Little Monster

Categorias:Romance
Wyrm

Little Monster


Os dedos digitavam rapidamente no celular enquanto se sentia subindo e descendo com uma rapidez impressionante. Rhistel ergueu o braço e iniciou uma live no Instagram. O Dragão de Gelo estava deitado nas costas nuas e suadas de Nathan, também sem camisa, fazendo-se de peso para as flexões do lobo enquanto Ladirus supervisionava, de pé, na frente deles.

– Olá. – Rhistel disse para a câmera. – Eu sou me sinto gay nesse momento e queria compartilhar com vocês. Estamos dando duro na academia aqui para aguentar a próxima turnê. Geral acordou com uma vontade de ficar mais saudável e sexy. Eu não estou entendendo, mas… – Ele franziu o cenho. – Eu sinto que eu estou onde muitas pessoas gostariam de estar.

Ladirus riu, negando com a cabeça e Rhistel focou a câmera do celular nele, filmando-o de baixo naquelas idas e vindas. O Dragão de Água cruzou os braços sobre o peito nu.

– Ladi está rindo, mas tenho certeza que ele concorda comigo. – Rhistel disse, voltando novamente a câmera para a própria face. – Não vou filmá-lo de novo. Não adianta. Ladi, está todo mundo doido com os seus corpo.

– É só malhar. – Ladirus disse. – E manter uma alimentação balanceada.

– “Só malhar”! ‘Tá, valeu pelos elogios, mas respeito comigo, vocês…! Eu tenho namorada e ela é brava, hein? Sim. Muito brava. Sim, estou tomando muito Sol. Fiquem tranquilos. O próximo álbum será o melhor álbum das suas vidas. Muitas surpresas. Obrigado por esgotarem os ingressos, queridos! – Rhistel acabou gargalhando. – Meu Deus… Vocês! Ahm… Vocês estão chutando longe… Sério que não conseguem adivinhar quem é?! Esse cara lindo! Não! Não é o Acksul… – Ele riu, abrindo um sorriso sem jeito. – Meu Deus. Acksul está ali… – Rhistel filmou o irmão correndo na esteira ao lado de Annik. – Não, não morram! Parem de falar que estão morrendo! Ahm… Bee e Fayre… Deem uma dica para eles. – Rhistel mudou novamente a câmera, focando Blair e Audrey. – Uma visão do Paraíso para vocês. De nada.

Fayre deu um aceno tímido para a câmera direcionada e Blair se ergueu, aproximou-se e mostrou a língua, rindo em seguida ao afastar alguns passos. Usava roupas de malhar, top e legging vermelhos, enquanto Audrey apenas estava de camisa e jeans, cabelos loiros e curtos, sem parecer que participava da malhação.

– Eu não sei dar nenhuma dica sem ficar óbvia! – Blair riu e olhou para Fayre, buscando ajuda: – Ah! – Limpou a garganta e recitou para o celular com seriedade:  – Eu quero saber se esse sentimento é recíproco? – Interpretou como se fosse um poema e tentou não rir.  – Deus, isso foi tão óbvio…

– Foi.  – Audrey concordou arqueando as sobrancelhas.

– Desculpa.  – A Maga se curvou para beijar o rosto de Rhistel e retornou para o banco ao lado da princesa.

O sorriso que Rhistel esboçou quando ela o beijou pendurou por um longo enquanto ele lia as mensagens explosivas sobre Nathan Redwyne, a fofura de Blair e o beijo carinhoso do casal. Negando com a cabeça, Rhistel deslizou a live e saiu de cima de Nathan, sentando-se no chão. Nathan se sentou ao lado dele, rindo e observando a tela do celular. O Dragão de Gelo fez uma selfie dos dois até sérios demais e postou: “crush”.

– Até que eu fiquei bonito. – Nathan observou.

– Você é um gato, Nathan. – Rhistel o olhou, rindo.

Ladirus sorriu, inspirando profundamente antes de caminhar se sentar ao lado de Audrey, curvando-se sobre os joelhos. Levemente distante outra vez, a sua mente vagou sem destino, distraído. Os olhos pequenos observavam o chão sem se fixar em qualquer ponto.

O riso de Blair soou conforme os dois tiravam a foto e postava. Ela os observava com aquela felicidade estampada, ou parecia sempre estar.

– Eu quero um retrato dessa foto! – Disse, antes de beber a própria água. Seus olhos foram discretamente até Ladi e Fayre, e a princesa o agarrou pelo braço e o beijou na pele do braço forte e suado. Blair sabia que eles andavam assim, grudados, mesmo que houvesse aquele incômodo que o puxava para outro espaço. E essa dorzinha tinha nome e sobrenome, e andava sem dar sinais além dos shows e entrevistas, e um suposto choro registrado por fãs ao cantar Write on me. Blair se ergueu e se aproximou do outro lado do Dragão de Água.

– Ah! Me chamaram para fazer uma entrevista para uma revista de saúde, eu disse que faria se só convencesse você a fazer o ensaio fotográfico comigo e a entrevista. – Blair sorriu e o cutucou no ombro – Hein? Hm? Vamos?

– Sério? – Fayre riu descrente. – Daquelas de alimentação e exercício?

– Sim. Sophie saiu nela uns meses atrás… Falando de esportes. Sabe? – Blair se sentou ao lado dele – Me disseram que se eu levar você, pagam quase o dobro. Fazemos umas fotos bem bobas.

Ladirus deixou a cabeça no ombro de Audrey, observando a animação de Blair sem conseguir realmente se animar. Ele nem sabia exatamente por onde andavam as suas vontades, além de estar com a Maga e tocar bateria…

– Sei. Ela me mostrou. – Ladirus respondeu, abrindo um sorriso quase sincero. – Nós podemos, Blair. Será legal aparecer em algo assim com você. Parece… Sei lá, divertido. – Ele ergueu os olhos para Polaris que se aproximava. Olhá-lo fazia-o lembrar que Ártemis voltaria para a ilha. – Você só precisa me dizer quando… Hoje, eu e o Rhistel vamos ficar na On o dia inteiro, gravando… Espero eu. – Ladirus se voltou para Fayre. – Você vai comigo…?

– Tudo bem. Não é para tão breve. – Blair disse, e ergueu os olhos para Acksul, que andava não no melhor do seu espírito. Mas imaginava o que o incomodava, e logo iriam resolver a pendência. – Eba…! – Ela sorriu e roubou um beijo do rosto de Ladirus antes dele se virar para Fayre.

– Eu vou… – Audrey disse movendo sua cabeça positivamente – Não sei se consigo ficar o dia inteiro, mas… Eu vou ficar o máximo que posso. – Sorriu brevemente e tomou um selinho igualmente breve. – Aliás, das coisas que eu ouvi. Estou pagando um pau para esse álbum e estética… Eu queria ter tido essas ideias. – Audrey disse, olhando de Ladi para Rhistel – Representa facilmente qualquer pessoa hoje em dia.

– Não é?! – Blair abriu um enorme sorriso – Eu tenho certeza que fica incrível. Eu não vejo a hora. Acho que vai dar até para malhar com elas.

Sem tanto ânimo quanto deveria, Ladirus apenas as olhou com um sorriso selado. Ele não andava muito feliz e Audrey estava acompanhando o sentimento. Tempo ao tempo, repetia-se. Tempo ao tempo.

– Ahm… Obrigado. – Rhistel sorriu para Blair. – Nós vamos destruirtudo! Eu tenho muitas ideias! Cara… Nenhum show nosso vai passar em branco em mentes alheias. Meus fãs irão querer ir em todos.

Nathan se voltou brevemente para Ladirus e as garotas e retornou o olhar para Rhistel, fitando-o com um curioso e lânguido e descansando o queixo no ombro gelado do Dragão. O Garou também estava sem camisa e linhas de água e sal desciam por seu peito suado.

– Queria ver vocês gravando a ‘The Judge’. – Nathan disse. – Gostei muito da letra que me enviou, Ras. Eu te admiro muito. Você é um gênio. Muito sensível e sensitivo. – Ele franziu o cenho. – Eu tenho certeza que você vai fazer um sucesso que não está sabendo medir…

– Oh. – Rhistel se surpreendeu com o comentário repentino. – Sério? Não está falando para me agradar?

– É sério. Você deveria me chamar para cantar ‘Fairly Local’ com você. – Nathan fez um beicinho, olhando-o com mais atenção. – Ao vivo. Só uma participação especial.

– Nossa. Obrigado… – O sorriso de Rhistel se estendeu enorme por seus lábios avermelhados.

– Hein? Você não precisa nem me creditar. – Nathan arqueou uma sobrancelha.

– Oh, Gaia, Nate… É óbvio que sim. – Rhistel riu, olhando-o. – Eu sou seu fã incondicional. Você também escreve bem demais. Um poeta e romântico incorrigível.

– Está rolando um clima. – Nathan abriu um sorriso risonho. – Fechado, então.

– Blair? – Acksul fitou brevemente cada um. – Vamos?

Blair os fitava com seus sorrisos, mas ficou séria quando Polaris a chamou.

O Dragão da Matéria não esboçou sorrisos. Desde que retornara de Las Vegas parecia tê-los deixado lá. Estava inteiramente vestido de preto: regata justa, bermuda e tênis de corrida. Preto como o seu humor.

– Eu vou apenas tomar um banho rápido. Eu trouxe minhas roupas. – Ela apontou para o vestiário, onde haviam chuveiros. Fayre ergueu o olhar a eles e cruzou os braços sobre os joelhos. Inclinando-se para frente sentada no banco.

– Eu também quero ser chamada para cantar no palco. – Fayre retornou ao assunto quando Blair se afastou para o chuveiro. – Na verdade, eu lembro que meses atrás vocês que prometerem subir nos meus shows quando estivessem famosos. Eu acho que a hora está chegando.

– Óbvio que sim, minha Gaia… Claro que eu quero a sua voz nas nossas músicas! – Rhistel exclamou, empolgado. – Vai ser uma bagunça o nosso palco, Ladi. Todos vão amar.

– É… Vai sim. Eu tenho certeza que vou me animar quando estivermos viajando… – Ladirus concordou, querendo sentir metade da empolgação do irmão. – Mas você vai viajar conosco… Não? A Blair vai… – O Dragão se voltou para ela. – Eu gostaria muito que você fosse…

Polaris se voltou para Fayre, discretamente, pensando na história de modo geral na sua cabeça.

A maga sorriu e riu para a comemoração de Rhistel.

– Eu gosto da ideia da bagunça! – Declarou, animando-se um pouco e se virou para Ladi: – Claro que eu pretendo estar lá. Ainda estou vendo o que posso fazer em relação aos meus compromissos. Mas eu quero viajar junto. Eu acho que vai ser uma tour e tanto…

A resposta de Ladirus foi um abraço suado, mas carinhoso o suficiente para ser bem-vindo. O Dragão de Agua beijou Audrey diversas vezes no rosto, brincando e abrindo um sorriso mais sincero.

Blair demorou meia hora, colocou um jeans preto e vestiu uma camisa azul marinha larga, de um leve tecido fresco, deixando botões abertos para um decote discreto, embora seu sutiã preto ficasse exposto. Os cabelos loiros tinham seus fios ondulados, tocando os ombros estreitos. A maga retornou ao local e fitou Polaris:

– Pronto. – E virou-se para Rhistel para beijá-lo em um selinho – Boa sorte hoje, meu amor, com a gravação. Manda mensagem. Boa Sorte, Ladi. – Sorriu para o Dragão de Água – Se cuidem e Não façam nada que eu não faria.

– Você está linda, Bee…

Carinhosamente, Rhistel retribuiu o selinho antes que ela se afastasse, abrindo um sorriso tão radiante que Polaris até melhorou a sua carranca e negou com a cabeça.

– Blair é o membro da banda mais animado. – Ladirus comentou com um humor mais divertido, pois era muito difícil não se contagiar com a empolgação dela. – Peço para a Mitzi fazer uns vídeos nossos.

A ação não era contra o romance, mas Acksul não estava inclinado a comemorações e no fundo preferia manter dessa forma. Virou-se para caminhar após acenar e rir, brevemente, da careta de Nathan ao mostrar a língua para si.

– Por favor, filmem tudo! – Blair pediu dando grande importância para a tarde de gravação de algumas músicas terminadas. Os olhares carinhosos e os risos animados foram abandonados quando se afastou do grupo, encontrando com Polaris na porta da Academia para o olhar antes de prosseguirem:

– Polaris? – Blair parou de caminhar – Eu percebi que você está um pouco ansioso… – Disse, embora ela mesma estivesse, encontrou prudência para não corresponder o sentimento – Melhor nos alinharmos sobre como você imagina que será esse encontro…




Os fones de ouvido tocavam o último álbum dos The Puppies, embora ele se sentisse ridículo por isso. A questão era que a ilha não dizia respeito a nada muito além do núcleo dos Versos da Magia, os Dragões e os amigos próximos. A vida pública deles estava na boca dos moradores e , infelizmente, a música era ótima. ‘Everything You’ve Come To Expect’ casava com os seus sentimentos de um modo assustador. Se pudesse arriscar impossibilidades, diria que ela havia sido escrita com a sua história como inspiração.

A sua recuperação não havia sido simples. O seu corpo estava cheio de ferimentos que se recusavam em sarar. A pausa obrigatória lhe deu tempo o suficiente para fazer um repasse mental sobre toda a sua vida nos últimos anos, resumida em fuga, culpa e agonia. Ainda não estava convencido que havia caído dentro da boca do seu medo primordial e que ele estava totalmente indiferente, ao que parecia.

Sebastian havia sido o primeiro a se render ao ritual criado para possibilitar Garou de Despertar. O propósito inicial soava muito nobre. Proteger Gaia, que Garou não aceitaria armas melhores para poder fazê-lo? Sebastian dividiu a sabedoria do ritual com a sua família e isso foi passado a todos os membros que queriam essa iluminação de consciência. Os Blackwoods abusaram do novo truque, maravilhados com as amplas possibilidades.

Foi a primeira vez que a Goetia mostrou as suas garras, capturando-os.

Anos de tortura e terríveis experiências proporcionou uma sabedoria que a fuga sangrenta dos Lobos-Magos fora uma consequência irrelevante a ser paga pela Goetia. O irmão de Nikai pereceu juntamente com outros amados companheiros no processo. Pelo menos, era nisso que acreditavam. Parcialmente vitoriosos,  reuniram novamente os Blackwoods e progrediram com o custoso poder adquirido.

Paralelo a isso, os primeiros Lobo-Magos Verdadeiros estavam criando Dragões a partir de estrelas.

Os poderosos Dragões de Elara. Ninguém sequer imaginava que a Ronin considerada louca, promíscua e com ideais pendentes a Wyrm detinha as mãos puras em magia, assim como o seu irmão Klaus. Por anos, Sebastian acreditou que os irmãos eram tão enlameados no ritual de transformação quanto ele.

Através do tempo, o ritual se provou um laço mais apertado do que todos gostariam que fosse. Amarrados uns aos outros, com Sebastian na ponta de um iceberg de poder, ter o Garou em mãos significa controlar a todos os demais e o Efeito muito simples se tornou o seu maior pavor todos esses anos. A culpa era dele. O ritual de magia era uma maldição e não uma benção? Uma coleira de dor. A Goetia puxara o seu tapete como uma oportunista atraente e a queda fora ainda mais dolorida do que a primeira vez. Uma manifestação de controle através de Sebastian fez todos aqueles envolvidos com o ritual da magia se ajoelharem. Naquela época quando tudo começou, o grupo era considerado neutro – apesar dos seus jogos de poder cruéis. Sebastian viu a Wyrm quando foi capturado novamente.

A Goetia voltou os seus olhos cobiçosos para os Dragões e fez promessas tentadoras através de rituais de compromisso e ofereceu poder a quem se juntasse a eles para agarrar as criaturas de Elara. Para Sebastian, a Goetia ofereceu liberdade para os Blackwoods.

Com a Mariposa de Esmeralda perdida em algum canto de Gaia, a única esperança surgiu no possível controle dos Dragões. Sebastian se juntou às frentes e junto ao alto escalão da Goetia, capturou as nove criaturas. Nove, sim e ajudou a banir o Lobo-Fantasma da Tellurian quando ele tentou soltá-los. O último ainda não havia nascido. Ele nasceu do suicídio de Elara e o ritual poderosíssimo que ela realizou ao tirar a própria vida deu a Polaris o toque final que faltava para a sua criação. Um Coração.

Imaginava também que o poderoso ritual suicida de Elara houvesse espalhado uma pura magia no sangue Blackwood futuro. Quem sabe… A princesa desacreditada era um gênio e ter rido de suas ideias era apenas mais um item em sua lista de arrependimentos. Não sobrou ninguém daquele grupo sonhador.

Sebastian não culpava os Dragões pelo ódio. O custo para continuar vivo estava sendo até pesado demais, mas nem ele mesmo sabia se outra ponta controlável surgiria após a sua morte. As opções pareciam viver no plano dos sonhos ideias. Havia conversado sobre isso com Nikai no dia anterior:

– Se não me mataram até agora, eles vão me usar para alguma coisa. – Ele meneou a cabeça negativamente. – Eles nunca me perdoarão. Nunca nos perdoarão.

– Ainda somos Blackwoods… – Nikai lhe disse, observando-o com os olhos intranquilos. – Ainda somos uma família…

– Existe uma nova família agora. – Sebastian respondeu com amargura. – Curiosamente, esta parece bem fiel.

Uma família sem sentido, sem laços de sangue ou raça como determinantes. Resquícios deixados por Elara e o seu grupo visionário. Estavam todos presentes. Todos. Desde os companheiros unidos por amor até aqueles que a principio a procuraram para ajudá-la em troca de um pedacinho da Mariposa de Esmeralda.

Mariposa de Esmeralda. Poderia ela ter resolvido todos os seus problemas? Ela esteve em suas mãos há poucos anos, mas fora perdida pelo descuido de uma ex-namorada cega pela curiosidade de adquirir poder. Ex-namorada que também estava tentando se recuperar, tão ferida quanto ele. Enquanto se encarava diante do espelho do banheiro, observando o rosto com a beleza congelada pelo tempo, Sebastian tentava decidir o que mudaria e o que poderia ser mudado realmente sem deter ao plano da imaginação infantil. Ele havia feito a barba, cortado o cabelo e vestido algo decente. Camisa branca social de mangas longas, mas dobradas até o cotovelo, calças jeans e botas claras e lisas. Ele sabia que teria visitas antes que ela fosse anunciada e talvez estivesse esperançoso demais em não estar se despedindo de tudo.

Era o mesmo resumo que Polaris contava a Blair, mas doses profundas de rancor e mágoas:

– Eu entendo o lado dele. Eu tenho certeza que ele entende o meu, mas estamos em lados opostos e, infelizmente… Possivelmente… – O Dragão umedeceu os lábios, mordendo-os ao terminar. – … Precisamos nos unir.

– Você o entende…? – Blair arqueou as sobrancelhas surpresa. – Você tem certeza? – O sorriso se esticou de canto no lábio, incerto e ainda curiosa – Nem parece você. Estava com receio que terminasse em alguém sendo engolido… Eu vim bem preparada até. – Ergueu a larga camisa azul marinha para mostrar um cristal preso no cós da calça que usava, e a abaixou – Mas… De qualquer modo… Ele não tem razão para confiar em nenhum de nós dois. Qualquer união pode ser interessante agora… – Falava com seriedade – Mas somente agora…

– Eu não quero que ele confie. Eu não confio nele. Ele está defendendo a família dele e eu, a minha. Entender não quer dizer perdoar, Blair. Compreendo, mas não concordo. Se eu sentir que o esforço será maior do que o benefício… – O Dragão da Matéria se voltou para Blair, tocando-a sobre o ombro. – … Nós chamaremos os Versos para esta conversa. Grande parte dos relatórios que você conhece sobre os Lobos-Magos Verdadeiros saiu de dentro dos Blackwoods.

Blair sentiu a prudência nas palavras dele e concordou. – Tudo bem. – Assentiu devagar – Saiu. Aliás… Eles nunca se esconderam tão bem quanto achavam… Desde que o laço deles com Meris é forte demais para eles serem subordinados… Não era tarefa difícil. Eu apenas estava por perto… Às vezes… Para lembrar que eles ainda eram vigiados. – Explicou calmamente – Tanto que levar Sebastian comigo foi fácil como roubar o doce… E eu sempre soube tudo sobre a vida deles… Consequentemente, eu podia saber sobre seus filhos… Com ajuda de alguns contatos também, para que eu não me arriscasse sempre… Porque… Enfim… Somos todos perigosos. – Sorriu brevemente. – Dragões e Blackwoods. E ele nunca vai confiar mesmo… Ele não pode confiar nem nele mesmo…

– Ele não consegue reunir forças para te combater. Faz parte do ritual que ele aceitou sem ler as letras miúdas. – Polaris disse, olhando-a em seus olhos claros. – Mas… Vigiando-os pra quê? Sebastian, principalmente, é mais útil morto para Meris do que vivo. Ele tem uma parte da Mariposa de Esmeralda em seu corpo. Ele traiu Elara para tê-la. Por que deixá-lo vivo, então? De quem era a ordem para não assassiná-lo de vez?

Blair entreolhou-se com Polaris e fez uma expressão pensativa por um instante.

– Não há certeza que essa ‘parte da Mariposa’ seja um pedaço concreto… Que possa ser simplesmente sugado… Ou retirado de volta. Ele está vivo porque foi interessante vivo. Você sabe o que fiz com ele vivo… E era muito poder manipulável. – Blair encolheu os ombros – Meris tem suas razões, Polaris. É como funciona. Existe uma parte dele… Que ainda busca encontrar as próprias memórias… Provavelmente Sebastian tem muitas respostas que ele busca reconquistar. – Negou brevemente – Além do mais, quando eu digo vigiando… Não é como se eu tivesse o controle exatamente. Mais como se eu soubesse que precisasse cercar, lembrá-los, deixá-los dentro desse círculo de fuga… Até que escorregassem e eu encontrasse o propósito. – Seus olhos estavam no Dragão depois de vagaram – Meris talvez os quisesse mortos… Mas há coisas maiores… E… Sinceramente? Eu não tenho como saber o papel de Meris em tudo isso. Essa obsessão com a família Blackwood… Que eu achava que tinha, pode ser somente os olhos dele… Por que Sebastian seria simplesmente interessante morto e não controlado… ? Eu não sei se faz mais sentido o que estou dizendo. – Sorriu sem graça e respirou fundo ao sentir uma breve pontada na cabeça. – Mas enquanto Meris adormecia esse século, e acordava no meu corpo, Sebastian estava por aí, aguardando, se fortificando… Eu não sou poderosa como ele, talvez nem metade do que ele pode alcançar, mas ainda o tenho na minha mão. Então…

Ouvia-a calado, sem olhá-la, enquanto refletia pelas palavras. Os olhos claros se divertiam com um humor maldoso. – Não há certeza… – Ele assentiu vagarosamente. – … Não há certeza para ninguém além de mim que o pedaço da Marisa que há nele possa ser absorvido. – O sorriso do Dragão se abriu cheio de dentes. – Se eu engolir Sebastian, sim, a Mariposa virá para mim… – O Dragão pousou as mãos na cintura. – E eu ainda não tenho motivo algum para deixar ele vivo. Nenhum. O seu discurso está cheio de lacunas… Você mesma sentiu. – O Dragão da Matéria mordeu o lábio e girou os olhos e deu um berro repentino. – PORRA! Eu estou me esquecendo de alguma coisa. Eu estou. Está aqui e eu não consigo ver. – Ele começou a caminhar novamente. – Vamos até lá! Não quero supor. Se ele não me convencer, ele morre.

– Eu sei que está cheio de lacuna. Eu sou uma das que não se pode confiar em mim mesma… – Ela riu brevemente – Eu gostaria de não me opor se a necessidade fosse matá-lo. Eu odeio qualquer coisa que me prenda a lembranças do passado… E ele era uma preocupação diária minha… – Apertou o lábios – Mas não cabe a nós, Polaris. A não ser que ele tente algo estúpido. Vamos…

– Não cabe a nós decidir…? – Polaris a olhou com sorriso cruel. – Não se preocupe, Blair. Ele tentará algo estúpido e ninguém precisará saber da veracidade dos fatos. – Rosnou.

Calmamente no exterior, Sebastian deixou a casa em que estava hospedado e atravessou a rua, seguindo até a padaria e cobrando um bagel. Gracejou com sorrisos, perguntando se estava tudo bem com todos e saiu com o mesmo ar mentirosamente leve do estabelecimento. Os olhos azuis se ergueram para o Sol já ardido e desceram até os dois indivíduos que se aproximavam de si. Sebastian parou de mastigar e arqueou as sobrancelhas.

O sorriso de Blair crescia conforme se aproximava. Andou ao lado de Polaris, com sua mão no bolso do jeans e a outra livre. Ao pararem diante, seus olhos distraídos se moveram até a loja de pães caseiros e retornaram aos azuis-celestes de Sebastian.

– Bom dia… Que bom te ver tão bem e saindo. Não esperava que estivesse tão leve. Para início de conversa, que bom.

As pessoas que passavam não notavam o casal de atores, mas se desviavam deles como se pudessem senti-los inconscientemente. O Garou terminou de mastigar, rondando os olhos pelo ambiente antes de retornar a eles. Polaris apenas o encarava, calado. Sabia que quando começasse a falar, Sebastian iria preferir o seu silêncio.

– É. – Sebastian assentiu vagarosamente. De repente, também não era mais notado. – A vizinhança ajuda… E os meus critérios estão mais simples há muitos anos. – Ele desenhou um sorriso selado. – Estou sendo intimado, creio?

– Está. – Polaris respondeu. – Vamos para a praia.

– Claro. – Ele assentiu, abrindo um sorriso breve. – Adorei o seu último filme, Blair. Foi… Muito perturbador.

A ausência deles se transformou em completo desaparecimento gradativamente, conforme ela refletia a luz de seus corpos. As pessoas continuaram passando sem nada ver.

– É mesmo? E qual sua parte preferida? – Brincou em provocação e estendeu sua mão para frente, criando seu vórtice roxo e sugando-os com rapidez até uma praia deserta – próxima de onde o pequeno pier recebia poucos barcos exclusivos vindo da Ilha. A praia era cercada por uma mata úmida e o mar verde de muitas pedras e algas. Eles haviam ressurgidos abaixo de uma das árvores e com os pés na areia.

– A parte que uma das modelos come o olho da protagonista… – Sebastian disse com uma voz aérea. – Teve tanto trabalho para me fazer sarar e irá me matar? – A pergunta foi direcionada a Polaris, assim como o seu olhar.

– Que nojo… – Blair comentou sobre a preferência dele, franzindo o cenho brevemente e rindo depois.

O Dragão o estudou, escorando a cabeça para perto do ombro, num gesto canino, antes de responder:

– Nenhum veredito ainda. – Polaris disse, neutro. – Steven disse que te ouviu reclamando.

– Reclamar é um mal humano. Todos reclamam de tudo. – Sebastian rebateu. – Não posso?

– Reclamando das suas condições. Para quem estava conformado com a vida simples, você reclamou bastante. Injustiçado, talvez? – Polaris franziu o cenho.

– Reclamei por reclamar. Eu não sou um injustiçado e mesmo que me sentisse como um… Eu sei que os olhos dela estão em todos os lugares. Eu sinto… – Sebastian se voltou para Blair. – O dela… O de Jullian… E o do pequeno Steven também. Menino prodígio.

– Eu tenho os ensinado… Steven é único. – A maga respondeu, curiosa sobre a tranquilidade dele – Você decidiu sair da Ilha. Andar por aí pela luz do dia… Você sabe a essa altura que eu não sou sua única inimiga. O que você tem interessa ao restante da Goetia igualmente… Ainda que eu saiba que sem mim eles iriam precisar de uma boa estratégia para te derrubar… É arriscado. Não parece que está considerando mais apenas sua sobrevivência…

Ao que o sorriso de Sebastian se estendeu, Acksul imaginou que tudo o que não passava pela mente dele era a possibilidade de uma proposta aliança.

– Você está preocupada comigo, Blair? – Ele se aproximou um passo dela com as mãos unidas em frente ao corpo. – Quanto isso vai me custar?

– Bem. Blair teria muito o que aprender com você. – Acksul propôs como quem nada quer, também sorrindo. Estavam todos tão sorridentes!

Sebastian até riu!

– Isso é mais ultrajante do que eu esperaria de vocês! – Ele passou a mão pelo rosto liso da barba enquanto ria. – Sério? Gaia… – Os olhos claros se fixaram em Blair. – Você tem tanta sorte de eu poder vasculhar a sua cabeça…

Acksul se voltou para Blair, levemente confuso. Não estava entendendo a leveza do Garou.

Quanto mais leveza ele demonstrava, mais cautelosa ela se colocava. Os olhos verdes desconfiados e atentos, conhecia muitos truques dele, mas tinha certeza que não todos.

– Você tem sorte de não ser eu atrás de você mais… Seus dias de fuga terminaram, Sebastian. Isso é razão de grande alívio… Para quem viveu como uma sombra. – Fitava-o nos olhos, sem se intimidar sobre a possibilidade dele capturar seus pensamentos – O que você esperava?

– Eu esperava que você não fosse tão linda. – Sebastian devolveu o olhar dela sem se desviar. – Mas eu estava errado. Você acha que está certa em tudo, Blair? Meris? Polaris? – Ele de voltou para o Dragão.

Sentiu que havia pisado linha fora da área segura. A mão de Polaris lançando-se ao seu pescoço antes que pudesse refletir. As garras espelhadas penetraram a sua carne e o sangue quente correu por sua pele. “Desculpe”, ele balbuciou. Polaris o soltou, esboçando um sorriso lunático.

– Minha paciência contigo é frágil. – Polaris rosnou com o rosto próximo ao dele. – Não pense que eu não possa te engolir depois de Connor escrever uma bíblia com os seus pensamentos todos. Não me teste.

O Garou assentiu, tocando o pescoço e fitando os dedos manchados…

– Você soltou uma cabeça. – Declarou, resfolgando.

O comentário sobre sua beleza naquela situação não foi bem recebido, e somente agradeceu por pela curta paciência de Polaris para mostrá-lo seu lugar.

– Ele soltou… – Declarou – Eu não queria que você nos olhasse como olha para o resto do mundo… Como se fossemos crianças… É você quem está em problemas maiores. – Blair fitou o sangue e retornou aos olhos claros – Por que você não ajuda? Suas memórias são as mais próximas e ainda vivas… Podemos usar do seu conhecimento para terminar com a Goetia de vez, Sebastian… De vez. Temos muitas ferramentas, mas diversas lacunas… – Blair falava calmamente:  – É tão interessante para você quanto é para nós e os Versos, e todas as pessoas que você espera poder proteger.

– Eu não estou tratando ninguém como criança. Eu estou cansado… – Sebastian se aproximou da praia, curvando-se para lavar as mãos das águas. – E vocês tem uma esperança que me admira. Principalmente, você. São muitos ramos… Muitos. Sei que não conheci metade.

Polaris o observou se aproximando, fitando os olhos claros.

– Mas, sim… A ilha está cheia de vocês, criaturas aladas. Essa é a variável nova. Essa união… Também. – O Garou encarou Polaris. – Mani andando por aqui… Tsuru… As gêmeas… E… – Sebastian abriu um sorriso selado ao se voltar para Blair. – O que vocês farão com relação à família? Eles não vão gostar que vocês se relacionem comigo. Eles tem os seus motivos. Eu deveria informar que estão procurando o lobo errado?

– Você é o lobo que traiu Elara junto a Koschei. Imagino que você tenha muito a dizer. – Polaris disse com suavidade na voz.

– Eu estava tentando reparar um erro… – Sebastian defendeu-se. – Mas vocês devem saber disso…

 – Você tem as histórias de todos esses nomes… Embora eu não acredite que eu seja reencarnação de algo… Sou uma Maga. – Blair falava baixo, mas com firmeza, e o fitava – Nós sabemos nada da Mani, por exemplo… Você tem detalhes dos Rituais, dos nomes… Mais do que qualquer um. Por que você não diz o que sabe? Não tem mais do que correr e somos os mais aptos a lutar. A opinião dos Magos dos Rituais não importa e nem condiz com os fatos. – Dizia com uma impaciência convicta, acostumada a lidar com esses assuntos de outra forma.

– Você não está falando pelos Versos da Magia e nem pelos demais Dragões. Você não está falando pelos resquícios do passado, como Nikai e… Kenai. – Sebastian disse a contragosto. – Mas talvez algumas cartas na mesa os façam mudarem de ideia. Até aí, tudo o que eu disser sim ou não nem dependente totalmente de mim.

– Você… – Sua expressão se iluminou com uma ideia, com a voz falando no fundo da sua mente: – Você sabe do Klaus?

O suspiro emotivo de Polaris foi tão sincero quanto o seu olhar ao que o nome foi mencionado. A importância do Lobo-Fantasma evidenciou dolorosamente, mexendo a tímida de esperança que Sebastian começava a sentir.

O cenho do Garou se franziu com as sobrancelhas que se arquearam até não poderem mais. – Klaus. – Ele repetiu o nome. – Sim. Fui um dos últimos a vê-lo… – O riso foi de desconforto. – Querem me ajuda… Mas estão procurando por Klaus? A primeira coisa que ele fará se me ver… É me dar um destino pior do que dei a ele.

– Acredito que sim, mas Klaus é importante. – Polaris respondeu de pronto, aproximando-se um passo do Garou. – Onde ele está…?

– Desconfio que Blair saiba. – Sebastian respondeu, receoso

A pressão na sua nuca ficou um pouco mais forte, algo a segurava e apertava, chamando sua atenção. Ela tocou o próprio pescoço e resgatou memórias enquanto fitava Sebastian, incomodada:

– Eu ainda me surpreendo como você pode ser egoísta. Você nunca mudou. – A Maga o encarou entediada e desviou olhou para o Dragão da Matéria. – Eu acho que… – Sentiu sua mente flutuar por um segundo, tentando esconder os sinais de uma breve fraqueza ao acessar uma memória que não era sua. – Eu sei… – Confirmou – Eu acho que sei, Polaris. Meris sabe…

– Não é somente sobre mim. Já pararam para pensar que ele pode não estar tão são quanto esperam? Eu tenho certeza que não sou o único que sabe e o coração puro que é aquele velho com certeza já o teria libertado da prisão que ele foi colocado. – Sebastian apontou para Blair e depois para Polaris. – Vocês podem libertar um monstro. Eu não o coloquei nela sozinho. Eu tive muita ajuda.

Possibilidade forte. Polaris já considerava a hipótese. Eram muitos anos. O Dragão da Matéria estudou o lobo cautelosamente. Os olhos calados como os seus lábios só demonstravam a sua atenção enquanto a mente trabalhava duplamente. Ele se endireitou. Não havia opção para abandonar alguém que tanto lhe ajudara e se importara. Alguém tão importante para ele, quanto para os seus irmãos.

– Nós vamos arriscar. – Polaris disse com um sorriso se estendendo pelos seus lábios. – Bem. Cartas na mesa, você diz. Sim. Em breve.

Nem conseguiu prestar atenção direito nas justificativas de Sebastian. Klaus Gwenevere era uma opção que não ignoraria seja o que ele houvesse feito.

– Nós estamos aqui. E Klaus deveria estar também. – Disse para si mesma e ergueu seus olhos distantes para Sebastian – Eu não tenho certeza o quanto você é útil mais. Eu não deveria me levar pelas minhas emoções, mas tenho essa sensação que você não apenas prejudicou Polaris e os outros, mas optou por não me afastar da Goetia… – Ergueu os olhos ao seu Dragão brevemente, e altiva retornou ao Garou – Eu tenho certeza que você sabia quem eu era,  e deixou como estava… Assim como Neil fez… Parece que você não pode ajudar em nada… Por mais que saiba tudo o que sabe.  Eu achei que podia acreditar em você… De alguma forma… Mas me soa um engano agora.

Os lábios cheios de Polaris se distanciaram vagarosamente um do outro, entreabrindo-os enquanto ouvia as palavras de Blair. Como farpa lançada diretamente aos olhos de Sebastian, ele voltou os orbes já espelhados para o Garou que recuava alguns passos:

– Eu posso reverter o Efeito que foi jogado em Klaus sem que ele sofra mais. – Sebastian resfolegou, esboçando um sorriso inseguro ao sentir a mudança de ares. – Klaus viveu ao lado da Elara. Eu vivi ao lado da Goetia, todos nós somos importantes, mas eu não posso prometer que ele acordará lúcido! – Ele cuspiu as palavras. – Vocês podem…? Não podem! NÃO PODEM! Podemos ter cautela aqui, por favor…?

É engraçado como a gente se engana quando acha que o tempo ensina. Tempo não ensina nada. – Blair disse expressando seu desgosto pelo súbito desespero e pré-disposição a auxiliar. – Sabe o que é pior, Sebastian? Eu sou sua melhor forma de sobrevivência agora. E eu acho que você não deveria estar mais aqui. Até mesmo a família que você jura proteger te preferia em outro plano a essa altura… – As palavras vieram ácidas dos lábios femininos.

Mas não houve tempo para reação. A mente de Sebastian avia tocado a de Drawn em desespero, e mesmo que o Arquimago não fosse proficiente em Correspondência como Blair, ele encontrou alguém que era, para o levar exatamente ali, entre Blair e Polaris. Judith tinha uma magia muito mais leve, sua aparição acompanhava uma névoa clara entre o azul céu e violeta.   Mas mesmo seu aspecto digno de apreciação, foi rápido a forma como ela trouxe Drawn, e ela mesma, que ainda fosse avisada para partir logo em seguida, negou e ficou.

– Eu não sei o que está acontecendo exatamente. Mas acaba por aqui. – Drawn disse naquela sua calma bem interpretada.

Vira-latas. Sebastian correu para perto de Drawn como um cachorro sarnento que reconhecia do dono. De repente, estava cheio de coragem e demonstrava que poderia lutar se fosse preciso. O sorriso do Dragão se alargou maldosamente.

– Ora, professor. Eu fico feliz em vê-lo. – Polaris disse, observando o Arquimago com os olhos que apenas refletiam o que tocavam, adotando as cores do ambiente como uma de suas escamas. – Quase me esqueci que não posso engolir ninguém sem consultar a liderança antes! Mesmo que seja alguém que prejudicou tanto a mim e aos meus irmãos! Diga-me, Drawn… Em quanto tempo essa paz cairá? Você sabe que os limites estão cada vez mais tênues.

– Não precisamos falar disso agora. – Sebastian pediu com uma voz firme. – Prometi a eles libertar o Lobo-Fantasma. Está tudo bem. Ânimos passados acordados. Ninguém irá se ferir hoje.

– Sebastian disse que você sabia de Klaus esse tempo todo. – Polaris disse. – É um pouco triste saber disso…

– Ele disse? – Joshua fitou Polaris com breve e leve descrença. Aquele Dragão era a encarnação de um demônio ao lado de um anjo. Blair os fitava, mas ostentava aquela arrogância séria e analítica. Era outra que não se podia confiar nos próprios sentimentos. – Vocês querem mesmo entrar nessa guerra de quem prejudicou quem, Polaris? – Joshua tinha as mãos no bolso da calça social e fitava o Dragão nos olhos – Nenhum de vocês deveria ser colocar em um patamar de julgar a vida de ninguém… É bom que aprendam isso, especialmente porque vivemos em grupo.

– Isso é uma guerra. Não foi feita para ser justa nem bonita. – Blair respondeu com aspereza – Não venha me falar de julgamentos… Todos sobem esse patamar um dia e então é decidido de hora em hora quem é presa e quem é caçador. É assim que os Magos de Rituais escolheram viver e arrastaram todos para essa bagunça… Inclusive você, Drawn.

– Eu estou aqui porque eu quero. – Ele continuava firme mas paciente na sua voz rouca e pausada – Ninguém me disse que eu ia ter que lidar com a cabeça quente de vocês dois, e ainda estou aqui… Voluntariamente nessa bagunça. Tentando dar luz para a mente jovem de vocês… A luz que nenhum de nós teve naquela época. E isso inclui Klaus e Elara… Até Scarlett.

– Ninguém quis essa bagunça, droga! Ninguém! A ideia era completamente diferente! Eu fui enganado! Eu estou tentando salvar a minha família e eles sofreram tanto quanto você! – Sebastian rosnou. – Você não é a única sofredora, Blair Valerius! Você não é a única! Eu não sou inimigo de vocês! – Ele olhou brevemente para Judith. Provavelmente, ela não deveria estar ouvindo nada daquilo. – Mas vocês estão excluindo meu problema! Para vocês, é-

Polaris meneou o dedo e a boca de Sebastian fechou com um bater de dentes dolorido. Sebastian levou as mãos aos rosto, desesperado, e voltou-se para Drawn pedindo ajuda, tocando o braço do Arquimago com as mãos. O Dragão o soltou antes que se tornasse um drama maior do que ele gostaria que fosse.

Quando Polaris fechou a boca de Sebastian, Joshua o segurou pelo braço e apenas pediu com o olhar. Blair se exaltava com as palavras do Blackwood:

– Eu era uma criança. – Apontou o próprio peito e depois a Polaris – Eles precisavam de ajuda! Vocês só queriam poder! Não tem o direito de se sentir injustiçado agora.

– Se todos são importantes, eu imagino que seja do interesse de todos que Klaus seja libertado da prisão importa. – Polaris disse com uma calma visivelmente controlada onde a Fúria lhe escapava dos olhos.

– Chega. – Joshua ainda segurava as costas de Sebastian – Vocês dois. Nada vai ser decidido sem reuniões.

– Todos vão decidir pelo Klaus. E eu vou fazer questão de ir atrás disso. – Blair disse.

– Blair e Acksul. Saiam agora. Eu vou voltar a Ilha com Sebastian… Vocês vão e eu vou pedir a reunião com os Versos. – Drawn fitou Judith, achando melhor que ela retornasse sozinha. Os olhos da Garou estavam arregalados e não piscavam, fitava de um e outro paralisada.
Os lábios de Acksul se elevaram como se pudesse desnudar as suas presas. Queimava de Fúria e Sebastian conseguia ler a ameaça velada que ele depositava. O Dragão deu um grito de Fúria antes de virar para caminhar.

– Leve-nos para qualquer lugar longe dessa ilha, Blair. – Polaris pediu, olhando-a. – Até retornarmos, Sr. Drawn já reuniu todos os que precisam concordar com o socorro de uma pessoa…

Os olhos se Sebastian tocaram os de Drawn em um silencioso aviso.

Blair não hesitou ao pedido, a raiva também estava em seus olhos quando andou passos de costas e tocou o braço de Polaris para sumirem rapidamente, levando-os até outra praia em Fox Town, longe da Ilha.

– Então… Era verdade? – Judith murmurou para si, os olhos onde Blair e Polaris haviam sumido.

– Judith… Obrigado e desculpa te incomodar. Eu não os acharia a tempo. Você pode retornar a Vila… Eu vou caminhando com Sebastian…

– Eu deveria mesmo? A situação me soou perigosa, professor.

– Nós podemos nos virar. – Moveu a mão no ar de forma desimportante. – Apenas… Não comente nada por aí, se puder me fazer esse favor.

– Okay… – A loira assentiu e começou a caminhar relutante – Me chame se precisar. – E desapareceu também.

Drawn se virou para Sebastian e cruzou os braços após olhá-lo por minutos atrás dos óculos aviador:

– Você sabe que temos que fazer isso.

Cada um deles, Sebastian enxergava traços de companheiros antigos. Judith não era uma exceção. Ele a fitou distraído; distante do presente em uma breve visita para o passado. Os olhos claros se voltaram levemente ausentes para Drawn. O sorriso nasceu com a conformidade…

– Eu sei. Minha vida dependente disso, ao que parece. Eu preciso me mostrar útil. – Sebastian disse com um humor degenerado pelos pensamentos que passavam pela sua mente. – Saoirse e Nikai não vão gostar do que anda acontecendo aqui… Eu preferi nem avisá-los. – Suspirou. – Você sabe que acordar Klaus pode ser uma péssima ideia. É melhor que seja feito bem longe da Árvore de Dagda… Se for feito mesmo.

– Eu duvido que não seja feito… Isso ficou na cabeça dos dois agora. – Apontou brevemente ao espaço vazio da presença de Blair e Polaris. – Isso vai ser terrível, Sebastian. Mas faça o que é certo… Nem por eles, mas pelo poder que aceitou… Pela eternidade que procurou… Entende? – Respirou fundo – Odeio dar sermão, Sebastian, mas não viva como um fugitivo… Você é poderoso demais para isso. Você está tendo essa chance agora.

– Eu entendo. – Sebastian disse. O desânimo tomava conta do seu olhar a medida que encarava o velho amigo… – Sr. Drawn. Nenhuma desculpa do mundo irá reparar o que fiz contra o Lobo-Fantasma. – Ele inspirou profundamente e passou a mão pelo rosto. – Eu o apunhalei pelas costas. Eu estava desesperado. Preciso de um tempo. Você e eu não sabemos o que seria de todos nós se ele realmente tivesse soltado os Dragões naquele dia, como era o seu plano. Eu sei que é errado o que fiz, mas consegue imaginar o estrago? Elara voaria pelos céus destruindo tudo. TUDO! – Exaltou-se. – Jullian está com Sophie na cozinha. Sophie amava Klaus. Talvez ela possa ajudar. Ela, Chay… – Pensava rapidamente. – Klaus era mais racional que Elara e Scarlett, mas não sei o quão racional ele estará hoje em dia. Ele ajudou a criar essas criaturas… E eu não sei se nota, mas elas estão cada dia mais poderosas.

– Não só mais poderosos… Mais protegidos e organizados. E essa é a melhor forma que poderíamos querer deles… – Drawn completou, raspou a bota na areia, pensando – Não á muito o que se fazer, Sebastian… – Ergueu apenas os olhos até ele – Felizmente ou não, Elara está entre nós… Eu sinto isso cada vez mais… E ela tem juntado a todos… Por alguma mágika que ela mesma espalhou antes de morrer… Eu não sei. – Fez uma pausa – E pelo o que temos percebido, Nyra tem uma forte influência sobre tudo… Sobre eles… Eu a treino, nós conversamos muito… Ela tem se aproximado da sua antepassada mesmo sem perceber, e eu conto que ela ajude a ser razoável quando a hora chegar… E eles vão escutá-la como eles tem escutado… Até mesmo Klaus pode escutá-la… – Inspirou – Enquanto isso… Temos que agir conforme for mais apropriado. Mesmo que isso nos coloque em risco todo santo dia… E você deveria estar me ajudando sobre os Verdadeiros… Eles quem vão decidir o destino de tudo isso… Só eles podem…  E não existe mais forma de conter esse poder… Vamos ter que lidar.

Author: