End Game

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Wyrm

End Game


Muita gente famosa. Ladirus observou, reconhecendo alguns rostos com um breve vislumbre. A sua chegada por acompanhada de olhares interessados. O seu grupo, de qualquer forma, já era por si só o maior destaque do ambiente. O poder de Aisha, Nikki e das Shaped Diamonds ficou estampado nos semblantes discretos e indiscretos enquanto seguiam em direção à mesa reservada. Ladirus estava de mãos dadas com Ártemis e segurava o celular que o avisava de uma notificação em outra. Ele o desbloqueou, franzindo o cenho com um sorriso de escanteio ao ver a foto que Acksul havia postado.“Idiotas amáveis”.

– Blair está bem. – Disse a Rosstrider que caminhava ao seu lado.

Ross se curvou, observando a foto com um sorriso que crescia:

– Olha as caras desses malditos! Alguma coisa muito engraçada aconteceu antes dessa foto acontecer. – Ele riu. – Acksul com esse sorriso de psicopata! Blair está gargalhando. Com certeza, o Acksul comentou alguma besteira. Eles não se desgrudam… Ela e o Rhistel. Olha o jeito que ele olha para ela. Eu também quereria mordê-los, se fosse a Audrey.

– Deixe-me ver. – Cassian posou as mãos sobre os ombros de Ladirus, descansando o queixo na própria mão. – Meu Deus. – Ele começou a rir.

Tratava-se de uma mansão com estrutura de um templo grego. A música do DJ soava forte apenas na pista de dança, os locais mais elevados estavam disponíveis com mesas, e ainda havia a área externa com uma bela piscina decorada de luzes, que ninguém entrava enquanto não estivesse bêbado. Foram recebidos pelos donos na entrada, e já indicados onde alguns contatos estavam. Mas no caso de Aisha e Veronica, e suas famas, não eram elas que iriam atrás deles e sim o contrário. Foram parados algumas vezes no caminho, onde a loira apresentava sua protegida para alguns outros produtores com promessas de conversas mais tardes. Ártemis estava nervosa, mas radiante… Belíssima em um modelo justo ao seu corpo admirado – uma saia justa, um pouco abaixo dos joelhos, e uma crop também rosa clarinha. No pulso, uma pulseira de pérolas, a entregava o ar de sereia. Plataformas no pé, e os cabelos escuros divididos e soltos. Apenas no trajeto dali, até a mesa, foram parados cinco vezes. Aisha usava um tubinho branco, coberto de pedras brilhantes que refletiam à mínima luz, e com seu salto e altura, era impossível não notar sua presença; Veronica usava um vestido negro, como costumava, com transparência no colo que expunha um ousado decote, e a saia com duas longas fendas abertas por zíperes. Aisha nunca perdia a oportunidade de comentar o estilo da amiga, “Você quer muito alguém hoje né”; mas Nikki ignorava, ria e deixava para lá, no fundo nunca procurava ninguém além da bebida. Assim como Leah, que pensava na comida e não o vestido de veludo vermelho. Toda aquelas interações falsas e palavras vãs a deixavam ansiosa… Ali eles estavam interessados em dinheiro e não em arte. Mas podia seguir com o script no fim… Era divertido ver alguns cantores que amava desfilando, querendo saber sobre elas; as novas sensações do pop até segunda ordem.

Foram prontamente servidos quando chegaram, e o assunto ainda era a foto.

“HMMM” – Aisha enviou a Acksul loo que foi postada. Ártemis espiou o celular de Ladi e acabou sorrindo ao ver a cara de Blair. Não havia como não se contagiar com a espontaneidade da maga. Mas o rosto de Fayre acabou chamando mais atenção da Pooka, mas que disfarçou e ergueu a mão, pedindo uma nova dose de champanhe.

– Essas festas de gente rica regulam comida. – Leah disse, entediada poucos minutos depois.

– Acho que é para o álcool subir no sangue mais rápido e a gente dar o que falar. – Veronica bebia o segundo copo de whiskey, mas ainda estava muito sóbria. – Você pode pedir algo direto da cozinha se estiver com fome.

Leah a fitou e deu de ombros… Seus olhos voltaram para Aisha e Ártemis que haviam ficado no meio do caminho conversando com duas pessoas.

– Ártemis logo se deslancha na carreira de solo. – Leah disse ao pensar na situação.

– Você acha? – Nish franziu o cenho descrente – Daquele tamanho? Quer dizer… – Corrigiu-se quando lembrou da presença dos Dragões – Parece muita pressão para alguém da idade.

Ladirus ainda estava enamorando a foto, reparando naquele belíssimo sorriso de Audrey desenfreado após curtir e comentar: “Eu amo todos!” quando ouviu o comentário de Nish. Ele ergueu os olhos pouco animados para a moça, mas antes que pudesse comentar qualquer coisa, Cassian disse:

E abriu um sorriso simpático para a moça, olhando-a com um interesse lupino em contraste com a simpatia em seus lábios… Leah encarou Cassian por um instante, reparando em seu olhar e sorriu incerta de volta.

– Vam- – Leah franziu o cenho com o auto convite de Dessie:

– Ai, eu também quero, Cass. – Destiny se adiantou, aproximando-se do Garou. – Eu também não bebo, sabe! Nunca bebo!

Descrente, Alicia fitou Destiny. Não bebe

Distraído com a conversa que Ártemis e Aisha estavam entretidas, Ross até se sentiu confuso com o rumo da conversa… “Eu acho que prefiro um vinho”, ele disse a Veronica. “Gaia…”.

“Eu acho que não devem servir um bom vinho… Mas o uísque é bom.” Nikki olhou Ross de canto de olho e voltou-se para a mesa decorada. “Eu avisei que não era uma festa excitante. Música indústria não tem nada a ver com música arte… E infelizmente eu nunca provei essa arte.”

– Veronica… – Nish disse, primeiro um pouco insegura – Será que você poderia me apresentar? – Indicou um músico com os olhos – Eu sou muito fã… Eu sei que vocês tem uma amizade… Mas não queria chegar do nada.

A morena ergueu os olhos e tentou não parecer muito entediada, pois se tratava de um ex caso.

– Claro… Daqui a pouco, pode ser?

– Claro! – Nish disse empolgada, e se corrigiu – Quer dizer. Claro…

“Eu poderia discordar e fazer uma cantada de pedreiro bem agora”, Rosstrider respondeu-a sem olhá-la.

Até Ladirus que costumava ser mais distraído, estranhou também a intromissão de Dessie, olhando-a confuso.

– Ah. Sendo assim, eu também quero. – Alicia cutucou Cassian no ombro. O encontro já está estragado mesmo! – A gente não comeu nada no hotel, sabe.

Rosstrider esboçou um sorriso selado de quem quer rir. Até porque, as sobrancelhas erguidas do seu Lobo estavam quase até o couro cabeludo. Os olhos verdes se lançavam rápidos pelos semblantes, tentando se encontrar na situação nova.

– ‘Tá. – Ele esboçou um biquinho de escanteio. – Alguém mais quer ir?

Ross nao aguentou e riu.

– Ladi? – Cassian ignorou a risada.

Ladirus pensou, mas olhou brevemente na direção de Ártemis. – Melhor eu ficar. – Declarou.

– Hah-ham. – Cassian concordou. – Nikki? Nish?

– Se conseguirem trazer algum vinho para a mesa. – Nikki respondeu, sorrindo simpaticamente, mas achando cômico o comportamento das outras meninas. Leah se ergueu menos animada de quando recebeu o convite pela primeira vez, e esperou Cassian para andar ao lado dele. Os seus olhos claros buscando o dele com frequência, como se tivesse encontrado alguma intenção e quisesse ter certeza. Ao que notou Aisha e Arty terminando a sua conversa, Cassian esperou.

‘Tá certo. Talvez eu esteja meio enferrujado nessa arte. O Garou se tocou no rosto, coçando o queixo distraidamente. Havia notado Leah desde que ela e as garotas chegaram e talvez devesse ter sido mais incisivo. Comida… Huh. Idiota. Cassian franziu o cenho e caminhou com o olhar curioso até a moça, no perfeito momento para encontrar os seus olhos. O lobo parou de coçar o queixo no mesmo instante, mirando-a e notando aquele olhar que se não se desviava… Ele umedeceu os lábios e desviou-se apenas quando Nish quebrou o silêncio.

– Eu vou ficar. – Nish disse inspirando – Vou… Esperar. Eu não estou com fome.
“Eu quero ouvir, por favor… Como eu vou perder uma cantada sua?” Nikki disse a Ross, rindo na voz. “Eu não durmo à noite”.

“Isso foi uma cantada de pedreiro, mas a minha é pior…”, ele brincou, rindo igualmente, “Você já é uma obra de arte inteira. Pode dar aulas sobre arte, se quiser”. Rosstrider ergueu os olhos em direção as duas novamente. “Também dá vontade de saber que gosto você tem… Esse… Gosto de arte”.

Ártemis voltou com Aisha dando uma corridinha que a loira precisou parar no mesmo instante, segurando o ombro da morena e avisando com os olhos ‘Menos!’. Ártemis se segurou, arrumou a postura e andou, rápido, na direção de Ladi. Sentou-se a cadeira bem ao lado dele e sussurrou em seu ouvido:

– “Acho que vou fazer alguns trabalhos com outros cantores.” – Afastou o rosto com um sorriso e depois pediu segredo com o indicador diante dos próprios lábios. – “Um monte de gente quer trabalhar comigo.”

A pergunta sobre “Cantores bons?”, quase pulou dos seus lábios, mas ele a segurou. Ladirus buscou pela mão de Ártemis por baixo da mesa enquanto a fitava nos olhos, voltando-se apenas ao ver Cassian se levantando.

Um monte? – Ele sussurrou. – Que bom. Aisha, pelo jeito, sabe o que faz…

– A gente já volta. – O Garou anunciou. – Hm… Tento trazer o vinho, prometo. – Ele disse a Nikki.

Destiny acenou uma despedida e Alicia apenas se virou para caminhar, seguindo os dois de perto.

– Não é só a Aisha… É que eu sou muito talentosa também, né! Querem colaborações! Isso é tão legal. Tem gente aqui que eu escutava e seguia fã-clube. – Ártemis respondeu a Ladi, desviando o olhar para ver Leah e Cassian seguindo com Alicia e Destiny atrás. Aisha reparou na mesma cena ao se sentar, e depois reparou em Veronica e Ross… Os dois em silêncio, mas imaginando onde a conversa continuava.

Sim. Eu quis dizer que ela sabe pra quem deve te apresentar e essas coisas… – Ladirus respondeu, seguindo os olhos dela. – Eu não tenho dúvidas que notam o seu talento…E influência… Só digo porque ela está há mais tempo nesse meio…

“Meu Deus… Pare!” Nikki ria na voz, e sorria para o espaço vazio, bebendo mais. “Bem! Dizem que música se faz de imagem também… Não deve ser só cantada de pedreiro. Eu realmente arraso nesse vestido.” Provocou risonha e se deparou com o olhar pedinte de Nish de novo. Veronica cortou a ligação com Ross, olhando-o de canto e segurando um sorriso que ele correspondeu o olhar com uma discreta piscadela. Ela se ergueu e estendeu a mão para a integrante da girlband para irem até o cantor que ela queria conhecer.

Destiny e Alicia poderiam virar duas pizzas embaladas. Assim já resolveriam o problema da comida. Cassian caminhava tranquilamente, tentando pensar em alguma coisa que não fosse pausar o tempo e largar as duas para trás ou fazê-las se esquecerem de que queriam comer e, no fundo, estavam enjoadas. Os olhos verdes puros do lobo seguiam até Leah. Gostaria de poder conversar com ela, ao menos. Perguntar qualquer coisa, ouvi-la falar…

Ele quase pulou quando sentiu as mãos de Alicia em seus ombros.

– E a True Hearts…? Eu sou tão fã… Nunca mais ouvi falar nada. – Alicia comentou, manhosa. – Eu vi que você fugiu de todas as perguntas.

– True Hearts morreu para mim. Esses grupos de pop não dão certo por muito tempo. – Ele praticamente cuspiu cada palavra.

A Satyr tirou as mãos dos ombros dele como se levasse um choque. Destiny parou de caminhar e Cassian também parou, ao ver o que havia causado.

– Er, foi mal. Eu estou sensível hoje, eu… – Ele franziu o cenho. – Sou um cara… Sensível. – Disse, pausadamente.

– Tudo bem. – Destiny falou, meio atônica. – É… Bonitinho… Ser sensível.

Leah também se assustou com o tom usado por ele, sem esperar a áspera resposta. Mas não discordava do conteúdo da mensagem…

– Não… Ele tem razão, meninas. Grupos não duram por muito tempo, a gente precisa estar preparada. – Olhou-as – Aproveitar o máximo essa nossa fase e pensar em nós mesmas também no futuro. Isso é ser racional. – Fitou Cassian e sorriu selado – Cassian faz um ótimo trabalho solo.

O sorriso iluminado dele quase fez Alicia perder o pensamento. Que menino lindo e que assunto terrível! Tudo bem que foi um sorriso para Leah…

– Você viu os meus covers? Ninguém liga muito para eles! – Cassian exclamou com energia na voz. – Mas eu vou lançar um álbum… Eu estou escrevendo e-

– LEAH! – Ela o interrompeu. – Meu Deus, Leah… – Alicia sorriu incerta para ela. – Olha para o nosso grupo! O mundo nos ama e ele não tem nem um ano direto…

– Sim… – Destiny sussurrou, chocada com a conversa.

Elas poderiam ficar tão tristes que até a fome esqueceriam né. Cassian mordeu a língua, olhando-as desanimando. Até as Spice Girls se separaram. Ele pousou as mãos à cintura.

– É… – Cassian apertou os lábios finos. – Se todas forem muito amigas, dá certo sim. É igual uma banda.

As pedras claras dos olhos de Leah admiraram o sorriso de Cassian, e ela demonstrou certa timidez em seguida. – Tudo bem, meninas. Eu só estou dizendo que nada dura para sempre. Mas vamos curtir o momento, não é? – Sorriu selado para elas – Estamos famosas, bem, somos queridas. Nada a temer agora. – Leah pensava que não funcionava como uma banda, pois cada uma tinha um espaço no palco para alimentar, e o projeto não era cem por cento confortável a nenhuma delas. A Pooka tinha certeza que Ártemis carregava o sucesso delas desde o início, e assim que ela saísse como parecia… Não iria levar ninguém junto – e as três ainda não haviam aceitado isso.  – Mas seus covers são muito bons mesmo. – Leah continuou a Cassian. – Eu vivia disso antes. Covers.

Alicia inspirou, nervosa. Como assim, ela Leah estava falando em acabar o grupo?! – Dura sim, se quisermos…! – Ela exclamou, magoada. – Vai dar tudo certo! Só vamos ficar mais famosas! Tenho certeza que até o True Hearts volta um dia!

– Eu preciso muito de um chocolate… – Destiny disse, baixinho…

Não foi preciso nenhuma grande investigação comportamental para deduzir que Leah não estava tão animada com as Shaped Diamonds quanto o restante. Ou até enxergava muita perspectiva. Cassian negou para ela quando Alicia mencionou o retorno do seu grupo. Gaia me livre disso. Quando retomaram a caminhada até a cozinha, ele levou a mão até a dela, investigando os seus dedinhos.
– O que você toca, Leah…? – Ele perguntou, sentindo as pontas dos dedos levemente calejadas com os seus muito calejados. – Que tipo de cover você fazia? Gosto da sua voz. Não quer vir cantar rock’n’roll comigo?

– Quê?! – Alicia se intrometeu entre os dois, soltando as mãos. – Você… – Ela pontou o dedo para Cassian. – … Não ia nos levar até a cozinha?! Essas ideias não ajudam a Leah, lobinho abusado!

– Calma, Alicia… – Destiny sorriu sem jeito. – Nem é um convite sério…

A proposta de Cassian tirou um riso da Kithain, ela o fitou risonha e ficou um pouco ansiosa sobre tocar a mão de um lobo. Era muito quente.

– Eu fazia covers da Winehouse e da Nyra. – Disse com entusiasmo – Vivia tocando em bares, e casas de show. Não era graaande coisa, mas eu amo me apresentar, e conseguia um dinheiro. – Riu com a memória antiga – Eu gosto dos clássicos. Rock. Pop. Fazia tudo ao vivo, tocava violão, guitarra, piano… O que eu conseguia aprender pela internet. – Seu sorriso foi sem graça para as duas companheiras, mas era mais sincero a Cassian – Não é sério? Porque… Claro que eu quero! Só me levar.

Cassian ainda estava com as mãos para cima por sofreu a tentativa de intimidação de Alicia, estranhando a morena loira, mas desviando-se para Leah com um sorriso que se abria enorme. Destiny está se sentiu um pouco mal por estar atrapalhando o que parecia que poderia ser um encontro e decidiu ao menos poder ajudar…

– Leah é uma artista completa. Pode levar. – Dessie assentia. – Quando está cantando o que gosta, ela se solta no palco que é uma beleza. Só falta voar de tão feliz! Dança bem! Ah! E os covers dela da Amy e da Nyra… Você precisa ver. – Destiny sorriu quando também recebeu um sorriso dele. – O que você pôr na mão dela, ela toca bem!

O sorriso do Garou rapidamente se transformou malicioso. Destiny riu, sem graça:

– AH-!

– Curti. – Cassian disse, rindo.

As palavras de Destiny chamaram a atenção de Leah, olhando a amiga com carinho. – Obrigada…Que fofa…  – Murmurou antes que a Boggan exagerasse e desse a entender outra coisa. – Dessie! – Leah disse rindo, quase corando quando recebeu o olhar de Cassian. – Eu toco bem instrumentos! Isso. – Corrigiu tocando os próprios lábios com os dedos de sua mão pálida.

A Alicia pestanejou quando viu os gracejos indiferentes com o seu protesto. Ela franziu o cenho:

– Rock’n’roll não dá dinheiro. – Declarou, ácida. – Não como… O pop…

Franzindo o cenho, Cassian assentiu em concordância, fitando Leah.

– Alicia. – Leah a fitou menos entusiasmada – Não dá. Mas dinheiro não compra a arte que se faz. Olha a Nyra. As músicas que ela faz! A Fayre. O Ladi. Outro mundo. Muito melhor! – Leah parecia passional quando falava de arte. – Outra que não dá dinheiro igual, mas eu gosto. Ponto. E em terceiro: a gente nem sabe o que faz com tanto dinheiro atualmente. Cassian sabe como é… Tempo zero. Tempo para nada. Faz quase cinco meses que nem vejo a minha família. De hotel em hotel.

– Sei! Eu nem respirava! – Ele se aproximou dela, agarrando as mãos delas com as suas mãos quentes de lobo. – Vivia cansado e de saco cheio! Eu nem fazia nada que me orgulhasse… – Ele concordou com veemência, arregalando os olhos. – Sabe, os fãs… loucos e perseguidores! Insanos! Viciados! – Ele negava com a cabeça. – Eu espero que isso passe. A minha experiência com a boyband foi para saber que eu nunca mais quero isso na minha vida. Eu juntei um patrimônio bom e saí correndo. Meu gosto é… Muito parecido com o seu…

Destiny arregalou os olhos, assentindo vagarosamente e voltando-se para Alicia. Se havia duas pessoas que estavam em pleno equilíbrio com o grupo, era ela e Nish. Sentiu um pouco de pena da Satyr, pois, no fundo, ela só queria viver o que as outras artistas pop viviam… A experiência toda. O problema é que essa ganância estava a transformando tanto…

– Perdi a fome. Não vou assistir vocês se comendo. – Alicia respondeu, tão áspera quanto o seu coração atualmente. Ela suspirou irritada e virou-se para caminhar com um peso de chumbo em seus saltos.

Entreabrindo os lábios, Destiny a seguiu com o olhar e voltou-se lentamente para Cassian e Leah. Levou até um choque com a imagem de vê-los de mãos unidas. Nossa, Leah nem estava preocupada em arrumar alguém.

Cassian fitava de Alicia para Destiny, mordendo o lábio.

– Vocês querem que eu vá atrás dela, né? – Dessie perguntou, tímida.

Leah abriu bem seus olhos a Cassian, surpresa com a sintonia, mas também com o toque em suas mãos. Provavelmente ele não havia notado o quanto Leah estava intimidada com a presença e beleza dele… Se notava, usava a seu favor, pois era até difícil tirar os olhos dele. Não se lembrou do que Alicia disse, mas sabia que ela havia despejado raiva; e Destiny se perguntava o que fazer… Ainda estava ali?

– Ah… – Ela soltou uma das mãos de Cassian para ajeitar o cabelo negro atrás da orelha, voltando a se localizar – Se você puder, por gentileza, Dessie? Alicia não está bem hoje… – Disse educadamente.

Por gentileza! Dessie acabou sorrindo. – Claro. Eu sou a “Rainha da Gentileza”! – Ela negou com a cabeça. – É… Vocês podem levar algo para mim? Alguma coisa bem gostosa…

– Sim. – Cassian respondeu antes que a deixasse pensar demais. – Pode deixar.

A Boggan concordou, levemente relutante em sair. Meio egoísmo, né? Uma invejinha branca, também, pois não queria atrapalhar Leah, mas aqui tudo assim, bem na sua cara! Suspirou. Retornaria para assistir Ártemis com Ladirus. Ela precisava sim de um par!

– Então… ‘Tá bom. Vou ficar lá, esperando vocês… – Destiny sorriu, dando os ombros e virando-se para caminhar. – Até já…

Guerra vencida com o pó trazendo os restos em cinzas de um nervosismo excitante, agitando o seu coração de lobo. Os orbes verdes acompanhavam Destiny se afastando. A Boggan tentava lançar uma olhadela para trás, mas desistindo pelo receio de ser vista aparentemente. Engraçadinha, mas por favor. O Galliard desceu discretamente o olhar de soslaio, fitando Leah antes de se virar de frente para ela e encarar os olhos exoticamente claros, muito convidativos para se perder por.

Eu acho que se eu levar um tapa, ainda compensará. Leah era linda demais. Tão linda que intimidava. Impactante em seu olhar e expressões, como um ar natural de arrogância dominante de poder. Preciso falar alguma coisa? Os seus olhos desceram até os lábios coloridos de nude e ele a tocou no queixo, retornando os olhos aos dela por um instante. O Cassian curvou o pescoço, convidando Leah a abrir a boca, instigando-a com o dedo abaixo do seu lábio inferior. O vislumbre trouxe calor ao beijo que roubou e as mãos dela se fecharam mais firmes à dela. Os seus lábios entreabertos se uniram aos dela e mergulhando-se em um toque que já começava profundo, Cassian colou os corpos quando a trouxe para si, envolvendo-a pela cintura.

Sexy. A única palavra que vinha em sua mente iluminada pela visão do ídolo. Na sua cabeça ainda teria que desenvolver uma conversa e outro clima… Mas ele reconquistou o ambiente rapidamente ao brincar com seus lábios. Não só reconquistava, como avançava. Leah permaneceu imóvel até o beijo lento, e quando seu corpo se encostou ao dele. Fechou seus olhos, entregou-se ao calor acolhedor e ao movimento intenso e lento do beijo profundo. Quente até demais, conforme o beijo se desenvolvia. Roçando seus lábios cheios aos dele perfeitamente desenhados quando afastou os olhos e o fitou brevemente. Leah tomou outro beijo, mas dessa vez o tocou nos ombros e se entregou ao calor dos corpos. Sentiu-se tímida ao suspirar baixinho e o olhou quase sem piscar. Timidez que ele não partilhava. A avidez desperta pelo beijo roubava qualquer consciência racional do momento. Os olhos verdes claros se entreabriam morosos e ele ofegava levemente, por mínima descrição – para ela. Não transpassar a imagem de lobo tão mau quanto estava se sentindo…

Sonhar, mas estar acordado. Leve, mas profundo o bastante para tornar o seu corpo fervente. Teve certeza que nunca havia tido um beijo como aquele. Um tal de não conseguir explicar o que era exatamente diferente. Cassian fitava os olhos claros, também evitando piscar pelo prazer ímpar de admirá-la.

– Seu corpo é quente… – Sussurrou e afastou-se um pouco. Seu queixo a boca queimava com os toques que ele havia a proporcionado. O colo respirava discretamente agitado, caloroso. A paixão de Cassian sobre a própria música e crenças pareciam não ter só impressionado a fada, como influenciado no gosto atraente de sua boca… – Hmm… – Contornou os próprios lábios com a língua timidamente – É melhor… A gente não fazer isso aqui… Agora… – Leah ergueu os olhos por cima do ombro de Cassian e não muitos conseguiam ser discretos obre o que observavam.

Os lábios finos do lobo se entreabriram vagarosamente ao observar a língua que havia sentido com a sua. – Ah… – Ele piscou os olhos com uma demora distraída. – É… – Ele franziu o cenho. – Não mesmo… – Os olhos verdes se elevaram até os dela de novo. – Desculpe. Eu nunca me perdoaria se eu não te beijasse… – Sussurrou, respirando para tentar trazer algum ar frio para dentro de si. – Sou quente normalmente… Mas… Você… ajudou muito nisso. – Ele riu e sorriu, sentindo-se levemente tímido. – Ahm, bem… – Buscou novamente pela mão dela, entrelaçando os seus dedos. – Eu não estava brincando quando disse que queria comer algo também, e… Isso vai parecer a pior mentira do mundo, mas… Pode ir pegar algo sim. – Ele riu de novo. – Gaia, eu te beijei. Que boca gostosa você tem! – Ele roubou um selinho rápido dos lábios cheios.

O selinho tirou brevemente o fôlego que ela estava lutando para reconquistar. – Eu não acredito que fui beijada… – Ela sorriu ainda perdida com todo o calor crescente, e tocou-se no próprio colo com uma mão brevemente, sem soltar a dele com a outra…

– Argh! Eu não quero que façam mil fotos nossas e especulem todo o tipo de coisa ridícula…

– Comida! É verdade… Eu não estou mais… Com fome… Mas… É melhor levar algo as meninas… – Olhava-o, tentando não cair em muita profundidade. Ela andou com ele até o buffet e pegou um prato. Ninguém estava comendo muito, mas ela passou a se servir dos salgadinhos pensando no que Dessie e Alicia gostariam. Havia perdido completamente a fome mesmo. – Parabéns por… Ter saído dessa fase… – Puxou outro assunto, mas sem conseguir olhar para ele como se fosse qualquer pessoa e não alguém que desejava beijar. Mas conversar é bom, Leah, melhor. – Eu não declaro às meninas… Mas também gostaria de ter meu estilo, minhas músicas… Os contratos são muito fechados em relação a isso. Ainda temos mais um álbum pela frente. Um mês de férias só! E eu estou cansada demais. Eu não estou me desfazendo de tudo… Eu sou muito grata. É só que não há vida.

Cassian a ouvia, vendo a si mesmo há um ano em uma versão feminina, linda e gostosa. E com uma voz meio rouca que me está me tirando do sério, Gaia. Ele se virou brevemente para um atendente e pediu a melhor garrafa que ele tinha. – Então… – Cassian inspirou. – Eu ganhava muito dinheiro… Tinha o apego também, mas começou a ficar insuportável. Eu peguei birra das músicas e daqueles videoclipes coloridos ridículos. – Ele se aproximou dela, pousando as mãos em seus ombros e assistindo-a formar a bandeja de salgadinhos. O perfume que ela usava já estava colado em sua roupa, Cassian a cheirou sem se aproximar… – E ainda tinha o meu lado sobrenatural… Eu não podia me dar ao luxo de sumir tanto… – Sussurrava. – E eu sou apaixonado pelo o que eu sou. Eu tive que fazer uma escolha… Não muito dura. – Ele abriu um sorriso selado. – Eu gosto muito de viajar… Vaguei por muitos Caerns, sabe?

“Cassian, ele está aqui!”, uma voz menina jogou água fria em sua cabeça. “Cai fora!”.

“Rose?”, ele respondeu enquanto se endireitava. “Cadê você…?”.

“Não importa. SAIA DAQUI!”.

– Oh… – Cassian resfolegou. – Oh, droga…

Colocando-se na frente de Leah, ele assistiu o ambiente se dissolvendo até perder toda a cor para um tom de cinza que se condensava na forma de uma rocha, formando uma caverna escura. Cassian estendeu a mão diante de si e uma chama flutuou sobre ela, dançando e lambendo o ar frio que os rondava. Cassian suspirou com Fúria.

– Você esta bem…? – Perguntou a Leah.

Leah o escutava com um sorriso selado e um olhar curioso. A semelhança das histórias a atraia, pois era bom saber a perspectiva de alguém que saia do grupo e dava seus primeiros passos independentes. Alguém ainda que tinha gostos parecidos. Embora sua mente ainda fugia para outros pensamentos menos comportados sobre os dois. Mas o ambiente mudou… Ele se endireitava e a banalidade que já lidava aumentava gradativamente, corroendo paredes e estruturas… Cinza. Leah fitou Cassian assustada, e se abraçou na tentativa de reter parte do glamour e não ceder a morbidez.

– O que houve? – Ofegou – O que houve? – Encarou a chama na mão dele, e o olhou assustada pela Fúria que não estava acostumada a conviver.

– Só… Fique perto de mim. – Cassian disse, firmemente.

O rosto iluminado do Garou fitava o interior da caverna com uma apreensão clara quando fedor de carne pobre os recepcionou muito antes da imagem de Ewen MacLane. Cassian estendeu os braços para trás, cercando Leah com as mãos dotadas de longas garras. Entre os seus dedos, chamas.

Mas era como se a presença do Arquimago estivesse em todos os lugares, mesmo que estivesse na frente da Kithain.

Ele surgiu caminhando vagarosamente, desapressado. Amante do tempo. Todo dele. Usava uma veste antiga, medieval, com colete rústico de couro sobre uma camisa de linho branca e encardida e uma capa longa, carcomida nas extremidades. O seu pescoço não estava protegido contra a imagem da cicatriz cruel que o cortava de fora a fora. Naquele aspecto, parecia já morto. Os olhos ocupados, lábios secos e os cabelos desgrenhados. A beleza que sustentava na Tellurian se ausentava completamente como a realidade amaldiçoada do seu corpo.

– Eu preciso falar com você… – Ewen disse, suavemente. – Perdoe-me os modos, Srta. Rainier. Eu não tive escolhas.

Estava tão assustada que não sabia exatamente que postura tomar diante da situação. Agarrou-se às costas de Cassian e ousava abrir os olhos vez e outra… – O que aconteceu? – Murmurou, sentindo-se mal, enjoada, sua essência feérica se esvaziando e sem saber como explicar isso a ele. Quando encontraram o responsável por aquele efeito mágico, Leah apenas o espiou, sem sair de trás do Garou-Mago e pareceu mais surpresa do que já estava… Falavam com um corpo morto? A Kithain cruzou os braços na altura do abdome, enjoada… Como sabia seu nome? – O que é você… – A Pooka tentou encontrar artifícios no espaço onde pudesse usar seus truques para ao menos se proteger, mas nada parecia com algo que já havia visto ou sentido.

Os olhos opacos de Ewen se voltaram na direção de Leah. O Arquimago tossiu roucamente, curvando-se.

– Você pensa que eu sou seu inimigo. – Ele resfolegou. – Não vou ferir a garota. Nem você…

E ela parece bem para você?! Cassian não entendia o que se passava com Leah, mas duvidava que fosse apenas um medo irracional. Não imaginava os efeitos que poderiam atingir o corpo dela, mas energia espiritual começou a se reunir em suas mãos.

– Tire-nos aqui. – Cassian com um rosnado de presas aparentes. – Eu não quero ouvir o que você tem para me falar, droga!

– Blair não sabe de nada. Se ela encheu a sua cabeça de mentiras, isso só vai prejudicar você e os seus companheiros… – Ewen disse com dificuldade. Onde estava, para estar se esforçando tanto? – Eles vão inserir um coringa entre vocês. Se eu estiver correto, voltará a confirmar em mim?

– Eu não sei!

– RESPONDA! – Ewen gritou, estremecendo.

– TALVEZ! TALVEZ! – Cassian gritou de volta. – TIRE-NOS DAQUI! Tire…

Ele piscou fortemente os olhos. Respirando com profundidade. A reflexo foi rápido ao se curvar para pegar a bandeja que despencou da mão de Leah. Cassian pousou a bandeja sobre a mesa. O tempo havia parado e seguia novamente o seu curso. Cassian suspirou, apoiando a mão trêmula na madeira.

– Eu sinto muito… – Sussurrou. – Eu sinto muito, Leah…

Não entendeu como haviam sido tragados e nem retornados, mas os efeitos ficaram em seu corpo feérico quase-morto. Leah ainda ofegava, e levou mais tempo para se estabilizar… Nunca havia presenciado aquele tipo de mágica e poder, e a ameaça ainda estava no ambiente. Os olhos claros pararam em Cassian cheio de perguntas, mas igualmente receosos em relação a respostas. A fada se afastou um passo atordoado, com as mãos tremendo, e todo o ambiente havia perdido tons de vida, pois sua banalidade havia a cercado o suficiente para alterar sua percepção… A Kithain fitou por mais alguns instantes, deu as costas e saiu andando apressada, trêmula, de volta para a mesa.

Se pudesse, cuspia e saia nadando na própria saliva. Cassian apertou os punhos, mirou a mesa. O impulso de acertar um soco nela foi quase irresistível, mas a Fúria que gerou a vontade fez todos os presentes olharem com olhares esquisitos para o Garou. Cassian pegou a garrafa vinho da mão do garçom e a bandeja de salgados. “Meu Deus, Leah, fala comigo…”, ele enviou a mensagem mental enquanto caminhava sem a pressa dela. “O que você tem? Eu posso fazer algo para ajudar? Eu não entendo sobre… Você. Aff… Eu sinto muito que tenha visto isso…”.

– … Não, ah… Eu já terminei de compor a bateria de umas quatro canções… – Ladirus dizia a Rosstrider, coçando a lateral do rosto. – Pelo que entendi… Essa turnê será maior… Outros países até. Não era a minha ideias, mas tudo ficou um pouco… Grande. Está ficando… Sei lá. – Ela sorriu brevemente para Ártemis. – Nada tão grande quanto vocês, eu acho, mas… – Ele olhou também para Aisha e Nikki. – Algo… Maior do que fazemos hoje… Se esse álbum for tão bom quanto esperamos também…

– Eu não entendo muito bem as músicas de vocês… – Alicia comentou enquanto enrolava uma mecha do seu cabelo. – Poderiam fazer algo mais simples, não acha? Para todo mundo entender…

– Nós queremos que as pessoas pensem sobre as canções. – Ladirus respondeu, direto.

Ladi falava e Ártemis o fitava com um sorriso discreto nos lábios. Parecia admirando a imagem de um novo álbum da banda do namorado antes mesmo de saber do que se trataria. O comentário de Alicia deixou a Pooka irritada muito rapidamente.

– Porque eles não fazem música burra, Alicia. – Disse grosseira, perdendo o ar de menina apaixonada muito rápido. Aisha sempre se assustava com o jeito da Kithain, e Nikki se surpreendia. – Não tem só música para dançar não. Pessoas querem se sentir conectadas com vários outros sentimentos, vale?

Veronica manteve o copo nos lábios e observava de uma a outra. Alicia arregalou os olhos, fitando Ártemis em profundo choque. Destiny foi abrindo a boca até que ela se tornasse um “O” enorme. Também não entendia tão bem assim as letras da Heathens, mas Alicia não perdia a chance de falar mal.

Mas antes que aquilo se desenvolvesse em uma discussão, Leah se aproximava tão pálida quanto sua pele permitiria ser percebida. As Kithain da mesa foram mais sensíveis à situação da amiga, pois sua forma verdadeira estava quase apagada.

– Leah! – Ártemis se levantou em um salto e segurou o rosto da Pooka Husky. – Que houve? Meu Deus, parece que viu o grande inverno.

– Quase! – Tocou o próprio rosto frio – Aí. Eu ‘tô morrendo, Dessie, Arty. Ali. Não estava preparada. É melhor eu voltar para o hotel. Está tudo cinza!

– Ela está perdendo a essência dela… – Ártemis disse a Ladi. – Melhor a levarmos de volta. – Voltou-se a Pooka Husky – Mas o que houve?!

Destiny se ergueu, cobrindo a boca com as mãos e correndo até Leah. – Leah… – Destiny a olhou, chocada. – Como isso aconteceu…?!

Alicia não se levantou, mas também as fitava apreensiva. Quando Cassian surgiu, o seu olhar foi acusatório.

Morrendo? – Ladirus se ergueu, caminhando até elas igualmente. – Como ass-? Oh…

O Garou se aproximou da mesa, deixando nela o vinho e os salgados. Rosstrider o encarou, sentindo todo o tormento que o seu corpo estava vivendo. Sem jeito, ele cortou a ligação mental e sentou-se.

– O que você fez com ela?! – Alicia sussurrou e apontou para Cassian e se afastou, erguendo-se. – Foi você, não foi?! Assassino! Você está esquisito demais!

– Cassian. – Destiny o olhou, incomodada.

– Eu… NÃO! – Cassian rosnou, irritado e se voltou para Leah, sentido e preocupado. – Eu não fiz nada! Não foi minha culpa…

– Não está vendo que ele não está legal?! – Rosstrider disse a Alicia, indignado.

– Parece que eu não estou falando nada certo hoje! Eu vou EMBORA! Vamos, Arty. – Alicia caminhou para perto deles.

Ladirus se confuso, mas ofereceu o braço a Leah.

Veronica estava tão confusa e perdida quanto Cassian e Ladi. Aisha parecia até desistir de tentar entender ao beber do copo que Nikki havia deixado de lado.

– Se a gente perde nossa essência não nos lembramos mais que somos Kithain… Perde toda a memória. – Ártemis explicou baixinho. – Alguma coisa sugou toda a energia dela… Algo muito banal pelo jeito…

– E o que seria isso? – Veronica perguntou a Cassian.

O Garou apenas olhou de Veronica para Rosstrider sem responder a Veronica. Sentia-se tão culpado que não quis nem mesmo arriscar dizer qualquer coisa.

Leah aceitou o braço de Ladi, apoiando-se nele, e Ártemis a segurou pelo outro lado, tentando alimentá-la discretamente com a sua própria energia; mas não conseguindo fazer isso da forma apropriada com tantos humanos por perto.

– É melhor todos irmos embora, então? – Aisha se ergueu. – Eu não quero ficar em nenhum lugar estranho.

– Óbvio que sim! Não vê que ela não está bem?! – Alicia se voltou para Aisha. – Você pode exigir a Arty para os seus amigos outro dia.

– Alicia… – Destiny suspirou. A garota estava atacada.

– Eu vou chamar a Nish. – Veronica se ergueu atrás e fitou Cassian questionadora, enviando a mensagem “Goetia?”.

Vencido, Cassian assentiu vagarosamente, voltando-se para a Maga: “Minha companheira de Alcateia me avisou… Mas foi tarde. Eu nem sei se ela estava aqui ou não. Eu não entendi nada. Foi o Cavaleiro sem Cabeça… Porra, cara… Estávamos ficando… E ela quase morreu. Já era agora. Que raiva que eu ‘tô… Ele quis feri-la… Só pode…”.

Provavelmente ele nem sabe o que é uma maldita fada. “Sabe, Cassian? Eu acho que você perdeu um partido.”  Veronica respondeu com metade da calma que costumava possuir, mas internamente assustada… O que ele fazia ali? “Vamos retornar para o hotel. E tentar não fazer mais alarde…”.

– Melhor irmos logo. – Veronica pegou suas coisas e indicou a Aisha que era melhor ficar perto de Rosstrider enquanto buscava a filha de Scott.

– Pode ir na frente com elas, Ladirus. Apresse-se. – Rosstrider disse, firmemente.

Muita informação. Ladi assentiu para o irmão e começou a caminhar na velocidade que Leah conseguia. Quando viu que não seria muita, ele se curvou e a pegou no colo sem pedir permissão. Uma popstar poderia passar mal em uma festa, não?

Leah sabia que havia sido levada no colo de Ladi e sentiu-se confortavelmente protegida nele. Estava tão assustada com aquela situação alienígena, que mesmo quando sentiu sua essência feérica estabilizar, demorou par sair do estado atônito. Ártemis, Alicia e Destiny haviam ajudado a amiga de Mixórdia a receber de volta a energia necessária para se ver uma Pooka Husky de novo. Estavam no quarto de hotel dela, e ajudaram-na a retirar os sapatos e a roupa desconfortável.
Veronica ficou no corredor com Cassian, Ladi, Ross, Aisha e Nish depois que o Dragão de Água deu espaço para que elas fizessem seus rituais mágicos de Kithain.

– Eu estou chocada. – Aisha disse surpresa – Meu Deus. Eu não sabia que a Ártemis era uma fada e todas as outras meninas. Eu digo, eu sabia que eram estranhas… Mas fada? Isso sequer existe! Elas devem ser frágeis.

– É estranho, né? – Nish concordava, embora houvesse aprendido se acostumar. – Minha família não sabe. Ninguém sabe. – Nish disse – Era melhor assim… Foi difícil elas me convencerem a não dizer nada. Mas eu também nunca tinha visto nada bizarro, até hoje… – Nish fitou Cassian com certo desdém, como se a culpa ainda fosse dele. Mas logo ela suspirou e sorriu, já em outro mundo: – Conheci tanta gente. – Disse animada. – Obrigada, Nikki. Eu acho que vou dormir… Elas vão ficar bem, né? Acho que sim.

A Garou-Maga abriu um breve sorriso educado, estendendo a mão e dispensando agradecimentos… Especialmente naquele momento.

– Ártemis é diferente. – Rosstrider comentou, levemente distraído. Também estava preocupado com Cassian e toda aquela agonia. – Ela é especial. Uma fada diferente…

O Garou estava encostado na parede, com os olhos voltados para o teto. As palavras francas de Nikki estavam rondando a sua mente agonia. Queimou rápido… E virou pó? Duvidava que Leah iria arriscar ficar sozinha ao seu lado outra vez. Mesmo que não estivesse ligado ao Garou, Ladirus também sentia a sua tristeza e a propensão para uma Fúria instável.

– Ross. – Ladirus disse ao Dragão. – Polaris está voando pra cá. Não é melhor você levar o Cassian de volta? Nenhuma delas vai ficar confortável na presença dele de qualquer modo.

– Também não é assim… – Rosstrider o olhou, em choque.

O Galliard desceu os olhos magoados até Ladirus e suspirou com os lábios levemente trêmulos.

– Na verdade, é. – Ladirus insistiu.

– Eu gostaria de me desculpar… – Cassian murmurou.

– Ela não vai querer as suas desculpas agora. Talvez, outro dia.

– Porra, Ladi. – Rosstrider o olhou indignado. – Menos! Ele também sofreu…

Mas está vivo e bem. Ladirus franziu o cenho.

Nikki não deveria, mas acabou rindo:

– Calma, Ladi. – Disse, fitando-o – Eu não acho que elas são tão frágeis assim. Foi mais um susto. – E olhou Cassian – E você não precisa falar com ela agora, Cassian… Toma um banho e descansa. Depois você fala. – Tocou-o no braço em dois toques breves. – E pensar no que vai dizer também, ela vai querer uma explicação mesmo que meia boca.

– É que… – Cassian suspirou profundamente, observando Nikki em dúvida. Queria resolver! Minha Gaia, é a Leah… E está fugindo das minhas mãos.

– É melhor, cara… – Rosstrider pousou a mão no ombro do Garou.

– Eu vou ficar por aqui… Só vou pegar um quarto e… Enfim. Avisem-me. – Pediu, apertando os lábios finos, sentido. – Por favor.

– ‘Tá certo. – Ross assentiu, entregando a ele um sorriso tranquilizador antes que se afastasse.

Ladirus lançou um olhar direto ao irmão: Não vai avisar é nada.

Aisha os olhava, mas ainda refletia: – Ártemis deve ser uma fada bipolar, e elas não são nada como nos contos… – Aisha dizia, um pouco decepcionada com a nova classificação de seres que descobria. – Deveriam ser mais como a Sininho, eu não sei… – Aisha tocava o próprio colo – Ainda bem que Acksul está vindo.

– Você não vê Dragões atuando em séries também… Ou sendo cantores. Normalmente eles só querem matar e protegem os seus tesouros. Bom, o Draco do Coração de Dragão até que é bem simpático. – Rosstrider propôs a Aisha, fazendo um beicinho. – Tudo errado esses contos. Vai por mim.

Veronica arqueou as sobrancelhas e não soube dizer se era uma boa coisa o alvoroço. Podia ser até intencional. Ladirus não sabia dizer se havia sido o melhor caminho avisar Polaris, mas não poderia se sentir mais feliz quando ele chegou. Acompanhado. O coração do Dragão de Água disparou no mesmo instante, corando o seu rosto. Ele só conseguia focar em uma pessoa.

Nikki reparou no olhar de Ladirus para Rosstrider, mas não considerou que aquela regra valia para si: claro que avisaria o pobre coitado, estava morrendo pela Kithain.

Aisha não quis dar devida atenção para o comentário de Rosstrider, como se escutasse grego e não pudesse ainda acreditar que fadas não eram as famosas criaturas. Tudo precisava ser tão obscuro?

– Acksul. – A loira dispersou rapidamente ao ver o Dragão e adiantou-se para abraçá-lo forte. Automaticamente indefesa na situação.

Pela forma como o Dragão da Matéria abraçou Aisha, Rosstrider pensou se não havia informações alteradas entre as mensagens que trocaram.

– Querida… – Acksul a envolveu num abraço protetor. – Você está bem? Como está a pressão…? Você quase me matou do coração…

– Eu… Estou bem… Felizmente estávamos juntos. Mas pobrezinha da Leah. – Aisha dizia agitada a Acksul – Viu coisas horríveis. Mal conseguia andar. Achei que seríamos os próximos. E ninguém sabia o que fazer para ajudar! Elas são fadas! – Tocou o próprio rosto – Eu nunca imaginei isso…

– Huh… Não é muito comum este conhecimento, querida. A comunidade feérica não é próxima dos lobos. – Polaris explicou com carinho. – Fadas são feitas de sonhos. Não se preocupe. São seres ótimos de se ter perto!

Veronica apenas observava a amiga… Nem reparando que o drama mais forte residia na forma que Ladirus observava Fayre. Blair apenas se entreolhou com Rhistel, e foi o tempo de Audrey andar apressada atrás de Ladirus e o abraçar em um desespero silencioso. Ela usava seus cabelos curtos em um tom loiro, sutiã preto e largas calças esportivas negras, combinada a tênis da mesma cor escura. Rey… Ladirus a abraçou fortemente também, fechando os olhos com força e inspirando o cheiro dos seus cabelos com uma intensidade de saudades e desejo que talvez pudessem ser confundidos com preocupação. Os seus dedos marcaram a pele clara da Maga de tão forte que se agarrava a ela.

“Nossa…”, Nikki não previu a atitude amiga de Fayre, mas estranhou a repercussão da história. Como se Aisha tivesse avisado o inicio da terceira guerra e não apenas um encontro misterioso com a Goetia. Sem feridos. Muitas perguntas.

Rhistel apenas os fitou mirou neutro – e profundamente entediado, internamente. Só havia pedido uma coisa à Audrey e a confusão que notou em Ross só deixou claro que as informações divergentes de Aisha pelo menos podiam valer de algo…

– Estão todos bem? – Blair perguntou ainda apreensiva.

– Eu acho… Só esperando as meninas saírem do quarto. – Veronica anunciou e disse tranquila: – Talvez tenha acontecido algo que eu não vi.  Mas só a Leah ficou mal… Cassian está assustado só… Eu acho…

– É, ahm… – Rhistel franziu o cenho, tentando pensar tão rapidamente quanto estivesse improvisando um rap. – Você falou da Goetia, Ross… – Pediu pela atenção do irmão. – Ficamos muito preocupados… E Aisha parecia aflita…

– Um deles pegou Cassian e Leah e é como Nikki disse… – Rosstrider explicou, afundando as mãos nos bolsos da calça. – Foi um susto… Depois conversamos melhor sobre essa parte. Melhor subirmos para o café, ao invés de ficarmos aqui no corredor, não sei?

– É melhor! – A maga da correspondência desviou o olhar de Aisha e Polaris – Café… Tem razão. – Blair concordou rapidamente. Veronica tentou não voltar seu olhar para Fayre e Ladirus, logo que percebeu que a agitação se confundia com muitas outras coisas. E a história se confirmou rápido em sua mente ao prestar um pouco mais naquele abraço íntimo às costas de Rosstrider. A Garou suspirou e sorriu sem graça… Voltou seu olhar a Blair e Rhistel e os olhos verdes da maga não piscavam quase. Provavelmente implorando que Ladi e Fayre não se beijassem. Não queria uma briga.

– Boa ideia. Café! – Veronica pegou a mão de Ross e o guiou sem pressa na direção do elevador.

– Mas e as meninas? – Fayre perguntou, olhando para a porta fechada, já afastada de Ladi.

– Elas disseram que é algo psíquico. De fada? Não dava para fazermos nada. Elas estão se ajudando. – Veronica parou para informar e soltou a mão de Ross delicadamente ao ver que a urgência havia passado.

Entre a confusão de ver Veronica levando Rosstrider pela mão, Rhistel analisava a situação. Eita. O Dragão de Gelo coçou a lateral do rosto, virando-se brevemente para Ladirus e o assistindo olhar para Fayre com aquela indiscrição devota de sempre. Com os olhos destacados e o cenho franzido, ele procurou Rosstrider com o olhar.

Rosstrider não era bobo, mas mesmo que estivesse formando algum raciocínio, a mão quente de Veronica ganhou certa atenção. Ele a olhou, entre a timidez e o interesse. Rhistel não sabia que o que havia acontecido entre eles, mas alguma coisa tinha.

Audrey havia aproximado seu ouvido da porta, curiosa, e Ártemis também encostava o seu ouvido do outro lado… Quando escutou as vozes, inclusive a de Fayre, a Kithain não teve coragem de sair para o corredor… A Changeling recuou passos da porta de volta para a cama… O que Audrey estava fazendo ali?

– É melhor a gente pedir algo para comer no quarto… – Arty disse.

– Boa ideia! – Leah engatinhou através da cama até o telefone.

– Ouvi vozes… – Destiny disse, surpresa.

– Blair. – Alicia captou.

– A gente deveria trazer algo para elas de qualquer modo. – Blair completou e seguiu com o grupo para o buffet, dando as mãos para Rhistel – E lá conversamos.

Rhistel assentiu, acariciando a mão de Blair. Ergueu o olhar por cima do ombro e viu Ladirus tocando o rosto de Fayre. O Dragão de Água afastou o gesto como se levasse um choque e sorriu sem graça para o irmão.

– Hm. Um momento. – Acksul fechou os olhos. “Ártemis…”, o Dragão se ligo à mente da fada. “Ela está completamente bem já? Lembra-se me perguntou sobre o que eu sabia sobre o Sonhar? Eu sei muito. Eu posso ajudar… Se ela precisar… Trazer a fonte até vocês”.

Veronica saiu andando com Ross na frente, e Blair seguiu com Rhistel. Ladi não se ajudava e Fayre menos ainda… A loira fitou Rhistel se perguntando se valia a pena ficar os protegendo de algo que nem eles se importavam. Mas negou e continuou. Fayre ficou relutante em sair da porta do quarto, sorriu brevemente para o toque de Ladi e caminhou atrás… Aisha apenas não os seguiu, pois Acksul pediu o instante.

– Acksul quer ajudar. – Ártemis fitou Leah em sua camisola. A Kithain arregalou os olhos e correu para vestir o roupão sem antes pensar em negar.

– Ele vai entrar? O que ele pode fazer?

Ártemis deu de ombros.

– Você ainda está enjoada e roubou todo nosso glamour. Vai que o homem jogou uma maldição em você. – Ártemis a alertou e Leah perdeu até o ar.

Alicia saiu correndo para o banheiro, correndo para se verificar no espelho! O namorado da Aisha! Destiny levou as mãos aos cabelos, ajeitando-os rapidamente. Sentiu-se tão nervosa e ansiosa que suspirava.

“Se você for entrar, só pode ser você… Ok!?” Arty disse a Acksul e andou até a porta. Destrancou-a e se escondeu atrás da madeira para não sofrer o risco de ninguém vê-la. Especialmente Ladi e Fayre.

“Sozinho…?”, Acksul disse isso com um sorriso na voz. “Haha… Eu vou tentar”.

– Querida. Eu posso ajudá-las. Eu vou entrar, tudo bem? – O Dragão da Matéria se voltou para Aisha, observando os belos olhos azuis da Parente. – É bem rápido!

– Tudo bem… – Aisha concordou facilmente, próxima o suficiente para saber-se que ela entraria atrás. Ou tentaria. Quando Acksul passou um centímetro, Ártemis o puxou para dentro e bateu a porta atrás, deixando Aisha no corredor e com uma pancada no rosto.

– Heeeyy!!! – A loira protestou com a mão no rosto. – Por que eu não posso entrar!?

– Desculpa! – Ártemis disse do outro lado. – É só um minuto!

Leah ficou boquiaberta, sentada na beirada da cama… Tanto pela atitude grosseira de Ártemis, quanto a imagem do próprio Acksul. Acksul!

– Oi… – A Pooka Husky sorriu sem graça.

Acksul começou a rir, tentando não rir alto. Infelizmente, era melhor assim. Aisha com certeza não estava preparada para ver o Sonhar…

Destiny se aproximou, sentando-se na beirada da cama. Alicia parou ao lado de Ártemis, observando-o.

– Olá, garotas. – Acksul disse, abrindo um sorriso de maldade. – Vocês podem se aproximar, eu não mordo. – Ele disse, olhando-as, uma a uma. – E estou particularmente feliz de te mostrar isso. – Ele disse à Ártemis, provocando-a com um sorriso largo. – Bem.

– O que você vai fazer? – Destiny perguntou, tímida. Erguendo-se. Ao estender a mão, sentiu-se estremecendo. Ela já sentia…

Acksul levou as duas mãos ao peito, fechando os olhos e trouxe do centro uma esfera de luz, oscilante em tons de azul e roxo. Os olhos dele se abriram novamente em um forte tom violenta na íris – a cor da transformação. Acksul abriu algo. Alicia se tocou no rosto, sentindo o corpo inteiro reagir. Conforme ele abria as mãos, tornando a luz ainda maior como se trouxesse à mão uma estrela viva que lançava faixas coloridas pelo quarto inteiro. A imagem de um imenso portão fechado, dourado e antigo aparecia dentro das mentes das fadas, ganhando formas e desenhos. “Eu sou Polaris, a estrela de Arcádia. Eu consigo enxergar os dois lados do portão… E posso trazer um pedacinho disso para vocês…”, a voz do Dragão soou triplicada e etérea. Destiny reparou nas longas garras que se estendiam dos seus dedos, tonalizadas por espelhos, e os caninos que despontavam no seu belo sorriso. Polaris riu prazerosamente.

Leah! Você é uma Husky! Que bonitinho! – O Dragão riu, maravilhado! – Arty… Alicia… Destiny… Como vocês são lindas… – Ele sussurrou.

Ártemis arqueou as sobrancelhas, descrente quando ele dizia entender de sonhar; e mais ainda porque o achava exibido. A Changeling tinha seus braços cruzados, como se esperasse um milagre. Não havia sido exatamente um… Mas a surpresa não foi escondida pela Kithain, menos ainda por Leah.

– Quee… – A Kithain tinha as sobrancelhas arqueadas e também se ergueu ao sentir uma fonte de Glamour natural se expandir pelo ambiente. – Você está com a pedra filosofal ou coisa assim?

– Ele conseguiu se encantar. – Ártemis franziu o cenho, olhando-o surpresa, e desviando quando viu as cores retornarem à essência de Leah.

– Eu me sinto bem. – Tocou o próprio corpo por cima do roupão e ficou emocionada: – Eu não imaginava que esse portão sequer existia… Então você sabe chegar lá?

– Como que você escondeu isso? – Ártemis perguntou incrédula.

– Isso é tão bom… – Destiny se tocou no rosto.

Alicia apenas observava-o calada e surpresa.
– Ah. Não faço a menor ideia de como chegar lá. Eu vivia sobre ele… Mas não tenho a memória de como saí. A Estrela Polaris que vocês veem no céu é apenas uma representação… – Acksul negou, piscando os olhos vagarosamente enquanto fechava a mão. – Eu estou aqui.

Quando ele fechou a mão, desequilibrou-se e agachou no chão, sustentando-se com um braço pousado no piso antes de se sentar. Acksul sorriu, respirando profundamente.

– Argh. Eu preciso comer… Muito. – Anunciou, tocando-se nos cabelos.

Leah o olhava sem acreditar na história. Descrença não fazia bem às fadas, mas o rumo da história era surreal demais para aceitar simplesmente.

– Eu… – A Husky tocou o próprio pescoço preocupada. – Parece que entrei no sonhar profundo e fiquei uma semana. Nem sei se sou real. – Acabou esbarrando o joelho na cama antes de se sentar, atordoada de toda a energia.

Ártemis não ousou se mover muito até o efeito intenso passar. Acompanhou Polaris se sentando ao chão com manchas de cores deixadas no ar com seus movimentos. Prismas por todos os lados.

Ela se abaixou ao lado de Acksul e o tocou no ombro.

– Não fica se exibindo por aí, tá? Quando pensar que não, tem Kithain tentando te capturar. – Disse ao Dragão e sorriu em seguida – Isso é muito legal…

O Dragão abriu um sorriso cruel, olhando-a. – Eu sei, eu sei… – Ele piscou um dos olhos para ela. – Tudo o que não preciso é mais gente querendo os meus pescoços.

Pescoços. Sim. Alicia havia tido um breve vislumbre. Muito breve.

– Agora eu acho que preciso liberar energia e um pouco de banalidade… – Leah olhava para o teto, distante. – A gente devia procurar um mixórdia local! E socializar! Vamos comer antes. Meu Deus… Olha isso! – Leah estalou o dedo e sua energia branca e de névoa faiscou de seus dedos.

– Leah! É uma ótima ideia! Eu posso levar a minha flauta! Será divino! Um lugar como Las Vegas com certeza terá uma Mixórdia! – Alicia meneava a cabeça, sentindo os cabelos dourados movendo-se brilhantes. – Foco nos meus cabelos!

– Gente! Nós precisamos sair! AGORA! Vamos! É o nosso momento!

Ártemis assentiu animada, mas depois negou. Pensou um segundo e fingiu um bocejo com facilidade:

– Vou dormir. Me deu sono.

– ATÉ PARECE! – Destiny gritou, puxando Ártemis pela mão. – Eu nunca te deixaria dormir agora, nesse estado, nós vamos comer e brilhar. Ah! – Ela ergueu o dedo em riste. – Nem quero ouvir. – Acenou, caminhando pelo quarto.

Acksul ria, observando-as perfeitas e brilhantes, poderosas e únicas, de uma forma sobrenatural. Os rastros de energia seguiriam os seus movimentos. Ele fitou Alicia tocando os cornos reluzentes entre os seus cabelos perfeitos. Que perigo! Leah então…

– Só gostaria que soubessem que isso me desgasta bastante e eu não posso fazer sempre. – Ele achou prudente informá-las. – Recomendo que aproveitem. – Ele levou as mãos até as orelhas de gato preto, apertando-as. – Aw.

Até quis ficar irritada com a falta de noção delas. Como sairiam pela cidade sendo famosas como eram? Mas estava tão leve que acabou rindo com aquela confusão.

– Ai, não! – Ártemis puxou a mão de volta quando Dessie a pegou, e fitou Acksul de canto de olho ao ter a orelha tocada. – Você também não vai me ver nessa forma, recomendo que aproveite. – Brincou, imitando o sorriso maldoso dele.

– Que pena. Fiquei com inveja. Também quero orelhinhas. – Acksul gargalhou e virou-se para observar as demais garotas brilhantes. – Com certeza, eu ficaria mais bonito em mim que em você. – Ele a cutucou.

– Seu cabelo está incrível, Ali. – Leah riu, também tocando os seus escuros como a própria noite. – Eu… eu preciso só me trocar… De novo! E a gente vai! – Abriu sua mala e pegou um conjunto de jeans e camisa, entrando no banheiro e se fechando para colocar a roupa.

Ártemis foi até a janela do hotel e observou a avenida brilhando com a velocidade dos carros… A Changeling não queria sair do quarto, estava nervosa, mesmo que conseguisse disfarçar bem.

– Tudo bem. Entendemos que foi dessa vez. – Ártemis respondeu a Acksul.

– Uma vez por mês, talvez?! – Alicia arriscou.

– Não! Muita coisa. – Acksul riu.

– Imagine isso num festival nosso, hein?! – Destiny pousou as mãos à cintura.

Até Destiny estava muito bonita…

A porta do quarto bateu duas vezes:

– Ainda vai demorar? – Aisha aguardava cada vez mais impaciente. – O que é que eu não posso ver? Aaaii… Todo mundo já desceu!

Ele arregalou os olhos azuis, rindo baixinho. Acksul se curvou para trás e destrancou a porta e a abriu. O esforço pareceu enorme, tamanha a preguiça que o fez.

– Entre, querida. – Acksul disse. – Já vamos descer. Leah só foi se trocar. – Ele abriu um sorriso enorme para ela.

Ártemis ficou próxima da janela como uma rota improvável de fuga, observando toda a movimentação exagerada delas. Quando Aisha entrou, Ártemis fechou a porta atrás dela com o próprio poder e ficou encostada na parede, imóvel e pregada.

– O que aconteceu aqui? – Aisha perguntou, sentindo sua pele formigar levemente, mas desconhecendo a fonte daquilo. – Nossa. – Admirou as garotas, que pareciam mais vivas e bonitas repentinamente. – Isso é coisa de fada? – A loira fitou Acksul. – Parece que se drogaram…

– É coisa de fada… – Acksul se levantou vagarosamente. – E de Acksul. E eu preciso comer como se não houvesse amanhã…

Leah saiu do banheiro em uma blusinha e um jeans apertado, com botinhas nos pés. Estava com um imenso sorriso e muito empolgada.

– Vamos! Vamos. Oi, Aisha! – Abraçou a Aparentada, mesmo que ela só destilasse desdém sobre as Shaped Diamonds e saiu andando na frente para fora. Aisha apenas as olhava sem entender nada.

– Parece mesmo agora.

– Woo-hoo! – Alicia jogou os cabelos, desfilando para fora do quarto com um sorriso estrelado nos lábios. – Oi, Aisha!

– Aisha! – Destiny riu, piscando um dos olhos para ela.

Calmamente, Acksul caminhou até Ártemis pousou as suas mãos nos ombros da Kithain e começou a caminhar, conduzindo-a como uma boneca e sentindo todo o tipo de choque ao sentir o seu corpo. O Dragão da Matéria encostou a porta do quarto quando Aisha também saiu e buscou pela mão da Parente.




Rhistel poderia não saber discernir o que diabos estava sentindo, mas sentia. Pela expressão de Ladirus e Rosstrider, imaginou que também estavam sentindo.

A sua mente pareceu ganhar uma sensação flutuante quando Acksul trouxe um pedaço de sua essência para a Tellurian. Rhistel nem imaginava que isso era possível – ainda ser uma estrela. O Dragão, que descansava a cabeça no ombro de Blair enquanto provava de diversos croissants sobre a mesa, endireitou-se.

Ladirus piscava os olhos vagarosamente e acabou mordendo o lábio quando a sensação prazerosa se aconchegou em seu coração, breve demais para ser apreciada. Rosstrider fechou os olhos e não os abriu pelo tempo curto que durou. Ele relaxou no sofá, escorando o pescoço para trás.

– Acksul fez alguma coisa bem louca… – Rosstrider comentou.

– Huh-hum… – Rhistel concordou.

Não tinha certeza se sentia em uma intensidade maior ou menor que os irmãos Dragões, mas Blair se sentia muito estranha naquele instante. E não era nenhuma estrangeira ao sentimento, mas acertou muito forte, o suficiente para que a vertigem existisse, mesmo sentada e imóvel. Os olhos verdes ficaram no espaço, e ela evitava todo o movimento… Tudo brilhava de uma maneira radiante, e a energia positiva dentro de si foi tão assustada, que preferiu se agarrar ao medo.

– Eu queria ser menos ignorante ainda sobre elas… – Blair murmurou, sentindo seus lábios formigarem, e provavelmente estavam vermelhos.. – Nunca tive contato com nenhuma…

– Vocês estão bem? – Nikki perguntou risonha. – Parece que alguém passou um baseado na mesa e me pularam.

– Acho que me pularam também. – Fayre os fitava relaxados, enquanto ela mesma não estava uma virgula. Piorando seu estado quando viu as meninas chegarem… Acksul, Aisha… Nada de Ártemis. Absteve-se de perguntar de cara.

– Isso é a coisa mais engraçada e estranha que senti na minha vida. – Blair se abraçou, e acabou rindo quando se entregou um pouco. – Parece que tudo está respirando… É assim que vocês veem o tempo todo?

– Sim! – Leah riu e se sentou com eles. – Não! Hoje especialmente… Nem passei maquiagem e estou corada. – Tocou o próprio rosto, antes de se virar e ir até a mesa do buffet para finalmente comer.

Alicia passou acenando, tão maravilhosamente linda que os seus cabelos pareciam fios de Sol. Destiny estava de mãos dadas com ela. Ladirus se surpreendeu ao admirar a Boggan. Mas Leah… Leah era de um impacto que ele nem conseguia calcular. Até Rosstrider fitou as meninas, arregalando os olhos já muito grandes.

– Gaia. – Sussurrou.

– Desculpe, Bee… – Rhistel sussurrou e se virou para a Maga, sentando-se ainda mais perto dela. – Eu quero muito te beijar… Desculpem antecipadas a todos. Virem pra lá.

Foi como dizer: olhem. Rhistel tocou o rosto corado de Blair e buscou por um beijo profundo, deslizando os dedos pela nuca e meneando o rosto para sorver da sensação intensa de desejo que passou a arder em seu corpo. “Eu quero fazer amor com você…”, Rhistel disse na mente da Maga, “Quero muito…”.

Rosto corado e quente. Blair não ofereceu resistência a Rhistel e seu carinho… Costumava ficar tímida com demonstrações tão fortes de afeto, mas o mundo ficou tão distante na sua mente, que se perdeu rapidamente no beijo gelado do Dragão. Blair mordeu a boca para não suspirar quando afastou seus lábios, e os olhos ficaram nos dele. “Nosso quarto ainda está reservado…” Ela propôs seguido de um sorriso discreto. Beijou-o em um selinho, e não fez questão de disfarçar seus interesses em tirar Rhistel dali. Segurou-o pela mão ao se levantar e o guiou de volta para o elevador. Quando os dois entraram, Veronica desviou os olhos antes da porta fechar. Elevadores poderiam ser um fetiche e tanto

Ladirus apertou os lábios e achou prudente nem olhar para Fayre. O Dragão de Água e Rosstrider se voltaram para Polaris que sorria seladamente, arqueando as sobrancelhas.

– Não sei vocês, mas estou com fome. – Ele se sentou à mesa, escolhendo um bagel e o mordendo, cheio de fome, embora não deixasse de dar uma olhadela no casal. – Gostoso, né? – Ele se voltou para Connor que se aproximava, sentando-se ao lado de Destiny.

O Dragão da Escuridão não respondeu, apenas piscou os olhos vagarosamente aéreos. Ele passou a língua pelos lábios, inspirando. E quase levou um susto ao se voltar para as fadas. Os seus olhos azuis ganharam um discreto interesse ao citar Leah.

Era possível imaginar até os cabelos negros em câmera lenta. Os olhos de Leah brilhavam em uma forma sobrenatural, e seus lábios corados pareciam mais cheios e perfeitos que o normal. A blusinha que usava era preta, justa, ressaltava o decote; e no colo um crucifixo pequeno prateado, com um cordão fino negro que dava duas voltas no pescoço. Ela havia acabado de se sentar a mesa com as guloseimas do buffet e começou a comer, concentrada em saborear a torrada com geleia de uva. Quando um pouco caiu na sua pele, ela inspirou, passou seu indicador e chupou o dedo, depois se secou com o guardanapo. Veronica assistiu a cena sem conseguir se desviar, mesmo que não tivesse interesse em mulheres, Leah havia ganhado um aspecto surreal… Seus olhos pararam brevemente nos outros, e até Fayre havia pregado seus olhos na distração da Kithain.

Veronica começou a pensar se deveria chamar Cassian ou não. Ela mesma não estava com tanta vontade de comer, tantos casais se flertando… Adoraria poder sair com Ross para algum lugar para ao menos terminar alguma conversa, já que não conseguiam fazer isso.

– Você melhorou, Leah? – Fayre perguntou a Pooka.

– Eu? Estou ótima! – Disse naquela voz discretamente rasgada e atraente. – Acho que vou até dar um jeito de sair pela cidade.

– Se você sair, eu acho que você nem volta. – Rosstrider comentou, sincero. – Nenhuma de vocês… – Mas você, principalmente.

A mão do Dragão de Metal caminhou discretamente abaixo da mesa, pousando sobre a coxa de Veronica e dedilhando-a como se tocasse um piano com suavidade.

– Eu topo sair pela cidade. – Rosstrider disse, franzindo o cenho. – E você? – Virou-se para Veronica.

Ladirus arqueou as sobrancelhas, olhando-os. Lembrava-se da alegria que havia sido a festa com as fadas. Havia um clima sensual entre elas. Por isso se sentia tão agitado? Não. É o meu coração. Se todo esse aspecto havia trazido até mesmo uma malícia à calma de Connor, não poderia se culpar pelo calor. O Dragão da Escuridão bebia um suco de uva e tentava não olhar demais para toda a movimentação sensual de Leah, naturalmente atraente, mas não conseguia. Alicia, discretamente, cutucou Leah. “Acorda, amiga”, silabou quando teve os seus olhos.
Aisha se aconchegou a Acksul, segurando-o seu braço e ignorando a comida. Leah estava chamando atenção demais, e nem ela conseguia ignorar. E na cabeça da Aparentada, eram todas inimigas em potencial. Acksul realmente comia como se não houvesse amanhã. As fadas eram lindas, mas a sua fome estava acabando consigo.

– Polaris. – Ladirus se voltou para o irmão, desprendendo-se de Leah com relutância… – E a Arty?

– Arty não quis descer. – Ele respondeu, bebendo do vinho de Rosstrider. – “Estou morrendo de sono”. – Ele imitou a voz da Pooka. – Aisha viu que insisti. – Deu os ombros.

– Ah… – O Dragão da Água apertou os lábios e se voltou para Audrey, observando-a em seus olhos. A força de vontade que precisou exercer para não beijá-la até corou o seu rosto.

“Cassian…?”, Veronica o chamou gentilmente, apenas para avisar, e logo cortou a ligação. “Leah está tomando café conosco.” Ela sorriu para o nada ao sentir a mão em sua perna, acariciando-a gentilmente, e respondeu tocando o pulso dele com a ponta de seus dedos.

“Caralho, eu ‘tô descendo… Vou só me trocar!”, ele respondeu antes que a ligação terminasse.

Os olhos azuis de Connor deslizaram até Veronica e um discreto e breve sorriso malicioso, de escanteio em sua boca, surgiu em seus lábios perfeitos.

– Claro! – Olhou-o – Vai ser divertido. Ainda não tive a chance de conhecer vários lugares daqui.

– A gente deveria ir também… – Aisha disse a Acksul, agarrada a ele ainda. – Mas precisamos pensar onde. Vou perguntar a meus agentes.

– Bem… A piscina do hotel também é fantástica. – Veronica disse, pois sabia que até escolherem um local que ela pudesse e quisesse ir, demoraria algumas horas.

Era melhor saírem. Rosstrider já estava se sentindo viajando nas coisas que percebia e não queria processá-las naquele instante e a companhia imponente e atraente de Veronica estava sendo uma luz no final de um túnel escuro.

– Eu quero sair. – Alicia anunciou. – A não ser que esta piscina seja enorme e cheia de gente interessante, eu vou me lançar no mundo.

– Nem me fale! Eu preciso sair também! – Destiny riu, animada. – Eu quero me jogar na farra hoje e ninguém me segura!

O toque de Alicia fez a Fada erguer seus olhos e inevitavelmente se deparou com Connor… A Kithain Husky sentiu-se automaticamente intimidada. Não havia o notado chegar, e isso a fez se sentir ainda mais distraída do que deveria. Ela sorriu brevemente e ergueu a mão para o copo, bebendo um gole do suco e esquivando o olhar para o lindo lustre que havia no centro do salão. Quando desceu seus olhos, encontrou-se com os de Fayre, acenou timidamente para a colega e observou Connor discretamente mais uma vez.

Os lábios do Dragão se entreabriram vagarosamente ao se encontrar com os exóticos olhos mágicos. O azuis do Dragão se estreitaram brevemente. Ele suspirou, desviando-se para a mesa e bebericando do primeiro suco que viu em sua frente. Os olhos diretos retornaram aos dela enquanto brincava com o canudo dentro da boca. “Talvez seja educado que eu te confesse que estou ouvindo tudo o que você está pensando… E dizendo ‘sim’ para uma dessas questões…”.

– Sono? – Estranhou – Eu vou ver se ela precisa de algo. – Fayre disse rapidamente ao sentir o olhar de Ladirus por quase tempo demais do que poderia aguentar. Queria tanto beijá-lo e tinha certeza que isso ficaria, em breve, óbvio para todos na mesa.

Com os seus dois irmãos presentes e o terrível controle que estava tendo para não pensar qualquer besteira, Ladirus se ergueu assim que Fayre o fez. – Eu vou com você. – Disse a ela. – Talvez esteja abalada com alguma coisa. Nós já voltamos. – Disse-lhes.

Acksul esboçou um sorriso precisamente cruel em seus lábios selados. – Claro. – Respondeu, olhando-os ir.

“Você pode o que…?”, Leah sentiu o ar fugir do seu peito e encontrar dificuldades em recobrar. Mesmo ele dizendo que já havia um sim para algumas perguntas, ela havia acabado de esquecer quais eram todas elas… Exceto a que se perguntou se teria chances com alguém que parecia tão interessante e inteligente quanto Connor. Ela cobriu a própria boca por um instante e fitou a refeição em sua frente “Existe como eu evitar isso? Se for involuntário… Eu sinto muito…” Mas agora só conseguia pensar no Dragão. “Muitas informações hoje” E tentou dispersar todas como uma nuvem da sua mente.

Ele soltou um riso breve. “Você só pode evitar pensar… Eu faço um esforço muito grande para bloquear os pensamentos alheios. Eu estou mais do que acostumado a ouvir intimidades…”. Connor bebericou o suco, olhando-a de soslaio.

– Yeeah! Vamos começar agora. – Nikki comemorou com as meninas, ainda que achasse exagerada toda felicidade delas, era engraçada. – Vamos, então? Manda uma mensagem quando achar algum lugar, Ash. – Veronica disse a ela, tocando a mão da loira brevemente.

Aisha não estava nada feliz. Deixada de lado! Por que as Shaped estavam brilhando tanto de repente? Polaris fitava a namorada de soslaio enquanto mastigava, tentando aplacar a fome que não passaria enquanto não pudesse caçar. A atenção nela com as fadas era tamanha que ele começou a recear que ainda sobraria para ele à noite.

Veronica se ergueu e fitou Connor brevemente, com seu sorriso selado, como se não tivesse entendido qualquer coisa que ele pudesse ter notado. Talvez tivesse sido melhor não avisar Cassian… Provavelmente ele assustaria Leah de novo. Mas não era mais seu problema. Estava ansiosa para dar uma volta com Rosstrider.

– Vamos e comemos em outro local, se quiserem. Mas vamos bater perna e é agora. – “Aí a gente as despista e pode rondar para algum local. Estou ansiosa por mais das cantadas”. Nikki disse divertida na mente de Ross.

– Comer em outro local… Sim, aceito. – Polaris assentiu rapidamente. – Vamos, Ash! Você não era a tal rebelde que não ligava para a reputação? Estamos em Las Vegas, querida!

“Se eu me perder contigo, eu não quero achar o caminho de volta”, Ross respondeu, sorrindo para si ao abaixar a cabeça.

Ele olhou discretamente de Connor para Leah. Destiny, entre eles, só olhava para frente. Ela estava tão empolgada como se fosse consigo. O irmão caçula não era inclinado a se envolver com ninguém e talvez só estivesse admirando a beleza estonteante da fada, mas… E Cassian? Ele estava tão empolgado com ela… E por azar

Os olhos azuis de Connor se voltaram para Ross, observando-o neutro.

É verdade, ué. Rosstrider se levantou quando todo mundo começou a fazer o mesmo. Eu vou me doer por Cassian. Eu estou ligado nele e ele está agoniado naquele quarto, se arrumando igual um doido.

“Oh…” Ela o escutou e processou a informação com cuidado. “Estou sem graça. Minha cabeça está a mil agora. Quer dizer que está escutando todo mundo…” Ela deitou o rosto, como um filhote cheio de perguntas na mente. “Existe alguma chance de fazermos algo por aí e conversarmos?” Ártemis ficaria brava? Desviou o olhar para pensar em outra coisa.

– Cassian está descendo. – Rosstrider disse, apertando os lábios.

– Ah! Vamos na frente? – Alicia propôs para Destiny e Leah. – Até ele descer!

Piscando os olhos vagarosamente, Connor ainda fitava Rosstrider quando ouviu o convite de Leah. O Dragão da Escuridão passou a mão pelo pescoço. “Eu juro que estava prestes a deixar pra lá, mas acabei de receber um convite…”, disse ao irmão.

“Sério…?”, Rosstrider perguntou, surpreso.

“Pois é…”, Connor respondeu, também surpreso. Gaia. Sinto muito, Cassian. Connor se voltou para Leah, sentindo os olhos de Destiny também em si mesmo quando se curvou para sussurrar para a Kithain:

– Sim… Existem várias chances, Leah. Principalmente, agora…

Destiny entreabriu os lábios, olhando-o. Jesus, que sotaque maravilhoso.

– Mas eu me preocupo com a minha segurança também, né! – Aisha disse a Acksul, nada inclinada a sair com as meninas. – E vai ser chatíssimo ser perseguida. Vamos ficar pelo hotel, tá? – Ela pediu ao namorado.

– Hm, tudo bem. – Polaris assentiu para ela, tocando-a em seu rosto. – Eu estou apenas com saudades de você. Onde você estiver afim de estar, por mim, está ótimo. – Ele abriu um sorriso largo.

“Você está melhorando nisso…” Nikki provocou com um sorriso na voz, aguardando o restante. “Veremos se vamos nos perder…”.

“Oh, aí não… Preciso resgatar de algum lugar a minha alma pedreira”, Ross disse.

– Ah, eu… – Leah coçou a nuca e pensou em Cassian, e o súbito receio que alimentou dele. Lembrou-se do acontecimento e sentiu o frio na espinha. – Vamos? Eu acho… – Entreolhou-se com Connor, mais interessada na companhia dele no momento. Ao ver a dúvida em Leah, Veronica guardou o pensamento para si “Xi…”.

Ao que passo que Connor concordou para Leah, Polaris arqueou as sobrancelhas e abriu um sorriso surpreso. O caçula passou atrás de si, ao lado da belíssima fada e suas amigas logo atrás. O Dragão da Matéria fitou Ross e o irmão lhe deu um sorriso antes de seguir Veronica.

– Podem ir. Eu aviso o Cassian. – Polaris disse com uma voz cheia de humor enegrecido.

O sorriso de Leah foi tão grande e sincero para Connor, que Aisha finalmente notou. Rosstrider e Veronica, Leah e Connor? E o Cassian? A cantora teve um sobressalto e entreolhou-se com Polaris. Ela acenou para o grupo que se distanciou, observou a empolgação de Leah mais uma vez, e resolveu que iria comer também conforme eles iam. Leah e Connor! – Oh, meu deus. Eu não acredito. – Aisha verbalizou quando eles se foram. No meio daquela confusão, ao menos estava perto do seu namorado.

– Oh, nem eu. – Polaris respondeu, fechando os olhos e começando a rir. Que situação maluca! Tantas coisas. Ainda estava tentando se localizar no encontro peculiar de Fayre e Ladirus… Realmente… – Terei que dar uma notícia desanimadora para o Cassian.




Invejava um pouco o seu querido irmão Rhistel. Não pela mulher que estava ao seu lado, embora Blair fosse perfeita na opinião de Ladirus em vários sentidos, mas pelo fato do irmão de poder simplesmente sair de mãos dadas com ela depois de um beijo quente sem se importar com nada além dos seus desejos. O Dragão de Água ainda tinha muito a ser acertado. E, por alguma razão, apreciava as garotas mais intensas e emocionais que conhecia. Quando a porta do elevador fechou, Ladirus envolveu Fayre pela cintura e buscou por seus lábios. Precisava daquele beijo. O seu corpo colou o dela contra a parede do elevador, sentindo o seu calor subindo rapidamente. Queria muito fazer amor com ela naquele instante, mas nunca se perdoaria por deixar Ártemis sozinha… Sem saber o porquê de ela estar sozinha… O que havia acontecido…? Ele fitou Fayre, encarando os seus olhos doces… – Eu te amo… – Sussurrou. – Obrigado… Por estar aqui comigo…

Finalmente sozinhos… Fayre aproveitou cada instante daquele beijo, fazendo-os favor de apertar todos os botões do elevador e manter a porta fechada com sua Mágika a cada andar. Beijos profundos, cheio de desejo do seu amor… Como aquela história se tornava dolorida! Mas também ascendia uma chama intensa no seu peito por saber que era amada como o amava.

– Eu também… – Tocou-o no rosto o olhando ao afastar minimamente, sentindo a respiração dele em sua pele – Eu não deveria vir… Eu não sei… Se é a melhor opção… Mas essa história está me matando cada hora que me diz que não há nada resolvido… – Ofegava, encarando-o entristecida, eufórica – Eu… Não quero mais me esconder… Eu preciso disso resolvido… Não quero mais ser a segunda, Ladi. Eu preciso que saibam que eu te amo e te quero…

O seu coração se apertou, mas também se sentiu ansioso. Ladirus respirava profundamente enquanto a olhava. – Eu sei, Rey… Eu sei, meu amor… – Ladirus ofegou, observando-a. – Eu senti na sua voz no celular… Eu imaginei que viria… – Como não imaginaria? Fayre era um fogo ardendo quando queria alguma coisa e nunca ficava em paz até ter… – Eu não quero te esconder de ninguém… – Sussurrou, avançando e mordiscando o lábio inferior dela. – Antes de se afastar, resfolegando. – Você está tão linda… – Ele a observou. – Gaia, você sempre está linda… – Ladirus sentiu seu celular vibrar, mas não o verificou.

As mãos de Fayre estavam na cintura dele e os os olhos em seus olhos, que se fecharam brevemente ao sentir a mordida em seu lábio. Seria de ajuda se o prédio tivesse cem andares, ou que soubesse congelar o tempo… Ele dava todas as cartas mostrando que a amava e por que se sentia tão insegura? Amor te deixava insano?

– E você está sempre impossível. Eu me pergunto todo dia que tipo de feitiço você colocou em mim. – Sorriu e negou, desviando o olhar brevemente. Fayre o beijou uma última vez quando a porta se abriu no andar de luxo do palácio que ele aquele hotel era. A maga encarou o corredor de carpete vermelho e fitou Ladi em seguida. “E se… E se…” começou a rondar sua mente, mas achou melhor tentar se acalmar.

A risada breve dele se mordeu com um sorriso. Ladirus deu espaço para que ela saísse na frente do elevador embora assumisse a frente longe em seguida enquanto caminhavam pelo corredor largo. Ele observou aos arredores brevemente quando as memórias de sua primeira noite com Ártemis lhe vieram à mente. O silêncio era total, pois o restante dos poucos quartos estava comprado, isolando as garotas em sua privacidade.

Ladirus inspirou e encarou a porta dela como se estivesse prestes a ter que mudar de forma e lutar. Ergueu o punho e demorou para bater duas vezes na nela. – Gatinha, sou eu… – Disse-lhe. – Mas não estou sozinho… ‘Tá? – Ele pousou a mão na maçaneta e abriu a porta vagarosamente.

Fayre estava acostumado a vê-lo telefonar para ela, mas sabia que seria estranho vê-lo perto dela… Assim como deveria ser para Ártemis. A maga ficou encostada na parede, esperando-o usar da exagerada cautela para abrir a porta. Ou não tão exagerada. Se Kithain tivessem Fúria, Ártemis representaria a melhor definição, pois era possível sentir seu estresse em energia, e logo em seguida algo se estilhaçou contra a porta antes que Ladi a abrisse totalmente. Audrey prendeu o ar ao se afastar com o susto.

¡No quiero hablar! – Ártemis esbravejou chorosa, outros objetos começaram a voar contra a porta, um atrás de outro, e Fayre continuou atrás da parede onde era mais seguro. Não conhecia uma palavra em espanhol, mas tinha certeza que era um aviso.

Ladirus não estava surpreso. O seu olhar para Fayre foi neutro e conformado. Seria mais imprevisível se fosse recepcionado com doçuras, depois que tudo que havia ouvido de Connor e Tayrou sobre a Kithian. O Dragão piscava os olhos, fechando-os, a cada objeto que perdia a vida na porta e esperou uma pausa para poder falar e ser ouvido. – ¡Pero tenemos que hablar! ¡Para! – Ladirus elevou a voz, tentando mais uma vez abrir a porta. – Audrey não fala espanhol…

Audrey os olhos assustada… Aquilo parecia que ia ser mais um combate que uma discussão. Parecia justo que ela extravasasse daquela maneira? Desde que não saísse ferida. Um travesseiro voou contra a porta, pois os objetos que realmente machucavam estavam pelo chão, estilhaçados e quebrados, e havia até alguns pontiagudos na madeira. Audrey fez um sinal que entraria quando ele fosse na frente… Mas antes mesmo que conseguisse ver o rosto da Fada, Ártemis correu para a suíte e se trancou, criando uma segunda barreira entre eles. Fayre ficou pela porta do quarto, mas entrou quando se sentiu segura…

– Problema é dela. Vai embora. – Ela disse soluçando do outro lado da porta – Eu não quero saber. No quiero. Você escolhe agora. Eu só vou sair daqui quando dizer.

Fayre segurou o ar um instante e olhou o quarto revirado, espelhos e porcelanas partidas. Aquela situação a trouxe certo desespero:

– Arty… – A maga tentou começar.

¡No! Estoy herida. – Segurava a porta – Escolha…

Escolha. Ladirus arregalou os olhos. Não posso escolher. O Dragão tocou atrás do pescoço e se massageou. O coração forte disparava e ele passava a respirar com mais intensidade. Não posso escolher. O Dragão caminhou até a cama e se sentou. Cada passo não foi assistido, mas alguma sorte o fez não pisar em nada. Ele apoiou o rosto na mão ao se curvar, olhando para a porta.

– Não é questão de escolher, Ártemis! Eu quero tentar. Eu me importo com você… Eu quero ficar com você, ok? – Fayre pedia em sua voz emocional. – Você pode escutar?

A Kithain ficou em silêncio, mas foi possível escutar que ela reforçava a porta da suíte, colocando um armário em cima dela.

Ladirus se voltou para Fayre, lançando-lhe um olhar terrivelmente apaixonado. A importância que ela estava dando para situação o emocionou. Ele sabia que não era exclusividade da sua situação, pois elas tinham se aproximado tanto… E essa aproximação parecia somente ter complicado mais.

– Nós não vamos entrar, se você não quiser que entremos, Arty… – Ladirus disse. – Eu posso ir embora, se você quiser também… – Ele cobriu o rosto com as mãos. – Mas se disser que vou escolher entre vocês, eu vou acabar mentindo.

Fayre assistiu Ladirus, esperando algum sinal de vida da fada… Demorou quase um minuto todo até a resposta vir encharcada:

– Então vai embora! Podem ir! Eu não quero mais saber dessa história. – Chorava, nervosa – Acabou! Se é que tinha começado!

Fayre se aproximou da porta, e tentou empurrar a madeira, mas a forte energia bateu-a selando a fresta, a Maga se afastou surpresa.

– Eu não quero vocês aqui… No puedo, no quiero. – Ofegava. – Adiós.

Ladirus se levantou, caminhando até Audrey e pousando a mão em seu ombro. Ele negou com a cabeça para ela, pedindo silenciosamente para que não insistisse. O seu coração batia tão forte que estava o deixando surdo. A mente transtornava buscava palavras para dizer, mas não era como se conseguisse insistir em alguma coisa que parecia fazer mal a ela. Não aguentava ver nenhuma das duas chorando. Quebrava-se. Era um ponto fraco dentro do seu coração. Preferiria sofrer a vê-las sofrendo. Não. O Dragão inspirou, segurando as emoções que inundavam os seus olhos por um instante curto demais. – Eu não quero… Fazer nada que você não queira ou que te machuque… Ou que te perturbe… Qualquer coisa do gênero… Como eu já te disse… Como já disse para a Rey… Eu não quero nunca me tornar um motivo de dor… – Ele falava, sentindo os olhos transbordarem. – … Porque eu sou assim. Porque meu coração é assim… E nenhuma das duas tem culpa disso. Só eu. – Concluiu, fungando. – Eu sinto muito. – Ele resfolegou. – Eu vou embora, gatinha… Desculpe te estressar assim… Eu te entendo… – Ele passou a mão pelos olhos. – É tudo esquisito demais… Imagino que não seja nada com o que você sequer um dia sonhou… – Ele afastou alguns passos da porta. – Eu sinto muito…

Podia sentir que ela estava abalada do outro lado, mas mantinha aquela pesada barreira como se fosse a solução mais sensata e centrada que poderia tomar. Afastar com violência duas pessoas que haviam a ferido, mesmo que as amasse. Fayre os escutou, agoniada por não poder fazer nada naquele instante… Embora tivesse vontade de derrubar a porta e tomar qualquer atitude que pudesse. Ártemis ficou em silêncio do outro lado, tentando esconder os soluços ao morder a boca, mas deixando-os escapar audíveis.

Fayre se afastou alguns passos, observando Ladi e a porta. Seus olhos acabaram aguados naquela onda de emoções…

– Eu acho melhor… Eu esperar aqui fora.

Fitou o corredor e se distanciou para lá com passos devagar.

Difícil. Ladirus ouviu o silêncio das lágrimas dela e sentia o transtorno de Audrey ao seu lado. Muito difícil. Os dedos pousaram sobre o coração, sentindo a camisa levemente úmida. Nem sabia mais se deveria ficar ou sair andando como havia proposto. O silêncio sempre o deixava perdido. Era uma proposta aberta em suas mãos, sem expressar o que ela realmente queria. Ladirus observou Audrey se afastando e se sentiu ainda mais perdido na situação. Ele fechou os olhos, inspirando. Se pudesse pedir um conselho a Nyra, o que ela diria? Ártemis não estava chorando em frente a porta…

O Dragão abriu os olhos e voltou-se para o carrinho com comidas esquisitas. Caminhou até ele e abriu um copo de água, jogando o líquido nas duas mãos. Sem refletir mais uma vez, ele fechou os punhos, caminhou até a porta ignorando a sensação esquisita de magia que sentiu dela e desferiu um único soco.

O barulho da porta voando e batendo contra a bia e o espelho foi ensurdecedor. Ladirus assistiu-a cair no chão, fazendo mais barulho ainda, e pisou nela quando a madeira parou, entrando no banheiro enorme e buscando Arty com o olhar.

Se houvessem mais pessoas no andar, com certeza criaria um imenso alarde. Fayre se afastou por proteção, sem saber exatamente da onde veio o barulho, e olhou para dentro do quarto do corredor.

Ártemis estava dentro da banheira seca e vazia, sentada e um pouco encolhida. Seus olhos arregalados o chamavam de insano, a expressão exclamada, mas ela não verbalizou pois o pensamento foi rápido. Suas mãos agarraram a porcelana da banheira decorada, porque queria abraçá-lo, mas não queria se deixar ir, também estava sem se preocupar com as lágrimas quietinhas que corriam de seu rosto manchado. Já chorava há algum tempo.

– Você… – Ela ofegava com dificuldade em falar, seus olhos subindo por ele e parando nos dele – Disse que não queria me machucar… Mas me machucou…

Ladirus ousou dar um passo, mas quando a porta oscilou demais, ele parou. O amor dele precisava doer tanto assim? O Garou se agachou apoiando uma mão no chão. Odiou-se por vê-la daquela forma e por um instante, preferiu não encará-la. Os olhos foram para o chão antes de retornarem aos lânguidos e magoados de Ártemis… – Nunca foi minha intenção te deixar dessa forma. – Ele sussurrou, deixando as lágrimas irem… – Eu prefiro te ver sorrindo e serelepe por aí… – Resfolegou. – Nem que eu tenha que estar longe para isso acontecer…

Ártemis o olhava com o desespero na garganta. Não era nada como queria que tivesse acontecido. Seu coração batia muito dolorido, e abrir-se podia ser uma tarefa difícil demais para a Kithain. Mas ainda era tão hipnotizada por ele que não conseguia desviar seus olhos…

– Você prometeu que era só eu e você… – Murmurou sentida – Eu não estou preparada para isso… – Cruzou os braços sobre a borda da banheira e escondeu o rosto entre eles. – Eu não posso… E eu não vou ficar bem se você ficar longe… Eu nunca mais vou ficar… – Soluçou, apertando os olhos – É justo, não é…! Eu nunca estava lá… – Negou, pensando em linhas que explicassem algo na sua mente conturbada – Eu devia saber… Que não era tudo bem… Não era o suficiente…

– Gatinha… – Ele sussurrou. – Não é nada disso… Nunca haveria de ser pouco. Não havia sido menos. Sempre em medida. Sempre ideal. Eu te amo assim, serelepe, nervosa, amável e risonha. Tão sensual quanto uma menina. Uma mistura em uma fada. Eu te amo assim, fazendo sucesso, agarrando oportunidades… E quando tem tempo para mim, você está comigo. Quantas pessoas você que estão presentes, mas estão ausentes? Nunca foi isso. Você não falha comigo quando corre atrás dos seus sonhos…

Ele se ergueu e caminhou até a banheira, cruzando os braços sobre a beirada ao se sentar de lado, olhando-a…

– Não é como se uma bastasse menos que a outra… Ou uma completasse a outra… Eu… – Ladirus mordeu o lábio, desviando-se. – Eu amo você. Eu a Rey. Eu… Eu amo tanto que não prenderia nenhuma das duas… Se vocês não quisessem ficar comigo… Pois nada me faz mais feliz do que de vocês duas transbordando risos. Se eu estou te fazendo mal… Por me sentir assim, eu não tenho porque ficar, gatinha… – Fez uma pausa, resfolgando quando as lágrimas caíram. – Eu… Acho que você… Pode acabar encontrando alguém que saiba… Fazer você feliz.

Vê-lo se aproximar, morder o lábio, falar sussurrado… Ártemis o assistiu em silêncio e melancolia. Não tinha capacidade de colocá-lo longe. Nem de abrir-se como eles propunham. De repente ele havia ficado tão platônico. Tão distante. Uma pintura perfeita, não mais sua. O resto do mundo nem tinha cor, se a perguntassem. – Cariño… – Ela fez um beicinho, uma expressão chorosa. Ergueu a mão para tocá-lo no rosto e sentir sua lágrima, e logo a afastou. – Melhor eu ficar sozinha… – Ajeitou-se de costas para ele na banheira e fitou a parede do outro lado. Encolheu-se com as mãos cercando as pernas dobradas junto ao corpo. – Melhor eu… Ficar sozinha…

Assistiu-a se virar, no fundo, descrente, agarrado a uma pequena e miúda esperança de que pudessem, de repente, se entender. Ladirus ofegou. Silêncio. Silêncio outra vez. o coração retornou àquela batida. Silêncio. O seu braço se esticou para tocá-la, mas embora quase sentisse o seu calor, recolheu-o antes que encostasse nela.

Ele se ergueu como um animal ferido, de súbito, rápido e ágil. Saiu do quarto como um cachorro que hostil e fechou a porta com uma suavidade de quem encerrava uma leitura sem crer no final. Ladirus olhou para Audrey. As lágrimas estavam descendo por seu rosto sem que pudesse controlá-las. Silêncio. Ele caminhou até ela e tocou sua testa à da Maga.

Fayre o acompanhou sair, e teve esperanças até o segundo que ele fechou a porta arrastando metade daquela bagunça de estilhaços para o corredor, mas guardando a destruição para trás. A maga o tocou no rosto e beijou sua lágrima.

– Sinto muito. – Ela disse, sentindo parte daquele vazio, já que havia presenciado aquele longo relacionamento, e participado em teoria. Pensou em todas as consequências, mas não conseguiu ir além da preocupação – Sinto muito, Ladi. – Abraçou-o, apoiando a cabeça dele em seu ombro e fitando o teto. – Eu… – “Estraguei tudo?” – É melhor voltarmos. É melhor…

– Sim. – Voltarmos. As lágrimas correram mais intensamente, mas ele concordou, erguendo a cabeça devagar a fitando-a desnorteado e voltando-se para a porta fechada. – Sim… Eu quero voltar… – Ele murmuro, fungando. – Eu levo a gente… – As mãos dele buscaram pelas dela e levou-os para o Umbral, recuando um passo.

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