I’m a Loser, Baby

Categorias:Romance
Wyrm

I’m a Loser, Baby


Delícia. Nathan estava fervendo de excitação. Os treinos só não eram melhores que sexo e música, mas havia pouco com o que o Galliard conseguia comparar com a emoção de lutar e Cassian era um adversário adequado. Os dois duelaram por mais de uma hora até sentirem os músculos pedindo por um descanso. Nathan apreciava muito lutar no Coliseu. Tanto espaço e liberdade faziam o seu sangue esquentar e a sua Fúria arder. Ele raramente estava vazio, mas pela manhã, era comum encontrar apenas alguns passarinhos curiosos ciscando na grama aparada. Blackwoods não dormiam muito e Cassian não era uma exceção. As duas vozes canoras conversando era uma sinfonia que atraía a natureza curiosa:

– … Então, eu a beijei… Foi gostoso pra caralho… E depois deu no que deu. Ela não quer mais olhar na minha cara. – Cassian lhe explicava, ainda esbaforido e precisando de pausas para respirar. – Cara… Foi um beijo tão bom. Nunca achei que o meu antigo mestre tiraria de mim uma chance dessas. Sabe, com a Leah…

– Hm… – Nathan murmurou enquanto acendia um cigarro e o levava aos lábios. A brisa matutina gelava ainda mais o seu tórax suado. Que azar. Leah é tão… – Que merda… Mas nem precisa necessariamente estar tudo perdido… Né? Vocês ainda podem conversar…

– Conversar o quê? “Olha, seu sou um Garou fodido, mas estou afim de você?”.

– Fodido e boa pinta.

– Isso não vai me ajudar, eu acho…

– Sempre me ajudou.

– Eu não sei… – Cassian cruzou os braços atrás do pescoço, erguendo os olhos para o céu clareando. – Ela saiu com o Connor depois.

– Connor? – Nathan parou de caminhar e Garou. – O Dragão?

Cassian assentiu, franzindo o nariz em uma careta de conformidade.

– Sei… – Nathan umedeceu o lábio inferior. – Já era, então.

Cassian entreabriu os lábios, pronto para protestar, mas calou-se ao ver Richard surgindo da Penumbra:

– E aí, rapazes? – Richard disse, sorrindo, aproximando-se dos dois Garou. – Já vou logo me desculpando pelo atraso, mas perdi a hora legal. – Riu, tirando o boné para arrumar os cabelos.

Nathan estendeu a mão para cumprimentá-lo, apertando-a e Cassian repetira o gesto também, esboçando um sorriso simpático nos lábios ingleses.

– O milagre acontece quando você chega no horário. – Nathan disse tragou do cigarro do cigarro em seguida.

– Você parece que nem dormiu. – Richard. Eu posso te fazer uma pergunta sincera, cara? – Cassian Pousou as mãos na cintura nua. – Tipo, muito sincera mesmo?

Richard o olhou desconfiado, mas deu de ombros:

– Pode. Mande ver. – Sorriu, cruzando os braços e encarando-o.

– Você é o Alfa da Seita? – Cassian desenhou um sorrisinho de escanteio. – Porque você é o único por lá que atolam de serviço.

Nathan se voltou para Richard.

A risada do rockstar da Neon Lights foi de surpresa. – Pois está aí uma pergunta engraçada. Vivo ocupadíssimo, mas ainda sou um membro como todos os outros. Só faço bem mais que a maioria. – Respondeu com sinceridade.

– Sei lá, cara. Você cancelou até a sua turnê. – Cassian comentou, cautelosamente. – Eu não quero bancar o advogado do Diabo, mas você não acha que estão te usando um pouco demais…?

– Hm… – Nathan coçou a barba rala. – É. A Elle não para de postar os trabalhos dela como modelo e essas coisas…

– Ninguém parou de fazer nada. – Cassian deu os ombros.

– Eu não sei bem o que pensar… Confesso. – Richard coçou o queixo, pensativo por uns segundos. – Dedico-me bastante, disso eu sei. – Encarou-os, ainda refletindo. – Porém, uma coisa é certa… Só posso falar por aquilo que faço. Ou seja, faço a minha parte, e se estiveram abusando de mim, o erro é deles, não meu. – Ele tirou a camisa, jogando-a no chão. – Não posso tirar conclusões precipitadas, mas vou pensar sobre o que estão me falando.

– Não, cara. O erro é seu. “As pessoas só fazem conosco o que permitimos”, frase clichê, mas real. Melhor se lembrar bem dela. – Nathan respondeu, fitando-o com uma sobrancelha arqueada. – Se estão abusando do seu tempo… Você precisa rever isso daí… Isso se você não estiver confortável com isso. Tem gente que ama um abus-

– Ei! Hm… Majestade?

Lentamente, Nathan ergueu o olhar até a voz masculina que se aproximava. Majestade. O Galliard franziu o nariz. Esquecia-se, às vezes, que ele era uma “majestade” e continuava extremamente estranho ouvir o título. Aquele rapaz lembrava Nathan a si mesmo em alguns aspectos. Nariz avantajado de inglês, olhos grandes e boca pequena. O Galliard não tinha ideia como ele aguentava estar vestindo uma jaqueta de couro aberta sobre uma camiseta branca, calças jeans e botas. A ilha era quente o bastante para Nathan não se prender ao estilo rockstar, embora soubesse que não precisava se esforçar para vestir a imagem de um.

O rapaz que se aproximava dos três pareceu ponderar até onde a sua coragem alcançava. Três celebridades descamisadas, altivas e ilustres. Redwyne, Flowers e Cass. Ainda por cima, portando o sangue azul dos Blackwoods.

– E aí?! Provavelmente não nos conhecemos…? Mas estou percebendo você meio acanhado. – Richard sorriu colocando as mãos na cintura, olhando para o estranho. – Chega aí. – Abanou as mãos fazendo um gesto para que ele se aproximasse mais.

Nathan se voltou para Richard, encarando o Garou e riu, internamente. Não é timidez, é respeito. Quem vê pensa que é um garoto de dez anos e não o dobro. O Galliard não queria conversar com a plebe, mas o Ragabash simplesmente o deixou sem alternativas.

O outro Garou esboçou um sorriso irritado enquanto se aproximava.

– Senhor. – Ele se voltou para Nathan.

– Você é…?

– Viktor. – Ele respondeu rapidamente. – Viktor Kozlov. Eu sou um Presa de Prata…

– Não conheço essa família.

Viktor abriu e fechou a boca. Ele franziu o cenho, pensando em uma resposta educada em meio à sua revolta:

– A nossa raça pura não é… Excepcional.

– Parece que não. – Cassian abaixou a cabeça para ocultar o sorriso risonho que surgiu em seus lábios.

Os olhos castanhos cautelosos de Richard analisavam o Garou a sua frente. Kozlov. Hum… Repetiu o sobrenome na mente, enquanto cruzava os braços calado, aguardando. Cassian se entreolhou com ele.

Viktor pareceu hesitar em prosseguir.

– Então. Eu… Bom. – Começou, inspirando profundamente. – Meu irmão está com um problema. O meu… Meio-irmão.

– Quem é o seu meio-irmão? – Nathan perguntou.

– Arthur, senhor.

– Arthur… – Nathan franziu o cenho.

– O Impuro? – Cassian perguntou, arqueando uma sobrancelha.

– Ih. Sabia que vinha bomba. – Richard coçou o cotovelo, negando com a cabeça.

A Fúria de Viktor foi controlada, mas não despercebida. Nathan franziu o cenho, fitando o rapaz.

– É, o Impuro.

– Qual o problema dele? – O Galliard perguntou.

– Ele não está conseguindo se enturmar…

– Cara. Você é meio-irmão de um Impuro. Como isso aconteceu…? – Cassian perguntou, curioso.

– Espera. – Richard deu um passo a frente. – Vamos em partes. – Ele pousou uma das mãos na cintura. – Depois a gente descobre como aconteceu. Mas antes… – Fitou Viktor. – Esclareça melhor esse “não está conseguindo se enturmar”. Porque, assim… Ele é um Impuro. Isso já deixa a situação metade ruim.

Nathan acabou rindo, mas não devia tê-lo feito. Foi deselegante. Ele ajeitou os óculos escuros, recompondo-se:

– Ahm… Então. Richard tem razão. O que acontece realmente…?

Ele vai voar nos nossos pescoços já, já. Cassian observava o garoto corando de raiva.

– Estão machucando-o. Ele voltou ferido para casa três dias seguidos… – Viktor disse.

– Hm. – Richard coçava o queixo. – Está meio que acontecendo o de sempre, né. – Tirou o boné, passando as mãos pelos cabelos. – Mas… O que você quer exatamente que seja feito?

Viktor se voltou para Nathan antes de responder a pergunta de Richard. O Galliard o olhava aguardando e então ele prosseguiu sem gosto na voz:

– Você não poderia falar para as crianças tratarem-no melhor?! – Pediu, já indignado. – Ele é uma criança como qualquer outra…

– Mais ou menos, cara. – Cassian passou a mão pelos cabelos.

– Mais ou menos o caralho. – Viktor se irritou. – Ele é!

Dando um passo a frente e mirando Viktor, Nathan disse com a sua voz preguiçosamente firme:

– Eu vou falar com o Arthur. – Ele franziu o nariz. – Beleza?

Viktor devolveu o olhar de Nathan, mas não o sustentou e abaixou a cabeça prudentemente.

– Acho que terminamos por aqui, não é, Viktor? – Richard disse. – E devo dizer que Arthur tem sorte de tê-lo como irmão… – Comentou por fim, na tentativa de apaziguar os ânimos do Garou.

– Vejo que sim… – Viktor respondeu, ressentido.

Indiferente, Cassian se voltou para Nathan e Richard. Era tão raro para ele conviver com Impuros que até se esquecia de que eles existiam…

– Quando você pode ir, senhor? – Viktor perguntou, contendo os seus ânimos.

Agora. – Nathan disse calmamente e retornou os olhos a Richard e Cassian. – Até mais. – Ele acenou em despedida e retornou o cigarro aos lábios.

Sem censurar a própria surpresa, Viktor seguiu Nathan. O Galliard sentia o olhar desconfiado do Garou retornando a si o tempo todo, sem conseguir se concentrar no caminho. Difícil se acostumar com essa posição elevada. Nathan tragou do cigarro e suspirou. Talvez essa distância dos nossso súditos não seja tão boa assim. Quando se afastaram das outras duas celebridades, Nathan se virou para Viktor e o encarou, parando de caminhar:

– Onde ele está? O Arthur…

– No vilarejo, com certeza. – Viktor respondeu, desconfiado.

– ‘Tá. – Nathan tragou do cigarro uma última vez antes de apagá-lo e jogar a bituca na lixeira próxima. – Eu vou sozinho.

O olhar de Viktor foi cheio de dúvida.

– É melhor assim. – Nathan disse e não esperou por uma resposta do Garou. Sofreu metamorfose e lançou-se sobre as suas quatro patas lupinas.

Impuro. Nathan refletia sobre a condição amaldiçoada enquanto seguia em direção ao vilarejo. Estéril e deformado. Deformado! Porra. Eu devia ter perguntado sobre a deformidade. Nunca havia lidado com um Impuro diretamente. Ele mesmo não era tão bem visto na Sociedade Garou, mas não se comparava ao seu problema de primeiro mundo. Ele ainda era um Presa de Prata perfeito. Ainda por cima, uma celebridade. Um rockstar e sex symbol. Não. Não havia comparações.

Nathan sentiu os seus pensamentos assim que assumiu a forma hominídea. A resposta viera com um assombro de admiração. Pessoas comuns frente a um rockstar sem camisa, membro da Alcateia líder do Luar do Oceano. Majestade! O Galliard observou ao redor. Sentiu um silêncio tão evidente que parecia que o vilarejo sem fazia mais parte da sua Seita. Deu-se conta que nem se lembrava quando havia o visitado. Era uma realidade que não fazia parte do seu cotidiano. Embora muito bonita, não milionária.

Ele perguntou à primeira pessoa próxima de si sobre Arthur, o Impuro. A senhora não o respondeu e apenas indicou com o dedo o menino sentado em um banco em frente a padaria. Padaria! Havia uma padaria, uma drogaria e até uma loja de conveniências – e ao que parecia, somente o começo de pequenos comércios pelos arredores ao verificar as construções. Nathan se aproximou do menino calmamente, ignorando a atenção chamada e sentou-se ao lado dele. Considerou até que ele fosse surdo antes de notar que a Fúria do menino se mostrava elevando-se.

Ele era bem jovem. Talvez, dez anos. Cabelos castanhos escuros, meio cumpridos e lisos, olhos, caídos, inteligentes e nervosos, boca pequena e nariz pequeno. Uma criança bem bonita. Nathan até buscou descobrir a deformidade do menino, mas não encontrou nada que a denunciasse, a princípio.

– Arthur? – Ele o olhou diretamente.

– Sou eu, senhor. – Arthur respondeu e retribuiu o olhar, mas logo lançou-o ao chão.

– Eu quero conversar com você. Podemos dar uma volta?

Arthur assentiu, erguendo-se no mesmo instante. Nathan o acompanhou, passando a guiá-los para longe dos olhos curiosos demais, rumando em direção ao castelo. O olhar preguiçoso do Galliard mirou as mãozinhas unidas e as cicatrizes em seus braços. Ele andava encolhido como se estivesse com vergonha de existir.

– O seu irmão me disse que andam te enchendo o saco. – Nathan começou.

– Um pouco…

– Sei. – Nathan pensou por um instante. Havia forma mais delicada de perguntar? – Qual é o seu defeito?

Arthur ergueu o olhar até o do Blackwood. Nathan não achou que ele estivesse ofendido, mas surpreso com o questionamento:

– Eu não sinto cheiro das coisas…

Foda. O Galliard ajeitou os óculos. – O que andam fazendo com você?

– Deve ser porque sou o mais novo também. – Arthur respondeu rapidamente como se já estivesse acostumado com a própria resposta. – Eu não ligo…

Mentira.

– Você os deixa te bater, então? – Nathan perguntou.

– Não, mas… – Arthur inspirou. – São muitos. Eles são fortes… Mas eu já machuquei alguns.

– Sei.

– Eles me xingam, falam coisas da minha mãe… Eu fico bravo, mas quando eu vou bater neles, eu apanho… – Confessava a contragosto. – Não consigo me controlar…

– Hm.

– Eu não conheci a minha mãe. Ela foi para o céu quando eu nasci.

– Oh… – Nathan o olhava.

– Eles me chamam de assassino…

Está certo em meter a porrada neles então. Nathan parou de caminhar, pensando. – Qual é o seu Augúrio, Arthur?

– Eu sou um Galliard… Como você. – Ele respondeu, timidamente.

– Sei. – Nathan assentiu, refletindo. – Vamos fazer o seguinte, então…

Nathan retornou para a Casa de Vidro no final da tarde. Assim que deixou Arthur aos cuidados do seu irmão mais velho, uma pesada dúvida caiu sobre a sua cabeça como um meteoro, destruindo toda a sua certeza de que estava fazendo o certo. O que seria o certo, numa situação como aquela? O Galliard massageava o braço enquanto caminhava, adentrando a mansão imersa em uma trilha sonora em piano, ministrada por Jullian. Nathan suspirou, aproximando-se do instrumento de cristal e sentando-se ao lado do Lendário. Os olhos receosos se perderam pelas teclas por um momento antes de se pronunciar.

– Eu tomei uma decisão sem… – Nathan franziu o cenho, olhando-o quando o Lendário afastou as mãos das teclas do piano. – Não pare… Por favor. Isso está… Muito gostoso de ouvir.

– Você gostou? – Jullian abriu um sorriso sincero e cheio de dentes.

– Muito. – Nathan retribuiu o sorriso. – Muito delicada. – Ele suspirou, demorando-se a recomeçar quando a música retornou ao ambiente. – É para a Nymph?

– Sim.

– Já tem um nome?

– Starlight. – Jullian olhou com carinho.

– Starlight… – Nathan concordou. – Foda. Continue, por favor… Bem… – Suspirou. – Eu tomei uma decisão sem te consultar, Jules.

– Qual decisão? – O Lendário perguntou, sem olhá-lo.

– Um cara me pediu para ajudar com o irmão dele… Um Impuro. – O Galliard massageou as coxas. – Eu fui até o garoto e decidi ajudá-lo treinando para meter porrada na cara dos que estão batendo nele.

Philodox o olhou brevemente, franzindo o cenho.

– Você acha que foi uma decisão ruim? – Nathan perguntou, franzindo o cenho.

Você acha que foi uma decisão ruim?

O Galliard inspirou, voltando-se para frente com o olhar parado. – Não. – Respondeu, inseguro. – Se eu fosse falar com os amiguinhos sobre respeito, surgiriam outros amiguinhos. Ele é um Impuro. É difícil. Ele não sente o cheiro das coisas. Já tem o paladar comprometido. Imagine, que vida amarga?

– Muito amarga.

– E o que você acha?

O Lendário ponderou:

– Eu não sei. Nós teremos que aguardar e observar os resultados.

O Galliard entreabriu os lábios, surpreso.

– E se der errado?!

– Saberemos que não foi uma decisão boa.

– Caralho, Jullian…

– Meu doce príncipe… Nós todos estamos aprendendo aqui. Eu fico feliz que esteja “tentando tomar decisões”. Eu realmente preciso desse tipo de ajuda e estou orgulhoso de você. – Jullian o tocou sobre o ombro, acariciando-o. – Eu espero que dê certo.

– Estou sendo testado, parece…

– Sempre. – Jullian sorriu seladamente.

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