New Rules

Categorias:Romance
Wyrm

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Com belezas tão diferentes sempre souberam que nunca haviam dividido exatamente o mesmo sangue – mas enfrentar um mundo sozinhas sempre havia sido um desafio árduo de encarar sem pequenas ilusões.

Julia estava sentada na poltrona reclinável da sala do seu quarto. Usava um roupão preto e tinha seus pés inchados sobre um puff. A barriga estava redonda e o bebê era extremamente agitado; Sophie já havia colocado seu ouvido para escutar o coração e sentir os chutes depois de muito insistir. Exatamente como imaginava da sua irmã, ela não tinha uma personalidade materna, mas acariciava a própria barriga a cada momento pensativo.

Sophie estava em um roupão branco, maquiada, unhas feitas, pronta para sair. Nunca foi vaidosa, dependeu muitas vezes de Julia para vestir o rímel e o delineador ou pegar emprestado os batons. Julia também nunca havia se considerado tanto, mas o tédio proporcionado pela gravidez a fazia perder tempo vestindo algumas roupas e maquiagens. As irmãs Volkov visitavam-na com uma frequência exagerada e gostavam de dar palpites, trazer mimos, roupas, acessórios, inventar novos nomes para a menina que nasceria. Como se a família precisasse de mais mulheres… Julia torcia para que fossem cabelos escuros como o seu, mas o gene Volkov parecia muito forte. Ou não. Pois, Sophie era uma bela Volkov – sem a maquiagem, podia ostentar os lábios cheios, um rosto harmonioso, e especialmente o jeito único de não ligar para o que ninguém achava da sua aparência. Ela sairia de camisa e shorts se quisesse e iria parecer bem, como também poderia vestir o salto mais alto e a maquiagem mais forte e impressionar. Era daí que morava a inveja que todas as garotas alimentavam por ela cruelmente desde o período escolar. Ela dormiria com quem quisesse e ia dizer que era uma grande paixão, e mover em frente quando achava que não poderiam mais oferecer nada. Aquele tipo barulhento indomável, e agradável. E se abria inteira… Fazia amigos, não julgava, tocava e queria ser tocada, abraçava e queria ser abraçada. E ainda a grande qualidade de ser apenas confiável; um tipo de pessoa difícil de se ter por perto. Ao vê-la tão viva e confiante fazia Julia se lembrar do passado e até sentir um certo arrependimento de tê-la invejado igualmente e tentado destruir a vida dela algumas vezes. Julia sempre se sentia um buraco negro, sugando e demandando, enquanto Sophie era um Sol, entregava e curava… Ao menos podia se sentir metade grata de tê-la em sua vida. Com aquelas tardes pensativas, havia enxergado a importância de ter uma amiga que não a julgava mesmo nos períodos mais baixos da sua vida… E foram muitos…

– Achei que não te teria por uma tarde… Doce-Valquíria…

Sophie a olhou, riu e negou, voltando seus olhos para a televisão que passava um show antigo de Jullian, o ídolo da cantora. Mais essa história. Doce-Valquíria havia saído do túmulo e voltava se reapresentando para a Sociedade. Estrela e Chay a acompanharam pelas cidades, confirmando a história insana da Galliard. Exima guerreira do Coração-de-Thor, que destruiu nazistas e campos de concentrações inteiros ao lado das lendas. Feito uma fama que estava escrito nos livros e ainda era repassado em contos de fogueira. Ela está viva! E agora se anunciava como cantora, abrindo shows de Estrela Cadente. Uma Cria de Fenris. Auto declarada Volkov. Mas lá estava ela fazendo o que achava.

– Você se saiu bem… Estou orgulhosa.

As palavras da irmã fizeram Sophie sorrir, engolindo o sorvete de calda quente mais rápido do que deveria. Para Julia dizer aquilo, ou andava mais emotiva, ou realmente acreditava no que dizia:

– Bem… Você também se saiu…

– Eu? Como?

Sophie pensou um instante.

– Eu sempre achei que encontraria alguém antes de você, por exemplo… – Sophie comentou movendo os pés para cima de um puff também. – E você está tão bem…

– Como assim? Você e o Luke não…? – Julia arqueou uma sobrancelha. – Sério?

– Sério… Acho que não estava muito difícil adivinhar… – Chupou a colher e fitou a imensa televisão de plasma, pensando na trajetória – Eu estava no Thor e ele tinha suas coisas aqui. Era para eu ter voltado antes, mas me envolvi em alguns assuntos, Estrela estava lá… Nós gravamos uma canção juntas. Eu comecei a sair em notícias, ele começou a ficar mais ciumento. Vários coisas! A gente tentou se ver algumas vezes e brigávamos. Ele nunca é claro sobre as coisas dele… Ele não me quer fazer minhas coisas… Foram vária-

– Coisas. – Julia terminou, Sophie sempre se enrolava em explicar as histórias. – Parece um relacionamento da vida real.

– Tentamos… Eu ainda o amo… Mas estou mais calma agora… – Terminou de explicar. – Eu parei com isso.

– Com o que? – Julia raspava a tigela. – Droga. Eu odeio essa vontade de comer… E eu odeio admitir… Chocolate virou meu fraco…

– Você está mais bonita. Chocolate não está te fazendo mal… – Sophie disse, admirando-a como costumava. – Eu estava no Thor, e havia novos Garou de outra Seita que foi perdida para a Wyrm. Fiquei os ajudando se estabilizar por lá, entramos em combate para eliminar os inimigos, e, estava bem envolvida em toda a política e ação junto deles, muitos mistérios! E… quando vi estava quase me envolvendo com um deles… – Mordeu o canto da boca e soltou o lábio devagar – Aí… A Estrela percebeu que eu estava um pouco triste e desesperada demais, e ela me ajudou… Como eu a ajudei uma vez com a Chay… Estamos nos desintoxicando de homens. Sabe? Prometemos a enviar mensagem toda vez que acharmos que vamos nos relacionar por aí. Eu só vou ficar com alguém que eu tenho certeza que eu goste…

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– Vocês deviam ter me colocado nesse grupo antes. – Julia indicou a própria barriga com o olhar. Sophie arregalou os olhos e os estreitou:

– Você já estava grávida quando cheguei.

– Eu sei, besta, estou brincando. Enfim…Você sempre pensou amar todos. – Julia observou – O que era cansativo. Mas devia ser verdadeiro em algum ponto.

– Claro que era. – Sophie abaixou as mãos, apoiando-as com a colher e o potinho sobre as coxas. – Mas… Não com todos. Embora eu tenha chorado todas às vezes…

– Como você vai saber que não é verdadeiro o que sente…? – Julia se incomodou com o Solda janela em seu rosto e o cobriu.

– Eu não sei. – Deu de ombros e ergueu-se para encostar a cortina e voltar ao seu lugar. – Como você sabe que gostava do Hayden?

– Eu… – Julia franziu a testa – Não sei… Insistência dele. Ou falta de insistência. Não tenho certeza… Eu não planejava… Eu ainda não sei como parei aqui. Ficar calma é sempre uma guerra diária…

– Bem… Eu também não tenho certeza de nada. Nunca tivemos né? – Sophie empurrou o puff dela com o pé, desequilibrando brevemente as pernas de Julia, que a chutou de leve de volta, brincando.

– Hm… Justo. Vamos ver quanto tempo dura suas noites solitárias… – Voltou os olhos para a televisão, para ver a performance do irmão em um solo de guitarra. Julia sempre tinha a impressão que era um exagero a forma como ele sensualizada com a guitarra, mas ele já havia explicado que não era consciente.

– Eu tenho aprimorado algumas técnicas sozinha… – Sophie disse do nada.

Julia a fitou com vontade de rir e as duas o fizeram juntas.

– Eu conto com a ajuda das minhas amigas também.

– Que? Para…?

– Não! – Pegou o ursinho que estava no chão, parte do presente que havia trazido para a irmã e jogou nela – Não isso que está pensando. Para me convencer a ficar sozinha e bem.

– Que bom. – Julia agarrou o ursinho e o manteve entre os braços – Você sempre foi ruim em consegui-las e mantê-las. Vamos ver quem é mais persuasiva. Elas te dizendo que você não os ama, ou você dizendo que sim.

Sophie a olhou entediada, mas sorriu em seguida, mesmo com as sobrancelhas sérias. – Eu esqueço que você não está do meu lado.

– Nunca. – Mostrou a língua para a irmã.

– Julia! – Riu – Bem, vai ter que me aturar. Vou passar um tempo com as Volkards, parece que a Areia Dourada está meio vazia e ela me convenceu a me usar como uma personalidade para atrair Garou que queiram realmente estar lá, porque eu tenho esse jeito amigável e confiável. – Repetiu s palavras da Ahroun – Vou falar da batalha do norte, e propaganda. Então vou vir aqui todo dia. Lambeu a colher com os vestígios do sorvete – E vou ver minhas outras irmãs postiças também. Mia é tão legal! Ela vai se casar e eu estou hiper feliz. Fazia muito tempo que não via um casamento. Você não pretende, Julia? É tão romântico.

– Cala a boca, Sophie. – Julia a fitou com um sorriso cheio de cinismo – Eu sempre esqueço as ideias absurdas que vem de você. – Arqueou a sobrancelha – Aliás… De onde surgiu Nyxie? Como você conseguiu uma banda…?

– Ah! – Ajeitou-se na cadeira reclinada novamente e bebeu água da garrafinha. – Estrela me levou até o agente dela… E aí tivemos uma reunião… Como eles chamam mesmo? – Dedilhou o queixo tentando se lembrar. – Brianstorm? Bem… Tanto faz… Eles perguntaram… ‘O que você quer ser? Mais Aisha ou mais Estrela.’ Eu disse que queria ser eu… E aí mostramos uma música que gravei… Eles começaram a pensar, entramos em um acordo… Ficaram escolhendo cores, e atmosferas… E aí o homem disse… Harvey! Meu agente. ‘Você não pode se chamar Sophie’.

– Como assim? – Julia a fitava sem entender, chupando os dedos melados do sorvete.

– Sophie parece nome romântico de ‘algum poema romântico’. Foi o que disseram… – Fitou o teto brevemente – Eu adoro meu nome, nem queria mudar… Mas a equipe inteira insistiu… A Estrela disse que era melhor… Aí ficamos a semana inteira pensando… E um amigo nosso veio com a ideia de Nyxie. Que significa Noite em grego. E eu achei a sonoridade legal… Meu cabelo é preto, meus olhos… A coleira no meu pescoço… Estrela é a minha amiga… E aí estava em todo lugar de repente… E as pessoas me chamando assim… Ainda não me acostumei… Mas parecia que dava uma aura misteriosa e forte…

– Eu nunca vou me acostumar. – Julia ajeitou-se na cadeira – Você já lançou sua música?

– Já. E abri alguns para a Estrela. Na Europa eu entrei em uma loja e estava tocando… É muito divertido subir no palco. Eu nunca fui tão bem querida.

Julia riu e negou. – Ok… Deve ser… Eu gosto daquela… ‘Blow your mind’… Quer dizer, eu odeio, mas não sai da minha mente…

– Eu sei. São extremamente pegajosas. – Sophie sorriu orgulhosa – Mas legal mesmo é… Minha banda! Eles são muito bons!

– Hm… São Garou?

– Parentes! Os três… E sempre ficamos rock ‘n roll, e todo mundo acha a gente legal. – Assentia. – Muitos, muitos convites. Estrela me acompanhou até agora, mas vou começar a me apresentar sozinha.

– Parabéns… – Julia disse com um discreto sorriso. – Você merece, Sophie.

– Obrigada… – Inspirou animada – Bem! – Ergueu-se quase um com um salto – Vou me trocar e ver o Sr. Drawn. Eu e a Estrela faremos tatuagens gêmeas, e ela disse que eu podia tentar convencê-lo a fazer isso na gente. Quando o bebê nascer, meu sobrinho, vou convencer a fazer uma também…

– Gaia… Não… Eu já estou arrependida de ter te chamado… – Olhou-a de canto de olho – E sua boca está toda suja de chocolate…

Sophie riu, colocou a língua para fora para Julia e correu saltitando para quarto.

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