…Ready for It?

Categorias:Romance
Wyrm

…Ready for It?


O despertar acompanhou um susto. Não havia o Sol direto em seu rosto ou o aroma próximo das ondas do mar. Dificilmente, dormia em sua forma hominídea. Deitado nos altos rochedos da ilha, Polaris adormecia ouvindo sempre a respiração de alguns irmãos próxima. Sentia-se protegido daquela forma. Era a segurança confortável.

Despertar no macio foi duro e brevemente angustiante. Os olhos azuis se estatelaram antes de se relaxarem e as emoções transitaram pelo receio, calma, e, por fim, uma leve timidez deliberadamente humana. A mente trabalhou rápida. Dia do Solstício de Verão. Ele precisava conversar com Nyra e Nina, como prometido, mas não se sentia na liberdade de se mexer ainda. Com Hawky também. Gaia. A luz iluminava os cabelos loiros de Aisha, assim como a sua silhueta esguia e nua. O seu braço forte envolvia a cintura fininha e ela respirava tão suavemente como tudo o que pareceu envolvê-la naquela noite, onde a intensidade e a delicadeza se envolveram com um ardor que ele não esperava.

– Eu… – Ele começou num sussurro. Eu preciso ir… Você também… Tantas coisas para fazer hoje…

Precisava e não queria. Que sentimento esquisito. Sentiu-se tão incomodado quanto não inclinado a se incomodar e acabou relaxando o corpo um pouco mais. De repente, a sua nudez lhe trouxe uma súbita timidez. O impulso do dia anterior, ousado e impensado deveria ser refletido? Eu não vou refletir sobre nada. Fez menção que moveria o braço, mas não se mexeu. Complicado.



Nenhum movimento nem o sussurro perturbou o sono da Aparentada. Aisha ainda dormiria por uma hora a mais e despertava muito lentamente… Sensualmente a mão ainda estava em sua cintura e ela se espreguiçou devagar. Bocejou e se sentou devagar, tocando o braço sobre sua cintura. Ela virou o rosto para fitá-lo e inspirou um sentimento fresco… Acksul era terrivelmente lindo. Terrivelmente. Não que não houvesse notado antes, mas do seu lado, na sua cama, onde lençóis muito finos e sofisticados os cobriam parcialmente naquele ambiente de puro luxo… E fazia um longo tempo que não havia sentido tanto prazer, especialmente depois de todo o período da gravidez e a tristeza que acumulou depois de doar seu filho para pessoas que nem sabia de quem se tratavam. Ela sorriu para ele, lembrando-se dos momentos antes de pegarem no sono, e largou seu corpo deitado de novo ao ladinho dele. Sua mente rápida lembrou-se do dia que era, mas se deu a satisfação de pensar que já tinha feito toda sua parte, apenas tomaria seu banho, arrumaria-se e estaria lá.
– Bom dia… – Ela sorriu e tocou o ombro até o pescoço dele – Você está com essa cara pensativa e muito curiosa. Dormimos demais?

Dormir demais? Havia mais de horas que eles estava pensando em como se levantar e torcendo internamente para que todos ainda estivessem dormindo também e ainda não dando conta da sua ausência. Polaris fechou os olhos quando sentiu o toque dela e roçou o rosto contra o travesseiro mais macio que já havia experimentado. Um sorriso apertado brincava em seus lábios cheios. – Talvez eu esteja… Talvez… – Olhou-a com apenas um olho. – Eu não queria te acordar e pela forma que você dormiu com o meu cafuné, eu já imaginava a que você iria aproveitar os seus sonhos…

Os dedos dela caminharam até o rosto dele quando o viu a vontade com seu toque. O olhar azul de Aisha o admirou com profundidade, interessada na visão que a privilegiava. Ela sorriu e fez um carinho entre os cabelos dele, quando ele falou do cafuné.

– Obrigada, então… Por ter me esperado acordar. Eu dormi muito bem. Fazia um tempo que não descansava assim… – Ela fitou ao redor – Eu vou pedir o café aqui para nós e aí podemos tomar banho. Sempre demora para ficar pronto. O que você gostaria? – Ela se apoiou no colchão e estendeu o corpo por cima dele para alcançar um telefone vintage. Trouxe o aparelho até si e o olhou. – Meu Deus. – Riu como se lembrasse de comentar algo – Seu sotaque é demais para mim. Eu tenho certeza que vai ser sua marca nos filmes ou na televisão. Como você nunca pensou em atuar antes?

Ele se virou, deitando com as costas no colchão, quando notou que ela se esticaria sobre si. Acksul suspirou ao senti-la, disfarçando da malícia assim como ela o fez. Os olhos azuis sobre ela, admirando o seu rosto e cobiçando os lábios rosados da Aparentada por um instante antes de respondê-la.– Você não acha o meu sotaque esquisito? Eu tenho a impressão que às vezes não me entendem… Daí, eu tento imitar algum. – Acksul riu, mordendo o lábio. – Eu já tive muitos empregos, sabia? Um dia, quando você estiver num dia ruim, eu conto algumas histórias. Todo mundo sempre dá risada, apesar de serem tão trágicas. – Ele fechou brevemente os olhos e abriu um sorriso maldoso. – Eu… – Ele inspirou. Precisava conversar com Nyra, havia pedido por uma audiência e sabia que a paciência da Theurge possuía limites estreitos. Mas depois da festa do dia anterior, não imaginava que ela acordasse tão cedo assim. E Nina nunca acordava cedo. – … Tudo bem. Pode ser… “Aisha Arzeneder” para o café da manhã. A linda princesa do castelo, sabe? – Ele franziu o cenho. – Aquela que… Ela não caminha… Ela desfila. Você já deve tê-la visto por aí, organizando uma ilha e uma vida de celebridade. Uma mulher forte. Até eleva a voz em uma reunião cheia de criaturas se precisar. Mas… – Ele mordeu o lábio. – … Se você não encontrá-la, pode ser um cereal bem colorido e cheio de frutas.

Ela o fitou de canto de olho com um meio sorriso malicioso e terminou a ligação:

– Olá? Galateia, me traga cereais, frutas, mel, beagles com salmão e creme. Sim. Daqui uma hora. E aquele suco de amora. Sim. Bem gelado. Obrigada. – Aisha desligou e devolveu o telefone para o criado mudo, mas dessa vez permaneceu com o corpo leve deitado sobre as costas de Acksul. Aisha o arranhou de leve e deixou beijos por suas costas. – Não tem nada esquisito sobre você. – Ergueu o rosto ao ouvido dele: – E mesmo ela sendo uma pessoa muito ocupada, você pode ter a princesa para agora. – Sussurrou, mordiscando seu pescoço.

Os arrepios de desejo se aqueciam a cada toque. Gaia. Fazia quanto tempo que não se via querendo tão intensamente estar com uma mulher? Ele estava convicto a não se demorar tanto, convencendo-se que ele também tinha os seus afazeres, mas como se lutava contra pedidos tão tentadores? Meia minutinhos não mataria ninguém, não? Uma hora… Quando, delicadamente, se voltou para ela e buscou por um selinho demorado, teve certeza que seria uma hora. Sentiu-se novamente dentro dela e a assistiu reinando sobre si enquanto as suas mãos a instigavam. Lembrou-se que precisava ir… Mas… Eles seguiram para o quarto de banho e encaravam-se no espelho enquanto se envolviam. Uma hora muito perdoada, não?! A banheira estava quente e o beijo dela o provocava terrivelmente, assim como a sua massagem erótica. Ele precisava retribuir à altura! Duas horas…? Polaris desconfiou que ela estivesse apreciando a oportunidade de atrasá-lo como uma menina levada fazendo travessurinhas de amor…

– Eu preciso mesmo ir. Não estou brincando. – Ele disse, rindo antes de morder uma uva rosada, expressando a sua melhor interpretação de cão sem dono. – Eu tenho tanta coisa para fazer antes do pôr-do-Sol que precisarei correr… Pra caramba. – Comeu o resto da uva.

Era muito nítido como ela estava amando a situação apenas pelos olhares da Aparentada, e muito interessada em tudo o que Acksul havia a oferecer naquele dia e talvez nos próximos. O desejo estava na sua pele clara, nas marcas de mãos dos leves apertos quando a agarrava, e do beijo em seu colo e entre seus seios. Sabia que no meio de tantas tarefas, estaria ansiosa para vê-lo novamente…

Ela se ergueu vestindo o robe rosa de seda que usava, e parou atrás dele na cadeira. Envolveu-o com os braços apoiados nos ombros fortes de Polaris, e deixou suas mãos descerem pelo corpo dele, beijando-o no rosto. Já havia o segurado demais, e sabia que ele estava atrasado para mais de um compromisso àquela altura, e aquilo a causava uma certa dose de prazer.

– Eu deixo. – Sorriu e disse ao ouvido dele, fez uma pausa e prosseguiu: – Quando o Solstício terminar, e eu voltar, vou deixar a porta do meu quarto destrancada se quiser passar para me dar boa noite…

Com expectativa, ele seguiu o caminho daquelas mãos suaves. Até um robe ela havia conseguido para si, azul como os olhos dela. Oceânicos. Ele suspirou tentando não parecer tão disposto a ficar quanto estava se sentindo. Lembrava-se dela sempre falando bastante e era até intrigante vê-la preferindo se comunicar de outra forma, com gestos, expressões e carinhos. Os olhos azuis claros do Dragão se voltaram para ela, desconfiado. O sorriso selado se estendeu antes de se abrir.

– Okay… – Sussurrou e olhou-a, roubando um selinho doce antes de se levantar.

Ainda precisava se trocar! Agradeceu pela proximidade do quarto onde as suas vestes e dos seus irmãos ficavam. Ele caminhou para a porta, olhando-a por cima do ombro demoradamente antes de abri-la.

E Neil estava prestes a bater.

O Arquimago praticamente saltou para trás e Polaris saiu do cômodo deslizando como um gato e fechando a porta em seguida. Os dois se olharam por um instante constrangedor e mudo. Veias apareciam na testa de Neil e o rosto corado de Polaris era mais grave que uma denúncia. Corações batiam rápidos e comentários calados eram ditos, mas não explicados. Não que necessitassem de explicações. Polaris suspirou, meneando negativamente a cabeça e decidiu não dizer absolutamente nada. Fechou um pouco mais o robe que vestia e seguiu para o Umbral ao Percorrer Atalhos antes que pudesse causar mais surpresas indesejadas.

Neil o observou ir. Havia perdido qualquer fio de pensamento lógico. Estava sentindo tantas emoções ao mesmo tempo – todas, muito doloridas – que ele não conseguiu ter nenhuma reação racional. “Joshua…”, enviou mensagem mental ao amigo, “Acabei de ver Aisha e Polaris estava saindo do quarto dela”.

“Meu Deus, Neil, o que você está querendo dizer com isso?”. A resposta veio imediata ao sentir o mago amigo transtornado na sua mente. Drawn se sentou na cama, acordando naquele instante, checando se Lara não havia já saído de entre os lençóis, e tentou se localizar: “Isso não é ciúmes não é? Eles fazem parte do conselho… Normal conversarem…”.

“Meu amigo… Meu amigo! Ele estava de robe! Saiu do quarto dela de robe e cabelos molhados. Eu não estou pirando, queridinho! Quisera eu estar! Polaris saiu do quarto da Aisha vestindo só um robe! Maldita lagartixa suja! Isso não pode acontecer… Aisha é delicada como uma flor”. Neil observou a porta do quarto por um instante demorado. “Eu vou falar com Jullian é agora!” e cortou a ligação.

Author: