Is There Somewhere

Categorias:Romance
Wyrm

Is There Somewhere


Apesar de ter se banhado, Ladirus sabia que o aroma de sangue, sensível ao seu nariz, não sairia tão cedo ds suas mãos. O sangue de Tayrou era um aroma incômodo e recordatório. Infelizmente, doía mais do que poderia ignorar. Não queria ter brigado com ele. Amava-o assim como a todos os seus irmãos e sentia a decepção deles a distância.

Quando chegou na Casa Azul, encontrou Cassian e Tyler na cozinha em seus trajes de dormir. Cassian se ergueu no mesmo instante, pousando as mãos sobre o balcão. Parecia nervoso e estava corado.

– O que aconteceu? – Perguntou-lhe. – Está tudo bem?

Ladirus inspirou… – Sim. Foi só um desentendimento… – Ele franziu o cenho. – Está tudo bem. Não se preocupe.

– Senti Ross muito tenso. Eu nunca havia o sentido assim. – Cassian disse, agitado. – Vinny desceu agora pouco toda preocupada também. Demorou para o Torvo respondê-la e Ross ainda não me disse nada.

– E toda aquela Fúria… – Tyler comentou, franzindo o cenho. Nunca havia sentido algo tão violentamente Furioso.

– É, ficamos exaltados… Mas deu tudo certo. – Ladirus voltou a caminhar, sentindo-se perder parte da calma a medida que avançava.

Até questionou o porquê de Vinny não estar junto aos dois, mas ao passar por um dos quartos, sentiu uma segunda Fúria. Mylo?Surpreendeu-se, mas guardou a informação para si. Ele estava com as próprias confusões para resolver e a sua Fúria sensível já se fazia presente enquanto elaborava como diria o inevitável. A casa pareceu até pequena demais, levando-se ao seu destino bem antes do que pretendia: “Fayre?”, buscou pela mente da Maga, “Eu preciso falar com você…”.

– … Então foi um grande passeio romântico. Isso deve ter custado uma fortuna. – Fayre comentou, olhando a aliança na mão de Blair. – E vocês…?

– Sim! – Blair respondeu animada, sem conter seu riso breve. – Sim… – Continuou mais calma, parecia estar empolgada para chegar naquele ponto. Mas não conseguiria continuar o assunto, pois viu Audrey mudar sua expressão.

– É o Ladi… Ontem ele sumiu o dia inteiro… E… Parece que eu vou descobrir agora o porque…
Blair emudeceu e assentiu. Ergueu-se e saiu do quarto da Maga, cruzando o caminho com o Dragão de Água, mas apenas o olhando brevemente, seguindo para a cozinha onde os meninos estavam.

– Eu sei onde isso termina? – A maga disse quando ele adentrou seu quarto com a porta aberta, deixada por Blair. Fayre estava com seu cabelo desfiado e na altura do ombro, negro, e usava apenas uma camiseta preta três números maiores como camisola, na parte debaixo uma boxer feminina vermelha. Estava sentada na sua cama em meio a todos os travesseiros e cobertas desdobradas e as pernas cruzadas em lótus. – Me deixou acordar sozinha e depois “Precisamos conversar”. – Ela riu sem jeito.

A surpresa em vê-la tão bela não foi tão discreta quanto gostaria. O pensamento egoísta e claro de que poderia não precisar escolher foi censurado pelo próprio Dragão de Água antes que se tornasse uma ideia. Ladirus mordeu o lábio, fitando-a antes de se aproximar se sentar à beirada da cama. Ele tocou o colchão e inspirou com profundidade, sentindo mais nervoso do que previra que estaria. – Eu fiquei agoniado. Não tive a melhor atitude de todas, com certeza… Perdoe-me. – Ele se voltou para a própria mão no colchão, demorando-se em continuar. – Você foi tão incrível comigo desde sempre e eu fico até sem saber dar uma explicação… Não é como se eu fosse indiferente, mas… – Buscou-a em seus olhos. – Eu percebi que gosto da Ártemis…

Embora esperasse uma notícia ruim, conforme as informações corporais dele se antecipavam: sentando distante, começando um discurso… A última frase ainda foi inesperada. Ela entreabriu seus lábios desenhados e desviou o olhar dele para a janela com vista ao mar. Fayre riu para tentar equilibrar o súbito estresse que sentiu e ajeitou o cabelo atrás da orelha…

– Ok… – Ofegou – Foi rápido.  – Mordeu o lábio e recuou seu olhar para o acolchoado. – Uhum… Aparentemente não tão incrível assim. Ok… Então… Você desapareceu por que estava com ela, eu suponho. Confirmou o que sentia e veio me avisar, eu suponho?

Os lábios dele se afastaram lentamente conforme sentia que algo começava a não ir bem. Ladirus ergueu as sobrancelhas. Sim, era bem óbvio. Não havia mistérios a se resolver. Ele inspirou novamente com profundidade e continuou. – Sim… Mas… – Desviou-se dela, fitando as próprias mãos. Não tão incrível? Ele não queria levar a conversa para estar impressão. – Não é uma questão de comparação.

Escutou-o e pareceu sentir um mal estar, ajeitando-se sentada e fitando alguns papéis que estava abertos ali, cheio de anotações e notas musicais. Fayre pareceu travar seus pensamentos enquanto certa agonia crescia no peito.

– Ok… –  Ela piscou os olhos devagar – Vai embora, Ladi. Eu tenho certeza que você não tem mais nada a me dizer. Então, vai. – Ela disse firme na sua voz levemente áspera, se levantou da cama e andou até a janela para abri-la, apoiar-se no batente e respirar devagar.

Faltava-lhe experiências passadas para saber se estava fazendo da porta certa ou não, se é que existia alguma forma certa. Ladirus a olhou com estranheza enquanto se levantava e gastou um momento para se colocar em seu lugar, mas não conseguiu chegar a nenhuma conclusão. – A não sei que você queira que eu vá embora, eu gostaria de conversar com você. – Ele coçou o pescoço, observando-a em nítida confusão. – Soa como um descarte e… Eu não gostaria que… Enfim…

Ela se virou e se encostou de lado perto da janela. Fayre cruzou seus braços e o fitou por um tempo antes de desviar o olhar. – Eu sei o que você vai dizer… Que ainda quer ser amigo? Isso é ridículo! – Esbravejou e se encolheu mais no próprio abraço, sem perceber que seus olhos se enchiam de água – Logo… Quando achei que estava gostando de você… Mas é igual a qualquer outro cara… – Apertou os lábios e limpou abaixo dos olhos, onde o rosto era marcado por sardas. – Depois que tem sua fatia do bolo…

Gostar de mim? O Dragão de Água se desviou para a cama, fitando os lençóis bagunçados e os papéis espalhados… – Fatia do bolo…? – Ladirus franziu o cenho, estranhando. – Fayre, eu não sei qual é a linha do seu raciocínio, mas… Nós somos dois. Você também me teve. Eu quero ser o seu amigo, óbvio! Eu tenho um carinho imenso por você… – Ele franziu o cenho. – Eu acho que você precisa pensar. Eu sinto muito se te machuquei com as minhas palavras, eu saberia te contar melhor do que eu fiz… Eu nem terminaria… Mas sei que não funciona…

Ela o olhou ainda nervosa, perdendo a vontade de discutir a cada minuto. Ele não percebia o que fazia de jeito nenhum? A raiva se tornou em uma mágoa dolorida – Um “carinho imenso”,mas nenhuma gota de respeito e consideração! – Ela gritou e se afastou da janela para a direção dele – Você não me machucou com as suas palavras, você me machucou com sua ação. – Fayre o empurrou – Eu não estava com você e pensando em experimentar outras pessoas para ver se eu gostava ou não! – A maga tremia pelo nervosismo, abraçou-se e lutou para que os olhos continuassem secos.– Essa é a diferença! Então, vai embora! Eu gosto de você demais para querer sua amizade, tá? E pior! Eu não confio mais em você! Então, vai. Me deixa sozinha. Volta pra sua garota… – Negou e se sentou à beirada da cama. – Eu não quero saber de vocês dois.

O empurrão doeu em seu coração, assim como as palavras. Ladirus a seguia com o olhar, pensando em todos os problemas que estava reunindo com as suas atitudes impensadas em sua pele humana. O Dragão passou a mão pelo rosto, coçando-se enquanto a mirava ressentido… – Você tem razão. – Ele disse, ofegando quando sentiu lágrimas surgirem ardidas em seus olhos e precisou segurá-las. – Eu sinto muito pelo que fiz. Desculpe-me…

Não conseguia ir embora. O impulso era tentar consertar qualquer coisa que pudesse. Ele se aproximou, sentando-se ao lado dela, mas no chão. O coração irritante se doía terrivelmente enquanto a observava. Ladirus pousou as mãos em seus joelhos dobrados e apertou-os.

– Eu não me afaste de você.

A Maga se deitou depois de assisti-lo recusar ir embora e se sentar no chão.

– O que você quer com isso? – Murmurou e cobriu os olhos ao se jogar deitada, cruzando os braços sobre o rosto. – Você conseguiu acordar cedo para me trocar e acha tão simples pedir uma amizade? – Ofegava, tentando se acalmar – Você quer a minha bênção? Que eu te veja nas festas com ela e diga que somos só amigos e que estou bem? Que eu vá tomar sorvete com você e minta que eu não te desejo? Fique falando sobre o tempo e te dando dicas de relacionamento. – Ela se sentou, pegou o boné dele e o olhou nas próprias mãos. Em seguida jogou o acessório na parede e o encarou – O que você quer de mim, Ladi?

– Eu queria me sentir menos perdido e confuso ao lidar com essas situações. – Ladirus respondeu de pronto, observando o boné distante com uma expressão distante. – Eu sempre estou ciente que eu vou me enrolar, mas… Eu não sei. Talvez eu seja mesmo um mulherengo como meu irmão disse. – Comentou com leve perplexidade na voz. – Eu não quero que ninguém se afaste de mim. Parece que a única forma é ficar sem as duas. – Suspirou e ergueu novamente os olhos até ela.

Ele nem estava se ajudando, e Fayre se demonstrou tão confusa quanto ele.

– Ladi. Você acabou de me dizer que gosta da Ártemis. – Disse inconformada – Você quer que a gente te divida? Ela não vai querer, eu nem sei o que vocês fizeram, mas eu tenho certeza que ela não concorda. E para de ficar jogando essas dúvidas em mim, por favor. – Ela o empurrou com a perna – Você está me tratando como uma porta. Eu não sou uma situação, eu não sou algo que você possa “lidar”. Eu me doei, você estava comigo, e você foi atrás de outra sem me dar satisfação. – Ela desceu lentamente, sentando-se sobre as próprias pernas no chão e o fitando nos olhos perdidos – Por que você não ficou comigo? – Questionava emotiva – Você não sente nada a mais por mim? Nada além de uma amizade?

O Dragão de Água entreabriu os lábios vagarosamente. É melhor você mentir. Ele mordeu o lábio por impulso e inspirou, deitando a nuca na cama antes que a olhasse demais. Não consigo mentir. – Não… O problema é que eu gosto das duas. Eu gosto de você, Audrey. Eu sou apaixonado por você desde a primeira vez que eu te vi… – Ele inspirou, sentindo lágrimas sem sal rolarem pelo seu rosto. – E isso não está certo, não? Eu… Sei que não deveria estar sentindo essas coisas. Eu vejo que machuca. Ártemis chorou muito depois que saímos. Você está triste agora… E eu estou pensando que desde que ganhei este coração, eu fiquei muito assanhado. – Ele apertou os lábios. – Talvez ele seja muito grande e caiba mais de uma pessoa. – Ele limpou as lágrimas com as mãos. – Talvez seja o que eu e Nyra dividimos… – Arriscava, sentido. – A vida era mais simples quando eu era só um Dragão no rio da reserva florestal, dando conselhos… Hoje em dia nem sei como me aconselhar. Eu só não quero ferir ninguém. Isso realmente me fere junto.

Fayre escutou cada palavra perdendo seu ar. Ela recuou o olhar e relaxou seu corpo, como se fosse algo que não pudesse lutar contra. No fundo sabia que ele não pensava como um humano, e parecia até estranho exigir um pensamento católico de Ladi. Mas sabia que ele reconhecia que errou, e que estava ferindo as pessoas à sua volta. E mesmo assim, parecia descobrir apenas gostar mais e mais dele – porque era a sensação de perder alguém que sempre valoriza o medo do vazio de não tê-la mais ali.

– Ladi… – Ela o fitava, tentando parecer mais calma do que se sentia – Nyra não tem todo mundo que ela deseja. Tudo é conversado, nada é atropelado… Ok? Você me magoou de verdade… E vai magoá-la se não sair do quarto agora. Eu sei que eu não sou uma pessoa fácil, nem ideal, e eu sei porque você preferiu ela. – Respirava por entre seus lábios, sua mão tocou o braço do Dragão, segurou-o por alguns segundos, sentindo o calor da sua pele. O coração disparou e doeu, mas Fayre fechou seus olhos e pareceu se agarrar a algum centro, e o empurrou de leve. As lágrimas corriam mesmo por seus olhos fechados – É melhor você ir, tá?

Sentiu-se nervoso quando Fayre o tocou. E ele não soube dizer se era um nervoso bom ou ruim. Soa-lhe no momento que tudo fosse ruim. Ladirus se ergueu vagarosamente, sentindo a respiração mais dificultosa. Ele caminhou até o boné, curvou-se para pegá-lo e vesti-lo novamente em sua cabeça. Virando-se para ela, ele quis encontrar algum comentário para fazer. Algo que pudesse mudar o clima azul que simplesmente parecia ter atracado no belo rosto dela por sua culpa. Os lábios quiseram dizer alguma coisa, mas a cabeça era um emaranhado de ideias. Devagar, ele caminhou até a porta do quarto e a abriu, demorando-se um momento para decidir sair.

Quando Ladirus se ergueu, e ela sentiu que ele se afastava, Fayre abriu os olhos e ofegou ansiosa. – Ladi. – Chamou-o com a voz quase falha, antes que saísse do cômodo e ergueu-se com pressa, tocou-o no braço de novo e depois em seu rosto para beijá-lo nos lábios.

Por quê? Ladirus sentiu que afundaria e giraria até ficar suficientemente transtornado para não saber mais onde estava. Quando ela o chamou, foi impulso olhá-la. Houve a esperança de qualquer meio acerto, um intermediário ou uma solução. Os seus olhos se encontraram com os dela e o toque quente em seu rosto disse o inverso das palavras antes do beijo. Os olhos se fecharam, mas fora brevemente. Sentiu um alarme dentro de si tocando dentro de sua cabeça como um sino estridente. O corpo a desejou, mas a mente já estava farta de se enroscar. Precisava respirar. “Você me magoou de verdade… E vai magoá-la se não sair do quarto agora”, as palavras se reviveram na mente dele juntamente com o doce e cativante sorriso de Ártemis, os seus abraços carinhosos e apertados e a mania arteira de se jogar em seu colo e encolher-se como uma gatinha…

Ele se afastou do beijo devagar, pousando a sua mão sobre a de Fayre e a acariciando suavemente antes de, delicadamente, recuar. Ladirus engoliu a seco e negou levemente, apertando os lábios magoados consigo mesmo, com a situação dela e com toda a confusão que estava causando. – Fayre… – Sussurrou, recuando passos antes de se virar para caminhar.

Quando sentiu seu corpo afastar, sabia que ele tinha tomado sua decisão, e não conseguiu se acalmar ou aceitar. Seus olhos se encheram com as lágrimas silenciosas, e ele escapou de seus braços. Fayre se agarrou à maçaneta do quarto, mordendo o lábio trêmulo e o assistindo se afastar pelo longo corredor. Sem entender porque se sentia assim, Fayre soluçou e afastou alguns passos para bater a porta e a trancar. Como não tinha visto tudo isso acontecer? Sentou-se atrás da madeira e ergueu o rosto para o teto, onde era mais fácil tentar se distrair e tentar se acalmar para aceitar. Por que ele havia feito daquele jeito? Cobriu seus ouvidos e permaneceu em silêncio. E foi apenas isso que ele ouvia do outro lado daquela porta, mesmo quando se aproximou.

O estrago era uma sensação ardida e não havia sido falta de avisos. Os dedos do Dragão tocaram a madeira, assim como a testa, ouvindo apenas o próprio coração e a respiração inquieta. Também chorava. Por todo o começo de dia. Afastou-se da porta com um peso enorme sobre os ombros, sentindo o sentimento que chegou a temer antes de aceitar o coração oferecido: dor. Segurando a gola da camisa, ele foi descendo as escadas devagar até chegar ao térreo que dava para praia. Evitou encontros e seguiu para o mar, largando os seus tênis pelo caminho e sentindo a areia com pés antes se tocá-las com as patas na Penumbra e saltar para mergulhar.




Se já não fosse o bastante ter cedido ao amor e desejo bandidos, ela aceitou não somente o banho ardente e o café da manhã, mas também o convite para uma saída. Obviamente, que não podiam dar bandeiras pelas ruas. Mylo era um ator famoso de filmes de ação e qualquer cidadão americano o reconheceria, mas o seu apartamento confortável lhes trouxe mais privacidade para reviver uma história que Lavinia julgava precisar se esquecer. Conversas, risos, amores e desejo. Havia pouco do que reclamar ou quase nada. Passou o dia sem vestir nenhuma roupa ou apenas trajando uma das camisas do Garou e foi mimada de todas as formas possíveis. Até assistiram Netflix antes de dormirem abraçados e acordarem se amando outra vez. Claro que foi culpa dela. Certos costumes revividos trouxeram à flor de sua pele a ousadia que costuma a ter. E não deveria…

Quando retornaram para ilha pela manhã ainda escurecida, Vinny não esperava ser acompanhada. Ela estava sentada de pernas cruzadas no chão com um violão nos braços, dedilhando as cordas. A Garou trajava uma camiseta branca com o logo da Mulher-Maravilha, solta e curta e preferiu não usar um sutiã, combinando a camiseta com um short jeans curto de cós alto e um All Star de cano alto amarelo gema. Vestia os seus óculos de grau retrô com grande armações escuras quadradas.

The moth don’t care if the flame is real… ‘Coz flame and moth got a sweetheart deal… – Lavinia cantava com a sua voz suave e irônica enquanto observava Mylo se arrumando. Tem diversas chamadas perdidas do Don e do Iliya no meu celular…And nothing fuels a good flirtation… Like need and anger and desperation… Duvido que seja para te avisar sobre a saída para a Click. Eu tenho certeza que por eles eu nem iriaDaisy vai querer te avisar pessoalmente sobre a saída. Suspirou. – Now the moth don’t care if the flame is real… Now the moth don’t care if the flame is real…

Mylo escutava a canção com um sorriso selado, não pensando na letra de primeira. Arrumava a camisa branca em seu corpo, depois de fechar o jeans claro no cinto. Ele procurou o coturno enquanto ajeitava a gola e finalmente a olhou. Os olhos vagaram brevemente pelo ambiente quando sentiu um breve aperto e se perguntou o porque algo doeu. Voltaria para a sua vida padronizada? Não era aquilo que queria, percebeu quando seu coração disparou; mas parecia insano tomar uma decisão naquele segundo, embora não precisasse pensar duas vezes. Ele ligou o celular e vislumbrou rapidamente a tela… Muitas mensagens. Daisy principalmente, e pelo menos trinta em cada plataforma possível. Ele fechou a tela do aparelho e guardou no bolso do jeans… Andou devagar até a Garou e se sentou ao seu lado, terminando de escutar a canção que ficava perfeita na voz dela. Mais uma coisa para ficar presa na sua mente…

– Você devia ser cantora. – Ele sorriu, afastando uma mecha do cabelo dela do rosto – Ou é muita coisa para sua agenda?

Os cínicos olhos azuis deslizaram até ele. Lavinia estreitou os olhos enquanto cantava. – So come on, let’s go! Ready or not…’Coz there’s a flame I know, hotter than hot… And with a fuse that’s so thoroughly shone, away… – Ela espalmou as cordas do violão, parando abruptamente a música. – Eu escrevi esta canção. Vendi. – Contou com um sorriso de escanteio. – Escrevi baseada na minha vida mesmo. – Suspirou. – Todinha. Hah. – Ela colocou o violão de lado. – Não… Cantora? Gaia me livrou disso com uma porção de cicatrizes. Eu não quero ser cantora. Prefiro estar nos bastidores. Eu iria me sentir ridícula. Canto ao redor de fogueiras, serve? Principalmente para mulheres que precisam superar os seus amores… – Vinny assentia com uma careta de olhos muito arregalados para ele, mas gargalhou, por fim. – Ai, ai, minha vida…

Escutava com atenção, fitando-a em seus olhos chamativos e muito expressivos. Ele parecia se entreter com a forma que ela se expressava, mesmo cheia de cinismo.

– Essas cicatrizes são sexy. Você ia ter que ficar explicando sobre elas em entrevistas e podia inventar uma história a cada uma. – Brincou e arqueou uma sobrancelha – Sua vida… Você… – Ele fitou o relógio brevemente. Nem sabia mais em que dia estavam. A frase se enrolou na sua boca, pois era um comentário perigoso de se ouvir uma resposta. Mas como não se sentir eufórico antes de uma despedida para a vida real? – Eu acho que… Eu não quero superar… Eu não sei se consigo, Vinnie.

Seria mais fácil se a gente só tivesse transado loucamente… Não feito amor loucamente. – É, eu… Saberia inventar… Algumas histórias… – Lavinia o mirou de volta, sentindo o coração tolo bater fortemente. Ela pensou em qualquer resposta ácida para dar, mas não as colocou para fora. Olhou-o com olhos de chamas, vivos e brilhosos como uma manifestação da sua Esfera mais alta. – Eu acho… – Ela começou. Sussurrava sem saber o porquê. – … Que você precisa… Pensar… Que a sua posição não é a mesma de… Meses atrás… – Inspirou. – A sua família é real agora, Miles… E… – Vinny observou a mão dele antes de tocá-la e perdeu qualquer linha de raciocínio que estava arquitetando, apertando a mão dele. – Ah. Estão te procurando. É melhor você ir…

– Vinnie… – Ele virou a mão para segurar a dela. Mylo acariciava com seu polegar a mão estreita e delicada da Garou, pensando em qualquer coisa que pudesse se agarrar na sua vida real, mas se tornou especialmente difícil quando encarou os olhos dela, e o sentimento de dúvida. –  Não é… Não é tão absurdo na minha mente. As coisas podem ser diferentes… – Ele ignorou o aviso dela. – Eu tinha me esquecido completamente como era ficar perto de você… Eu não quero deixar esse sentimento… Eu sentia sua falta, mas… Gaia… – Olhou-a levemente eufórico – Eu faço amor com você… Eu nunca tive isso com ninguém e parece que eu nunca soube, V…

Ela o calou com um selinho. Se começasse a ouvir de novo sobre tal assunto, imaginou onde acabariam e a sua cama já estava bagunçada o bastante, assim como a sua mente. Lavinia inspirou o cheiro de Mylo, sentindo o calor dos lábios dele a chamando de volta e mordeu-o de leve antes de se distanciar para sussurrar… – Por que você me traiu…? – Ela o mirava de perto, dentro dos seus olhos. – Eu não consigo entender. Se demonstra que moveria montanhas por mim… Onde eu falhei com você…? Você… Não imagina o quanto doeu, o quanto… – Ela inspirou Fúria. – … Eu senti sua falta… – Os caninos afiados surgiam em sua boca. – Eu deveria quebrar a sua cara pelo que fez conosco…

Ele fechou os olhos ao beijo e antes que ela se distanciasse por completo, roubou outros selinhos de seus lábios quentes para só então escutar sua voz. Ouvir as palavras dela era como repetir o que ele mesmo havia se perguntado todos aqueles meses mas de uma maneira muito pior…
– Não foi sua culpa, Lavinia.  – Franziu a testa – Não diga que você falhou. Não foi isso. – Ele a tocou no rosto e seu polegar encostou à presa exposta da loba. – Aconteceu. Foi algo impensado. Foi algo curto e sem sentido. Eu não sei… Eu não posso te responder porque aconteceu… Eu sei que… Eu quero uma chance sua… – Desceu a mão pelo pescoço dela – Eu te amo… Eu… Não vou te pressionar por uma resposta agora. Mas pensa… Reconsidere… – Beijou-a nos lábios, contendo a própria Fúria quando o fez – Eu quero você, V.

Eu também amo você... Ela não disse, mas expressava de outras formas, sentia, através dos olhos sentidos e do beijo que se rendia fácil demais. A saliva desceu a seco e até áspera sentir em sua garganta. Reconsiderar? Ela o beijou novamente para não pensar, já saudosa dos seus lábios, língua, boca… O seu corpo que sempre se encaixava tão perfeitamente ao seu. Ela se afastou, sentindo-se corada. – ‘Tá, mas… Você precisa ir agora antes que isso vire um escândalo… – Ela roubou um último selinho dos lábios úmidos dele. – Miles… – Sussurrou. – Eu vou com o pessoal para a Click hoje. – Olhou-o. – Só… Dizendo…

Lavinia o tocava com calor e Mylo retribuía, mas contendo-se, pois a vontade era encontrar o corpo dela naquela cama a todo instante. Ele assistiu o rosto dela corar, sorriu e a admirou por um instante. – Ok… Eu vou ver o que posso fazer… Me mande mensagem confirmando se realmente for… – Encostou sua testa a dela e beijou seus lábios uma última vez – Tudo bem. Ok. Eu vou. – Beijou-a no rosto carinhosamente – Apenas… Quero que saiba que… Eu estou disposto, Vinnie.  – Disse em um sussurro e se ergueu sem pressa. Mylo a olhou ali sentada e guardou sua imagem com o violão, as roupas de moleca e o olhar expressivo. – Até mais, V… – Colocou as mãos no bolso da calça, sentindo o imenso vazio da distância dela, e da partida. Andou até a porta e a abriu, fitando-a. – Não esquece…

Que partida demorada! Que homem lindo e sexy! Nem Lavinia sabia explicar como havia atraído alguém tão altivo e cheio de pose, prestigiado por uma fama hollywoodiana marcante, como Mylo Thorheim. Ela se ergueu e correu até ele, tocando o seu rosto e roubando um último beijo. Último, prometera para si. – Eu não me esquecerei… – Sussurrou para ele, olhando-o com demora antes de começar a empurrá-lo para fora do quarto, rindo-se e fechando a porta com pressa. Vinny escorreu pela porta até o chão enquanto ria sem se conter. Ah, eu não acredito. Tornou-se séria e cobriu o rosto. Eu quero gritar.

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