundo… Eu quero dizer que entendo sua insegurança. Não precisa ser uma exposição tão violenta.

Ártemis a olhava escutando, mas em silêncio que pedia para que continuasse.

– Fayre também se importa muito com você… Ela seria bem flexível.

– É assustador… – Disse baixinho, limpando uma lágrima.

– É… – Concordou – No começo é mesmo. Especialmente pela distância entre você e ela. E para ele, em estar no meio. Se você quer saber um pouco sobre mim…

Ártemis assentiu rapidamente antes de Nyra continuar.

– Enfim… Foi muito difícil. – Nyra inspirou – Mantínhamos em segredo.  Era como andar degrau e degrau, bem devagar. Bem… Sabe? – Mordeu o canto do lábio – Deixa a curiosidade te levar… Sabe? Tente se encaixar como você se sentir confortável, trace linhas se você achar que deve… Ladi com certeza estará mais concentrado no que você está sentindo, no que nele mesmo… Ele tem um amor imenso por você… E se não funcionar… Não funcionou… O que não vai acontecer é você se ver daqui um tempo lidando com dificuldades sem saber exatamente como é.

– Você acha que ele gosta tudo isso de mim mesmo? – Ártemis soluçou.

– Claro! – Nyra riu até descrente – Ele é insano por você… Arty… Se você mandar uma única mensagem para ele agora, ele larga o Rhistel com as baquetas no estúdio e vem correndo só para te ver. – Assentia – Com toda certeza do mundo. Mas não é sobre isso que está insegura, não é?

– É… Sobre… Muitas coisas… – Falava muito pausadamente – Eu sei o que já pensam de mim… Eu sei que Connor ficaria decepcionado… Eu sei que…

– Ok… Calma. – Nyra a fitava – Vai por partes, tá?  Antes de já pular no precipício, você tem que pensar no que você quer. – Franziu a testa ao pensar, tentando mostrar a ela os primeiros passos antes do grande desastre que ela imaginava: – Ia ser bom se você pudesse ao menos falar com Ladi sobre o que você pensa. Ele está perdido. É só uma conversa Arty. Fayre também te procura o dia inteiro. Não é como se eles fossem atropelar o que você sente e te colocar por baixo. Deixa eles saberem o que você pensa… O que você precisa… E os escute também. Amor não é só sentimento e inconsequência. É uma negociação constante. Para você e eles ficarem felizes. Tenta se manter calma e fale, e escute… A intenção deles não é te ferir.  E aí, só então, você vai dizer se vale toda a problemática continuar esse amor… Entende?

Ártemis assentiu devagar, parecia ter absorvido ao menos partes do que lhe foi dito.

– Eu sei que você não é uma pessoa conquistada por educação e beleza. – Nyra sorriu para a Changeling – Apenas não seja tão abrupta. Pensa um pouquinho em você, se você gostaria de tentar saber como seria, e se deixa conquistar… É diferente e meio estranho no começo, mas nenhum bicho. Se você o ama e conseguir sentir o que ele sente, vai desejar ser parte… Eu tenho certeza que foi assim comigo e com meus lobos. Depois é questão de se encaixar… E não podia ser mais perfeito quando nos encontramos.

Nyra abriu um sorriso tão leve que Ártemis acabou o copiando, mesmo contrariada.

– Eu não tenho ideia do que dizer a eles… – Confessou. – Eu não sei como me sinto…

– Bem. Comece por aí… ‘Eu não sei como me sinto’. Conversando vocês se encontram, e eles vão dar espaço para você decidir.

– Ok…   Eu acho… – Ártemis olhou para o teto como se ainda houvesse muitas perguntas, mas não valia a pena adentrar em todas. – Que vou esperá-los retornar à Ilha…

Nyra a abraçou e a beijou no rosto. Era estranho ver Ártemis em uma calma controlada, onde não via a necessidade destruir algo; fazia Nyra acreditar que ela realmente estava apaixonada pelo Dragão ou magoada o suficiente para não reagir. Independente, Nyra torcia para Ladi.

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