Ártemis Hurricane

Categorias:Romance
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Ártemis Hurricane


A verdade era que Rosstrider não tinha ciência do que passava dentro do próprio coração e a sua hesitação enevoada por um nervosismo forasteiro nada lhe contava sobre a sensação de saber que Ártemis estava se envolvendo romanticamente com Ladirus. O Dragão de Metal receou continuar os seus passos em direção ao cheiro dela e encontrar-se com a verdade. A incerteza iludida ainda não batia o martelo, afirmando que sim, estava acontecendo. O Dragão segurou a gola da camisa e esticou-a, franzindo as sobrancelhas e pressionando os lábios corados e cheios que possuía. E se for mesmo verdade, poderia ser somente um caso breve? Sem grandes expectativas? Ladirus era muito interessante. Por que Rosstrider almejava tanto pela mentira?

Os tênis estampados de quadriculados pretos e brancos se grudavam no piso do castelo, roubando qualquer silêncio que Ross gostaria de fazer. Os olhos indecisos do Dragão se voltaram para as escadas e ele inspirou, vencido, começando a subi-las. Foi cumprimentado por várias empregadas cheias de gracejos e tentou retribuir o mais simpático que conseguia, mesmo que o coração estivesse sendo esmagado pelo sentimento não investigado.

Decidiu que bateria na porta do quarto de Aisha Arnezeder apenas uma vez. Se elas não ouvirem, tudo bem. Eu vou embora. Ross se afastou da porta, unindo suas mãos em frente ao corpo. Estou nervoso. Por que estou tão nervoso? 

Aisha ainda estava em seu banheiro e Ártemis escutou a porta. Seu nervosismo a fez levantar imediatamente e atender. Ela usava uma jaqueta de tecido fino e rosa por cima do corpo antes muito exposto, e seus olhos ainda expressavam o susto.

– Ross! – Ela levou a mão ao peito respirando aliviada por um minuto – Ladi está bem? O que aconteceu… ?

A pergunta dela causou um atraso em sua reação. Rosstrider a mirou como se não tivesse compreendido a língua que ela estava falando…

– Ele… Está bem. – Respondeu, descendo as sobrancelhas e semicerrando os olhos. – Ele e Tayrou brigaram e os outros irmãos separavam. Nyra os curou. Eles estavam bem feridos. – Rosstrider apoiou os dedões nos bolsos da calça jeans escura. – Eu que gostaria de saber o que aconteceu.

Ártemis encostou no batente da porta, franzindo a testa em agonia ao pensar em uma briga naquela proporção.

– Não aconteceu nada! – Respirou irritada, fitando Ross brevemente e desviando – Nada… Eu sai com o Ladi… Porque eu gosto dele… E a gente passou o dia e a noite fora e quando a gente voltou, Tayrou parecia estar esperando igual um marido traído. – Reclamou – Ele viu eu beijar o Ladi e ficou insano. Disse “O que você pensa que está fazendo?”, e eu falei “Não é da sua conta” e ele sumiu com o Ladi. Só isso! Tayrou é um idiota. Ele vive para me humilhar ou acha que eu tenho doze anos? Eu não sei! Mas eu quero acabar com ele agora.

Só eu não vi essa história se aproximando? Rosstrider acompanhava as expressões e olhares de Ártemis com uma leve perplexidade em seu olhar. Ela gosta do Ladirus. O seu querido irmão calmo e centrado. Ross tocou o cotovelo, puxando a pele e apertando-a como se quisesse acordar do sonho – ou pesado? – maluco que estava tendo. Ele meneou com a cabeça. Tudo lhe soava um absurdo… – Eu, talvez… Deva te esclarecer que… O coração do Tay está partido. Olha. – Ele negou novamente com a cabeça, olhando para o chão. – Ele não está certo… Ele não devia ter se lançado contra o Ladi, mas… Ladirus é o nosso irmão. É meio estranho que ele não tenha comentado absolutamente nada conosco sobre isso. Nós somos a sua família mais próxima… Não?

Ártemis ergueu seu olhar a Ross pensando. Pareceu não compreender aquelas palavras e se irritou.

– Não tem “mas”. – Cruzou os braços – E vocês são minha única família. Obviamente que sim. Mas mesmo assim… Eu não preciso anunciar essas coisas. A gente só saiu uma vez. Você queria que ele pedisse permissão? É estranho! Eu nem sabia se estava tão afim… Bem… Agora eu sei. – Fez uma pausa – Tayrou nem tem coração. – Outra pausa ao olhá-lo melhor – Você está bravo também? O que está pensando…?

A pergunta o incomodou claramente. Ele apertou os dentes, mostrando-os e virou-se para encarar o longo corredor vazio. – Eu não sei bem o que estou pensando sobre isso… – A sinceridade saiu antes dele pensar. – Mas é lógico que ele devia ter comentado qualquer coisa. É o lógico, não? Não pedir permissão… Você já é bem grandinha, mas… – Rosstrider largou os braços ao lado do corpo, lançando os olhos para o teto. – Tem “mas” sim. Isso é estranho. O forma como lidamos com os assuntos é diferente. Somos unidos, em teoria. E você é importante para nós, mas… Talvez tenha sido azar. Duvido que Ladirus ficaria calado… Essa conversa nossa também está bem estranha. – Finalmente, retornou os olhos escuros para os dela. – Eu só queria saber como você está…

Ártemis cruzou os indicadores da sua mão uma na outra. Aos poucos ela baixou sua guarda como se estivesse aceitando uma bronca. – Aconteceu… – Olhava-o até com certa timidez e depois dúvida quando os olhos se aguaram – Eu me sinto estranha agora… Parece que eu fiz algo muito errado.

Um sorriso selado doce se estendeu pelos lábios dele. – Não, bebezinha. Você não fez nada errado! Você tem que viver, beijar mesmo… Ser feliz. Eu acho… – Ele cruzou os braços, contornando-se do próprio ciúme para se sentir mais justo com ela… – … Que não vimos que você cresceu e tornou-se uma garota linda. Eu entendo Ladirus. Entendo você também, ele… É todo interessante. Então, bom… Eu ‘tô contigo nessa se quiser conversar sobre. – Suspirou. – Só foi impactante… – Ele meneou a cabeça. – Mas vocês tem meu apoio…

Seus olhos continuaram o fitando até o fim, quando o sorriso surgiu. – Obrigada… Isso é importante para mim. Não é como se eu não ligasse para o que vocês pensam… Eu na verdade ligo. – Olhou brevemente para trás e o abraçou agradecida, apertando-o forte antes de soltar devagar. – Aisha acha que eu deveria ficar um tempo no castelo até as coisas acalmarem. Você quer tomar café? Eu estou morrendo de sono, mas muito nervosa pra dormir agora.

O abraço foi breve demais para suprir a agonia de senti-la abrindo as suas asas e querendo voar como um passarinho jovem já cansado do ninho. Rosstrider concordou no mesmo instante, já havia tomado café, mas não dispensaria a necessidade aparente dela de uma conversa. – Sim, claro. – Ele a abraçou pelo ombro, começando a caminhar. Eu estou com ciúmes, mas prefiro saber. – Assim você me conta melhor como foi essa saída aí. – Ele a beijou aos cabelos docemente.

Ártemis assentiu levemente animada e abriu a porta do quarto, Aisha acabava de sair da suíte, vestida como costumava: deslumbrante em seus vestidos românticos, saltos imensos e batons vermelhos.

– Eu vou tomar café com o Ross. – A Pooka disse. Aisha assentiu e ficou os olhando, ainda perdida sobre tudo o que havia acontecido. Ártemis completou: – Você pode vir se quiser.

– Claro! – Ela saiu e fechou a porta da sua suíte para os acompanhar, cumprimentando Ross com um beijo no rosto e seguindo. – Assim eu fico por dentro.

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