Money Power Glory

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Wyrm

Money Power Glory


– O pessoal está piradão nos nossos videoclipes. – Nathan comentou, ouvindo a própria voz fazer um eco. – Cada comentário engraçado.

Os orbes de oceano do Lendário deslizaram até Nathan e ele sorriu seladamente, franzindo o cenho. E eu já com trinta anos. Muito mais do que muitos Garou conseguiam alcançar, deveras. Rei. Jullian apoiou o rosto na mão e retornou os olhos ao celular, digitando para Nyra: “Chegaremos na parte da tarde, pequena estrela. Nós estamos esperando o Acksul retornar…”. Afinal, Acksul estava gravando o último capítulo de Viking, a série que estava o deixando realmente famoso. Ainda custava a Jullian crer no que estava acontecendo na vida do Dragão da Matéria.

A sala de reuniões contava somente com a presença do Philodox, Nathan e Blair. Jullian havia pedido que o almoço fosse entregue na sala, um combinado de saladas, enquanto eles checavam números de controle, o diário da ilha e as finanças que estavam se desenvolvendo muito bem. Apesar dos dois Blackwoods terem lançado o esperado álbum dos The Puppies e muitos dos seus fãs estarem enlouquecidos, a corrente de dinheiro que estava fluindo por outras vias com mais intensidade. A banda paralela ao projeto da Wolf Lady nem chegava aos pés do resto do montante, mesmo com o lançamento dos dois videoclipes de muito bom gosto, filmados nas praias da ilha com a participação de Annik como a noiva dançarina. O faturamento deles era mínimo em comparação aos demais.

– Nós vamos abrir o show da babeno Coachella. – Nathan disse, piscando os olhos vagarosamente. – Ainda não absorvi…

– Está chateado, Nate? – Jullian riu, olhando-o de soslaio.

– Não. – Nathan negou, rindo-se. – Não tanto. Ah… Estão falando aqui que ela é atração mais esperada do Coachella. – O Galliard fez uma careta. Ele checava o próprio celular. – Não somos a atração mais esperada.

– Espero que Acksul não demore. Ela deve estar nervosa… Annik costuma ficar nervosa junto ao invés de ajudar. – O Lendário comentou enquanto retornava os olhos à tela do MacBook diante de si.

– Ela está no Coachella. Deve estar bebendo e fumando. – Nathan disse, despreocupado.

Jullian o olhou, incerto. – Blair, você sabe se Rhistel e Ladirus irão demorar? Ele parou de me responder fazem duas horas… – O Philodox inspirou profundamente – Essa entrevista não era aqui mesmo, em Fox Town? – Ele franziu o cenho. – Blair?

– Desculpa! – Blair sorria para o celular e o desligou a tela quando percebeu Jullian falando com ela. – Ele estava respondendo… – Tentou parar de sorrir, como se a conversa tivesse ido além daquela informação – Eles terminaram agora. Estão perto sim, e indo direto para o festival… Ladi vai tocar uma música para a Audrey. – Blair disse, prendendo os fios loiros –  Vão se apressar.  Nossa… Eu tenho tantos amigos músicos agora… Essa época do ano começa essa agitação, não é mesmo? Eu não estou acostumada. – Confessou e respirou em desânimo – Uma pena que eu e o Remi vamos estar no estúdio daqui a pouco… Ainda bem que Acksul está em um trabalho de filmagens estáveis, mesmo estúdio sempre…  É muito difícil encontrar datas sem conflito quando se faz filmes soltos…

– Eu… Imagino. – Jullian disse pausadamente, notando a empolgação dela e a observando com um sorriso de escanteio. – Eu estou agradecendo que ele voltará para casa hoje. A segurança da ilha não é a mesma sem ele aqui. – Jullian reclamou. – Ladirus e Rhistel eu já nem sei quando vou encontrá-los aqui. Todo o dia é uma coisa…

– Eu sei! Eu também não sei quando ele tem que sair correndo com o Ladi… Mas eles estão animados. Tem ido tão bem… – Blair sorriu orgulhosa. – Rhistel anda um pouco ansioso demais às vezes. Eu vejo que ele fica muito na Internet, e é muita coisa  nova para conciliar…

– A última vez que tomamos café, eu notei que ele não saía do celular. – Jullian disse. – Espero que isso não o deixe transtornado. Aquela amiga dele parece tão ansiosa quanto ele. Eu não consegui ouvi-los conversando por mais de cinco minutos…

– Eu acho que já decorei todo o filme de vocês, Blair. – Nathan comentou com Blair, apoiando o rosto na mão. – Vinny me deu todos os spoilers possíveis na empolgação… O que foi meio triste.– Ela não parece que anda muito feliz. Deixe-a te dar spoilers. – Jullian disse.

– Annie está feliz com a ponta que vocês consideram para ela. Mesmo que ela vá atuar por nem dez minutos. – Nathan franziu o cenho. – O que ela anda ganhando com os trabalhos de modelo acho que dá mais que os The Puppies.

– Não tem comparação. Ela está fazendo muito dinheiro. – Jullian disse. – Ah… Não era hoje que saia o segundo videoclipe da Ártemis?

Blair escutou com um sorriso o fato de Annik estar contente, e tentou pensar no que sabia de Ártemis; a vida da fada andava tão acelerada, que às vezes ela só conseguia compartilhar semanas depois do que acontecia.

– Não… – Blair o fitou atenta – Ela já está no quarto single. Eu acho. Não entendi bem, mas o que mais tem é coisa dela na Internet. Saiu hoje já… Eu ainda não vi…  Ladi comentou que ela estava mais estressada que o normal, feliz e triste ao mesmo tempo. Eu não sei como é possível, mas vindo da Ártemis… É a única coisa que o deixa meio distante às vezes, eu acho… Ele está um pouco chateado por não conseguir ficar perto dela. E ela passando por muita coisa. Aisha fala com ela diariamente… E Fayre… Que eu saiba… Acho que ela anda buscando muito suporte à distância de todos nós. – Pegou o celular e procurou o nome do grupo ‘Shaped Diamonds’, e o nome da música. Blair apoiou o celular na mesa para que eles assistissem também. Blair ainda não havia prestado atenção nos milhões de visualizações, porque estava surpresa com a evolução do grupo. – Não era uma girlband para meninas novas? – A maga perguntou franzindo a testa.

Mais estressada que o normal. Jullian os observava a tela do celular, tentando trazer à mente as imagens do videoclipe anterior que havia visto com todos no dia que saiu. Era sensual, mas aceitável. Esse agora…

– Cara. – Nathan se aproximou, erguendo-se e curvando-se para ver melhor as cinco garotas cantando e dançando… Quente! – Que letra adulta. ‘Tô gostando. Agora sei porque o Ladi está com saudades

Jullian arqueou uma sobrancelha para o Galliard. Se andavam dizendo que a sua amada estrela era sensual sem ser vulgar, o Lendário descreveria o videoclipe das meninas justamente como o contrário…

– Caralho. Está viral! – Nathan apontou para as visualizações. – E elas estão bem… – Ele pareceu procurar a palavra adequada. – Estão gostosas. – Rendeu-se. – Lindas… Menos a gordinha. Destiny?

– Eu não sei. – Jullian franziu o cenho, arregalando os olhos quando Ártemis cantou o seu refrão. – Estou um pouco abalado.

– Nossa… Meio milhão em meio dia. Isso é coisa demais, não é? – Blair perguntou, terminando de ver as cenas. – Eu sempre pensava algo da Ártemis, isso vai mudar qualquer visão. Mas ela está bem bonita. – A maga sorriu discretamente, perguntando-se como seria quando ela retornasse. Essa história a deixava pensando em tantos problemas, que costumava abortar. – Fayre está muito feliz com o sucesso dela igualmente. Todos avoados dentro de casa. Até eu… – Perdeu-se um segundo dentro da própria mente, os olhos fixos na madeira. – Ao menos não teremos mais problemas financeiros… Até o professor Drawn retornou ao estúdio de tatuagem e ficou famoso  depois dos clipes da Nyra.

– O professor ficou sexy de sugar daddy. – Nathan disse sem tirar os olhos de tela um segundo.

– Eu não tenho certeza sobre nossas reservas financeiras. A compra dessa terceira ilha vai pesar um pouco no nosso orçamento, mas eu já desisti de convencer a minha estrela e Aisha. Infelizmente as duas se juntaram contra mim… E de fato… Uma ilha a dez minutos daqui… Nós temos muito a esconder. Vamos comprar. – Jullian passou a mão pelos cabelos. – Enfim… Todas as meninas estão bonitas no videoclipe. Eu só não esperava algo tão sensual.

– Elas não são bebês. – Nathan protestou, rindo. – Logo a Flora está rebolando também.

O olhar que Jullian lançou para Nathan causou um arrepio no Galliard.

– Eu estou brincando, calma. – Nathan riu. – Que bom que a Arty indicou a Mary Ann, não? Com essa ausência toda.

– Isso não tem graça nenhuma, Nathan… É a Flora. – Blair havia dado o mesmo olhar de Jullian, e falado o que lhe veio a mente.

– Mary Ann é moça muito educada, de fato. – Jullian disse, seco. – Blair. Você não acha que Steven está avançando rápido demais? Fiquei pensando quando os vi ontem treinando…

Blair voltou-se ao Philodox e prosseguiu o assunto: – Ele está. Mas… Você acha que isso seria um problema? Eu sei que eu não sou exemplo de nada, mas quando tinha a idade dele esse nível era o básico diário… E isso tudo porque ele também entende a importância de não ser um mago vulgar. Ele leva muito a sério o uso da Mágika e só por isso desenvolve tanto. Estou bem orgulhosa na verdade. – Sorriu animada. – Mas se você achar que eu devo desacelerar, eu posso concordar. Ele é uma criança, e não precisa dominar o mundo. – Dedilhou a mesa pensativa – Eu estive pensando sobre sua sobrinha… Eu a visitei ontem… Ela é muito fofa, aliás. Estamos cheios de bebês lindos na Ilha. – Sorriu risonha – Sadie parece saudável, mas eu senti que há algo diferente… Ela segurou minha mão e foi como um leve choque… Vocês sentiram algo? Eu fiquei curiosa… Pode ser qualquer coisa… Mas não me pareceu coincidência. Julia estava perto, eu não quis preocupá-la, então não comentei, mas pude perceber que ela sente algo também.

– Só sei que ela é uma coisinha linda demais. – Nathan comentou, pensando na bebê perfeita de Julia. – E a Julia está muito engraçada como mãe.

O Lendário os morava, refletindo…

– Senti, mas não acho que seja uma coisa ruim. Nascimento da Sadie só confirma uma desconfiança minha. – Jullian molhou os lábios antes de prosseguir. – Que não somos Garou… Nós, Lobos-Magos. E agora Sadie é uma híbrida disso.

– Senão ela seria Impura. – Nathan constatou, franzindo o cenho. – Nós não temos Impuros?

– Creio que não. – Jullian o olhou.

– Eu também acho… Mas eu desconfiaria que o sangue Volkov tem participação nisso. – Blair analisou, pensou sobre todos os estudos que tinha sobre o sangue Blackwood. – Eu posso pesquisar algo… Acho que farei isso… – Fez um desenho na sua agenda própria, anotando em letras medievais na lista. – Já temos alguma ideia do que faremos na terceira ilha? Eu consegui terminar o ritual com o Polaris de proteção… Qualquer barco vai querer passar longe. E câmeras não vão funcionar. Realizei aquele ritual de novo que criamos para a Ilha Estrela… Lembra quando os turistas tentaram enviar um drone? – Negou – Humanos não deveriam ser tão curiosos.

– Não. Ainda há muito o que se explorar nela. A vida selvagem é muito rica. Eu pensei em um parque… Ou algo assim. Nós discutiremos na próxima reunião. – Jullian disse, coçando a lateral do rosto.

– E você terá uma cadeira, Blair. Já foi decidido. – Nathan disse.

– Sim. – O Lendário concordou. – Ja era tempo. – Suspirou. – Sinceramente eu estou mais preocupado com esses rituais sangrentos surgindo a torto e a direito. Precisamos organizar as Alcateias para ajudarem a União Lupina. Eles não estão dando conta. Preciso falar com Sophie… – Ele anotava os seus afazeres.

Blair sorriu com a notícia: – Obrigada. – Riu animada. O segundo assunto a deixou incerta e igualmente preocupada. – Eu estava pensando em investigar pessoalmente, algumas coisas. Eu conheço exatamente aqueles rituais… Ontem me veio algumas preocupações… – Coçou o olho cansada só de pensar no assunto que vinha roubando seu sono – Arabella e Louis confirmaram a existência de uma Mensageira, ou um… E me procuraram… Eu sei o quanto eu tenho evitado isso, e que vocês me apoiaram em cada lugar que eu desejava estar. E não tem sentido eu evitar mais e me afastar a ponto de não fazer nada sobre…

– Hm… Isso também será discutido… Com calma. – Jullian disse a olha, olhando-a em seus olhos verdes. – Esta não é uma questão que podemos simplesmente se lançar na rua e buscar resolver. Arabella já designou algumas Alcateias para sondar as informações…

O Lendário se endireitou assim que ouviu passos do lado de fora do corredor. Acksul adentrou a sala de reunião com um enorme sorriso em seus lábios cheios e correu direto para abraçar Blair calorosamente e breve, tratando-se logo de retirar o pesado casaco do corpo antes de cumprimentar Jullian e Nathan.

– Todo trabalhado nas grifes. – Nathan o observou, rindo. – Que riqueza.

O Dragão riu igualmente. – Você viu?! – Gargalhou. – Desculpem pela demora. Eu tive que vir de avião. Não tive escapatória. Que demora! – Ele abriu um sorriso maldoso. – Eu trouxe um monte de presentes para vocês. Aisha ainda não chegou?

– Não. – Jullian respondeu. – Mas ela tem voltado quase todos os dias pra cá.

– Ela me mandou várias mensagens. – Ele pegou o celular, observando a tela. – Vocês não estão atrasados? Podem ir.
A felicidade em ver Polaris estava sempre em seu sorriso radiante. Ele não estava apenas se dando bem no seu trabalho, mas brilhava na série de televisão ganhando destaque em tudo o que fazia.

– Oba! – Riu e confirmou a afirmação de Jullian – Eu sei que ela vai voar até a Ártemis e voltar com ela em breve… Bem, ela deve ter te avisado… – Viu as 39 mensagens não lidas no visor do aparelho dele e sorriu para o Dragão. Blair sabia que Aisha havia entrado em uma fase ciumenta que eles tentavam lidar, mas também sabia que não era nada que ele não estava disposto a sanar. – Vou me encontrar com Remi. Não vejo a hora que esse filme termine. A gente se diverte muito no set, mas o resultado final vai ficar tão lindo que eu estou ansiosa demais.

Acksul se aproximou a abraçou Blair novamente, colando o seu rosto ao dela e fechando os olhos. – Também tenho saudades do set, mas sinto mais saudades de você. – Declarou o Dragão, emocional. – Eu estou curioso para ver o seu filme. – Ele abriu outro sorriso cruel antes de se afastar quando outra mensagem chegou em seu celular.

Jullian os olhava, ainda muito desacostumado a ver Acksul tão imerso num mundo tão humano. O Dragão da Matéria era, ironicamente, uma celebridade já muito querida e com uma fama afável e divertida. Gaia. O Lendário suspirou, apoiando o rosto na mão e negando com a cabeça.




Vocês entram em dez minutos! – Anunciou um rapaz, abrindo a porta e fechando-a.

Destiny se ergueu da cadeira com um pulo e ajeitou a camisa branca e o short justo e preto que usava. As mãos agitaram os cabelos e ela se encarou no espelho, tentando mostrar uma confiança que não existia. Alicia se divertia com o receio de Dessie visivelmente e acabou rindo, cobrindo a boca com a mão e voltando-se para Nish com um olhar cheio de uma piada interna implícita.

Irreconhecível. Destiny a olhou. Por dentro e por fora. Alicia Frost estava com os cabelos muito longos, loiros, ondulados e com a raiz escura. Ela havia perdido muito peso e ganhando músculos. Ou seja, estava com um corpão. O nariz largo que possuía? Operado. Agora era um narizinho arrogante, sempre acompanhado de sorrisos poderosos. Não parecia a mesma pessoa.

– Vai cair, Dessie. – Alicia disse, risonha. – Está nervosa?!

– Ficou um pouco apertado… – Leah ajustava o short-saia.

– É assim mesmo. – Nish ajudava-a a ajustar melhor a roupa. – A gente só vai usar esse figurino uma vez também. – Virou Leah para frente dela, e abriu mais um botão da camisa branca. – Tá linda. Vamos rebolar muito hoje.

Leah riu daquela forma sem jeito e concordou.

– Ensaiamos igual doida. É hoje, hein meninas! Terceiro Single! – A Pooka Cachorro se animava. – Frank já disse que estamos na marca de quinhentos milhões de visualizações.

– Estou feliz com as férias. – Ártemis murmurou arrumando a cinta-liga – Não vejo a hora de voltar.
Nish fitou as meninas e negou. Já fazia algumas semanas que elas vinham discordando em tudo, e demonstrando-se impaciente uma com a outra.

– Ártemis. – Nish se virou para ela.

– Hm? – Ártemis também virou-se para olhá-la.

– Vê se fica no playback dessa vez, tá? Sem exageros, por favor, somos um grupo, ninguém precisa aparecer mais.

– E ficar colocando eu e a Dessie no fundo toda performance é atitude de grupo! – Cruzou os braços.

– Tudo bem! É só uma coreografia! – Destiny se aproximou de Ártemis, censurando o começo de discussão com o olhar. – Nós somos mais baixinhas…

– Arty anda mudando a parte dela porque ainda não sabe se gosta de ser pega com força ou não. – Alicia abriu um sorriso malicioso. – Não sei como alguém consegue ser virgem com aquele namorado gostoso.

– Alicia. – Destiny a olhou, desacreditada. – Não temos tempo nem para nos coçar! Meu Deus!

– Mas é por isso que nós temos que ficar na frente, Dessie! – Ártemis cruzou os braços. Lentamente a expressão de Ártemis mudou para horror, vergonha e revolta com o comentário de Alicia. – Meu Deus, isso não é da sua conta, Alicia.

– Ele já deve ter dormido com a Ilha inteira enquanto você acha que ele é paciente e te ama. – Nish disse cheia de deboche. – Você não pode pelo menos fingir que é uma personagem que se dá bem? É só o que o publico quer.

– Ártemis! – Leah a segurou pelo pulso quando viu a Kithain procurando algo para atacar. – A gente vai subir no palco agora.  Ok? Elas estão só te enchendo.

– Sabe o quê? – Ártemis puxou o pulso de volta – Eu vou voltar para casa no jatinho da Aisha daqui! Vocês vão tudo ter que se aturar e voltar para suas famílias comuns. Eu vou voltar para a minha Ilha.

– Ártemis. Você é adotada. – Nish a lembrou entediada. – Você nem deve saber o que é ter uma família de verdade. Mãe, pai, irmãos…

– Hey! – Leah gritou – Chega! A gente vai se aturar por muito tempo. Vocês ficam brigando toda hora agora, que coisa horrível!

– Nem vem, Leah. Você não é santa! – Alicia apontou o dedo para ela. – Na verdade, Arty! Eu abriria o olho, viu?! Essa aí não tira o olho o seu namorado! Só falta morrer de suspirar!

– Que?! – Leah arregalou os olhos de pedras. – Tá doida, Alicia! Você que atendeu o telefone da Arty e ficou fazendo graça no celular.

– Alicia o que?! – Ártemis a fitou horrorizada.

Destiny foi até Alicia e deu-lhe um tapa no ombro, olhando-a irritada. Alicia a fitou com surpresa, mas começou a rir, debochada.

– Alicia! Nish! – Destiny levou as mãos à cintura. – Podemos ao menos fingir que somos amigas agora, já que vocês estão dificultando isso?! Que baixaria! Nem parecem que tem mãe em casa!

– A ilha é tão da Ártemis que para gravarmos um videoclipe, tivemos que pedir permissão. – Alicia comentou, cruzando os braços. – E demorou, hein?!

– Dessie tem razão! – Nish gritou mais alto – Chega! Temos que entrar sorrindo. E…

– Claro, vocês são famosas, mas olha só o nível!  Acha que entra qualquer um?! – Ártemis parou de gritar no segundo seguinte, quando viu o assistente na porta de novo.

– Vamos entrar…? – Ele perguntou intimidado.




O videoclipe de ‘Car Radio’ havia levado embora o seu cabelo. Rhistel usava um boné ocultando os fios ainda muito curtos, embora não estivesse incomodado com a aparência temporária. Ladirus também usava um boné, mas voltado para trás, então até que vinha a calhar a combinação para a entrevista. Eles estavam trajando as suas regatas cavadas, Rhistel de preto e Ladirus de branco e ambos com calças jeans pretas e tênis preto. “Estou com a impressão que falei demais! Eu entro nessas entrevistas me sentindo um peixe fora d’água, Bee… E o cara ainda tinha um bafo terrível. Ainda bem que o Ladi sempre me salva. Ele lida com isso bem melhor que eu. Eu não sei se aguento te ver só de noite… Já estou com saudades, meu amor… Odiei que não tive tempo para tomar café da manhã com você. Eu fico aqui revendo as fotos que me enviou do set. Eu estou ansioso para o seu filme! Adorei a selfie sua com o Remi!”, Rhistel respondia às mensagens de Blair enquanto caminhava ao lado de Ladirus, “Já chegamos no festival. Nossa. É bem legal! Quero tocar aqui algum dia”. Ele parou, tirou algumas fotos da área VIP e enviou-as para ela. “Queria que você estivesse aqui!”.

Ladirus o olhou, dando um tchauzinho quando a câmera de Rhistel passou por si. – Arty. Não se esqueça de me ligar quando puder. – Ele enviou o audio à fada. – Ah…

– Ei, Arty! Arty! – Rhistel se aproximou, falando.

Ladirus esperou, gravando a mensagem.

– Nada. – Rhistel sorriu.

– Ele é retardado, bebê. – Ladirus explicou à namorada. – Não ligue. Não mostre isso para ninguém. Ei, eu te amo, ‘tá?

– Eu também te amo, Arty! Arty!

– Ele não te ama. Eu que te amo. – Ladirus ria.

O camarim disponível para Nyra estava separado dos demais e Rhistel e Ladirus logo compreenderam o porquê assim que abriram a porta. Annik estava sentada ao lado da Theurge, beijando-a tão ardorosamente que os dois Dragões até perderam as reações. A Ragabash usava com os seus longos cabelos, levemente ondulados, decorados com penas enormes em tons de cinza e preto. Ela vestia a parte de cima de um biquíni de tricô cor-de-rosa e uma calça hippie bem justa e de cós baixo, estampada em tons de cor-de-rosa, branco e vermelho, decorada com um grosso cinto branco e dotada de boca de sino. Os braços da loba estavam forrados de pulseiras no mesmo tom e ela usava também finos colares no pescoço com o mesmo ar hippongo. Em sua testa, ela colara um terceiro olho dourado e no nariz, um piercing no septo falso. A maquiagem que usava era leve, somente destacando os lábios bem desenhados de cor-de-rosa. Quando ela os notou, interrompeu o beijo ardente e se ergueu correndo até eles, muito mais alta com o salto plataforma que usava, e seguiu até Rhistel, abraçando-o.

– Oiii, Rhistel… – Ela sorriu para ele com um ar tão aéreo que o Dragão a mirou sem jeito. – Que menino levado você é! – Annik o tocou no nariz, rindo-se.

– Você que é muito levada. – Rhistel apertou-lhe o nariz. – Comporte-se!

– Ai! – Ela cobriu o nariz com as mãos. – Estou comportada… Ah. Eu não quero me comportar. Estou com calor e você é tão gelado! Você não está com calor? Eu acho que você está sim!

Ela também abraçou Ladirus demoradamente. Rhistel negou com a cabeça e se sentou ao lado de Nyra. “Todo mundo doido aqui!”, mandou para Mitzi. – Ansiosa? – Perguntou à Nyra ao guardar o celular.

Drogas. Ladirus observou a Ragabash e se voltou para Nyra, sorrindo sem jeito para a Theurge antes de se sentar ao lado de Audrey, jogando-se do seu lado e deitando a cabeça em seu ombro. Ele ainda não estava acostumado com a vida de rockstar e sempre se sentia mais calmo quando câmeras desligavam. As mãos dele buscaram as de Fayre e ele entrelaçou os dedos aos dela, beijando-lhe as costas da mão.

“Nyra! NYRA!”

Os gritos alcançavam o camarim e Nyra terminava sua bebida tranquilamente depois de retocar o batom nude. Os olhos contornados com um delineador escuro e a sombra negra fumê abaixo dos olhos. Nyra estava com os cabelos castanhos escuros e lisos, volumosos e presos apenas por presilhas discretas ao topo da cabeça, tirando a franja do rosto. O vestido branco se assimilava a uma camisa branca, com mangas até o braço e uma saia curta  na frente, um pouco mais longa atrás. A roupa era fechada até o pescoço, mas valoriza suas pernas em todos os sentidos. As unhas longas em um tom de azul céu, e poucas joias. Não vestia nada nos pés, mas havia uma sandália em um canto. Na mesinha de centro do camarim, uma grande barraca sofisticada, com frigobar e sofás, havia uma variedade de ilegalidades como drogas, que ela se alimentava sem muita restrição. Mas parecia sóbria quando falava:

– É claro que eu não estou nervosa.  – Virou-se para Rhistel para responder – Eu faço do palco a minha casa e não preciso de mais nada além dos meus fãs. Tudo fica tranquilo. Meu álbum não poderia ter sido recebido melhor…

– Eu fico nervoso, ansioso e um monte de coisas. – Rhistel disse, sincero. – Depois passa, mas os primeiros segundos… São terríveis.

– Eu também acho os primeiros segundos decisivos… – Ladirus murmurou.

– Eu morro de medo toda vez! – Audrey riu. Não havia experimentado aquelas drogas, eram fortes demais para seu corpo humano; mas havia acompanhado a bebida e estava alta. A maga estava usando parcialmente a roupa da performance à tarde, um moletom preto largo, cobrindo o colan branco, e longas botas vermelhas, brilhantes e chamativas, até a altura da sua coxa tatuada. O cabelo era um corte na altura dos ombros, reto, e uma franja também rente `a testa. A cor brincava entre tons de azul. – Eu e os saltos e a chance imensa de cair. – Riu, encostando a cabeça a de Ladi. – Mas deve ser outra coisa fechar a noite. O festival inteira está lá fora… Praticamente…

– A vibração é maior, é mais gostoso. – Nyra sorria a mente distante, mas não o suficiente para não reparar em Fayre e Ladi.  Encostou seu corpo a Rhistel, abraçando-o – Aliás, vocês formaram uma ótima dupla mais cedo no palco. – Olhava-os – Meu Ladi estava igual a um rockstar. Isso é tão sonho meu.

– Você acha…? Ladi vestiu a camisa… – Rhistel perguntou, observando Annik digitar freneticamente no celular. – Ainda não foi no palco principal, mas… Nós vamos chegar lá. O palco principal é enorme… – Rhistel fez um beicinho, olhando-a e abraçando-a pela cintura. – O seu álbum é… Pornográfico de tão bom. – Olhava-a. – Eu gostei disso… A maquiagem nos seus olhos. – Analisava. – Ficou muito bonita. Você está cheirosa. – Ele a cheirou no pescoço. – Sinto do pena do seu guitarrista agora.

– Meu guitarrista está bem acostumado. Ele tem que saber que faz parte do show. Ele e a performance. – Fitou Rhistel e apertou a bochecha dele rindo – Você é meu rockstar também. Cheio de atitude. Todo perfeito quando está tocando e com essas regatas… Blair devia ficar te vigiando toda vez.

– Não! O sorriso do Dragão de Gelo foi crescendo aos poucos até se abrir completamente em seu riso. – Provavelmente, ela fica… Mas a Bee é ciumenta do jeito mais fofo desse mundo. Eu sou o chato. Ela é a fofa.

Não era mistério para ninguém presente, mas havia um certo tabu a se zelar. Ladirus se virou para Fayre, observando os seus olhos e a sua boca. O desejo foi quase insuportável o suficiente para ele ceder, mas Annik o ajudou:

– AH! – A Ragabash franziu o cenho. – Já sei dançar toda a ‘Worth It’! – Ela colocou a música para tocar no celular enquanto dançava. – Estou viciada. Tão sexy!

– ‘Worth it’! – Nyra assentiu rapidamente, desvencilhando-se de Rhistel – Está nas mais tocadas desde que lançou com o álbum. Estava na hora do clipe! Não o vi ainda. Bem, deve ser uma superprodução igual esses da Aisha…

– Eu… – Fayre franziu o cenho e riu, tentava não olhar Ladirus como deveria, e aceitava a ajuda dos assuntos diferentes. – Ártemis não combina nada com esse grupo. Nada.

– Mas ela está feliz, não está? Ela canta e dança bem… tão bonita. A mais ativa da equipe parece.

– Sabe, quando EU estrelei ‘Blurred Lines’ eu só ouvia que eu era uma safada! Se ela estiver de acordo com a alcunha, tudo bem. – Annik disse, mas riu depois. – Eu gostei muito da versão safada da Ártemis. Mandei vários parabéns, mas ela ainda não me respondeu…

Safada. Ladirus se endireitou, apoiando o rosto na mão. Era o tipo do momento que ele apenas gostaria que chamassem Fayre e que eles fossem tocar. Não sabia o que pensar sobre a carreira de Ártemis, mas esses comentários andavam frequentes. Annik sincronizou o celular com a televisão do camarim e o videoclipe começou a passar. Ladirus estava tão familiarizado com sensualidade feminina que achava tudo normal. Só não é normal essa letra…

– Ela está gravando. – Ladirus explicou à Annik. – Ela com certeza te responderia.

– Ainda acho a Ártemis a mais comportada… – Rhistel defendeu a fada, franzindo o cenho e observando Ladirus. – O grupo está indo para onde vende, né… Eu também acho que não muito a ver com ela.

– Annie… ‘Blurred Lines’ é bem pior que isso, desculpa… – Nyra fez um beicinho – Eu acho que a Arty ainda é um anjinho nesse clipe. – Nyra assistiu com um sorriso. – Ela nem interage com o modelo. O rapaz fica só olhando, olha. E ela poderosa. Mas se essa for a nova linha do grupo… Que com certeza vai ser. – Viu as visualizações – Aí você vai ter que por um anel nela, Ladi. Muito poder.
Fayre inspirou e pousou as costas no sofá, largando-se. Seus olhos se focavam quando Ártemis e Leah surgiam… Eram as que mais chamavam sua atenção.

– Mas… – Nyra pensou, falando e servindo-se de mais whiskey – Será que ela vai conseguir voltar? Parece até uma celebridade muito distante… Saiu daqui pequenininha e agora tá dominando o mundo. Bebezinha. Connor deve estar morrendo com isso.

– Eu tenho certeza que o Connor não está acompanhando tanto ou já havia batido na nossa porta em Fúria. Tayrou então… – Rhistel se ergueu de sobressalto quando ouviu celulares vibrando loucamente com mensagens quando o sinal ruim deu uma trégua.

Calado, ele verificou as próprias mensagens. “Nenhuma novidade! Não é o que cantores fazem antes do show? Ficam doidos. Embora eu ache que você não fique. Estou com o pessoal do Luna por aqui. Estou nervosa com tanta gente, mas está divertido”. Mitzi. Ele arqueou as sobrancelhas. “Eu não ligo para essas coisas. Você não pode escapar daí e ficar comigo? Sabe, eu vou ficar sozinho com os Versos da Magia e o meu irmão com Fayre naquele rolo que te contei. Seria bom ter companhia”, ele respondeu à Garou.

– Oh, Bee… – Ele sussurrou, lamuriando-se antes de ler:

“Acabamos de gravar a cena da festa, as meninas estão pegando no pé do Remi, eu queria gravá-lo sem jeito porque ele é o único homem e todas as personagens estão dando em cima dele. Estou me divertindo muito. Vamos ficar até de madrugada eu acho… Mas volto voando, você sabe que eu volto. Eu sempre me sinto estranha quando entramos nessa correria e não temos mais tempo. Eu tenho certeza que sua cara na entrevista vai fazer seus fãs dizerem ‘que rapaz difícil’, e ‘que lindo’” com emojis de beijos no final. Ele sorriu, mordendo o lábio e negando. Conseguia imaginar perfeitamente Remi sendo mimado por um monte de garotas. “Nyra vai adorar. Ah, eu com certeza falei um monte de besteira, como sempre. Eu só confio no seu ‘lindo’. A maioria só me acha lindo porque estou famoso agora. Eu te amo”.

– Arty me enviou uma mensagem. Ela deve ter saído. – Ladirus disse, tocando a mensagem para tocar sabendo que seria uma resposta às mensagens bobas de Rhistel:

“Tudo bem, eu acho que vocês dois me amam. E eu amo vocês dois. Mas meu Ladi especialmente.” A voz de Ártemis disse risonha, claramente cansada “Eu vou para o hotel agora e vou tentar assistir o festival. Amanhã eu tenho uma entrevista beeem cedo e de tarde uma apresentação em Las Vegas. Eeee. Está acabando a agenda!! Aisha disse que vai voltar comigo quando acabar. Como você está indo? Manda um beijão para todo mundo, saudades eternas”.

Ele inspirou, sorrindo enquanto a mensagem durou e colocou outra para gravar uma resposta em vídeo:

– Eu não sei quando você enviou isso, mas só recebi agora. – Ladirus sorria novamente enquanto dizia. – Eu estou esperando com Fayre para subirmos no palco. Eu vou tocar para ela hoje, acredita? Convidado de honra. Ela está aqui do meu lado, Nay, Rhistel e Annik. Todos lindos. – Ele passou a câmera pelo ambiente. – Destaque para Nyra, Annik e Rey. Eu e o Rhistel… Rhistel no celular, para variar. Estamos com saudades de você. Eu, especialmente. Estou contando os dias. Não esqueça de me ligar do hotel.

– Nate e Jules estão vindo! Arty, eu amei o seu videoclipe! Você está linda! Manda um beijinho para a Leah e a Alicia também! – Annik bateu palminhas.

– Seu vídeo ficou ótimo, Ártemis! – Fayre deu tchau para a câmera quando passou por ela, mandando beijos. – Boa sorte em Las Vegas!

– Las Vegas não é para qualquer um. Aproveite. – Nyra riu e acenou também.

Quando o vídeo de Ladirus foi enviado, com mensagens de todos, uma chamada de vídeo se iniciou minutos depois. Ártemis estava em uma limusine com o grupo e fãs batiam nas janelas gritando o nome de todas, especialmente de Arty.

Oi, gente! – A voz da Kithain estava emocionada – Que saudade de vocês!

Leah colocou o rosto ao de Ártemis e abriu um enorme sorriso:

Oi, Ladi! – Acenou empolgada – Vamos assistir vocês do hotel. Beijos para a Nyra e a Fayre! Annik também.

Quando Nish tentou aparecer, Ártemis virou-se com o celular a ignorando.

– Oh… Você estão lindas! Isso é uma limusine mesmo? – Ladirus abriu um sorriso risinho. – Eu estou com tantas saudades, Arty. Saudade de você também, Leah! Como está sendo a loucura aí?

– Mostre essa limusine! – Annik se sentou ao lado de Ladirus, apoiando o rosto no ombro do Dragão e posicionou o celular de modo a mostrá-la, assim como Audrey. – Faltou vocês aqui, meninas. Daqui a pouco vou ficar pulando igual uma louca no festiva e cadê vocês?! Leah, amei a sua maquiagem no videoclipe. Quero copiar!

“Sério que posso ficar com vocês? Legal! Por onde eu consigo entrar? Onde vocês estão? Nossa, eu ia adorar sair da multidão também”, Rhistel lia a mensagem de Mitzi, intercalando os olhos entre a tela e a algazarra com a chamada. “Eu vou pedir para a Nay te autorizar”. Rhistel enviou e estava decidido a pedir para a Theurge até se distrair com a foto que chegou de Blair, olhando-o como se fosse lhe ordenar algo tremendamente prazeroso. “Você pode me pedir qualquer coisa com essa cara, Bee. Eu faço. Qualquer coisa”. O Dragão suspirou, mordendo o lábio e seguiu até Nyra para mostrar a mensagem de Mitzi:

– Por favooor? – Pediu, manhoso.

– Tudo bem… – Nyra respondeu depois de pensar um instante – Mitzi tudo bem. Mas só ela. Diz para procurar um segurança de colete verde perto do palco principal… Vou mandar uma mensagem à equipe avisando.

– Está ótima! – Leah respondeu rindo.

– Eu acabei de esmagar uma melancia com um martelo. – Ártemis falou também perto da câmera. – Menos estressada do que eu deveria.

– Já uma desculpa para me acompanhar na academia na próxima vez. – Ladirus riu, franzindo o cenho. Estressada.

– Isso parece promissor. Ninguém faz isso comigo nas entrevistas. – Audrey lamentou, mas rindo igualmente. Ártemis virou o celular passando por Nish, Alicia e Dessie, dando a oportunidade breve delas enviaram ‘Oi’. Quando voltou para a Pooka, ela apertava os lábios de uma forma que parecia que choraria.
– Eu queria estar pulando no festival com vocês. – E as lágrimas vieram, de uma forma que era difícil de ver a Pooka desabafando. – Eu estou com tantas saudades.

– Não, não, não… – Leah a abraçou. – Que é isso, Arty! Está acabando! 

Nossa, que drama mais mexicano.”

Dava para ouvir Nish falando, mesmo sem foco na tela.

– Não, Arty. – Fayre disse , preocupada em vê-la esgotada – É verdade, logo você volta. Respira fundo.

– Oh, não faça isso conosco, bebê! Nós vamos te buscar aí e você sabe que podemos fazer isso! Não, não, não! – Annik pediu.

Vê-la chorando fez desabar os seus ombros. Ladirus mordeu o lábio, fitando a tela como se estivesse olhando diretamente nos olhos escuros. – Hey… – Ele piscou os olhos devagar. – É o cansaço falando mais alto. Vai valer a pena no final. Quando você voltar, eu prometo que juntarei todo mundo para te receber e você vai poder descansar numa esteira de frente para qualquer praia que quiser. Eu te prometo até massagem nos pés…

Annik se voltou para Ladirus, curiosa.

– Ladi. – Rhistel o chamou e arqueou as sobrancelhas.

– Oh, enfim. Me ligue quando estiver sozinha. Eu vou subir no palco só as dez, então… – Ele suspirou. – Por favor?

Leah a abraçava do outro lado, e a mão de Dessie estava no ombro da Kithain também. Ártemis escutou chorosa, mas assentia como se encontrasse algum alivio naquelas imagens que ele instigava em sua mente; mas ainda, não conseguiu responder, por choraria mais se fizesse.

– T-tá bom. – Ela disse entre soluços e desligou a vídeo chamada.

– Uau… – Fayre soltou o ar do peito devagar. – Choro não parece bom vindo dela. Que dor…

– Tadinha da Arty. – Nyra acompanhou apenas escutando e se virou para Rhistel. – Você acha que a Blair não pode buscá-la e levá-la de volta por essa noite? É pouco tempo, mas pelo menos ela dormiria em algum lugar familiar… Deve ser solitário essa vida de trabalho e hotel… – Voltou a se sentar – Blair está trabalhando também, né. Bem… Ela disse que Aisha estaria com ela até amanhã… Aisha deve saber como confortar a Ártemis…

– Eu vou até lá a noite… – Ladirus respondeu antes que Rhistel se pronunciasse, guardando o celular. – Faço uma surpresa.

– Eu… Acho que a ideia da Nay é melhor. – Rhistel dedilhou o queixo, fitando-o. – Eu não sei se gosto da ideia de você ir sozinho até lá. Prometemos não andarmos sozinhos, cara.

– Rhistel… Se alguém precisar falar com ela, ferrou! A vida dessas meninas de girlband é um pouco… Complicada. – Annik comentou, pensando.

– Bom. – Rhistel pegou o próprio celular e começou a gravar uma mensagem de voz. – Ei, Bee… Importa-se em passar a noite em um hotel cinco estrelas em Las Vegas?

O Dragão de Água abriu um sorriso para Rhistel e observou Ladirus agarrando a mão de Fayre. Ainda não entendia bem como era o processo entre eles. E andava com receios…

Fayre observou a mão segurada, e assentiu com um breve sorriso; soltou a mão devagar e se dirigiu até o minibar para se servir whiskey. Nyra podia arriscar que ela não estava inteiramente satisfeita em dormir naquela casa sozinha depois de um Coachella, mas não se via na posição de reclamar, já que não o dividia mais. Ladi e Fayre andavam mais próximos do que nunca; absolutamente discretos apenas quando se tratava de terceiros. Ele acompanhou a distância dela, mas não havia muito o que pudesse fazer. Ártemis precisava dele. E parecia precisar muito.

“Las Vegas?” Blair respondeu com uma pergunta e um riso no áudio “Claro que eu quero!  Depois você me dá os detalhes. Estou voltando da pausa. Te amo”. Rhistel inspirou, até desconectando da história do seu irmão. Ouvi-la era mais do que um prazer. – Eu te amo, Bee… – Ele sussurrou no áudio. – Até mais tarde… – Mordendo o sorriso, ele riu, aéreo e já aproveitou para passar as instruções para Mitzi.




A sinergia entre Ladirus e a bateria era semelhante a extensão do seu corpo. Quando o seu instrumento musical personalizado foi posto no palco, até uma boa quantidade de fãs reconheceu. Que loucura. Pensava que nunca se sentiu um completo desconhecido. O seu nome era dito por vários seres que sabiam de quem estavam falando, mas a fama artística lhe soava diferente. Reconhecido pela arte. Não era surreal para ele, uma criatura que viera do céu, depois transformada, se tornara um ser imenso e poderoso, formar uma banda de pop-rock alternativo? Tocando bateria? O que Gaia está achando disso? Perguntava-se sempre que a excitação o tomava, operando diretamente através do sabor único de ser aclamado. No mínimo, Gaia está pensando muitas coisas sobre mim.

Audrey era uma mulher perfeita. Equilibrando-se no salto imponente, parecia ter nascido para ser amada e também amar. Seu caminhar feminino e os seus sorrisos cativantes combinados a uma veste que exigia a sua concentração para continuar fazendo música para ela. Rey... A habilidade singular do Dragão de Água permitia segui-la com os seus olhos. Rey… Inspirava, tentado.

Ele subiu para as últimas três músicas; Fayre não era a mais aclamada da noite, mas naquele segundo parecia ter reunido uma imensa multidão apaixonada. A entrega era intensa para cada performance, ela subia e descia com a música e se jogava nos fãs. Haviam dançarinas, solos com guitarras, luzes e brilhos que  faziam da noite uma luminosidade prazerosa que apenas renderia elogios. Até o final ela gritava, improvisava notas, conversava com seus fãs, aceitava cada presente, enquanto se deixava estar submersa no mundo que havia criado: de romances complicados, personalidades fortes, intrigas e paixões febris.
A sua adrenalina não diminuía até o final, agarrou Ladi quando o show terminou, abraçando-o pelas costas e o levando até a frente do palco para apresentá-los a todos e agradecer. As luzes apagaram e eles partiram, mas apenas para o outro pequeno ambiente que ela o arrastou, seu camarim menor onde pode amá-lo, com o corpo suado da performance e as pupilas dilatas de desejo e uma dose de desespero. Jogou-o no sofá, tirou parte de suas roupas, beijou-o e o manteve cativo em suas carícias para encontrar o céu escondido de sua música que encerrou o show na bateria dele. O sofá não era grande, mas foi usado naqueles minutos para acalmar seu peito. Quando o teve no ápice junto a si, ficou agarrada ao corpo dele com os olhos fechados para se acalmar… O silêncio mantido foi capaz de fazê-los escutar a Nyra distante em outro palco, teste seus belos vocais em Ultraviolence, mas Fayre não teve pressa quando se afastou para fitá-lo nos olhos, acariciando seu rosto com todo carinho que tinha sobre ele. Amava-o, e sempre que ficava insegura aquilo florescia de forma agressiva em sua mente.

– Ladi… – Ela respirava agitada por entre os lábios, estava calma, mas não estava. – Eu… Você… Precisa dizer a verdade a ela… – Jogou as palavras que estava alimentando, seus olhos fixos aos dele – Você deve… Você precisa pelo menos dizer algo a ela… Hoje…

“I can hear sirens, sirens… He hit me and it felt like a kiss…”. Mel fluía dele para ela, enlaçando-os e a música era uma ardente trilha sonora. “I can hear violins, violins… Give me all of that ultraviolence…”. Amava-a. O seu coração lhe contava esta verdade a cada batida, deixando-o cada fez mais próximo daqueles doces olhos selvagens. Brilho rubro, inebriantes. Ladirus ainda se sentia pulsando enquanto ouvia as palavras atormentadoras. Ele gemeu, aproximando-se para beijá-la num demorado selinho… – Sim, eu… Já pensava em dizer… – Ele sussurrou, ofegante. – Eu não quero mais esconder que eu te amo, Rey… Eu não quero continuar arriscando que isso doa, eu… – Gemeu. – Você tem sido tão compreensiva comigo que eu tenho a impressão que você investiga a minha cabeça… – Ele mordeu o lábio, sentindo-se ainda expelir. – Eu vou falar, eu te prometo… – Sussurrou, por fim. – Só diga que me ama… Eu sei que ficou chateada no camarim… Eu preciso ouvir que você me ama ainda… Por favor…

Ela recebeu o beijo e seu quente prazer como se aceitasse toda a natureza e confusão dele… Embora a sua estivesse em alerta desde o camarim da Nyra. Fayre gemia junto dele, aquecida para estar próxima de aceitar qualquer oferta que a bela voz sussurrasse em seu ouvido. – Eu te amo… – Ela disse sem pestanejar, agarrou-o no pescoço e moveu seus quadris devagar para sentir a massagem e gemer mais profundamente. – Eu te amo muito… Por isso… Você precisa fazer isso… Por você e por mim… – Arranhou-o no peito, descendo sua mão e o olhar. Sua voz dançava entre o prazer e a agonia – Se nada correr bem… Volta para mim e fica só comigo… Você sabe que eu vou te receber de qualquer jeito… Só não consigo ficar mais assim… Eu não… Me abraça… – Suspirava e ofegava, voltando a tocar em seu rosto – Diz que ficará tudo bem entre nós…

Ele a abraçou fortemente, pressionando os dedos na pele clara. Cercava-a para que não parasse e o deixasse. Ladirus seguia os seus olhos, buscando pelos beijos molhados e quentes. O coração acelerava novamente. Ele também estava farto de não resolver, começar a abrir a história que precisava ser aberta com Ártemis. Lembrou-se do abraço possessivo no palco e o beijo que quase ousou em roubar dos lábios dela em frente a milhares de pessoas. Os movimentos aqueciam o seu corpo como andavam fazendo nesses últimos meses todos. Praticamente, todos os dias na cama dela, amando-a de tantas formas diferentes e todas tão únicas quanto a primeira que sentiu tanto amor. Ver-se longe de Audrey lhe doía. Ver-se longe de Ártemis lhe doía. Ele a mordeu ao lábio… – Você não desistiu de mim. Depois de tudo, você não desistiu de mim… – Os dedos a apertaram mais contra si.


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