Solstício de Verão

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Wyrm

Solstício de Verão


Cabelos loiros lisos, decorados com penas coloridas que ela encontrou no chão do viveiro,  regata de alças finas, cropped, e de cor creme e uma longa saia branca, decorada com um cinto frouxo verde com penas escuras à direita. Annik se observava no espelho enquanto Nathan admirava, deitado na cama. O Galliard estava vestido apenas com um folgado verde escuro e não pretendia vestir outra coisa. Se a ilha já era quente normalmente, imaginava como seria quando as fogueiras fossem acesas.

– Nate. – Annik o chamou, voltando-se para ele. – Como estou? – Ela meneou a saia, abrindo um sorriso animado.

– Uma elfa sexy… Gostosa… – Ele a analisou, malicioso. – Mas eu tiraria o sutiã se eu fosse você, Annie…

Ela se observou novamente, em dúvida. Tirou a regata e o sutiã e vestiu novamente a regata.

– Eu vou dançar e… Vai ficar tudo pulando. Se você gosta… – Ela riu, aproximando-se e sentando-se na cama. Os dedos dela percorreram o abdome definido do Galliard.

– Gosto quando te olham, admirando e cobiçando. Esses seios merecem ser admirados. São perfeitos.

Desenhando um sorriso arteiro, ela negou com a cabeça. As longas unham o acariciavam levemente.

– Nate… Eu queria te falar uma coisa. – Ela apertou os lábios. – Eu andei pensando em como te falar…

Ele ergueu o tronco no mesmo instante, olhando-a com os olhos livres da costumeira preguiça. Annik sentiu a expectativa dele e até se intimidou. Ela entreabriu os lábios, mas Nathan perguntou antes que ela se manifestasse:

– Você está grávida?

– Não! – Ela respondeu, arregalando os olhos. – Eu não estou grávida…

– Ah. – Nathan desviou os olhos brevemente. – O que é?

Os grandes olhos cevados dela o analisaram, pestanejando. – Bem. – Ela mordicou o lábio. – É sobre o seu pai, sabe…

– Meu pai? – Nathan pareceu confuso, franzindo o nariz e estranhando. Pai? – Ah. – Ele desviou o olhar. – O que tem ele?

– Nay acha que talvez ele não vá celebrar o Solstício de Verão conosco… – Annik comentava, receosa. – E eu pensei… Será que não seria legal você chamá-lo? Conversar com ele. Ele era muito próximo de nós e desde o Brasil, ele tem estado tão distante…

– A culpa é dele por não ser sincero conosco. – Nathan cuspiu as palavras.

– Eu sei… – Annik concordou, assentindo devagar. – Você tem razão… Eu entendo. Eu não sei como eu agiria se os meus pais estivessem vivos, mas Neil está e ele parece muito sozinho. Ele não é uma pessoa ruim… E eu acho que ele não sabe como falar com você.

– Claramente, ele não sabe… Ele nem tenta. – Nathan respondeu, olhando-a com uma expressão infeliz. – Annie. – Ele a tocou no rosto, acariciando-a. – Eu sei o que está querendo fazer, mas…

– Isso não te incomoda?

– Incomoda.

– Então…

Annik tocou a sua testa a dele e fechou os olhos quando ele o fez. As suas mãos tocaram o belo rosto do rockstar e o acariciaram suavemente. Ela sentia a indecisão vir dele, mista em uma confusão desagradável, mas prosseguiu com o assunto. Deixou-o pensar.




Tyler já tinha o visto olhar por cada janela e ainda sim Cassian parecia distante de se acostumar com a paisagem ao redor. Os olhos de avelã seguiam os passos do companheiro de Alcateia sem entender muito bem o que estava passando pela sua mente agitada. Ora, não seria ele por lógica indicado a se agitar com o novo território? Cassian era um Blackwood sem vergonha de sê-lo – na verdade, até com um orgulho muitas vezes desinibido de uma forma inconveniente. Blackwoods. Era curioso acompanhar uma família tão dispersa e tão unida ao mesmo tempo. No fundo, ele nem os compreendia e tinha uma declarada preguiça para assuntos familiares. Ele mesmo era distante dos honrados Grant – que, por final, não faziam questão de se aproximarem igualmente.

– Você quer conversar? – Tyler perguntou.

– Não… – Cassin respondeu de pronto.

– Hm, ‘tá certo. – Tyler assentiu, erguendo-se e abrindo a porta do quarto que Vinny havia deixado as suas malas.

Não seria ele a insistir em dramas. Ele já tinha os próprios para mastigar. Tyler inspirou, caminhando pelo corredor largo e solitário. Estava vestido com com colete bege, sem camisa, e calças folgadas marrons escuras. Uma porta se abriu e uma garota morena de cabelos loiros o olhou como se houvesse visto um fantasma e voltou a fechar a porta. Ela era tão bonita que o Garou até a sua atenção ao susto dela, mas antes que pudesse falar alguma coisa, ela bateu a porta na sua cara. Tyler ouviu uma movimentação no quarto e cochichos e quase bateu na porta para perguntar o motivo da atitude. Esperava ter uma recepção menos esquisita da dona da casa, pelo menos.

A porta batendo só não assustou mais Cassian do que a súbita presença de Vinny no quarto. A Garou surgiu da Penumbra e quase o matou. Vinny franziu o cenho e arqueou uma sobrancelha. O Garou respirava prontamente quando se sentou:

– Você está bem? – Ela perguntou, sentando-se ao lado dele.

O vestido longo de tecido claro que ela usava era levemente transparente. Vinny não usava lingerie e o decote em “V” era suficientemente cavado para ao de curvar daquele jeito desleixado de ser, Cassian poder ver um mamilo rosado. Ele a fitou sem se demorar e ergueu os olhos para o teto:

– Eu estou nervoso. Reencontrar a família depois de tanto tempo… Até parece que falarei com desconhecidos.

– Normal. – Vinny deu os ombros.

Lavinia imaginava que não seria nenhum sacrifício falarem com ele. O Garou era inteligente e cheio de assuntos na ponta da língua, possuía um rosto tão bonito quanto simpático e um sorriso fácil se de cativar. Os olhos puros em verde-mar eram inteligentes e curiosos e ele raramente parecia estar desligado. Ele estava vestido com uma calça de linho folgada e não usava camisa – ostentava as inúmeras tatuagens escuras que havia desenhado em seu corpo.

– Eu convivi um tempo aqui, nos EUA. Conheci algumas pessoas quando eu era pequeno. Nyra, Giovana… – Ele dizia, franzindo o cenho. – As nossas mães são amigas.

Isso deve datar da infância dele. Lavinia pensou, mas não disse. – Cass… Você costuma ser tão “nem aí” se vão gostar de você ou não…

– Eu pensei que poderíamos ficar. – Cassian disse, voltando-se para ela. – Então…

Os olhos claros da Garou se surpreenderam… – Ficar… – Ela repetiu, dispersando os seus pensamentos.

– Você não tinha pensado nessa hipótese?

– Sim e não… – Ela disse, piscando os olhos vagarosamente. – E o Raio de Sol, Cass? Nós temos uma Seita para recuperar…

– Uma Seita que nunca foi nossa, Vinny:

Ela o mirou, pensando…

– Nossos Dragões estariam próximos dos irmãozinhos deles.

– Hm. – Ela franziu o cenho. – Bom, venha. Blair deve estar chegando e eu quero apresentar vocês. Onde está o Tyler?

– Saiu andando por aí. – Cassian disse.




Pratos salgados e doces aromatizados envolvendo frutas, verduras, legumes e peixes frescos compunham nas as diversas mesas cobertas à borda do vilarejo um banquete leve e fresco, tratado ritualisticamente nos mínimos pormenores. Cada alimento recebera um cuidado especial de modo a causar um bem-estar único ao ser ingerido, proporcionando a pureza de espírito que o Ritual do Solstício de Verão exigia. Louças em madeira, assim como o restante dos objetos. O industrializado havia sido banido e os pés descalços na terra transmitiam a energia direta que fluía de Gaia. O poder e a magia já facilmente se sentia, atraindo os mais diversos Espíritos que festejavam à sua maneira, próximos e curiosos.

O Solstício de Verão era um ritual de festa e alegria e estava sendo tratado como tal, mesmo com as companhias não tão desejadas assim. As árvores ao redor tinham sido decoradas pequeninas com esculturas de madeira ou origamis na forma de diversos animais – pintadas e esculpidas pelas crianças da ilha – que seriam escolhidas por cada um dos participantes do Ritual e entregue a uma pessoa de sua escolha para serem queimados na grande fogueira e realizem um pedido de coração, queimarem as preocupações e aflições. Seriam direcionados ao Sol, também para agradecer a todas as energias trazidas pelo verão. O fogo marcava cada canto do ambiente. Aquele em que a luz do Sol permanece por mais tempo no céu.

À entrada, Krazugnis e Hawky e uma Garou russa salpicavam quem adentrava com pétalas de flores, retirando-as de cestas decoradas por ramos e perfumadas por essências. Fogo e Ar. Polaris observava cada um que chegava com uma atenção pensativa. Ladirus, Torvo e Rhistel estavam próximos às irmãs, borrifando os pulsos dos convidados com perfumes naturais de flores. Água, Terra e Gelo. O Dragão da Matéria observou Jullian caminhando com Nyra, aproximando-se do Sr. Drawn e inspirou, já imaginando o assunto que seria abordado. O Lendário estava vestido com uma calça confortável bege clara e uma camiseta fina e quase transparente, permitindo visibilidade das suas tatuagens.

– Professor. – Jullian o cumprimentou com um aceno da cabeça. – Rhistel mencionou uma garota para nós…

– Olá professor… – Nyra sorriu gentilmente para o Mago. Estava com um tope branco, e uma longa saia rodada, branca, na altura dos tornozelos. Unhas pintadas de vermelho assim como seu batom cereja. Os longos cabelos negros ondulados e desenhados no estilo clássico que sempre usava. Drawn a admirou por um brevíssimo instante, não entendia como uma jovem gostava tanto de uma moda da sua época. Aquilo terrivelmente o fazia pensar em Elara.

– Olá, meninos. – O próprio mago usava também uma calça de tecido branca, pescador, e uma camisa de mangas longas, mas de um tecido extremamente leve e claro. Fresca o suficiente para o fim de tarde. – Sim… É uma aprendiz de Neil. Eu acho que ela andou se metendo em coisas que não deveria… Talvez o Solstício e a confraternização possam clarear as ideias de Veronica… E vocês possam ajuda-la a se localizar entre vocês…

– Uma Maga Verdadeira. Então ela pode ser laço de qualquer um.

– É uma teoria. E na prática tem se tornado verdade. Eu gostaria de pensar na unidade… Nove Dragões… Nove de vocês… Mas não temos certeza ainda se a matemática é tão certa. E se podemos confiar em todos os Verdadeiros, como temos confiado em todos os Dragões… – Drawn fitou brevemente Polaris de longe, e se desviou – Ela está com as Dançarinas do Crepúsculo … Aguardando permissão para participar.

– Acksul mencionou o fato de ela ser uma presença duvidosa. – Nyra observou – Eu gostaria de pensar que ela apenas pertence conosco… Eu também gosto da ideia de Unidade…

– Pequena… – Drawn riu sem vontade – Todos nós somos duvidosos a essa altura. A maior armadilha de todas já mora aqui nesta Ilha e se mostrou aliada… – Inspirou – Deveríamos dar boas vindas a ela, Cassian, e Judith…
Nyra fitou Jullian.

– Eu estou com uma sensação diferente desde que ela pousou na ilha. Estávamos conversando… E eu, Nyra e Nathan sentimos. Talvez a nossa conexão com a ilha esteja alcançando outro estágio… – Jullian comentou.

Os olhos de oceano se elevaram, rodando ao redor. Connor e Rosstrider traziam mais pratos, rindo entre si de alguma coisa. Ao que parecia estavam todos se comportando, mas as princesas ainda não tinham chegado, Jullian se deu o benefício da dúvida.

– Sim. – Ele concordou vagarosamente. – Bem. Eu já dei a permissão a Cassian através de Lavinia, mas será adequado fazermos uma apresentação mais formal… – Ele segurou na mão da Garou. – Aceita ir comigo até a Veronica, minha bela estrela…? – Ele sorriu com certo interesse para ela. – Particularmente… Perfeita hoje.




– E aí nos escondemos na praia, ele levou uma rosa e fizemos amor a noite inteira. – Judith contava, tomando sua limonada e sorrindo entre suspiros cativantes… Que não contagiavam Jill além de sorrisos de canto, sempre achando graça naquela vida que a Volkard amava levar.

– Você é doida, Judy. Se a Arabella ou a Summer descobrir, elas não vão ser nada legais com você.

– Elas não vão. – Judith negou. – Auric é extremamente discreto. Ele sabe da posição dele. Além do mais… – Abaixou o olhar – Ele voltará para a Rússia após o Solstício, e eu nunca mais o verei.

– Do jeito que você quer. – Jill riu e negou, estava sentada com os pés sobre a mesa, mexendo e tocando em detalhes na perna bronzeada. Manchas e cicatrizes.

– Mais ou menos. Eu amaria ser uma princesa.

As duas se olharam e riram.

– Eu sei BEM como você amaria.

– Você não acha sexy a ideia de namorar alguém mais forte e com poder que você? Tipo o Jullian, famoso, duelista. Rei! E rockstar. E essa proibição do relacionamento entre ele e a Alcateia.

– A parte do poder é legal. Ele é um Mago e tanto. Não que você fique muito atrás. – Voltou a ler a revista que folheava.

– Jill.

– Que? – Virou a página.

– Se eu vestir o sapatinho de cristal após esse baile. Eu prometo que vou te chamar para fazer parte da festa.

A morena virou o rosto para ela. – Ahn? Que…?

Quando Arabella entrou com Maya, as duas a olharam, e se surpreenderam com a última presença. De Veronica.

– Ora, ora, se não é o paraíso das morenas.

– Besta. – Maya riu empurrou a cabeça de Judith de leve.

– E agora nós temos uma pessoa famosa aqui. Até que em fim? – Jill fitou a foto de Veronica na revista e depois viu a morena pessoalmente.

– Olá. – Nikki disse – Posso beber desse suco? Eu nunca senti tanto calor na minha vida.

– Preto não ajuda. – Maya se apoiou na pia.

– Eu só trouxe roupa preta. – Nikki lamentou.

– Ok, Nikki. Acho que você pode ficar pelo vilarejo conosco. – Arabella concluiu.

– Eu acho que Aisha vai querer que eu durma pelo palácio.

– Aham. – Bella assentiu – Mas, você mesma disse que Blair estava desconfiada de você. Então é melhor ficar conosco por aqui. Perto de mim, da minha Alcateia… Aliás, desculpe. Essas são Jill, Theurge, Elder dos Uktenas e Judy, Senhora das Sombras, Volkard com um pé nos Blackwoods.

– Eu sou… Veronica, apenas, e Athro dos Andarilhos do Asfalto. E podem me chamar de Nikki.

– Bem-vinda, Nikki. – Judith se ergueu e pousou as mãos na cadeira – Vou me trocar, e sair. A praia já está enchendo. Vou ver se tenho uma roupa para te emprestar também.

– Gaia! Eu também preciso me trocar. – Maya saiu rapidamente.

– Obrigada. – Nikki sorriu agradecida e se sentou para se servir do suco.

– Saudades suas, sua maluca. – Bella se sentou perto de Nikki e a fitou interessada. – Ainda se envolvendo com o que não pode?

– Sempre. – Nikki respirou fundo – Tentei parar, mas isso sempre volta.

– É a lei. – Bella fitou a janela e retornou a ela. – Eu não sabia que você podia… Usar Mágika. Judith também pode…

Nikki olhou brevemente para o corredor por onde a loira havia saído, e se entreolhou com Jill que fechou a revista e as olhou se espreguiçando.

– Bem… Quando você é uma loba por aí, sozinha, precisa aprender esconder certas coisas e não confiar em ninguém. – Nikki bebeu seu suco e suspirou aliviada, fitando o próprio braço curado.

Embora o território também pertencesse à Seita, Jullian se sentia adentrando um território que já não lhe convinha tanto. O vilarejo adotava um aspecto particular dele e embora fosse muito bonito e harmonioso, não se equiparava às mansões do centro das ilhas. O Lendário nunca foi dado à arrogância material e não lhe incomodava o ar menos glamoroso. Trava-se de cheiros. Arabella havia envolvido o vilarejo de forma a se sentir adentrando o território dela.

Ao lado da Theurge, caminhavam em suas peles de lobo, pousando os seus pés descalços. O exótico lobo prateado afocinhou a porta para entrar, segurando-a para que a Rainha também passasse. Quando assumiu a forma hominídea, os seus olhos rondavam o ambiente antes de se deter aos presentes. Destacados vivamente pelo verão, como se o Sol os iluminasse, os orbes semelhantes a pedras preciosas observavam as particularidades de uma casa com dono.

Wow. – Lara adentrou logo atrás deles, trajando um largo vestido branco de alças grossas. – Um momento que pegarei o tapete vermelho… Não estávamos preparadas para tal visita!

A Theurge também mudou de forma e olhou ao redor. Esteve ali apenas uma vez, antes de Arabella decidir que cuidaria da comunidade como se fosse responsável. O que era bom. A Garou era extremamente eficiente, embora tivesse algumas crenças inflexíveis e outras abertas até demais.
A bela Elder estava com um vestido branco, curto, de alcinhas que se encontravam na sua nuca; leve, solto e rodado. Assim como todos, estava descalça.

– Olá… Jullian, Nyra… Também estou surpresa.

Jill retirou os pés da mesa lentamente, mas continuou sentada como estava enquanto os observava. Quando pareceu concluir que estava na presença das figuras mais importantes da ilha, ergueu-se e continuou os olhando com enorme curiosidade. Diferente dos outros convidados, havia optado por cores belíssimas na roupa. Vários desenhos pequenos de margaridas se misturavam com um verde floresta onde animais geométricos podiam ser apontados, entre milhares de outras flores. A peça era muito curta, e tinha um enorme decote sensual que dispensava a presença de sutiã.

Gislaine tinha seu cabelo preso em um coque improvisado, e quase não tinha maquiagem no seu rosto, apenas um batom rosa clarinho que acentuava os lábios entreabertos da respiração suave. Nyra reparou em todos esses detalhes, curiosa com a presença da outra Theurge. Sabia do Renome imenso dela em rituais bem sucedidos em muitas Seitas, e que nos dias que ela estava presente na Ilha, havia auxiliado em purificações. Mas não conseguiu se demorar nela, Veronica era outra presença que chamativa. A morena também se ergueu, vestida como se estivesse indo para alguma balada em preto e salto – Nyra não iria admitir, mas conhecia Veronica mais do que parecia… Era particularmente fã de tudo que a elegante Garou vestia e usava.

– Eu estou um tanto nervosa. Acabei de chegar. Não esperava a presença dos líderes tão cedo.

– Somos mais acessíveis do que dizem. – Nyra sorriu brevemente, fitando a morena. – Prazer em conhecê-las…

– Não somos, não. – Jullian disse.

Lara o olhou com as sobrancelhas erguidas e tardou alguns segundos até pescar o humor inglês disfarçado de seriedade no Lendário.

– Prazer. – Jill disse, com um breve sorriso de canto.

– Acho que estão aqui finalmente para conhecer as meninas. – Bella disse, fitando-os. – Finalmente. Mas eu sei que estiveram ocupados. Eu também não quis levá-las até lá… A Casa de Vidro… E foi difícil encontrá-los pelo castelo esses dias.

– Entendo, Arabella. Foram dias corridos… – O Lendário inspirou. – É um grande prazer, Gislaine. Se a metade da sua reputação proceder, considero uma grande sorte a sua presença aqui. – Jullian disse e curvou em uma breve mesura.

– Obrigada. – Jill disse um sorriso breve – Eu digo o mesmo… Se os rumores são verdades, e eu vejo que são… Me sinto feliz em poder estar aqui essa tarde… Mas… – Franziu o nariz e riu brevemente – Me chame de Jill.

– Jill. – Nyra confirmou, tendo a impressão que ela poderia odiar como o nome dela era pronunciado com o sotaque no idioma inglês. Em francês era sempre mais bonito.

– Estamos atrasadas? – Lara perguntou a Jullian antes que o Lendário se voltasse para Veronica.

– Não. Estão começando a chegar agora, mas eu sinceramente apreciaria se você não se demorasse, Arabella. Se Louis ainda quer presenciar o ritual, creio que seja melhor seguirem logo e não terem a chegada tão às vistas. – O Philodox disse, mirando a Lua Cheia.

– Eu já estou indo. Ele apenas foi terminar de se aprontar. – Arabella confirmou – Obrigada. – Agradeceu a permissão que já havia sido concedida anteriormente, mas não teve a oportunidade de se expressar. – Posso deixá-los à vontade?

Veronica os observava atenta, e Nyra a fitava vez e outra, percebendo que a morena não desviava os olhos deles. Jullian assentiu para Arabella, acompanhando-a brevemente antes de se voltar para Veronica finalmente.

– Olá, Veronica. – O Lendário disse com tranquilidade. – Pela descrição que nos passaram sobre o seu braço, vejo que o meu mestre fez um trabalho excelente. A propósito, permissão para relaxar concedida.

Lara caminhou até Jill, parando ao lado da Uktena.

– Você sabia que você é a primeira Loba-Maga que a Goetia ataca diretamente? – O Philodox perguntou. – Diretamente, apesar dos seus membros já terem nos dado algum trabalho, mas nunca vieram atrás de nós. – Ele fez uma pausa, desviando-se dela e caminhando pela casa.

Veronica abriu bem seus olhos escuros com a pergunta direta e cruzou os braços. Estava menos relaxada que antes.

– Eu acho que… Eu acabei mais envolvida com a Goetia do que imaginei que estava… – Disse cautelosa, tocando o próprio ombro quando falou.

– Como assim mais envolvida?

Jill os fitou e encarou Lara. Veronica as olhou e fitou os Versos novamente:

– Eu tinha alguns assuntos soltos com alguns membros. – Se viu na liberdade de falar, já que estava em um ambiente Volkard. – Mas acho que eles foram enganados também… Estavam procurando por algo que eu… Realmente não tinha. E como eu tenho muitas respostas sobre muitas coisas… – Mordeu o canto do lábio – Eles não sabiam que eu era uma Garou. Essa informação também não é popular.

– Como não? – Nyra a olhou desconfiada e curiosa.

– Aprendi a ser mais maga do que lobo. – Disse com um sorriso de canto – Eu transito entre as duas naturezas sem deixar muita gente saber. Sou uma loba solitária…

Nyra teria dado uma ótima advogada. Jullian observava a Theurge de soslaio enquanto ela realizava as suas perguntas rápidas. Sempre que a levava consigo para reuniões investigativas, ela adotava essa postura entre a curiosidade e a desconfiança, jogando perguntas antes que a pessoa pudesse sequer refletir sobre a sua resposta. Veronica não tinha nem a intenção de mentir.

– “Menos mal”. – Jullian disse, ponderando as respostas dela. – Podemos ter uma conversa mais interessante depois do Ritual do Solstício de Verão. Acreditamos que temos informações úteis para se trocar. Se for do seu agrado realizar o ritual conosco, você é bem-vinda.

– Nikki. Você vai fritar com essa roupa lá fora. Talvez eu tenha algo que te agrade. – Lara propôs, voltando-se para a morena.

A Theurge se deu por satisfeita e esperou o Philodox prosseguir, mas compreendeu logo que um interrogatório naquela situação seria desnecessário.

– Eu sei que eu vou. – Veronica respirou fundo, o ar-condicionado estava ligado, mas se sentiu quente diante de tantas perguntas e o mortal Philodox – Vou querer entrar no branco também. – Veronica sorriu até um pouco zonza e retornou mais calma aos dois após alguns segundos: – Vai ser uma honra. Desde que cheguei… Gaia… Eu não esperava. – Riu e massageou os próprios braços – Me sinto arrepiada.

– Aproveite. – Nyra disse e se distraiu brevemente com a presença de bela Judith. Havia apenas a cumprimentado na festa de gala assim como Jill.

– Eu não achei nada branco, mas… – Judith vinha falando, e arregalou seus olhos ao reparar nos reis. – Gaia. Nyra e Jullian. – Riu, exibindo os dentes levemente separados. Usava uma romântica veste azul céu, o cabelo estava trançado e sobre um dos ombros. – O que devemos a honra?

– Eles vieram convidar a Veronica. – Jill explicou por cima.

– Que honra, Nikki!

– Eu sei. – Riu a morena.

Nyra prestou atenção nas belas meninas, tão diferentes e brilhantes. Sabia que o Solstício dava espaço para muitas situações intensas e se perguntou como aquilo terminaria… Seus olhos foram brevemente ao seu Lobo.

– Olá, Judith. Já estamos de saída. Mas vamos vê-las todas daqui a pouco.

– Que ótimo!

Os olhos sensuais olhos de Lara acompanhavam a conversa conforme ela se desenrolava. A sua calma com relação a Veronica também se devia aos comentários de Joshua. Ele parecia seguro de que a notícia era ótima e a presença de mais uma daquelas criaturas, uma boa notícia apenas. Ela esperava que sim. Até porque, Joshua confia suficientemente neles para treiná-los. Curiosa, ela acompanhou a mão pálida de Jullian pousar ao ombro da Theurge, convidando-a a segui-lo após acenar em despedida. Solstício de Verão




– … Então, eu nem fui à reunião. Decidi: eu não quero mais isso para a minha vida, vou mudar de agendes, tudo! Hoje, nasceu um novo Cassian. – O Garou explicava com animação para Blair, Vinny e Tyler enquanto caminhavam. – Agora, eu serei um rockstar também. Vocês vão ver. Aqueles que me acham um tosco vão se surpreender comigo.

– Você parece mesmo decidido a ousar… – Lavinia disse com um humor guardado. – Desistiu de ser bilionário?

– Lavinia Blackwood, você não está acreditando em mim. – Cassian estreitou os olhos, apontando para ela.

– Cassian tem uma voz linda. E atitude. Tenho certeza que vai continuar ganhando milhões. Os bilhões já estão na conta afinal. – Blair brincou.

– Ah, Blair. – Tyler se voltou para a atriz, franzindo o cenho. – Aconteceu algo muito estranho comigo na sua casa. Eu acho que fui hostilizado.

A Maga os olhava interessada, o humor já animado novamente. Havia ficado muito tensa da conversa com Veronica, pois não soube lidar com a situação. Blair sabia de coisas que ninguém sabia, e não sabia se deveria ter dito a Rhistel ou não… Veronica era uma figura pior do que imaginava. Primeiro, não havia declarado seus tratos com a Goetia; e segundo, que ela traiu Neil Blackwood em troca de Joshua Drawn, dinheiro e proteções. Blair não sabia para quem contar primeiro, e provavelmente seria para Polaris. As emoções frágeis de Rhistel foi outro assunto que rondou silencioso sua mente. Mas conseguiu guardar essas preocupações para dar atenção aos seus importantes hóspedes. Um pouco suspeitos também, sem permitir que certa paranoia ficasse totalmente ausente. Cassian era aluno de alguém que conhecia de pequena, e era muito difícil guardar seus anseios e medos no fundo da sua mente, mas o rapaz era tão cativante que ficava difícil se tornar séria. Assim como Tyler era, nos seus termos. Mas estava sendo cautelosa como costumava, e sorridente como costumava.

Blair surpreendeu com a afirmação de Tyler – O que houve? Alguém o tratou mal?

– Bem, mais ou menos. – Tyler coçou a cabeça. – Eu saí do quarto e encontrei uma… Loira. Morena! Bem morena. Ela bateu a porta na minha cara quando me viu.

– Ué, por quê? – Lavinia o olhou sem entender, mas acabou rindo de imaginar.

– Vai ver você se negou a tirar uma selfie com ela por aí. – Cassian arriscou com maldade.

– Então, eu não sei, mas piora a situação. – Ele os olhou com profundidade. – Então, eu fui rodar pela cozinha, procurando algum snack e então que surge uma outra morena. Esta, de cabelo preto. Ela me deu boa tarde e me perguntou se eu estava repondo o estoque, porque tinha acabado o papel higiênico.

– Ártemis e Alicia… – Blair as nomeou, escutando a história com suspeitas sobre o comportamento das duas. – Alicia é mais alta, Ártemis é pequena, do cabelo escuro… – Mordeu o riso – Arty insinuou que você era empregado? – A Maga riu sem entender – Duvido que ela não te reconheceu, Tyler!

– É, eu sei que o nome dela é Ártemis. Ela me disse e me perguntou o meu. – Tyler disse a Blair, mantendo aquela expressão estupefata no semblante.

– Nossa. Eu duvido que ela não saiba quem você é! Todo mundo sabe! – Lavinia protestou, rindo igualmente.

– É, eu falei que eu era músico e que talvez ela me conhecesse. Ah, eu notei que ela é uma fada. Desculpem se eu estou dando spoiler. – Tyler apertou os lábios.

– Pelo jeito você não faz sucesso entre as fadas. – Cassian também ria, sorridente.

(…)

– Vamos, pessoal! Se levantem, escolham e troquem. É só um, hein? – Estamos de olho. – Nathan avisou.

De longe, Rhistel observava Blair. O seu desejo também era dar o seu presente para ela, mas só pôde pensar. Ele escolheu uma das esculturinhas, assim como Ladirus e se entreolhou com o Dragão. Ladirus se desviou para observar Jullian caminhando até uma das árvores e voltando com um presente. Ele entregou ao Sr. Drawn e o abraçou demoradamente. Annik entregou o seu presente a Flora e abraçou a menininha, enchendo-a de beijos.

– Arty. – Alicia segurou o braço da amiga e passou a sussurrar. – É melhor… Você me dar o seu e eu te dou o meu. – Ela inspirou, nervosamente. – A pior coisa que pode nos acontecer agora é ficar sem nada para lançar na fogueira! – O morena acompanhou Connor passando pela mesa e entregando o seu presente à Nyra. – Viu? Você já perdeu uma chance.

Ártemis fitou o próprio presente ao ver Connor entregando o dele para a Nyra. Não creio. Apertou o item entre seus dedos, e observou a amiga… Seria a pior coisa do mundo ficar sem. – Vamos esperar. Ok? Mas você pode me dar o seu se quiser. Eu me agradeceria se eu fosse trazida para esse lugar. – Assentiu para a própria afirmação e voltou a olhar ao redor, tentando fortemente não encarar Ladirus. Acabou fitando Tayrou brevemente e fez uma careta, com sorte ele terminaria sem nada; mas seria horrível se ela terminasse sem nada. – Nossa Rainha das fadas, Alicia… Que horror essa ideia. Por que eles fazem isso? – Murmurava nervosa – Que tradição mais sem graça.

A Changeling observou Aisha se erguendo e indo entregar a um dos protetores da Ilha, Acksul… “Que… Ousada”, pensou a morena, assistindo a loira beijá-lo no rosto e manter uma distância respeitosa, retornando ao seu lugar em seguida. Ao se acomodar na cadeira, percebeu Nicole decepcionada, e com medo de terminar com nada igualmente. Eram três então.

– É verdade… – Alicia concordou, observando Aisha ganhar o seu segundo presente assim que se sentou, o que já era injusto porque alguém ficaria sem! Alicia indicou Aisha com o olhar. – Sabia que isso iria acontecer. Algumas pessoas ganhando mais de um! – Ela sussurrou com urgência.

Ela acompanhou o rockstar Alexander trocando presentes e beijos com a noiva. Inveja. O pequeno Thomás entregou o seu a Remi e ganhou um abraço apertado.

– Meninas, vocês não vão pegar? – Lavinia perguntou, olhando-as curiosamente.

– Sim, vamos! Claro! – Alicia respondeu, nervosamente.

– Lavinia. – Iliya entregou o dele a ela. – Espero que dê sorte.

– Oh… Obrigada. – Vinny sorriu sem jeito, olhando-o brevemente sem de caminhar com pressa até o Cassian e deixar com ele o seu presente. Ela não sabia exatamente como, mas Torvo já tinha dois em suas mãos.

Blair ganhava o seu quarto presente, e Ártemis achou que uma hora se roubasse dela, ela nem notaria; pois o quinto estava à caminho.

A fada só conseguiu olhar para Connor quando ele se afastou da mesa, estreitando seus olhos e negando, deixando claro que havia odiado ter sido esquecida.

– Ok. Segura o seu por precaução, Ali. Vamos ser as últimas.

Fayre entregava o seu para sua mãe, abraçando-a e recebendo o do seu irmão de volta, trocando entre a própria família. No entanto, Alana se ergueu e caminhou na direção da mesa dos Versos. Foi o único momento em que todos pararam para assistir a Rainha entregando o seu a Jullian Blackwood. Sorrindo brevemente e retornando ao seu local.

Ouch… – Arabella murmurou ao observar a cena, segurando o seu que havia trocado com Louis discretamente.

– Confesso que adorei. – Louis sussurrou para Arabella.

Jullian dedilhou o presente e sorriu, deveras sem jeito e assentiu vagarosamente. Os olhos do Philodox só se desviaram da Rainha para seguir Rhistel entregando o seu a Nathan e trocando um abraço carinhoso com o cúmplice. Bom menino.

Ladirus fitou o próprio presente, pensando e caminhou até Glavius, embora se distanciasse mirando Fayre enquanto abraçava o Rei.

– Arty… – Alicia respirou profundamente, tocando a própria testa. – O qu-

Um presente surgiu diante de Alicia e ela entreabriu os lábios, erguendo os olhos e encarando Tayrou que se afastava após piscar um dos olhos.

– Ganhei. – Ela comentou, surpresa. – Arty… Eu posso te dar o meu… Se quiser…

Ártemis assistiu a cena como se tivesse engolido uma pedra inteira. Pegou o presente de Alicia e não pensou duas vezes lançar em Tayrou de volta, antes que ele desse as costas.

– Ai. Sua praga. – Xingou baixinho, engolindo a voz; mas sendo o suficiente para chamar a atenção de quem estava na mesa. Ártemis tinha uma relação muito curiosa com os Dragões, e uma delas era atacar Tayrou e Ross sem pensar. Blair observou a cena com seus olhos bem abertos e acompanhou a observação da fada: Ártemis segurou o seu presente mais forte, mudando seu foco e assistindo Ladirus entregar ao Rei e nem ser considerada! Pareceu ignorar qualquer discussão que viria com Tayrou, ergueu-se e seguiu seu caminho, pegando o Dragão de Água no caminho do seu trajeto de volta para o seu canto. Blair por um instante achou que ela atacaria Ladirus também, mas logo a fada, usando um belo vestido branco de rendas, pareceu se acalmar. Pareceu. Seja lá o que ela havia trabalhado na sua mente para estar ali, ela estava. A Changeling o chamou enquanto ele caminhava, tocando-o delicadamente no braço. – Ladi?

Era um motivo. Apenas um motivo para que ele arrumasse alguma briga com ela. Connor conhecia perfeitamente já o restante do filme. Quando viu a face bela do irmão se transformar da ousadia para a raiva, ele já se adiantou para se aproximar dos dois. Ártemis se afastou antes que ele chegasse.

No fundo, Connor não entendeu. Na verdade, nem Tayrou. Rosstrider também perdeu até a vontade de rir quando a viu caminhando até um dos seus irmãos que não tinha nada a ver com a história que, deveras, também pareceu bem surpreso com a aproximação.

Ladirus parou de caminhar assim que sentiu o toque em seu braço. Os olhos curiosos buscaram pela voz e ele tentou de todas as formas encarar o encontro com a naturalidade que fora aconselhado tratar. Os seus lábios se entreabriram devagar, mas ele pareceu se esquecer do ia fazer com eles. Sorrir? O seu coração era de súbito uma bateria forte de intensidades. Sequer conseguia prestar a atenção no que acontecia ao redor. Ártemis estava mesmo falando com ele e o Dragão podia simplesmente olhá-la sem se sentir fazendo algo errado. E olhou-a por tempo demais antes de respondê-la: – Oi.. – Sussurrou, observando-a nos olhos escurecidos, tentando decifrar o que viria dela através deles.

Se havia alguma distração que podia roubar a sua atenção, já não existia maior entretenimento. Rhistel deixou Nathan falando sozinho quando notou o que acontecia. Buscou pelo olhar de Blair, perguntando-de o que havia perdido. O Galliard ao seu lado franziu o cenho:

– Ué. – Sussurrou. – Mas…

Ártemis o olhou com firmeza, havia aquela energia e intensidade nos seus olhos escuros. Até podia parecer raiva no inicio, mas se transformou em pura expectativa; daquela que a colocava internamente em uma posição bem frágil e a fazia se odiar, mas continuou ali “Ai meu peito aberto…”, preocupou-se quando sabia que era tarde demais. Ela também o olhou por um tempo, e tomou coragem de expressar sua voz: – Meu presente é para você… É seu… – E o estendeu em suas mãos para ele, sem conseguir terminar a frase que deveria ser completada de um ‘meu presente é para você porque…’, mas não houve, porque nem tinha um porque.

Nyra havia parado no meio do caminho, segurando o seu que era destinado ao dragão, mas decidiu parar e observar a cena. Blair também não conseguiu responder Rhistel ou Nathan, os olhos estavam fixos na cena… Embora poucas pessoas estivessem prestando atenção.

As complicações da vida humana também o deixavam ansioso e ele chegou a provar a mesma sensação que acreditava ser de Rhistel, em outro grau, como se fosse um nervosismo estranho dotado com presas e garras que seguravam o seu coração. Ladirus fitou o presente oferecido – um peixinho azul com uma fita cor-de-rosa – e pegou-o com delicadeza com os seus dedos. De lábio mordido, ele abaixou a cabeça e se sentiu a fase ganhando calor e cor e ergueu-o de novo, olhando-a. – Eu estou… – Ele umedeceu os lábios. – … Com saudades das nossas aulas. – Riu, tímido. – Obrigado… Eu gostaria de não precisar jogar na fogueira e guardar. – Ladirus inspirou, acariciando a pequena escultura com o dedão.

– Eu estou me sentindo lerdo por não ter captado isso. – Nathan sussurrou para Rhistel, olhando para o Dragão de Gelo com humor.

– Ahm… É. – Rhistel sorriu sem sal algum nos lábios, já com expectativas afloradas para os próximos capítulos daquela história do seu irmão.

Não esperou escutar algo tão precioso assim, para guardar na sua mente. Como amava aquela voz! A fada segurou o ar para não se afogar na própria mente agitada e mal piscou enquanto encarava o belo rosto do Dragão. Ela sorriu finalmente e abaixou brevemente o olhar sem jeito. – Eu também estou… Bem… Que bom que gostou…! – Dizia um pouco nervosa, pois o coração estava na garganta – Eu vou… Voltar. – Ela entrelaçou os dedos nas próprias, pareceu que iria, mas deu meia volta e decidiu que o abraçaria. Não sairia dali sem aquilo. Então o fez breve, carinhosa ao envolver suas costas e apoiar sua cabeça ao ombro de Ladi.

Ele gostava de abraços o suficiente para não deixá-la ir tão rapidamente e tampouco estava refletindo a respeito dos efeitos que todo o momento especial causaria em si, sentindo como se o Paraíso não fosse tão distante. Permitiu-se fechar os olhos e ouvir apenas o seu coração e o dela – tão disparado quanto o seu. Afastou-se com um sorriso selado e a cabeça cheia. Seu olhar passou por Connor, Tayrou e Ross. Três Dragões que não pareciam muito felizes com o que viram. Calado, ele seguiu até Nathan e Rhistel, sorrindo sem jeito para os dois.

– Eu não esperava que eu fosse… – Ladirus começou. – … Ganhar algo…

– Ahm. Como não? – Rhistel franziu o cenho e desviou quando sentiu a proximidade da irmã.

Kraz atravessou o salão e entregou o seu presente a Donald. Não disse absolutamente e se afastou. O Dragão de Gelo arregalou os olhos e se voltou para Nathan. O Galliard ria.

Havia maior estranheza do que ver Iliya sozinho em uma festa? O russo estava de pé, acompanhando o desfilar de Krazugnis. Lavinia o mirou com os olhos semicerrados antes de se aproximar com um cigarro entre os dedos. Iliya a olhou com uma sobrancelha erguida e um começo e sorriso. Ela meneou negativamente a cabeça:

– Ei, Don Juan… – Ela acendeu o cigarro com magia ao acabaná-lo.

– Saudades, Vinnie. – Iliya se curvou para cumprimentá-la com um beijo no rosto. – Pena que é uma saudade unilateral.

– Você sabe que não é isso, seu russo tosco. – Ela o empurrou no ombro.

– Da. Sei. Se eu não tivesse chamado a sua atenção, você nem estaria aqui falando comigo e olha que sei que anda falando com o Donald. Poderia ter aparecido lá em casa… Você, o Cassian e o Tyler…

– É sobre trabalho… – Ela tragou do cigarro, inspirando com certa impaciência. – Combinaremos alguma coisa, eu prometo. Eu sinto falta de vocês todos também.

Ártemis voltou para o seu lugar sorrindo e se sentou até tranquila. Até se lembrar que naquele segundo havia ficado sem nada em mãos, mas não por muito tempo. Tyler a cutucou no ombro e deixou em suas mãos o seu presente, piscando um dos olhos antes de seguir para perto de Blair. Alicia ainda não havia se recuperado da atitude da amiga e bateu palmas quando ela se aproximou, mas ergueu-se para entregar o seu presente.

– Eu vou ficar sem nada. – Nikki lamentou rindo, no fundo não ligava.

– Isso que dá entrar na festa de última hora. – Judy sorriu e deu o dela para Nikki, que olhou o bichinho com a sobrancelha arqueada. – Vai dar o seu para quem, Jill?

– Eu queria dar para a Nyra. Mas olha aquela pilha. Então vou puxar o saco da nossa líder de Alcateia. – Entregou para Summer.

– Ah! Obrigada. Claramente a segunda opção. – Summer riu.

– Ei! Ah! – Alicia entregou o seu presente para Nikki. – Desculpe, eu sou muito fã sua. Você merece! – E não se demorou, afastando-se com passinhos rápidos.

Quando Nyra se ergueu para entregar o seu, chamou certa atenção. Caminhou diretamente para Ladi e entregou o seu com um olhar intenso de alerta. “É seu, mas cuidado”, e se referia ao final do Solstício a condição de se comportar. Rindo do aviso, Ladirus abraçou Nyra fortemente e a beijou no rosto.

– Tudo bem. – Ele sussurrou.

Nina também se aproximou deles, saída da mesa das Dançarinas do Crepúsculo e cheia dos seus sorrisos e animação, entregou a Rhistel e abraçou forte o irmão. Polaris os observou de longe, levemente enciumado, mas também feliz. O Dragão da Matéria entregou o seu à corajosa irmã de Fogo.

Donald acertou Mylo com seu joelho quando o notou olhando para Lavinia uma décima vez. “Sua mina ‘tá com você, cara!” O ator rapidamente se ajeitou na cadeira, mas sorriu maldoso em seguida “Não olhe agora. Mas você está encrencado…”.

O músico pareceu nem ter tempo de anotar a placa quando recebeu o presente. A esposa do Garou rapidamente fitou as costas de Kraz e o olhou inconformada. – Eu não acredito. Você tinha me dito que não tinham nada!

– Olha, eu nem sei…! – Donald pegou o bichinho e parecia nem acreditar no que via. – Nós nem… Nos falamos…

– Ela é tão linda, mas é tão esquisita. – Daisy fitava-a se afastar.

Mylo olhava o amigo e tentava segurar o riso. Levemente menos animado quando percebeu Vinny e Iliya conversando. O sorriso divertido de Lavinia esmoreceu quando notou novamente o olhar do ator em si. Ela se desviou com um suspiro, voltando a sorrir quando Cassian surgiu, trazendo Tyler e Blair consigo. Remi se juntou a eles igualmente. Os olhos cinzentos do Garou vagaram distraídos até o grande grupo de garotas, olhando-as e tentando identificar rostos conhecidos além da marcante Summer.




Perfumes doces e frescos pelo ar. As fogueiras já estavam acesas quando Jullian convidou a todos para se deslocarem em direção à Árvore de Dagda. A trilha contava com chamas mágicas e coloridas dentro de vasos de vidro esféricos e furados pairando no ar e indicando o caminho. Com o Sol quase oculto, as esculturas feitas de grama dos Totens Garou se iluminavam através das chamas coloridas aos seus pés onde ervas queimavam. Diante de cada escultura, os Avates dos seus Incarnas se manifestavam quase completamente visíveis na Película fina, assim como os coloridos Espíritos visitantes. Aves coloridas voavam e uma grande variedade de animais se aproximava. O espetáculo de cor deixava rastros em arco-íris pelo céu escuro. Ao centro da roda diante da Árvore de Dagda, três banquinhos. Annik com a sua harpa ao lado e Nathan com um violão. O único banco vazio, ao centro, possuía um microfone sobre ele.

Os presentes iam se ajeitando ao redor. O calor justificava as vestes mais leves. Os Dragões aproximavam-se mais ao centro, com exceção de Nina. Ajoelhavam-se na terra e fechavam os seus olhos. Jullian trazia Nyra pela mão, conduzindo-a como a Rainha que era. Ele a deixou próxima à Nathan e Annik. Ao lado de Remi, ele encarou os todos iluminados pelas chamas coloridas. O seu corpo inteiro formigava, imaginando que a sensação se transitava por cada um dos presentes.

– Agradeço a presença de todos, irmãos da Tellurian e irmãos do Umbral. Que nossos Espíritos se unam neste momento como um só. – Jullian disse, fechando os olhos.

– Boa noite. – Remi disse, desenhando um sorriso de escanteio em seus lábios grossos e unindo as mãos à frente do peito nu. – No final do ritual, vocês poderão jogar os presentes nas chamas. Concentrem-se agora no que te pertence… E no que você deseja que retorne à Terra. – O Lua Cheia fechou os seus olhos e a sua voz soou firme com a sua força espiritual. – Agradecemos a Hélios, pelas noites quentes do verão. Aos Espíritos Antigos que tantos nos ensinam. Aos Reinos que nos conectaram ao todo. À Mãe Gaia que sustenta o nosso caminhar e nos protege de todos os males. Que o Fogo Sagrado queime dentro de nós.

Era uma sensação quente que até inebriava. Nyra descobria que era daquilo sobre o que falavam sobre Solstício e perdição. Sentia como sua canção fazia-os desejar estar perto de quem se gostava, de quem desejava, de todas as coisas que queria que estivessem no novo ciclo. A voz da Theurge era doce e sensual, levemente arranhava algumas notas, e suspiros. Ela cantou cheia de sorrisos naquela leve introspecção que mergulhava quando se entregava nas notas. Afastando o microfone de seus lábios somente quando Donald fez seu show com a gaita de foles com a marca dos Fianna em seu tecido. Trazia calma e trazia fogo. Trazia uma promessa de paz simples, envolvida numa teia invisível de problemas.

Mas naquela noite podia simplesmente esquecer, enquanto ela os envolvia, e ao invés de esfriar, apenas esquentava a cada presente lançado no grande bonfire.

Os lobos mais frágeis à temperatura e Fúria podiam se livrar das camisas e acessórios, a bebida doce e gelada vinha em barris decorados e vozes enchiam a floresta decorada. Todos estavam livres para ficar, e poucos decidiram partir. Aquela sensibilidade que tocava o ar e os espíritos fez Nyra muito feliz, e ela demonstrava no olhar e na respiração calma, apaixonada por toda a situação. Sorria para seus lobos e para as pessoas que tinha tanto carinho.

As crianças foram levadas no início da noite, quando a chama estava no seu auge após o Sol se despedir, iluminando e acolhendo a todos.

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