Assassin

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Wyrm

Assassin


Provocaram os locais mais quentes dos próprios corpos e se encontraram na banheira gelada. As horas deslizaram como se não existisse outros compromissos no mundo e toda a sua exaustão da rotina esvaziava de seu corpo… Com excitação, amor, carinhos.

Decidiram retornar quando souberam que Ladi e Fayre haviam voado de volta sem avisos. A Maga fez seu teleporte para que Rhistel não precisava gastar sua energia até o outro lado do país.
Ela usava um vestido curto, corte reto e branco, e nos pés botinhas rosas choque que havia comprado em um brechó misterioso de ruas menos movimentadas em Las Vegas junto de Rhistel. Blair beijou-o na varanda da mansão azul algumas vezes entre selinhos risonhos, e terminou o assunto que havia começado no check out:

– Eu não estou brincando, eu quero que atravesse o tapete vermelho comigo no final do ano no Grammy. – Pediu, mesmo sabendo que exposição e flashes não era a atividade favorita do Dragão de Gelo. – Por favor-Zinho…?

Oh, Gaia. Ele ergueu o rosto para céu, sentindo-se ansioso com o assunto. Blair ainda acaba comigo um dia desses com esses assuntos. Rhistel começou a rir, fechando os olhos apertadamente antes de olhá-la nos seus. – Bee… A menos que você esteja fazendo uma previsão do futuro, eu nem sei se serei chamado para a festa do Grammy! – Ele riu. – Você está muito confiante para quem ouviu só uma música nova… Está mais confiante que a gravadora… – Ele sorriu, rindo. – Gostou tanto assim de ‘Heavydirtysoul’…? Eu queria te mostrar outras, mas eu e o Ladi decidimos fazer surpresa. Ele nem sabe que te mostrei…

– Claro que eu gostei. Na verdade, eu amei. Muito! – Blair o tocou no rosto carinhosa e beijou-o em um selinho – Bem… – Apertou os lábios, evitando seu enorme sorriso – Eu não espiei! – Iniciou a declaração – Eu juro… Mas você, às vezes, anota coisas por aí, e eu leio verso e outros, porque você deixa tudo em casa… Ou fica testando melodias no piano. E tudo o que eu pego eu gosto, embora seja um grande mistério. – Disse sincera e certa seriedade: – Não é porque você é meu namorado. Você tem talento demais. E se até os Versos ficam ansiosos com suas criações … Eu não estou falando bobagem, né? Ainda sabendo o quanto é exigente e cuidadoso… – Tocou-o na testa e riu: – Fica até sério quando está escrevendo.

– Fico? Ah… Não! Eu digo… Ahm… – Rhistel sorriu com o toque, olhando-a. – Eu fico ansioso com você! Digo… Eu não quero que você pare de ser assim, mas às vezes é difícil te ver, ouvir… E, cara… Isso ser real. Nossa. – Ele a fitou, apertando os lábios vermelhos fortemente. – Você realmente é real? Eu tenho medo de acordar e descobrir que foi tudo um sonho. Eu me vejo perguntando isso para o mundo, porque… Eu nem tinha esperanças de ter alguém tão companheira assim ao meu lado… Como você, Bee… Ahm… – Os orbes escuros, levemente avermelhados, seguiam os dela. – É que as ideias começam a vir do nada e… Eu imagino que eu faça uma bagunça aqui, às vezes… – Meu namorado. – Eu acho que nunca vou me acostumar com isso. “Meu namorado”. Eu amo ouvir… Principalmente em conversas perdidas… Você falando de mim… Eu sinto o seu orgulho e fico assim, todo derretido… Me dá até uma fraqueza… – Ele suspirou, roubando um selinho demorado. – Eu preciso te contar uma coisa…

A Maga ficava em silêncio ao ouvi-lo falar, entre sorrisos e selinhos. Acostumada em vê-lo despejando palavras rápidas que poderiam inspirar uma música. – Eu imagino como fica sua mente quando as ideias surgem… – Desceu o toque da sua mão ao pescoço dele – Eu gosto de enfatizar o “meu” – Brincou – Eu sou muito orgulhosa. – O olhar que havia descido aos lábios dele retornaram aos oscilantes escuros e castanho avermelhado – O que foi?

O sorriso dele se estendeu malicioso e mordido. O Dragão suspirou com calores. – Ouvir isso de uma atriz incrivelmente talentosa é um peso enorme, sabe. – Ele sussurrou, erguendo o queixo e fechando os olhos em uma rendição. – Bem… É que… Eu vou usar a sua ideia… De pintar meu pescoço… E as mãos. Eu acho que vou usar carvão mesmo… E criar este personagem. – Ele inspirou. – E… Eu já terminei de escrever o álbum todo. Só está faltando o restante… Ah. Uma das canções… Polaris escreveu comigo. Inclusive, ele gravou comigo. Ahm… – Ele franziu o cenho, abrindo os olhos e encarando-a com estranha. – Blair. – O olhar se tornou preocupado subitamente. – Esta ansiedade não é minha.

Pareceu positivamente surpresa sobre a participação de Polaris… Estava certamente curiosa para saber da colaboração dele.

– Está fase de gravação… – Ela concluiu, deixando seu sorriso crescer empolgado. – Parabéns. – Abraçou-o apertado e fechou seus olhos, sabia do esforço que era terminar um álbum. Mas não pode chegar ao final da comemoração ao escutar a preocupação… Ansiedade que não era de Rhistel, só podia ser de uma pessoa.

– Você quer dizer a ele que chegamos? Ele só fico ansioso quando algo está realmente errado…

– Ele sabe.

Jullian bateu duas vezes no vidro, anunciando a sua chegada antes de afastá-lo e abri-lo. Trajando a vestimenta negra e as luvas de couro, ele se aproximou silencioso, com a elegância altiva que possuía em seu caminhar calmo. Cheiro de sangue. Rhistel o observou se aproximando. A tez da cor da Meia Lua no céu se destacava contra os cabelos azuis-escuros e o negro de suas roupas. Ele entreabriu os lábios rosados e tocou um dos caninos com a língua.

– Perdoem-me a intromissão. – Disse-lhes com uma voz monótona até demais. – Eu estou com um impasse.

– Claro que não, Jules. O que houve? – Rhistel disse amavelmente. – Cheiro…

– Eu feri a Vinnie. – Jullian se aproximou do casal. O comentário soou seco e impaciente. – Ela está bem. Apenas chateada.

Blair se virou para Jullian e pensou que apreensão ele não deveria estar passando ao se adiantar daquela forma. A maga o fitou com leve preocupação e se entreolhou com Rhistel.

– Ela… Ficou… Chateada? – Estava surpresa – Ficou muito machucada? Estou tão acostumada a vê-los em combate…

– Eu quis matá-la. Não… Conscientemente, mas o impulso foi superior à consciência. – O Lendário respondeu, sem censuras.

Os olhos de Rhistel se arregalaram antes que ele disfarçasse a impressão…

– Eu preciso sair. – Jullian olhou de um para o outro. – Sei que não posso sair sozinho… E eu suspeito que não seria uma boa ideia que você fique perto de mim, Rhistel. – Ele mordiscou o lábio fino. – Isso não é garantia de sucesso, mas preciso tentar… Ou tentei que quebrar uma promessa.

Escutou a linha da história com seus olhos atentos. Blair se entreolhou com Rhistel e retornou a Jullian.

– Tudo bem. – Assentiu e se olhou – Eu vou apenas colocar uma roupa apropriada. Para te acompanhar né? – Sorriu brevemente no tímido humor mórbido que ainda tinha, sem perceber que o fez: – Eu não sei que promessa é, mas é melhor que não a quebre. Não é bom.

– Mas eu não sei se funcionará. – Jullian adiantou, olhando-os repentinamente inseguro. – Mas creio que seja recomendado que eu tente.

Rhistel observou Blair com demora, arqueando uma surpresa. A espontaneidade ela era, deveras, um humor tão escuro que ele quis rir, embora não demonstrasse a sua vontade. Ele também gostaria de saber como surgiam aquelas cabeças pela manhã…

– Funcionar? – Rhistel perguntou.

– Sim. – Jullian segurou um braço, acariciando-se. – Os métodos… Eu nunca tive expectadores. Eu não sei se adiantará… Se será o suficiente.

– Ah… Sim. – Rhistel disse, pausadamente. – Eu vou torcer para tudo ocorrer bem, então.

O Lendário fitou o Dragão nos olhos, calado.

Blair o olhava e tentava não expressar curiosidade. Mas o sorrisinho ficava em seus lábios. Fitava de Rhistel a Jullian.

– É um teste… Mas eu tento ficar invisível, se não quiser minha presença… É um tanto fácil achar que eu nunca estive lá. – Disse, olhando-o – Você quer ir agora…?

As sobrancelhas retas do Lendário desceram e apertaram os seus olhos. – Você pode ficar visível, Blair. Sinceramente, não faz diferença. Eu saberei que você está presente e é tudo o que importa nesse caso. – Ele os olhou. – Se possível, sim. Eu gostaria que você vestisse algo discreto, com isso. – Ele indicou a si mesmo.

O desconforto deve era tão sensível que Rhistel conseguia sentir o esforço que era para ele estar abrindo a sua intimidade daquela forma. Rhistel pensou em qualquer coisa para dizer, mas não encontrou…

– Tudo bem. Eu entendo. – O sorriso de Blair, mesmo contido, se tornou em um breve riso. Ela olhou Rhistel e o deu um selinho, tocando seu rosto brevemente. – Até mais tarde então, meu amor.

– Até, Bee… – Rhistel sorriu para ela, observando-a ir.

Andou na direção do quarto para se vestir, não correndo ou saltitando, mas sentia a importância do pedido e ficava animada. Não foi difícil encontrar peças escuras, como ele havia sugerido, ou que atrapalhasse sua mobilidade. A maga não tinha um padrão perfeito de um serial killer, mas com certeza estava familiar e confortável com qualquer caça e os resultados.

Calado até demais, Jullian aguardava Blair com os olhos fixos no vidro da sala. Rhistel o observava. Parecia uma estátua de mármore que piscava muito pouco ou quase nada. Quando os olhos de oceano deslizaram na direção do Dragão, ele sorriu sem jeito. Jullian, todavia, não expressou coisa alguma…

­– Sabe, você pode falar comigo sobre isso também. Eu tenho uma tolerância alta para qualquer tipo de assunto… – Rhistel disse.

Os olhos de oceano se estreitaram juntamente com os lábios que se entreabriram. Jullian voltou os olhos para a porta e vidro e inspirou. Rhistel apertou os lábios com a rejeição silenciosa, mas insistiu:

– Está atrás de quem…?

– Quê? – Jullian o olhou, sem entender.

– Você vai caçar alguém… Não?

O assunto parecia óbvio, ao mesmo tempo que não. Era uma claridade que ele tratava como se pudessem não perceber o que estava acontecendo, sério? Rhistel se desviou dele quando o silêncio se estendeu.

A voz do Lendário foi uma surpresa.

– Robert Perry, um garçom.

– Hm… Em Fox Town? – Rhistel

– Não… Em Dallas. Foragido. Ele foi preso, mas o soltaram por falta de provas. Assim que se viu livre, voltou a matar e fugiu.

– E você o encontrou…

– Eu sou bom nisso. – O Lendário respondeu com uma frieza clínica.

Saiu do quarto com uma regata preta de tecido fino, legging preta e botas até metade da perna, salto alto, mas silencioso pela plataforma. Blair colocou uma jaqueta preta de material impermeável, tecido também leve, um pouco maior que as medidas de seu corpo e um grande capuz que ela deixou abaixado. Havia um óculos escuro no bolso esquerdo, e havia guardado luvas no direito.

– Ok… – Ela disse, ansiosa como se fosse a uma expedição. Mas lutava o tempo todo em demonstrar. – De qualquer modo, eu não vou interferir em nada… Então você me diz o caminho, e se precisar de qualquer interferência… – Não imaginava que ele gostaria de qualquer atitude dela em relação a seu momento. No máximo, uma espectadora; o que já estava sendo um desafio.

Jullian lançou nela um olhar neutro, mas Rhistel imaginava que estivesse pensando um claro: Eu não vou precisar. Ele se despediu de si com um olhar, mas deu-lhe tempo para beijar a namorada antes de tomar suas mão e caminhar para o Umbral.

O conhecimento dos caminhos Umbrais que ele possuía era digno do seu posto. Jullian Percorria Atalhos como se abrisse janelas e desceu para a Umbra Profunda com a facilidade de quem transpassa a Penumbra próximo a um Caern. Ele se localizava, instintivamente, trocando de Caminhos Lunares conforme buscava pelo correto. O Lendário trazia Blair pela mão. Sua pele estava quente mesmo através das luvas de couro as maçãs do seu belo rosto coradas, salientando olhos azuis como pedras preciosas.

Ele os levou até um beco mal iluminado. Quando migrou para a Penumbra, foi o lobo de lisos e leves pelos completamente prateados que surgiu. Jullian ajeitou o corpo e saltou para a escada de fora, caindo do primeiro andar e começou a subir. Os olhos fitaram Blair brevemente, mas seguiram confiantes que ela encontraria meios de acompanhá-lo.

Somente aquela viagem Umbral teria validado o passeio. Blair conhecia muitos caminhos Umbrais, mas também tinha a consciência que nunca os dominaria com tanta propriedade quanto um espírito encarnado – embora já houvesse se virado bem diversas vezes. E graças a sua esfera mais poderosa, correspondência, pode localizar exatamente seu lugar no mundo quando desceram de volta. A loira piscou seus olhos devagar quando se deparou com o lobo, e sorriu para Jullian embora o lobo não expressasse nada de volta. Aguardou ele subir diversos lances das escadarias, olhando para a rua e a movimentação… Quando ele havia se distanciado o máximo possível da visão da maga, ela teleportou dando um passo para frente e surgindo no mesmo patamar do Lobo prateado, e assim o seguiu.

O Lendário a encarou e destrancou a janela com o uso de um Dom para entrar. Ele engatinhou para dentro e começou a revirar o quarto.

A cama fedia a azedo. Quando ele lançou o lençol no chão, o ar se impregnou com o fedor de quem dormiu muitas vezes sobre o tecido sem tomar banho após um longo dia de trabalho. Jullian ignorou, farejando objetos e superfícies como um lobo. O quarto, como um todo, era muito impessoal. Sem objetos, fotos ou nada que representasse o seu morador. Um local provisório. Jullian negou com a cabeça e seguiu correndo em patas lupinas pata a cozinha minúscula e nela, tornou-se novamente um homem. Abriu o faqueiro e passou a cheirar utensílios. A pia estava cheia de louças e insetos vivendo entre elas. Uma prova. Ele buscava uma prova mínima que fosse. Abria armários, remexia gavetas. Verificando abaixo dos encardidos armários inferior, manchados de gordura e comida. Esticando o braço, ele puxou par de sapatos empoeirado, olhando-os e virando-os. Uma manchinha de sangue esquecida.

O Jullian suspirou, verificando o relógio em seu pulso enquanto umedecia os lábios finos, decidindo onde seria mais adequado encontrá-lo. Tornando-se novamente um lobo, ele correu em direção a janela e pulou.

Blair não entrou no ambiente… Caminhou de um lado a outro na escadaria de emergência e assistiu através da janela. Quando Jullian saiu do cômodo, ela apenas alcançou seus sentidos até onde ele estava e conseguiu terminar de assisti-lo revirar tudo. Igual a uma série de televisão… Dexter! Blair sorriu para si com as mãos nos bolsos… Lembrando que com ela costumava funcionar diferente: seus servos faziam a investigação, e ela apenas executava o ato. Com certeza a diversão dele morava na caçada, mais do que a conclusão. Quando soube que ele havia encontrado algo, a Maga o acompanhou com o olhar e repetiu o processo de esperar até onde sua visão o alcançava e teleportar próximo.

Ele não usava nenhum Dom para se disfarçar, mas fazia uso do próprio ambiente. Esgueirando-se de olhares e esperando momentos certos para transitar pelas ruas. Dado momento, tornou-se homem. A fama lhe trazia a necessidade de tornar a situação menos equilibrada quanto gostaria, disfarçando a sua forma.

O restaurante que o Sr. Perry trabalhava não era qualquer um. Pelos carros que estacionam na frente e a clientela que descia, propunha uma classe bastante alta. Jullian observou a fachada com uma expressão pensativa antes de se aproximar, observando o ambiente através do vidro. Não tardou para identificar o hóspede do hotel. Um rapaz até jovem, na casa dos trinta, e até bastante bonito. Não estava sujo ou parecia desleixado. Loiro, olhos escuros e porte atlético.

Jullian o observou por mais de uma hora, analisando a forma como sorria, o olhar atento e simpático e os risos forçados. Sr. Perry ria de tudo que falavam para ele em uma tentativa de ser agradável. As moças o adoravam, aparentemente. Ele recebia muitos olhares correspondidos. Pacientemente, o Lendário assistia.

Você acha que ele irá cometer algum crime? Irá esperá-lo sair do expediente? Quantas horas mais para observá-lo? Todas essas perguntas ficaram guardadas com Blair, educadamente para não interrompê-lo, como havia prometido. Mas toda vez que Perry realizava algum movimento que a Maga achava estranho ou peculiar, ela lançava um olhar de canto de olho para Jullian, tentando interpretar suas intenções… Mas ele não expressava nada. O que também era curioso para a Arquimaga. Blair observou a rua por um tempo também, assistindo pessoas entrando e saindo em seus carros… Perguntou-se se conseguiria algum dia outra vez na sua vida sentir empatia por humanos e o mundo. A única razão para gostar dos que estavam perto de si era por que não gostaria de ver os que amava tristes?   Pois se procurasse bem… Não poderia sentir nada nem se o restaurante inteiro virasse uma piscina de corpos e sangue. Mas, poderia passar seus dias sem mortes também. Ainda muito diferente da necessidade de Jullian, claramente. Queria poder conversar sobre isso, mas aguardaria a caçada terminar. Cômico pensar que não seria a noite de senhor Perry…

Como um cachorro observando uma vitrine de frangos assados, o Philodox esperava. Os olhos não chegavam a ir até Blair, mas não era como se ignorasse a sua presença. Sentia a excitação dela e não se importava. No fundo, também estava curioso sobre a importância que ela estava dando ao evento, mas não prestava muita atenção nos sentimentos próprios. Todavia, sacou o celular e puxou pelo navegador a tela com a ficha criminal do homem e mostrou a Blair, onde a maga pode ler as principais informações ao lançar um olhar apressado.

O diálogo do Sr. Perry com outro garçom tirou o Garou da sua tranquilidade. Jullian guardou o celular sem saber se Blair havia lido e passou a ler os lábios dos dois, ouvindo a discussão com os seus sentidos. O Sr. Perry queria sair mais cedo, mas o Sr. Thomas estava relutante em permitir. De certo, a moça de cabelos pintados de vermelho era um motivo suficiente para a insistência do Sr. Perry. Eles estavam flertando desde que ela chegou no restaurante e um bilhetinho havia deixado o Sr. Perry muito ansioso. O detalhe infeliz do flerte é que possivelmente a moça acabaria asfixiada e morta e nem sua memória seria poupada de um estupro. O seu clitóris seria cortado e cozinhado para ser ingerido como um troféu. Um grito de protesto do contra o prazer feminino.

O Lendário escorou a cabeça como um canino quando viu que o Sr. Perry, como muitos outros assassinos seriais, sabia ser muito convincente e simpático o suficiente para as suas promessas vazias de “eu trabalho no final de semana” serem levadas em consideração pelo Sr. Thomas. Jullian acompanhou o homem caminhando em direção à cozinha e a excitação cintilou nos olhos de oceano. Ele começou a caminhar, seguindo para o estacionamento e rumando com pressa para os fundos. Antes de se pôr à vista, o Lendário grudou o corpo na parede perpendicular e voltou a aguardar pacientemente. A camiseta justa de gola fechada e manga cumprida não ocultou totalmente o brilho azul que as suas tatuagens que pintavam as suas veias do antebraço de azul fizeram ao passo que Jullian ativou os Fetishes.

Romanticamente feliz, o Sr. Perry surgiu com um sorriso prazeroso em seus lábios. Os olhos vibrantes com a conquista. Ao fechar a porta, até se virou em um passo de dança – o tipo de coisa que se faz que a gente faz quando se crê que ninguém está nos observando – e riu, sozinho, negando com a cabeça. Duvidava da própria sorte, parecia. Apressou-se então a caminhar. Havia combinado de ver a ruiva em frente ao restaurante e não queria a deixaria esperando. Jullian o pegou pelas costas assim se passou por eles.

As mãos enluvadas cobriram os olhos do rapaz e o Fetishe fez o restante do trabalho, sugando para o corpo do Lendário toda e energia que o fazia ficar de pé. O Philodox o amparou, evitando que ele caísse no chão desacordado, segurando-o zelosamente. Ele analisou o rapaz com um olhar crítico antes de dar um passo para trás, arrastando a ambos para a Penumbra.

A indiferença foi algo que morreu aos poucos, ao pensar no relato lido e se transformou em raiva e depois satisfação. Sempre mulheres. Não era seguro ser uma e andar por aí, pois até os assassinos tinham preferencia sobre elas quando se tratava de vítimas. Blair também recuou seu passo para a Penumbra, observando o corpo da vítima com certo cuidado… Quase havia se esquecido da melhor parte, mas não tinha certeza se ele permitiria que ela assistisse o show até o final, onde a cabeça se tornava o troféu.  Mas segurou a pergunta em tempo, e decidiu apenas seguir em silêncio.

Uma dúzia de Kalus assustados desatou a correr quando eles apareceram. Jullian nem sequer os olhou. Já havia verificado a área antes de se lançar na Penumbra. Ele pousou as mãos na cintura após largar o homem deitado no chão densamente enevoado. O Lendário sacou o celular novamente e ativou um pequenino espírito que havia nele para que uma música tocasse.

Havia prazer em casa etapa. O semblante vazio ainda conseguia expressar a excitação e gozo do momento. ‘IDGAF’ da Nyxie tocava ironicamente no aparelho celular e o alcance Umbral espalhava o som ambiente e também causava uma resposta imperfeita na Tellurian. Jullian movia os braços, estalando os dedos e fazendo um biquinho enquanto começava a, calmante, despedir o Sr. Perry como quem brincava com um boneco.

A surpresa morou na opção musical dele. Blair abriu bem seus olhos e encarou Jullian por alguns segundos… Era a voz de Sophie! Conhecia bem a música. Era o novo single da cantora.

A maga tentou não cair novamente na vontade de falar, mas não conseguiu evitar o enorme sorriso e o cobriu com a mão. Caminhou alguns passos de distância, para dar as costas e acalmar a empolgação.

Quando retornou, os cinco passos, havia respirado algumas vezes e concentrado a calma. Queria tanto falar! Mas tinha a impressão que o atrapalharia…

Distante da excitação dela, Jullian dobrava a muda de roupa ao lado do corpo desacordado do homem. A música acabava e o cover de ‘Here’ da cantora começava. Ele acompanhava as letras integralmente, cantando sem voz para não atrapalhar a canção. “Atrapalhar”. Jullian se ergueu calmante e estalou os dedos para começar uma labareda sobre os tecidos. O fogo ganhou forma rapidamente e Jullian arrastou o Sr. Perry para longe da fogueira começada.

Ele fitou Blair brevemente enquanto se afastava do corpo desacordado. Tomou certa distância, sofreu metamorfose para a forma lupina e deitou-se com o focinho entre as patas, as pernas traseiras abertas no chão e as orelhas felpudas erguidas e atentas. Novamente, ele passou a guardar.

Parte do Ritual… Blair também se afastou do círculo dele, alguns passos para trás. Não podia imitar a forma de uma loba, mas se sentou e ficou com as pernas estiradas e abertas. As mãos dedilhavam a própria coxa ao ritmo da voz forte de Sophie, e da batida contagiante, movendo sua cabeça levemente. Blair era muito paciente, então aguardou apenas assistindo e pensando que adoraria registrar tudo. Rhistel ficaria curioso? Provavelmente sim, mas não perguntaria.

O Sr. Perry não demorou muito tempo para despertar, mas quando o fez, foi num estado de profundo alarde. Ele tentou se levantar rapidamente, mas falhou e caiu sentado. A sensação Umbral devia estar causando terríveis vertigens ao mesmo tempo que a sua força de vontade sugada exigia muito do seu corpo para qualquer movimento. Ele estava nu e o desespero da vulnerabilidade acelerou o seu coração, fazendo-o suar descontroladamente. O Lendário o observou, erguendo o pescoço e a cauda. O Sr. Perry choramingava, levando as mãos à cabeça. Conseguiu ficar de pé, mas o corpo curvado deixava claro que ele não aguentaria uma longa caminhada…

– EI! SOCORRO! ALGUÉM?! – Ele gritou, mas tossiu. A sua gargalhanta estava seca e o ar da Penumbra não era nada que estivesse acostumado. – SOCORRO!

‘New Rules’ começava do celular guardado na forma hominídea. Jullian se ergueu calmamente, caminhando na direção do homem que chorava, trêmulo, cobrindo a cabeça que já devia estar explodindo de dor. O Sr. Perry ergueu a mão em direção à uma luz da rua que brilhou refletindo da Umbra, balbuciando pedidos de socorro.

E o lobo saltou para agarrá-la com as presas.

O Sr. Perry tentou se soltar, gritando, mas mais se movia, a sua carne rasgava e cedia à presas afiadas do lobo prateado. O tendão escalou e partiu e os ossos se separavam por fim. Jullian puxou o membro e se distanciou em uma corrida, mastigou-o, triturando-o e cuspiu. O Sr. Perry segurava o toco sangrento com berros ensurdecedores. Gritava tanto que parecia que o faria parar de sangrar somente com o poder da sua garganta. Mas era apenas o começo.

As Alcateias caçavam muitas vezes daqueles forma, caçando a presa com ferimentos, rondando até que ela caísse. Entretanto, a mordida sobrenatural de um lobisomem causa uma dor nauseante. Sr. Perry havia vomitado e berrava e se movia cada vez menos a medida que pedaços do seu corpo eram roubados. Dado momento, já não se mexia mais. Jullian estavam com as patas em suas coxas e arrancava nacos de carne e cuspia repetidamente. Por alguma razão, o Sr. Perry não desmaiava. Outro Dom. O pelo prateado se pintava de vermelho e o Garou se mostrava cada vez mais excitado com a brincadeira macabra.

Repentinamente, o lobo se afastou. Sr. Perry recobrou a capacidade de gritar e pareceu alucinar. Levou os tocos de suas mãos em frente ao rosto e repetidamente chorava: “Não, não, não, não. Não é minha culpa!”. Estremecia e se debatia debilmente enquanto o fazia, como um peixe fora d’água. Quando o Lendário se aproximou novamente dele, já não era como lobo, mas sim como um homem. Com um bisturi Fetishe em suas mãos, ele pegou os cabelos do Sr. Perry e elevou a sua cabeça, fazendo um corte da nuca e contornando até fechar o círculo e a cabeça finalmente se soltar e se calar.

Perry não tinha chances, e mesmo assim Jullian o deixava tentar lutar. Ótima maneira de desesperar alguém… Blair assistia sem se incomodar, e não apenas era indiferente, ela sorria para um ataque e outro bem colocado. O sadismo não era parte do seu ser, mas da sua criação. Corpos eram ferramentas, mentes caixas que guardavam informações. Apenas recentemente começava até a se imaginar de outra forma… Mas o show de horrores que havia sido criada e onde havia se encontrado, ainda a fazia pensar que era engraçado a forma que ele tentou secar as lágrimas sem as mãos. O cérebro esquecia que ele não tinha mais mãos? Perry… Como era provar do próprio veneno? Jullian era um lobo tão ágil e perfeito em seus movimentos, que Perry podia até agradecer por presenciar aquela dinâmica. Mas ele não poderia fazer isso, então eu faço por ele.

Blair respirou fundo quando a cabeça foi finalmente arrancada e checou o relógio. Duas horas e meia do processo. Ergueu-se e se aproximou com seu sorriso selado: qual o próximo passo?

A Penumbra não ficaria calada por muito tempo após o show de sangue e agonia. Não era incomum que precisasse intervir as criaturas das sombras atraídas pela cobiça da dor. E alguns humanos ainda conseguiam andar e até correr e encontravam-se com coisas muito piores que um lobo. O Lendário puxou um grande saco plástico do ar e colocou a cabeça dentro dele, fechando-o e colocando-o em uma bolsa preta de couro que ele também tirou do ar.

Somente então, ele olhou para Blair. O olhar neutro, parado e vazio. Ele estava corado e a respiração ainda obedecia ao corpo excitado. O cheiro de sangue fazendo parte do cheiro do seu corpo de uma forma evidente. Jullian tirou as luvas e também as guardou na bolsa antes de oferecer a mão à ela.

A excitação dele era algo curioso, mas sabia que era uma qualidade típica dos psicopatas também. O imenso prazer em cumprir seus rituais. Blair o assistiu agir cirúrgico sobre a cabeça, e se perguntou que arte viraria. A maga delicadamente aceitou a mão dele e sorriu tímida para o Lendário. O comentário veio antes de pensar se deveria fazê-lo, mas estava surpresa com suas habilidades do início ao fim da caça: – Belo trabalho.

Ele abaixou o rosto, olhando-a com mais expressão dessa vez. Uma discreta curiosidade passou pelos excitados oceanos azuis. Jullian não respondeu. Guiou-os através dos mesmos caminhos umbrais, Percorrendo os Atalhos seguros de Luna. Quando retornaram a ilha, ele os conduziu para o sul da Ilha Estrela, próximos ao primeiro destino que Blair teve quando chegou no Luar do Oceano. Jullian deixou a mão da Maga, retornando os olhos aos dela. Calmamente, ele colocou a bolsa à frente do corpo, segurando-a à frente do corpo.

– Obrigado por me acompanhar. Eu sinto que terei de repetir depois de amanhã. Eu fiquei muito tempo sem… Isso. – Ele franziu o cenho, estreitando levemente os olhos azuis. – Tudo bem, Blair. O que você quer falar?

– Nada! – Ela disse repentinamente com um riso – Quer dizer! Tudo! – Arregalou os olhos – É que foi divertido. Fiquei cheia de perguntas como iria ser, mas fiquei em silêncio e observei. – Disse expressando sua calma em meio a empolgação – O mais me deixou surpresa foi a música. E os ataques no final. Eu achei que era tudo muito cirúrgico, mas você é um lobo também afinal… Acho que não posso te ver trabalhando na cabeça, né? É uma arte muito bem feita… Ao que me lembro.

Ela gargalhada dele foi comicamente espontânea. – Você deve apreciar muito ver filmes de terror… – Jullian disse com um humor no sorriso aberto. Um dos raros momentos. – Sophie me mostrou e eu ando ouvindo bastante desde então. Sempre há música… E a voz dela me dá o tom que eu preciso. Poucas conseguem. – Ele comentou refletindo. – E não precisa ser a marcha funerária do Beethoven. Bem… – Jullian se voltou para o galpão. – Eu fiz um curso de taxidermia na universidade. Tive que fazer algumas modificações, por conta da pele humana… – Ele umedeceu os lábios. Você realmente quer ver isso? Os seus olhos diziam claramente. – Eu… Da próxima vez, Blair. Eu não me sinto bem com mudanças no meio do caminho. Da próxima vez, eu permito que você assista. Eu preciso estar ciente do que vai acontecer. Sinto que eu ficaria desconfortável hoje.

“Eu fiz um curso de taxidermia”, eu sei. Blair o escutava com seus sorrisos tímidos. Assentiu sobre a inoportunidade do momento, compreensiva.

– Eu sei que a minha curiosidade não combina com meu rosto, mas eu tenho… – Desviou o olhar brevemente e continuou quando lembrou-se de algo que achou divertido compartilhar – Quando você veio morar em Fox Town… Os boatos se espalharam pelos Espirais. E todos estavam com medo. E aí… Uma vez eu estava entre eles, os escutando, e um líder de uma Alcateia que ia fazer um trabalho estava apreensivo. E a Alcateia dele não era muito boa, e isso o deixava mais nervoso. E eu achei engraçado porque ele, uma hora, virou para um que disse uma besteira e falou: – Blair imitou o tom de voz irritado o gesto com o indicador – “Você vai virar boneco na parede do ‘Lâmina-Mortal’ se não agir sério”! E nem sabia que você tinha chegado na cidade, mas eles já. Você causou muito medo nessa cidade! Bem… Você os matou todos umas semanas depois. – Ela riu espontânea – É claro que quero ver. Se eu puder!

– Curioso. – O cenho dele franziu enquanto ouvia a história. Um selado sorriso maldoso surgiu em seus lábios finos. Jullian destrancou o galpão e adentrou. – A Wyrm deve saber mais sobre mim do que a Sociedade Garou. Eu não tenho dúvidas. – Ele disse enquanto abria um frízer e tirava a cabeça ensacada da bolsa, guardando-a nele e saindo do galpão, trancando-o de volta. – Várias Espirais Negras já me chamaram por títulos que eu nem me lembrava possuir… Mas eu varri Fox Town em busca das caçadoras da Nyra. Ela andava sendo ameaçada demais. Algo me diz que você sabe de tudo isso. – O Lendário bateu uma mão na outra. – Bem. Eu vou aproveitar que somente Nathan estar em casa e tomar um banho para me livrar um pouco desse cheiro e farei uma visita a Lavinia, se não for incômodo.

Ela assentiu sobre saber da historia. – Nyra ainda tem inimigos entre eles. Mas não como naquela época, obviamente. Matamos um na Fábrica também. O principal. – O sorriso cresceu depois: – Ok. Eu vou tomar banho também. – Percebeu uma mancha de sangue no casaco impermeável que usava, sem saber como havia parado ali. Mas ignorou – Você está com fome? Preparo algo para você lá.

– Esta morte tende a gerar uma corrente vingativa… Mas minha estrela está ciente… – Jullian respondeu, pensando. Ela parecia tão leve que poderia flutuar a qualquer instante… – Eu aceito um chá com biscoitos ou algo similar a isso. – Disse-lhe. – Eu pensava em jantar, mas Nyra está no castelo desde que saímos… – O Philodox franziu o cenho. – Provavelmente, resolvendo algo com o Ladirus… Ela passou horas aflita… – Essas criaturas… – Bem. Obrigado mais uma vez, Blair. Até breve.




– Por que estamos vendo esse filme…?!

Rhistel se voltou para Lavinia, surpreso. Os olhos do Dragão estavam emocionados com o filme, mas a Garou desaguava, escorada em seu ombro levado. Ela estava vestida com um baby-doll cor-de-rosa com unicórnios diversos e Rhistel vestia apenas um short cinza com listras brancas de um pijama confortável.

– Ele estava tão bem comentado… – Rhistel se defendeu. – Eu estou achando muito tocante.

– Você está chorando também… – Lavinia fungou.

– Eu sou chorão… – Rhistel disse, rindo. – Você está bem, Vinny? – Ele a abraçou pelo ombro, acariciando-a. – Ou está terrível?

– Eu estou terrível. – Ela respondeu sem pestanejar, mas acabou rindo. – Eu não acredito que eles não vão ficar juntos! Que depressão…

– Ahm… – Rhistel apertou os lábios. – Como está com o Mylo?

– Perfeito e péssimo. – Respondeu sem pestanejar novamente. – A mesma coisa… Iliya pressionando-o para continuar assim… Ele anda muito estressado… Sei que não está nada bom para ele, mas para mim é péssimo. Eu estou cansada… Mas ando sem coragem de discutir com ele.

– Ele pareceu bem abatido quando veio aqui no café… – Rhistel comentou, lembrando-se.

– Quem ficaria feliz com uma Daisy ao lado? Não parece, mas o Mylo é muito inteligente… – Lavinia disse e acabou rindo. – Sei que não parece…

– Eu não disse nada, Vinnie. – Rhistel começou a rir.

A maga foi sugada pelo vórtice direto para a varanda da casa. Andou distraída e risonha até a sala e viu os dois no sofá… Olhou para a televisão rapidamente e os fitou de novo, às suas costas. Estavam chorosos e Blair com vontade de rir. Ela apenas não se aproximou pelo odor das roupas e seguiu para o banheiro da suíte. Jogou o casaco no cesto depois de passar uma água e tomou seu banho. Colocou uma roupa confortável e retornou ao ambiente sala-e-cozinha. Estavam tão envolvidos na história que não quis interromper, mas ainda sentou ao lado de Rhistel, usando um pijama listrado de rosa claro e branco, calça e camisa de algodão com botões, e o beijou no rosto carinhosamente.

– Vocês querem comer alguma coisa? Eu vou preparar… – Murmurou para os dois emocionais, achando-os até em um quadro fofo. – Tudo bem, Vinny?

Vinny negou com a cabeça. Nem fez questão de esconder o choro. – O seu namorado está me ajudando a ficar mais depressiva. – Declarou, voltando-se para a televisão.

Olhando-a, Rhistel fez um beicinho. Os lábios escuros estavam úmidos e brilhantes. Uma lágrima acabou correndo. – Não, Bee… – Ele beijou num selinho demorado. – Nós pedimos uma pizza no castelo. Ahm… Eu tive que pagar! Por que eu tenho que pagar os pizzas na minha casa…? Isso foi ideia da Ash, certeza. Mercenária. Agora, tudo na cozinha tem preço, acredita? Espero que seja boa, Bee, ou abrirei uma reclamação…

– Ele realmente discutiu com a Dona Nice. – Lavinia acabou rindo. – Você é impossível, Rhistel…

– É claro! É a mesma coisa que eu chegar para a Bee e… “Se você usar o leite, é um dólar”. – Ele reclamou, manhoso. – Estou indignado com isso.

Blair o escutou como se já soubesse da história, e beijou o rosto de Rhistel, risonha, ao vê-lo fazendo manha.

– Eu fui avisada na reunião. Mas foi a Satine. – Fofocou como se fosse algo muito sério – Nyra e Satine brigaram e tudo. Jullian ficou tão cansado, que cedeu a Satine. Acksul concordou, porque Satine também falou dos Dragões e que era injusto. Ela é muito fervorosa. Mas Nyra é mais ainda. – Fez uma pausa – Sabe o que Nyra fez? Logo que acabou, ela pegou o celular, olhou para o Jullian e disse “Estou morrendo de fome, você quer pizza do que?” – Imitou a voz manhosa e o olhar arrogante – E pediu sete, uma de cada sabor! E… Largou o dinheiro na frente da Satine. Satine não participa sempre… Mas quando ela e a Nyra discordam de algo… Parece o fim. – Riu ao se lembrar de outras brigas que já havia visto das duas – Mas eles não deviam ter cobrado de você, Rhis… Eu deixei um dinheiro em crédito. Era bastante coisa.

Quando Blair terminou o relato, os dois estavam com os olhos levemente distantes de imaginar a briga. Rhistel não costumava faltar às reuniões, mas um show importante havia caído bem no dia.

– Isso é uma reunião de administração da ilha…? – Lavinia perguntou, franzindo o cenho de estranheza. – Eu achei que que o fervor era só por conta da Rainha.

– Não. Toda a reunião acontece alguma coisa… A gente não passa nenhum tédio nas reuniões. Acksul é um que adora rir da cara dos outros abertamente. – Rhistel comentou, pensando. – Eu acho que cada um tem uma conta no nome… E se for por casa, eu fui roubado… – Lamuriou. – Isso não está certo…

– Rhistel… Você está ganhando rios de dinheiro. – Lavinia se voltou para Blair. – Como você aguenta?!

Blair achou graça na surpresa de Lavinia e negou – Meu amor é gastador consciente. – Disse risonha – Mas ele está certo. A maioria trata dinheiro igual água e não deveria ser assim… Aisha mesmo tem mudado os hábitos… – Explicou – Eu que sou menos atenta… Não sou nem muito boa em matemática. – Brincou e se afastou de Rhistel com um beijo no rosto – Bem. Eu vou fazer um chá… Não sei se o Jullian vai querer pizza. Eu tenho que voltar para a dieta também…

Jullian? O nome já estava na mente de Rhistel, pois estava curioso para fazer perguntas sobre a saída nada comum de Blair com ele. Lavinia se endireitou e ajeitou-se sentada. Blair tocar no nome do Lendário foi como invocá-lo. Rhistel se virou para a escada. O Philodox chegou juntamente com a pizza, carregando-a em uma das mãos e um rosa branca com uma delicada fita azul em outra.

– Ras. – Jullian o chamou. – O rapaz da entrega devolveu o seu dinheiro. Foi um engano a cobrança.

– HAH! – O Dragão saltou do sofá, todo vitorioso, correndo até ele. – Ainda bem. – O Dragão conferiu o dinheiro sobre o embrulho e pegou a pizza, colocando-a sobre a mesa. – Bee! A pizza chegou! Você quer pizza, Jules? – Rhistel sorriu para ele.

– Não, obrigado. Eu apreciaria algo menos pesado…

– É leve. Só deve ter uns dez queijos aqui. – O Dragão brincou, risonho.

Calada, Lavinia apenas os olhava. Havia se sentado de lado e abraçava as próprias pernas. O Lendário a olhou levemente sem jeito, mas se aproximou mesmo assim, sentando-se de frente para ela no sofá. Os olhos azuis da moça fitaram a flor que ele ofereceu a ela…

– Perdoe-me, Vinnie. Eu não queria ter te ferido… – Ele disse, encarando os olhos atentos da Ahroun. – Eu me perdi. Eu não devia ter entrado no Coliseu hoje. Foi um erro…

– Hmm… – Ela murmurou, aceitando a flor e a encarando em dúvida. – Branco de paz?

– Sim. – Ele riu, sem jeito. – Branco de paz…

– Okay. – Ela concordou. – Só porque veio aqui se desculpar como um lorde. – Ela sorriu para ele. – Você está melhor, imagino…?

Rhistel captou o sentindo da pergunta. Afinal, também havia sentido o cheiro, discreto, mas presente, de sangue humano naquelas mãos. Cheiro que sempre o acompanhava após as caçadas. Curioso, o Dragão de Gelo seguiu para a cozinha, aproximando-se de Blair e olhando-a com as sobrancelhas erguidas.

– E…? – Sussurrou.

Blair pensava na pizza, e arregalou os olhos para Rhistel como se tivesse sido pega pecando. Mas estava já preparando o chá inglês de Jullian.

– Ah! – Ela o olhou com um sorriso e olhar malicioso da curiosidade dele – Foi legal… – Riu e negou, falava baixo também: – Acho que não o incomodei. Mas fiquei muda até o final. Ele me agradeceu. Deve estar bem tranquilo… Daqui a dois dias vamos de novo…

– Huh-hum… – Rhistel concordou, apoiando as costas no balcão e cruzando os braços enquanto a observava. – Ahm… Sempre achei curiosa a forma como os demais Versos lidam com isso… Fingindo que não existe ou… “Fingindo”. Eu já ouvi conversas entre eles de… “Ah, eu vi um caso… E ninguém pega o fulano…”. – Sussurrava com um certo humor. – De repente, esse fulano some…

Blair pensou na frase dele e concordou. – A gente não pode esquecer que eles são mais humanizados que nós, que nasci com a Wyrm ou viveu na segunda guerra e tem tantos anos quantos você. Acho que explica. – Disse calmamente e sorriu ao final – Mas também são lobos… Morte é algo natural… Não tanto quanto a Jullian, mas é. – Virou-se para Rhistel – Foi interessante.

Os olhos de Rhistel se estreitaram quando ele abriu um sorriso maior. – Eu imagino… Você me conta melhor depois… – O Dragão observou o chá. – Eu estou preocupado com o meu irmãozinho e Ártemis. – Confessou. – Mas ele está com a Nay e a Audrey, então… Imagino que esteja em boas mãos… Mas… Eu me peguei pensando nela várias vezes enquanto assistia ao filme. Até mandei uma mensagem, mas ela ainda não visualizou…

Blair admirou o sorriso dele e voltou-se ao chá, desligando o fogo.

– Não me fale, meu amor… Eu acho que ela está devastada. Ártemis é doida por ele. – Pensou melhor sobre o assunto – Eu me coloco no lugar e quero chorar por ela… Nem consigo imaginar… – Olhou-o preocupada – Ela está com Connor… E Ross… E a Aisha… Não sei se algum deles poderia a tranquilizar. Capaz de deixá-la mais estressada… Eles seriam totalmente contra. Seria bom, na verdade, se eles nem soubessem… – Pegou duas xícaras de chá – E ela já andava mal…

Rhistel se aproximou dela assim que a sentiu emocional e, mesmo que o momento não fosse deveras adequado, beijou-a antes que fizesse uso das duas xícaras que levava nas mãos. As mãos geladas a envolveram em seu rosto ao passo que a língua enamorava lentamente a dela, buscando por seu toque e pelo beijo que se tornou quente rapidamente. Rhistel se afastou minimamente, mordendo-a ao lábio inferior e encaixando os lábios aos dela sem beijá-la, permitindo-se respirar… – Eu te amo… – Sussurrou, roçando os lábios aos dela. – Por isso… Sempre haverá um jeito para qualquer problema, eu te prometo… – Os olhos escuros a buscaram. – Eu prometo…

Os braços dela pararam no ar com as xícaras em cada mão. O beijo aqueceu seu corpo inteiro e trouxe alívio a sua respiração. Podia ser insensível sobre muitas coisas… Mas era obcecada por ele, apaixonada, incondicional. Nada era ameno em relação a Rhistel. Até a sufocava a ideia de qualquer coisa acontecer. Deixou as xícaras sobre a pia e retribuiu o beijo, abraçando-o após assentir para as palavras asseguradas. Internamente, ela fazia a mesma promessa.

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